O lixo gerado pela atividade portuária brasileira poderia significar um retorno de até R$ 6 milhões para os terminais do país. Hoje, ao contrário, os operadores gastam para se livrar dos detritos acumulados nas proximidades dos portos cerca de R$ 300 por tonelada — valor seis vezes superior à despesa com o trabalho de retirada do lixo nas cidades.
“Isso é aumento do custo Brasil. O que também tem reflexos na competitividade dos nossos produtos”, alerta Marcos Freitas, coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), ligado à Coppe-UFRJ. Em conjunto com outras 16 universidades, a instituição acaba de concluir o Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes, que apresenta soluções para a melhoria da eficiência da gestão do lixo em 22 terminais do país.
Elaborado por meio de um contrato de R$ 16 milhões, firmado em 2012 com a Secretaria dos Portos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o trabalho contou com a participação de aproximadamente 280 pesquisadores do país que imergiram na realidade portuária brasileira e do exterior para fazer um diagnóstico da situação dos resíduos produzidos em cada um dos terminais do país.
A conclusão a que eles chegaram é que os portos podem não apenas tornar mais eficiente o tratamento do lixo e ganhar dinheiro com a reciclagem, como até mesmo produzir energia para consumo próprio a partir dele. “Há momentos em que o porto do Rio, por exemplo, tem oito transatlânticos parados ao mesmo tempo. O que eles consomem é como se houvesse uma termelétrica de 80 MWh ligada só para isso”, calcula Freitas.
Atualmente, para atender à demanda, os portos geram energia utilizando diesel ou bunker, um óleo mais pesado que provoca grande acréscimo na poluição das cidades, além de produção de gases de efeito estufa. “Em alguns portos, como o de Paranaguá, podemos aproveitar os resíduos sólidos para a produção de biodiesel e instalar uma termelétrica de pequeno porte para atender o terminal”, exemplifica.
Segundo Freitas, os portos apresentam também boas condições para geração de outras formas de energia limpa, como a solar. Além disso, com uma gestão ambiental mais eficiente, podem economizar ainda outros recursos naturais, como a água. “Os terminais apresentam uma área de telhados extensa, o que torna possível o aproveitamento da água da chuva”, ressalta o especialista.
As conclusões do programa foram compiladas pelo Ivig em manuais de boas práticas para cada um dos portos pesquisados. Uma segunda fase do projeto, que implicará em um novo contrato de R$ 17 milhões com a Secretaria de Portos (SEP), prevê a transformação dessas ações em projetos básicos, para atrair investimentos privados.
“Haverá a participação da iniciativa privada em portos grandes, em que há bons negócios. Em outros, menores, serão feitos investimentos públicos em parceria com as prefeituras”, afirma o diretor do Departamento de Revitalização e Modernização Portuária da SEP, Antonio Mauricio Ferreira Netto. Em uma terceira etapa, segundo ele, o programa será estendido aos 15 portos restantes no país que não foram incluídos inicialmente.
Da primeira etapa, participaram os terminais do Rio e Itaguaí (RJ), Fortaleza, Natal, Recife, Suape, Cabedelo (PB), Maceió; Vila do Conde e Belém/PA; Itaqui/MA; Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus/BA; Vitória/ES; São Sebastião e Santos/SP; São Francisco do Sul, Itajaí e Imbituba/SC; Paranaguá/PR e Rio Grande/RS. Juntos, eles geraram, aproximadamente, 5,3 mil toneladas de material reciclável (metal, papel e plástico).
O Programa constatou que apenas dois portos – Itajaí e Recife – não precisam construir ou adequar uma área para destinação de resíduos porque já a possuem. Em relação aos efluentes sanitários, o Ivig concluiu que 17 dos 22 portos estudados necessitam buscar soluções, como a implantação de redes de coleta de esgoto.
Do Brasil Econômico