No Brasil os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, com crescimento de 0,2% em relação ao último trimestre de 2011 (2,2% na variação anual), decepcionaram mesmo os mais pessimistas, situação agravada com a divulgação dos primeiros dados macroeconômicos de março e abril. O atual cenário mundial e nacional não é de maiores pressões inflacionárias e sim de incertezas quanto ao processo de recuperação. Mas as dificuldades para a retomada do crescimento, ao mesmo tempo em que traz sérios riscos para a economia brasileira, abre possibilidades de o governo continuar testando novos patamares para a taxa de juros (que já está no seu menor nível histórico).
Como o crescimento se mantém fraco há vários trimestres, o cenário mundial não sinaliza para problemas de choques de oferta e o preço das commodities vem caindo, as condições para a redução dos juros são extremamente favoráveis. As turbulências nos mercados internacionais, somadas à queda de juros no Brasil, levaram a uma oportuna desvalorização do real, de forma mais acentuada a partir de março, que colocou o dólar em um novo patamar, de R$ 2,00.
O comportamento da economia brasileira nos primeiros cincos meses do ano projeta um cenário onde dificilmente o país crescerá acima de 3% em 2012, com possibilidade de ficar abaixo desse patamar. A economia estadunidense anda de lado, a crise na Europa parece que não se resolve em menos de três anos, a China desacelera. Resta ao Brasil procurar se posicionar bem nesse meio tempo e apostar no seu mercado interno. Mas dificilmente a reação do mercado interno será como em 2009/10, porque os brasileiros comprometem hoje uma parcela maior de sua renda com financiamentos.
Por outro lado, a situação da indústria é preocupante, com ociosidade elevada de 81,5% (segundo a Confederação Nacional da Indústria). A desvalorização de 15% do real em relação ao dólar desde fevereiro tem ajudado um pouco a indústria e o desafio é manter o câmbio nesse patamar, ou melhorá-lo. Não há dúvidas de que mudou o “mix” de política econômica no país, com uma histórica redução de juros e uma taxa de câmbio bem mais desvalorizada. Se este novo ambiente macroeconômico tiver consistência, isto é, se tiver vindo para ficar, a taxa de investimentos na economia deverá aumentar, acelerando o ritmo de crescimento do PIB.
*José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.