Manuel Bandeira foi um dos nossos grandes poetas, com uma obra vastíssima que marcou pela liberdade do autor em navegar por todos os segmentos da poesia, sendo um dos grandes nomes do modernismo brasileiro.
Estou lendo alguns textos do poeta, e permito-me compartilhar com os leitores do Blog, confiram “Testamento”, escrito em 1943 onde ele repassa um pouco da sua vida, da qual foi desenganado na juventude. Ele viveu até os 82 anos.
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece
Tive uns dinheiros – perdi-os…
Tive amores – esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho meu.
Um filho!… Não foi de jeito…
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me desde eu menino,
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde…
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei.