Cuidar dos filhos, do marido e dos afazeres domésticos já foi a atividade principal de muitas mulheres, como a cearense Antônia Eliane Rodrigues Lino, 46 anos.
Casada e mãe de quatro filhos, a beneficiária do Bolsa Família começou a reescrever sua história nos últimos três anos. “Tinha muitos sonhos, mas vivia em casa deprimida. Acreditava que mulher tinha que estar dentro de casa, cozinhar, lavar, passar, cuidar de filho.”
A trajetória da cearense começou a mudar quando ela foi ao Banco Comunitário Palmas, na periferia de Fortaleza (CE). Antônia precisava de um empréstimo para quitar uma dívida, mas saiu de lá com uma oportunidade de melhorar de vida e conquistar espaço no mundo do trabalho.
“Eu estava inadimplente e fui fazer um empréstimo de R$ 50 para pagar algumas contas. Foi quando me perguntaram se eu tinha interesse em fazer alguma atividade. Eu disse que adorava cozinhar”, revela.
Os agentes de inclusão do banco deram conselhos sobre a importância da independência da mulher e sugeriram que Antônia fizesse o curso de culinária oferecido pela instituição para mulheres de baixa renda. Com o aprendizado, ela começou a produzir e vender bolos, salgados e tapioca.
Com um novo empréstimo, comprou um fogão melhor, já pensando em dar continuidade à atividade. “Passei a fazer pratinhos com creme de galinha e arroz para vender nas feiras de economia solidária”. E ela não parou por aí. Antônia fez também um curso de consultora comunitária. Há três anos, integra o grupo de mulheres emancipadas do Bolsa Família e participa de oficinas de educação financeira.
“Muitas mulheres não saem de casa, são presas ao marido, filhos, não conseguem trabalhar, ter seu dinheiro. E nós as aconselhamos a participar do grupo, ensinamos como economizar, estimulamos a trabalhar, falamos da importância em fazer cursos para que elas tenham uma profissão e não dependam de ninguém”, ressalta.
Há sete meses, Antônia conseguiu montar o próprio negócio – um mercadinho na garagem de sua casa. “Estou muito feliz e me sinto emancipada. Gosto muito do grupo. Tanto que depois que abri meu comércio fico muito dividida porque não consigo estar lá o tempo todo.”
Ela também conseguiu voltar a estudar, graças ao apoio do grupo de mulheres emancipadas do Bolsa Família, e planeja fazer faculdade. “O grupo me despertou essa vontade. Hoje sei que sou capaz.”
A cearense Eliane Medeiros do Nascimento, 33 anos, mãe de dois filhos, também deu um novo rumo para sua vida. Ela é beneficiária do Bolsa Família e também faz parte do grupo de mulheres emancipadas e conta que conseguiu realizar um sonho antigo: fazer o curso de corte e costura.
“Não sabia nem colocar a linha numa agulha”, lembra. Agora ela está em processo para abrir sua própria confecção para vender roupas femininas, masculinas e infantis.
Mesmo trabalhando, ela diz que vai continuar participando das atividades com as mulheres. “Da mesma forma que me senti mais valorizada, vencendo a barreira de sair de dentro de casa, da tristeza e da falta de ânimo, quero proporcionar o mesmo pra elas.”
Eliane já tem vários planos para futuro, como ingressar na faculdade de Direito. “Quero ser advogada para defender as mulheres vítimas de violência. Um dia vou conseguir porque hoje confio muito em mim.”
Incentivo
À frente da oficina de educação financeira para mulheres beneficiárias do programa de transferência de renda, Angeline Freire explica que o objetivo é incentivá-las a conquistar a independência financeira e a se valorizar enquanto mulheres.
Ela conta que, por meio de um simples questionário, essas mulheres aprendem a colocar no papel os gastos com a despesa familiar, por exemplo. A atividade surgiu a partir da observação de que grande parte das mulheres que pegava empréstimo no banco comunitário tinha o nome negativado.
“Muitas mulheres não sabiam lidar com o orçamento familiar e teriam dificuldades para comandar um negócio. O objetivo maior da oficina é fazer com que consigam distinguir o que é prioridade.”
Angeline, beneficiária do Bolsa Família, coordena o grupo de mulheres emancipadas pela sua história de vida. “É importante que elas tenham exemplos no grupo de pessoas que conseguiram vencer.”
Vítima de violência doméstica, ela se sentiu mais confiante em sair dessa situação quando passou a receber o benefício. “Era uma ajuda a mais e eu não precisava travar uma luta com meu ex-marido para me ajudar a sustentar meus filhos.”
Segundo ela, o grupo ajuda na divulgação dos cursos, na realização da oficina de educação financeira com as beneficiárias e na mobilização do maior número de mulheres. “Queremos dar oportunidade para as mulheres que por toda a vida cuidaram da família e se esqueceram de cuidar de si”, diz.
Angeline destaca ainda que esse incentivo é importante para que elas cresçam profissionalmente e possam, inclusive, deixar o programa de transferência de renda.
Ela pretende melhorar ainda mais a sua condição de vida e abrir espaço para que outras mulheres possam se beneficiar com o Bolsa Família. “É uma grande ajuda, mas quero vencer ainda mais e ser vista como uma pessoa que conseguiu superar tudo, que é guerreira, que vai atrás, que é determinada. E eu me sinto assim.”
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome