Pesquisa divulgada na última quarta-feira (23) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) não traça um cenário exatamente novo para as relações de gênero dentro dos lares brasileiros. Pelo contrário, reforça que continua cabendo às mulheres o desempenho de tarefas domésticas, questão que, para os pesquisadores, demonstra a manutenção de uma visão tradicional sobre o assunto.
O comunicado “Trabalho para o mercado e trabalho para casa” elenca, além da questão cultural direta, alguns fatores indiretos que explicam que 89,9% das mulheres desempenhem afazeres em casa, contra 49,9% dos homens. A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, os especialistas apontam que a jornada no mercado de trabalho é, ainda, maior entre os trabalhadores do sexo masculino, que também obtêm melhores salários, mesmo em funções similares. “Supõe-se que quem aufere maior renda dedica mais tempo ao trabalho remunerado e possui mais poder de barganha para negociar o tempo dedicado ao trabalho produtivo”, observa o Ipea.
Além disso, a maternidade toma mais horas que a paternidade. Mulheres com cinco filhos ou mais gastam 33,8 horas por semana em tarefas domésticas, contra 10,3 horas dos homens nas mesmas condições – entre os que não têm filhos, a média fica em 25,9 e 11,7 horas, respectivamente. “Assim, não importa se a mulher tem uma alta renda, se é considerada chefe de família, se está ocupada; ela sempre gastará mais tempo com afazeres domésticos que os homens nas mesmas posições.”
Para os pesquisadores, é desde cedo que se começa a formar uma cultura de que meninas devem trabalhar em casa, e meninos, fora. Já entre 5 e 9 anos as crianças do sexo feminino despendem 6 horas semanais nas tarefas domésticas, contra 14,6% entre os meninos, que fazem cinco horas, em média.
A conclusão do comunicado é de que o poder público deve ter uma atuação no sentido de desfazer uma cultura de diferenciação por gênero. “Se o pressuposto de que a igualdade entre todos deve ser substantiva e a todos os cidadãos e cidadãs devem ser garantidas oportunidades equivalentes de autonomia, de busca pela felicidade, de acesso aos bens e serviços produzidos pela sociedade e de usufruto de uma vida saudável e com bem-estar, cabe também ao Estado atuar no sentido de reverter o quadro de desigualdade existente no âmbito privado familiar”, aponta.
Fonte: Rede Brasil Atual