O dia amanhece abafado em Brasília. Poucos dos envolvidos na luta política do impeachment de Dilma Rousseff dormiram. A terça-feira (8) foi pesada no Congresso Nacional.
Cedo, com os pés nos corredores da Câmara dos Deputados, passei a ouvir e ver as reuniões entre deputados oposicionistas. Um entra e sai, principalmente dos peemedebistas.
Buscavam nomes para derrubar Picciani, líder do PMDB. Derrubando o líder, recolocariam outro, deputado mineiro Leonardo Quintão no ato da entrega das assinaturas para a destituição.
Ao mesmo tempo, Cunha aceitava a inscrição da “chapa alternativa” para a composição da Comissão Especial do Impeachment. Confusão, gritaria, mas o presidente da Câmara não deu ouvidos.
Governistas recorreram ao STF, e tentaram impedir a votação, secreta, colocada em andamento por Eduardo Cunha, de forma autoritária, sem dar palavra aos deputados. Quebra de urnas, confrontos físicos entre os deputados governistas e oposicionistas.
No Palácio do Planalto, acompanhei a reunião dos governadores com a presidente Dilma. O tema oficial: o vírus Zika. Tema quente: impeachment.
Nos andares do Palácio, só cochichos. Espaço para a entrevista coletiva armado no segundo andar. Jornalistas de todo o mundo à espera. Saem os governadores, e vão concedendo entrevistas.
Oposicionistas presentes falaram pouco, e somente sobre o vírus. Governistas saíram ao ataque contra a votação da chapa alternativa na Câmara.
Enquanto o ministro da Saúde, Marcelo de Castro, do PMDB, falava aos jornalistas no segundo andar, o governador do Maranhão, Flávio Dino do PCdoB, dizia que este andamento do processo era anti-democrático, e que a continuar assim, a luta será feroz.
Questionado sobre a posição de Temer e do PMDB, Castro disse que está confortável no cargo, recebe todo o apoio da presidente Dilma, e que o PMDB deveria é ajudar a governar, já que é governo com vice-presidente desde 2010. PMDB rachado.
A noite fica ainda mais sinistra quando saio às ruas na Praça dos Três Poderes. Alguns carros, poucos é verdade, buzinavam e mulheres gritavam: “A Dilma vai morrer, a Dilma vai morrer, impeachment já”.
O ódio, que está beirando à violência, engasga. Pedir a morte de alguém, é sinal de ruptura dos mais importantes sinais da sanidade de uma sociedade. Pobre jovem democracia, já em risco.
A noite termina com os oposicionistas tecendo críticas inomináveis sobre o ministro do STF, Edson Fachin, que mandou suspender o andamento do processo de impeachment com a Comissão aprovada na Câmara poucas horas antes.
O que virá na quarta-feira? Quem sabe finalmente a votação, no Conselho de Ética, da abertura do processo de cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB).
E o clima segue seco, e com temperaturas altíssimas.
Por Salvador Neto, editor do Blog Palavra Livre, direto de Brasília. Fotos: Salvador Neto