As tarifas de energia ficaram 23,4% mais caras, em média, a partir de ontem, mas o reajuste ainda não é suficiente para cobrir todos os custos previstos para 2015.
No mercado, fala-se na necessidade de outra alta, entre 15% e 25%, nas datas de aniversário de cada concessão, para repasse dos gastos com compra de energia e a inflação. As distribuidoras temem que um ajuste deste porte provoque aumento da inadimplência no setor. A revisão extraordinária das tarifas foi anunciada na última sexta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O valor do novo reajuste varia de empresa para empresa, mas, em média, deve ficar em torno de 15%, segundo projeção da consultoria PSR. Para a Thymos Energia, ficará no mesmo nível do percentual concedido pela Aneel na revisão extraordinária.
O presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, evita falar em valores, mas reconhece a necessidade de nova alta. “A revisão extraordinária tratou da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) e da tarifa de Itaipu. A CVA (conta de variação nos custos da energia) e a inflação serão discutidas nos reajustes anuais”, diz.
Leite afirma que a aprovação da revisão extraordinária, pleito levado pelas distribuidoras ao governo no início do ano, representa uma “grande guinada”. No ano passado, o governo lançou mão de uma série de mecanismos para evitar o repasse às tarifas, como aportes do Tesouro e empréstimos bancários.
“A grande mudança de postura começou pelo Tesouro, quando decidiu não botar mais nenhum tostão para subsidiar as tarifas”, comenta. “A situação agora fica mais sob controle.” Além do reajuste nas tarifas, a Aneel aumentou o valor das bandeiras tarifárias, que são usadas para cobrir o custo das térmicas.
“É uma antecipação de receita que iria ocorrer no momento dos reajustes anuais”, diz o diretor da consultoria Andrade & Canellas Silvio Areco. O tamanho do reajuste anual de cada empresa dependerá também da capacidade para o pagamento das térmicas com os recursos gerados pelas bandeiras.
Na sexta-feira, o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, admitiu a necessidade de novos reajustes ainda este ano. O primeiro grande processo de revisão geral de custos refere-se à distribuidora Ampla, que atua no Estado do Rio, que não foi contemplada com a revisão extraordinária justamente pela proximidade com o aniversário da concessão.
A Eletropaulo, que atende a Região Metropolitana de São Paulo, tem aniversário em julho e a Light, do Rio, em novembro. As duas têm grande peso nos índices de inflação — segundo estimativa da Fecomércio-RJ, o impacto inflacionário da revisão extraordinária, sozinha, será de 0,8 ponto percentual, em média, no Brasil. Nos reajustes anuais, o índice que calcula os custos fixos das distribuidoras é o IGPM.
Segundo o presidente da Abradee, as distribuidoras estão preocupadas com um eventual aumento da inadimplência, que poderá resultar de percentuais tão altos de reajustes. Hoje, a inadimplência no setor é de apenas 3%.
Além disso, distribuidoras com maiores volumes de furto de energia, como a própria Light, podem sofrer aumento nos indicadores de perdas comerciais. “Mas é preferível termos toda a arrecadação sob nosso controle”, conclui, lembrando que, com os subsídios, as companhias dependiam de decisões do governo para recompor o caixa.
Com informações do Brasil Econômico