Outro dos grandes poetas e cronistas brasileiros, Manuel Bandeira nos oferece neste poema um pouco da vida, um pouco da morte que nos passa todos os dias…
“Momento num café”
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente,
Saudavam o morto distraídos,
Estavam todos voltados para a vida,
Aberto na vida,
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu
num gesto largo e demorado,
Olhando esquife longamente,
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição,
E saudara a matéria que passava,
Liberta para sempre a alma extinta.
* Manuel CARNEIRO DE SOUSA BANDEIRA nasceu em 1886, no Recife (PE), de onde se transferiu, menino ainda, para o Rio de Janeiro. Atacado de moléstia pulmonar, viu-se obrigado a abandonar os estudos. Viveu algum tempo na Suíça, para onde seguiu em busca de melhoras para sua saúde. Em 1.917 publicou seu 1º livro, “As cinzas das horas”, que foi seguido de : “Carnaval”, ” Ritmo dissoluto”, “Libertinagem”, “Estrela da manhã”, ” Estrela da tarde”, “Lira dos cinqüenta anos”, ” Belo, belo” e ” Estrela da vida inteira”. Valiosa sua obra de prosador, da qual se destacam: Apresentação da poesia brasileira(1944), Literário de Pasárgada(memórias/1954), Andorinha, andorinha(crônicas/1.965). Professor de Literatura no Colégio Pedro II e na Faculdade Nacional de Filosofia/RJ. Faleceu em 1.968, no Rio de Janeiro. Ocupa lugar destacado na moderna literatura brasileira, como poeta e como estudioso da poesia. É patrono da Academia Brasileira de Letras.