Espetáculo “Migrantes” está de volta aos palcos em Joinville (SC)

O espetáculo teatral “Migrantes” estará novamente em cartaz de 18 a 20 de setembro no Galpão de Teatro da AJOTE. A peça, que teve sua estreia em 2007, traz a história de Nelson, vindo de Iporã, no Paraná, e Neusa, vinda de Tubarão, em Santa Catarina.

Neusa chega ainda moça a Joinville após a família perder tudo numa das maiores enchentes do estado. Nelson vem pela necessidade de arrumar dinheiro para a família, que vive no campo. A história dos dois se funde com muitas histórias de pessoas que foram entrevistadas para a montagem.

O contato com novas pessoas, com um clima diferente, com experiências novas é retratado entre as cenas. Cada experiência é um universo a ser explorado cenicamente. É uma sequência da linha de pesquisa da Dionisos, baseada na memória.

Eles pesquisaram histórias de pessoas que vieram para Joinville no final da década de 1970 e início da de 1980. Muitas pessoas chegaram a Joinville neste período. A mão de obra era escassa e algumas empresas se valiam de trazer pessoas para a cidade (de Kombi) para trabalhar. A cidade, em contraponto ao campo, passa a ser uma forma atrativa de melhoria de condições de vida. Essa mudança gera conflitos de identidade, o que, infelizmente, ocorre em todo lugar do mundo.

Os pequenos detalhes revelados nas entrevistas com pessoas que vieram neste período para Joinville eram matéria prima para aumentar o novelo que alimentaria a dramaturgia do espetáculo. Cada gesto, sotaque e memória, aguçavam nossos sentidos.

A memória é seletiva, por isto em meio ao cafezinho oferecido pelos entrevistados, a conversa que começava de mansinho e as “provocações” faziam histórias ressurgirem das gavetas da memória, ora por relatos, ora por objetos, como a maletinha para a viagem trocada por uma choca de pintos, fotos compartilhadas ou pelo telefonema para a irmã de Tubarão para matar a saudade, tudo registrado em vídeo, com a devida autorização.

Foi um período marcante na história da cidade e das pessoas. Ainda mais se conta deste período, como as histórias do incendiário. Janelas eram arrancadas e fechadas com tijolo e cimento para impedir a ação do criminoso, ou dos criminosos. Nunca foi encontrado um responsável. Outros elementos da cidade, como a descoberta do misterioso schnecke, as expressões como “Capaiz”, “Égua”, “Meu chapéu”, a umidade, a chuva e as enchentes até em dia de sol, a receptividade das pessoas, o afeto.

O acordo e respeito por fatos que não eram autorizados a emergirem da memória, aos poucos, eram substituídos por momentos de partilha. A generosidade das pessoas entrevistadas possibilitou a reconstrução de fragmentos da história de nossa cidade no momento do boom migratório das décadas de 1970 e 1980 que, para alguns foi o caos, para outros, novas perspectivas e para nós, a chance de devolver à cidade retalhos de sua história, carinhosamente transformada em teatro.

Segundo Ilanil Coelho, durante o processo de construção da peça: “É preciso descobrir a igualdade na diferença e a diferença na igualdade”. Conversamos sobre temas e termos como outsiders (forasteiros), estabelecidos, origem, entre outros. Como nosso comportamento pode ser sutil, não é fácil dizer se somos realmente receptíveis com o que chega de fora. Negar a diferença cria um bloqueio para descobrir que o outro tem semelhanças ou, até mesmo, que não. Não se trata de trazer à superfície o tema, para o “amor a todos”. É uma compreensão daquilo que se esconde em nós ou que não admitimos, como é o caso do preconceito, por exemplo. Ignorar é mais fácil. Quisemos com este trabalho, trazer esta história de volta, com o intuito também de buscar ressonâncias com nosso quadro atual de migração, preconceito e aceitação.

Histórico da Montagem
O espetáculo Migrantes teve sua estreia em 2007, fazendo várias temporadas de apresentações para escolas e público em geral na cidade de Joinville. Em 2008 ele integra a programação da CENA 5 – Mostra da Associação Joinvilense de Teatro.

Ainda este ano, participou do 32º FESTE – Festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba, recebendo várias premiações: 2º Melhor Espetáculo Adulto; Melhor Atriz Coadjuvante (Andréia Malena Rocha); Melhor Iluminação (Hélio Muniz), Prêmio de Pesquisa e Melhor Cenário.  Recebeu também as seguintes Indicações: Melhor Diretor (Silvestre Ferreira); Ator (Eduardo Campos); atriz (Clarice Steil Siewert) e Sonoplastia (Lausivan Correa e Vinicius Ferreira).

Em 2009, participou do 37º FENATA – Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa, e recebeu as seguintes premiações: Melhor Atriz Coadjuvante (Andréia Malena Rocha), Melhor Iluminação (Hélio Muniz) E Melhor Cenário (O Grupo). Indicação De Melhor Espetáculo Adulto, Melhor Direção (Silvestre Ferreira) E Melhor Ator (Eduardo Campos).

Em 2010, participou do 5º FENTEPIRA – Festival de Teatro de Piracicaba, recebendo o prêmio Destaque de Intérprete para Andréia Malena Rocha. Em 2013, participou do 17º. Festival Catarinense de Teatro.

Serviço:

“Migrantes”

De 18 a 20 de setembro
Horário: 20h
Ingresso: R$ 30,00 (R$ 15,00 meia entrada) – Ingressos antecipados no site www.enjoyevents.com.br
Local: Galpão de Teatro da AJOTE (Rua XV de Novembro, 1383)
Classificação: 12 anos
Mais informações: www.dionisosteatro.com.br

Autor: Salvador Neto

Jornalista e escritor. Criador e Editor do Palavra Livre, co-fundador da Associação das Letras com sede no Brasil na cidade de Joinville (SC). Foi criador e apresentador de programas de TV e Rádio como Xeque Mate, Hora do Trabalhador entre outros trabalhos na área. Tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de jornalismo, comunicação, marketing e planejamento. É autor dos livros Na Teia da Mídia (2011) e Gente Nossa (2014). Tem vários textos publicados em antologias da Associação Confraria das Letras, onde foi diretor de comunicação.

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