O comércio e mercearia perderam um atendente de balcão que prometia espantar a clientela, mas a mecânica ganhou um profissional que virou marca registrada para motoristas que buscam solução para a mecânica de seus carros. Seu Nelson Voss, hoje com 73 anos e com inevitáveis problemas nas articulações – está convalescendo de cirurgia no joelho esquerdo – fruto de uma carreira mecânica que começou em 1952, hoje só acompanha de longe o vai e vem de mecânicos na quase quarentona Oficina Mecânica Voss localizada no bairro Floresta, na rua João Pinheiro, 95.
Ele lembra que seu pai tinha comprado uma “fubica (carro) velha”, e percebendo que o filho não levava jeito para o balcão, decidiu indicá-lo para trabalhar na já extinta oficina de Alfredo Comitti, que ficava na rua Santa Catarina próximo à Praça Getúlio Vargas. “Comecei como aprendiz, um ano após o centenário de Joinville. Eu tinha 14 anos. Fiquei lá oito anos”, conta Nelson, sentado na sala de visitas de sua casa, onde também é a sede da oficina. Junto dele sua companheira há mais de 50 anos, dona Nailda, que também botou a mão na graxa no início do empreendimento.
Dedicado, o jovem Nelson trabalhou também na Companhia Hoepfner Agrícola e Comercial, empresa que representou a Volkswagen, Mercedes Benz, Bosch em Santa Catarina lá pelos idos de 1960 em Joinville. Dali foi para a Douat Veículos, que representava a DKW, mas logo a Volks comprou toda a operação no Brasil. Aí começou a fama de Nelson Voss como mecânico especialista em Volkswagen. “Aprendi muito nesses anos, e me especializei. Por 20 anos fui empregado, até que em 1973 resolvi abrir minha oficina na garagem da nossa casa de madeira, no mesmo lugar de hoje”, descreve.
Foram tempos difíceis. Como o piso era de chão batido, “na terra mesmo”, diz ele, o macaco afundava quando tentava erguer o carro. “Aí arrumei uma madeira grande, larga, que a cada conserto eu usava como suporte, dava trabalho”, relata. O filho Dário, então com 13 anos, iniciou no ofício junto com o pai, e hoje comanda a oficina e os quatro mecânicos. A filha mais nova, Denise, controla o financeiro e administrativo, e agenda os clientes. Dorian cuida da loja de peças que fica anexa ao prédio que é residência e oficina. “É bom, todos fazem muito bem a sua parte”, conta feliz o veterano mecânico.
Para Nelson, hoje é muito mais fácil trabalhar na mecânica de automóveis. “Está tudo computadorizado, tem direção elétrica, tem elevadores, o que facilita o trabalho do mecânico. No meu tempo tinha de deitar embaixo dos carros, e toda sujeira caía na gente. Era trabalho duro”, explica. Ele conta uma passagem engraçada: “Um verdureiro do Boa Vista tinha duas Kombis. Uma delas fundiu o motor lá por Itajuba na BR 101. Fui socorrer – não tinha guinchos como hoje – e levei toda a família junto. Ele foi com uma camionete levando o motor da outra Kombi. Trocamos o motor, ele voltou para Joinville, e nós fomos para a praia, era domingo”, conta entre risadas.
Hoje a mecânica Voss vive lotada, e só não abre aos sábados. Nelson conta que antigamente as pessoas deixavam seus carros por uma semana, hoje querem no mesmo dia. “A correria é grande, e os mecânicos tem de ser rápidos e bons. Hoje falta mão de obra, tem de gostar do que faz”, ensina. Perguntado se pensa em voltar quando recuperar da cirurgia no joelho, ele diz que seu tempo já passou, mas a mulher Nailda comenta: “Se ele tiver bom, bom, vai voltar lá sim, rodear”, diz sorrindo para o marido. “Ela é que fez essa casa acontecer. Tudo que dava eu colocava só na oficina. Aí ela reclamou, tive de fazer a casa”, elogia sorrindo. Com tanta admiração assim, essa história promete durar muito tempo ainda.
* publicado no jornal Notícias do Dia em Joinville no mês de abril/2011