Um discurso no protesto do movimento Pegida (sigla em alemão para “Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente”) deve ter consequências jurídicas para o escritor alemão de origem turca Akif Pirinçci.
– É claro que há outras alternativas, mas infelizmente os campos de concentração estão hoje desativados – afirmou o autor sobre o palanque, em referência aos refugiados que têm sido acolhidos na Alemanha. O Ministério Público do país está estudando medidas legais contra Pirinçci por incitação ao ódio.
Após a declaração durante o protesto em comemoração ao primeiro aniversário do movimento anti-islâmico, o escritor recebeu aplausos.
Mas depois de discursar durante mais de 20 minutos, Pirinçci gerou descontentamento entre alguns dos cerca de 20 mil participantes da manifestação em Dresden, no leste da Alemanha, que gritaram “chega” e “sem demagogia”.
No discurso, o escritor disse que os políticos do país estão contra o povo, descreveu refugiados como “invasores” e falou em um possível “depósito de lixo de muçulmanos” na Alemanha.
Reconhecido pelo romance Felidae, de 1989, o autor é centro de polêmicas por ter posicionamentos de conteúdo homofóbico e xenófobo. Um dos títulos mais recentes publicados pelo escritor é Deutschland von Sinnen. Der irre Kult um Frauen, Homosexuelle und Zuwanderer (Alemanha fora de si: o culto demente a mulheres, homossexuais e imigrantes, em tradução livre).
Em seu discurso em Dresden, Pirinçci criticou o engajamento de um político do Estado de Hessen em prol de um centro de recepção para refugiados, e os manifestantes gritaram “resistir, resistir”. Foi então que ele citou os campos de concentração da Alemanha nazista.
Em reação ao protesto de segunda-feira, o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, pediu que os cidadãos se afastem do Pegida. “São extremistas de direita. Eles classificam, de forma generalizada, requerentes de asilo como criminosos e todos os políticos como traidores”, disse.
Agressão a repórter
O repórter da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) Jaafar Abdul Karim foi agredido ao cobrir a manifestação de segunda-feira. Ao tentar entrevistas, ele e o cinegrafista que o acompanhava foram cercados. Vários apoiadores do Pegida gritavam: “Vão embora, jornalistas mentirosos. O que vocês querem?”
Karim e o colega tentaram se afastar, mas um dos manifestantes bateu na nuca do repórter. “Procurávamos alguma forma de sair dali. Sem violência, só queríamos fazer perguntas”, contou Karim, que depois procurou a polícia.
Milhares de manifestantes anti-Pegida também foram às ruas de Dresden para demonstrar apoio à política de refugiados do governo Merkel. “Fora, nazis!”, gritavam contra os apoiadores do Pegida.
Cerca de 2 mil policiais acompanharam as manifestações, tendo reportado ataques por parte de membros do Pegida. Um homem foi agredido a caminho do protesto, ficando gravemente ferido.
Os protestos do Pegida, que começaram em 20 de outubro de 2014, reúnem regularmente milhares de apoiadores no centro histórico de Dresden.
Milhares de protestos
Milhares de pessoas participaram na segunda-feira, em Dresden, da marcha que marca o primeiro aniversário do movimento Pegida (sigla em alemão para “Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente”). Segundo o jornal regional Sächsische Zeitung, ao menos 20 mil pessoas estão reunidas no largo Theaterplatz, em frente à ópera Semperoper.
O Pegida havia se enfraquecido nos últimos meses, depois das acusações de racismo e das lutas internas, mas voltou a ganhar força com o debate em torno dos refugiados. No auge das manifestações, em janeiro, o movimento atraiu cerca de 25 mil pessoas, número recorde. Depois, a participação caiu radicalmente, para cerca de 2 mil, e voltou a subir para 9 mil nas últimas semanas.
Um tema recorrente nas manifestações do Pegida são às críticas à chanceler federal Angela Merkel e sua política de portas abertas para os refugiados. Um cartaz nesta segunda dizia: Dinheiro para as nossas crianças e não para os asilados de vocês.
Dresden também é palco, na noite desta segunda, de protestos contra o Pegida. O número de participantes foi calculado em cerca de 14 mil, cifra bem superior ao inicialmente esperado pelos organizadores.
Os dois grupos ficaram muito próximos um do outro ao passarem pelo centro da cidade. Houve troca de xingamentos e foguetes foram lançados dos dois lados. Segundo a polícia, um participante do Pegida foi gravemente ferido com uma barra de ferro.
O Estado da Saxônia colocou mais de mil policiais para fazer a segurança das manifestações. O governo apelou a ambos os lados para que evitassem a violência.
Os funcionários da Semperoper receberam os manifestantes do Pegida com uma tela eletrônica na qual eram exibidas mensagens contra o movimento, como “não somos palco para a xenofobia” ou “não somos palco para a intolerência”. À noite, a ópera desligou suas luzes em sinal de protesto.
Com informações do Correio do Brasil