A chamada nova classe média (com renda familiar entre R$ 1,2 mil e R$ 5,3 mil) fornecerá força de trabalho mais qualificada para o desenvolvimento industrial nos próximos anos.
A expectativa é alimentada por uma análise sobre a demanda por educação profissional divulgada pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com a avaliação, são os jovens da classe média que alimentam a expansão de quase 77% no número de pessoas que declararam “frequentar” ou “ter frequentado” cursos de educação profissional.
A educação profissional, ou profissionalizante, consiste na frequência em ensino médio técnico, curso superior de tecnólogo ou na qualificação extracurricular com duração entre 200 até 400 horas.
Em seis anos, o percentual de quem declarou formação em educação profissional passou de 14,03% para 24,81%, segundo aponta a análise.
O maior contingente é de jovens, especialmente os adolescentes de 15 anos, que representam 10% do total de pessoas que frequentam ou frequentaram educação profissional.
Entre as pessoas de 15 a 29 anos que declararam frequentar a educação profissional, o maior percentual é na classe C (8%), que também aponta a maior demanda por cursos profissionalizantes na área industrial.
Nova classe média
Para o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, a procura dos jovens da classe C pela educação profissional indica que a ascensão do estrato na última década terá sustentabilidade.
Assim, não seria possível dizer que a mobilidade é movida meramente por aumento do acesso ao crédito e maior consumo desse segmento da população: “Há um claro paralelo entre a ascensão da nova classe média (ou classe C) e a profusão de carteiras de trabalho e cursos profissionalizantes”, defende.
Na opinião de Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia do Senai, o ingresso desses jovens deverá dar “lastro” ao crescimento do setor industrial nos próximos anos.
A expectativa do executivo é que os onze principais setores industriais brasileiros totalizem US$ 648 bilhões de investimentos entre 2011 e 2015.
O Senai promete até 2014 ampliar sua rede de escolas técnicas e cursos profissionalizantes de 2,4 milhões de matrículas para 4 milhões. Para isso, contará com empréstimo de R$ 1,5 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Má qualidade das escolas
Apesar da boa perspectiva, a análise dos dados aponta que mais de três quartos da população nunca frequentou educação profissionalizante, quase 70% por falta de interesse.
Além disso, a pesquisa verifica que 8% dos que iniciaram algum curso profissionalizante não concluíram, a maioria porque deixou de ter interesse pelo curso no qual estavam inscritos.
Entre os que concluem, mais de 37% não conseguem trabalhar na área.
Os cursos profissionalizantes no Brasil são oferecidos pela rede pública, pela rede privada, pelo Senai e por organizações não-governamentais.
Na avaliação de Marcelo Neri, a baixa procura por cursos profissionalizantes tem a ver com a falta de informação e a má qualidade das escolas brasileiras.
“A baixa qualidade da educação básica no Brasil influencia a demanda pela educação profissional”, diz o economista, que assinala que a educação profissional resulta em um ganho adicional médio de 15% em relação ao trabalho menos qualificado.
Rafael Lucchesi lembra que cerca de 9 milhões de alunos estão matriculados no ensino médio no Brasil, mas apenas 1 milhão faz o ensino médico técnico (complementar) e apenas 6 milhões ingressam no nível superior. “Poucos países têm uma distribuição tão ruim para a matriz do trabalho”, ressalta.
Do site Inovação Tecnológica