É com pesar que recebi uma notícia vinda das bandas do bairro Boa Vista, em Joinville (SC), da morte do ex-vereador, professor e líder comunitário, Elmar Zimmermann, ocorrido ontem (domingo). Seu corpo é velado na capela da Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição do Boa Vista, lugar onde viveu, defendeu, lutou e descansou. O enterro será a tarde, por volta das 15 horas, mas o local ainda não confirmei. Semanas atrás outra perfilada por mim nos deixou, a dona Maria Laura, ex-professora e diretora do Colégio João Colin. Também dias atrás a dona Mariazinha, mãe de meu amigo Wendel Ricardo, outra guerreira, catequista do Sagrado Coração de Jesus, nos deixou subitamente. Vou publicar ainda essa semana o seu perfil aqui no Blog.
Segue agora o perfil do grande cidadão Elmar Zimmermann, lutador de várias causas, homem que tinha muitas histórias prá contar, e contou uma delas que foi a do Monsenhor Boleslau, morto em condições até hoje mal explicadas, que foi o pároco da Igreja do Boa Vista. Com o título “O descanso do pescador”, seu Elmar contou parte histórica da política, da religião e da vida comunitária e trabalhista da maior cidade catarinense. Um retrato fiel de uma época em meio a turbulências e retorno à democracia. Ainda ontem, na Fala do Escritor na Feira do Livro de Joinville, citei ele e seu livro como referências de leitura! Quem sabe o que o Criador reserva e faz enquanto pensamos e falamos, e agimos? Fica aqui o meu sentimento de pesar para toda a família, e a homenagem do Blog a mais um guerreiro da cidade que nos deixa! Boa leitura.
“Elmar Zimmermann – Memória política e liderança comunitária
No auge da ditadura militar em 1971 um pequeno empresário e professor recebe duas figuras do mundo político em sua casa na rua Pedro Lessa, bairro Boa Vista. O advogado Luiz Henrique da Silveira e João Medeiros, do MDB, queriam que Elmar Zimmermann, líder comunitário de forte presença na região entrasse nas fileiras da oposição consentida ao regime militar. “Eu e meu sócio, o velho Halter, tínhamos iniciado uma pequena fábrica de aros para bicicleta, com máquinas antigas que durou uns três anos. Tinha trabalhado na Tupy até 1971, e aceitei o convite”, conta o ex-vereador, hoje aposentado após muita militância política e comunitária.
Naquela eleição de 1972 a luta era para derrotar a Arena com suas duas candidaturas contra Pedro Ivo do MDB. “Fui eleito com 2.264 votos, poucos a menos que Marco Antonio Peixer da Arena que fez 2.500 votos. Fui a surpresa da eleição, o que também foi o meu mal sabe”, relata Zimmermann, nascido em Gaspar e criado até os 15 anos na localidade de Nereu Ramos em Jaraguá do Sul. Veio para Joinville em 1958 para trabalhar no Laboratório Catarinense, onde ficou até 1960 quando por concurso entrou na Escola Técnica Tupy. Estudou técnico em metalúrgica e se formou em 1964, e já ficou lecionando na escola e trabalhando na maior fundição da América Latina ate 1971.
Elmar recorda que superou grandes nomes favoritos da época como Aderbal Tavares Lopes, Amandus Finder, Miraci Deretti, Nica, Osni Schroeder, Plácido Alves e outros. Candidatou-se a deputado estadual e fez quase 10 mil votos, ficando na segunda suplência. “O Pedro Ivo tinha desconfiança de mim, não me ajudou com obras na minha região, e aí me faltaram 600 votos”, explica o velho líder. Zimmermann é dos tempos em que vereador não recebia nada para representar o povo. Dava aulas na Escola Técnica Tupy e no Elias Moreira. “Ensinei OSPB e educação moral e cívica, e até inglês que sabia um pouco por traduzir documentos técnicos”, relembra às risadas.
Tentou a reeleiçao em 1976 mas fez mil votos a menos, resultado da falta de apoio, mas acabou no gabinete do prefeito eleito Luiz Henrique onde ficou até 1982. Depois foi diretor do Cesita do Itaum da Fundamas até 1994, de onde foi demitido por justa causa por um atual deputado estadual que dirigiu o órgao na época. “Foi uma sacanagem, mas consegui a reparaçao sete anos depois”, afirma com mágoas. Tentou outras eleições, mas nao teve sucesso, e terminou a carreira na politica assessorando vereadores, deputado e na secretaria regional do Comasa. Adoecido pelo diabetes, passou momentos difíceis.
O agravamento da doença o levou a amputar a perna esquerda, e hoje usa uma prótese a qual ainda se adapta. “Tem uma vantagem, não sofro com varizes, essas coisas”, faz graça. Com memória poderosa aos 68 anos, Elmar Zimmermann lembra dos riscos que correu na ditadura, quando protegeu amigos e até leu carta da tribuna da Câmara. “Li a carta da mulher do amigo preso sobre o que passavam na prisão. O Nagib dizia que iam me prender”, recorda. Casado há 45 anos com Leni Maria, quatro filhos e cinco netos, o líder comunitário já lançou um livro em 2006 sobre a história do Monsenhor Boleslau – “O descanso do pescador” – e pensa em lançar outro sobre a história política entre 1970 e 2000. “O nome é Caminhão do Povo, mas está só no começo”, afirma.
Homem de muita história, e de muitas histórias dos outros, Elmar tem orgulho da sua legislatura, que aprovou o Plano Diretor de 1973, de ter sido líder do governo Pedro Ivo, e não ter aceito a proposta da Arena para ser presidente da Câmara. “Fui leal”, diz. Sobre a política atual e aumento de vereadores, o veterano político tem opiniao. “Não fosse o alto salário hoje, podia ser 25 para representar o povo”. Sabedoria que poderá ser conferida no livro, não é seu Elmar?”
* Perfil publicado no jornal Notícias do Dia de Joinville em 2011.
Cláudia, que bom receber sua mensagem aqui no Palavra Livre! Fico feliz pela oportunidade de escrever sobre nossa gente, pessoas comuns, nossos personagens que escrevem a sua história junto com a história de sua cidade. Seu Elmar foi um momento especial para mim, porque nossa conversa foi tranquila, e ele cheio de coisas para contar, outras pedindo para não colocar no papel, um bate-papo gostoso e enriquecedor. Eu é que ganhei com a oportunidade de escrever sobre seu pai, que certamente está nos observando e abençoando lá do lado do Criador de todas as coisas! Forte abraço a você e toda a família, e recebam também meu abraço fraterno!
olá Salvador, muito boa sua reportagem, na época da entrevista eu estava acompanhando e comprei alguns jornais para deixar em um arquivo pessoal. Realmente você captou a essência de tudo o que o meu pai tinha em mente, e alguns dos seus planos de futuro, que muitos nem saíram do papel.
Agradeço a Deus a oportunidade de ter vivenciado uma parte desta bela história de luta comunitária, que foi imensamente repercutida na oportunidade do seu velório e enterro. Meu pai se foi, com a expressão de uma pessoa que teve sua missão cumprida!
Grande abraço, e o nosso muito obrigada!
Olá Flavio, que bom receber tua participação aqui no Blog. Obrigado a você e a teu pai que deixou a todos para ir a um lugar melhor, tenha certeza disso. Fico grato e orgulhoso em ter escrito o perfil de teu pai, um homem público honrado, batalhador, e líder comunitário que deixou boas ações e ideias. Que bom que tenha trazido coisas que você nem sabia. Se tivesse mais páginas, poderia ter ido mais longe ainda, ele tinha muitas histórias, aliás a entrevista eu a tenho gravada. O livro que ele disse que faria, pena que não saiu no papel. Quem sabe ele tenha deixado tudo transcrito por aí não é? Certamente ele descansa em paz. Ontem a noite falei esse texto no Sarau realizado na Livraria Midas pela Confraria do Escritor. Todos ficaram emocionados, inclusive eu. Que Deus dê a toda família a paz nesse momento de perda. O Blog está sempre a disposição. Forte abraço!
Obrigado e parabéns pela reportagem.
Li coisas que nem eu sabia do meu pai.
Agora ele descansará em paz