Chamar a atenção para o nosso patrimônio cultural, arquitetônico, histórico e artístico. Essa foi a intenção que tive ao escrever o artigo “A casa que chora”, publicado no jornal Notícias do Dia no início deste mês, e em sua segunda versão publicada hoje no mesmo jornal. Reproduzo aqui o texto para compartilhar com os leitores do blog que possivelmente não leram a edição do ND. Agradecimentos aos editores Tina Camilo e Sergio Sestrem pela publicação.
“Dias atrás escrevi texto falando sobre uma casa que chorava, e muito, por ser abandonada, esquecida e deixada se deteriorar. Muitos que leram me questionaram sobre o que falava, de que casa seria aquele apelo. Outros que convivem com as lágrimas do local aproveitaram para contar algo a mais, e compartilhar da denúncia contida no artigo. O objeto daquele texto é a Casa da Cultura de Joinville, que realmente chora por cada problema que sente em sua estrutura.
Até onde sei a mesma continua com seus lamentos, e não houve mudança no seu aspecto, nem preocupação em lhe dar dignidade até o momento. No caso da Casa da Cultura choram também os seus alunos atuais que sofrem com suas mazelas, sofrem também seus professores, educadores e ex-alunos que por ali passaram. Mas a maior cidade do estado tem muitos outros prédios públicos que se lamentam sem ser ouvidos, até porque não falam.
Vejam o prédio do Centro de Educação Infantil Padre Carlos, centro da cidade. Milhares de cidadãos iniciaram ali a sua caminhada para a vida, percorreram seus corredores, vivenciaram momentos lúdicos e aprenderam a balbuciar sílabas, palavras. Hoje, largado à própria sorte, parece ter sofrido um AVC e seus familiares o esqueceram para não se incomodar. Onde fica a história de uma cidade que não se preocupa com sua história arquitetônica, com seus espaços públicos que sediaram fatos e ocorrências?
Chora a Casa da Cultura, chora o CEI Padre Carlos, mas choram também o antigo Fórum na rua Princesa Isabel, a antiga Prefeitura localizada na esquina das ruas João Colin e Max Colin, Museu Fritz Alt, a antiga Estação Ferroviária que foi rebatizada de Estação da Memória e também soluça, além de tantos outros prédios. Onde estão os responsáveis pelo patrimônio da cidade que não buscam alternativas para não só recuperar tais locais, mas também aproveitar seu espaço para impulsionar atividades da cultura, da assistência social, educação?
Somos todos pais desses espaços públicos que choram a nossa ausência, a nossa falta de ação. Muitos orçamentos são produzidos, analisados, votados e até executados, mas onde estão os recursos públicos que devem ser previstos para a manutenção? Somos responsáveis pela Casa da Cultura, CEI Padre Carlos, antigo Fórum e Prefeitura, e colocamos terceiros para cuidar exclusivamente deles. Alias, eles estão todos com suas funções remuneradas no serviço público para exatamente cuidar do nosso patrimônio. Ou o que estariam fazendo?
Se a Casa da Cultura chora; o CEI Padre Carlos chora e tantos outros prédios públicos choram pelo abandono, logo todos chorarão por não saber o que somos de onde viemos, o que escrevemos, por onde nos transformamos em sociedade dita civilizada. Temos várias ONGs que pagam aluguel para oferecer serviços que deviam ser obra do governo, ou governos. Porque não recuperar e fazer desses espaços locais vivos, cheios de vida e opções de lazer e cultura para a nossa gente? Ou vamos deixar tudo cair e morrer para depois vender à especulação imobiliária? Está posto o desafio.”