Da lavra do amigo jornalista e poeta da solidariedade, Sandro Gomes, repórter do Notícias do Dia, reportagem especial na edição de hoje digna de capa com o título “Quando a rua vira o lar”, com edição de Rosana Ritta e fotos do grande Carlos Júnior, posto o vídeo do Baianinho neste blog com o respeito que devemos à esses artistas que precisam de ajuda, inclusive, para ter onde dormir. Parabéns Sandro e equipe do ND!
Categoria: Auto Ajuda
Perfis: Lauro Lorenzi, o pequeno grande cidadão
Quem vê aquele pequeno homem em frente a casa na rua Rio das Antas no Comasa, vestindo um agasalho esportivo, de tênis e óculos não imagina o quanto de participação ele teve, e ainda tem, na vida da cidade. O senhor Lauro Loreni, aposentado, 72 anos, hoje passa seu tempo cortando a grama do jardim, pescando com os amigos da Associação de Pescadores Novos Horizontes, lendo e fazendo arte com arames e um pequeno alicate. Rosários e correntinhas surgem para presentear amigos e familiares, e também da igreja católica do bairro onde tem atuação antiga e ainda freqüente. Antes de chegar nessa fase de sossego, Lorenzi escreveu sua história na vida pública e na educação.
Nascido em Jaraguá do Sul em família de 12 irmãos, “família de colonos”, afirma, Lauro Lorenzi foi estudar nos Irmãos Maristas em Curitiba (PR), passando também por São Paulo onde lecionou no Colégio Arquidiocesano, Rio de Janeiro e Santos (SP), até chegar a Joinville em 1960/61. Trabalho na Cia Jordan como auxiliar de escritório até 1963 quando um amigo lhe indicou espaço para trabalhar na Tupy, a grande indústria da época. “Fui cronometrista, calculando tempos de produção das peças, e cheguei a ser cronoanalista. Saí em 1973”, conta Lauro, para atender a um chamado para a vida pública. Seu amigo Elmar Zimmermann, vereador do PMDB, perguntou se ele estava disposto a assumir a Intendência do Distrito do Boa Vista no governo de Pedro Ivo Campos.
“Eu não sabia nada disso, de serviço público. No dia da posse o prefeito falou comigo e disse que precisava de alguém que se preocupasse com a comunidade, e eu aceitei”, lembra orgulhoso. Assumiu o cargo em 1973 e ficou até 1978 quando assumiu a direção do então Colégio Cenecista José Elias Moreira sucedendo Gonçalo Nascimento. “Eu já lecionava história e geografia desde 1967 no Elias. Primeiro em salas no colégio Plácido Olimpio no Bom Retiro, depois na escola Castelo Branco no Boa Vista onde fui coordenador. Daí o Gonçalo me convidou e fui seu vice, até assumir a direção. Estudei administração na ACE, me formei, e fiquei até 1980”, narra Lorenzi. Da época ele guarda as melhores lembranças da vida, tem mais saudade. “Introduzimos o pré-escolar e construímos o auditório, coisas ousadas”, relata.
Lauro retornou à Prefeitura já com Luiz Henrique Prefeito, assumindo a administração regional sul. Estimulado pelo prefeito, por Pedro Ivo e Freitag, o professor concorreu a vereador em 1982 e venceu com boa votação. Como tinha feito um bom trabalho na gestao Pedro Ivo na fabricação de tubos, logo recebeu convite de Freitag para tocar a fábrica de tubos em Pirabeiraba, recém adquirida pela Prefeitura. “Lá fizemos história, aumentando a produtividade enormemente. A equipe fazia apenas 18 tubos dia. Passaram a produzir 94 tubos/dia. O segredo? “Dieter Neermann era nosso chefe. O grande problema da Prefeitura até hoje é a falta de motivação. Introduzimos a produtividade, pagando horas extras se eles produzissem mais que o planejado. Deu certo”, conta.
Para isso dar certo tiveram que mostrar ao Prefeito, durão, que eles poderiam fazer. “Falamos que dariamos um engradado de cerveja e um de refrigerante se eles atingissem a meta no final da semana. O prefeito iria lá na hora do café, na sexta. Na quinta eles já tinham atingido a meta. Freitag foi lá e adorou o resultado”, fala Lorenzi sorrindo. Ela nao foi feliz na reeleição, mas já tinha se decepcionado com a face obscura da política. “Mas consegui ajudar a comunidade. Consegui a pavimentação da Baltasar Buschle, a abertura da Helmuth Falgatter e a pavimentaçao da Albano Schmidt até o Valente Simeoni”, relembra. Da política lembra das amizades que fez. “Foi o melhor”, diz.
Casado há 47 anos com Tereza Dias Lorenzi, três filhas naturais e uma adotiva e seis netos, Lauro continua a morar no mesmo lugar no Comasa, em rua sem pavimentaçao. O casal vive rodeado das filhas, com quem se reunem todos os domingos para almoço em familia, sagrado. Ainda atua na igreja Sao Paulo Apóstolo nos encontros para noivos e na coordenaçao de atividades da comunidade. Com simplicidade, o ex-professor, ex-vereador e ex-funcionário público deixa duas constatações de hoje. “Na política atual falta honestidade. Antes se lutava para ganhar e ajudar o povo. Hoje se ganha para ganhar mais individualmente”, critica. Sobre a educação: “Falta motivaçao do corpo docente. As famílias estão desintegradas, e cobram o que não fazem em casa”, destaca.
Publicado no Jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) na seção Perfil no mês de junho de 2011.
Pastoral Antialcoólica, exemplo de cidadania e organização popular
Na noite de fria de ontem, segunda-feira, em Joinville (SC), atendi convite do amigo, microempresário e líder comunitário do bairro Fátima, Luiz Carlos Salles, e participei da minha primeira reunião da Pastoral Antialcoólica onde a entidade foi fundada em 1994 – Igreja São João Batista. Apesar do frio intenso, intensa era também a receptividade e o acolhimento que as cerca de 50 pessoas presentes ofereciam a cada um que chegava.
Em cada rosto e olhar, a prova de que não existe o impossível em nossas vidas, se quisermos sair de determinada situação que nos aflige, maltrata ou desagrada. Os cabelos grisalhos de homens e mulheres – sim, havia mulheres também! -, o sorriso de pessoas jovens, de adolescentes e gente de meia-idade, esbanjava alegria por estar ali, comemorando mais um dia sem álcool, mais um dia de sobriedade.
Tudo na Pastoral é feito com método. Desde a hora de inicio, passando pelo silêncio respeitoso a quem está testemunhando sua vida e sofrimento, até o tempo máximo de falação, e chegando à comemoração final com café, água e refrigerante, a organização é perfeita, e a participação é motivada e quase exigida de todos que frequentam.
Fui acolhido com carinho, e apresentado por Salles como um apoiador antigo da Pastoral, coisa que até eu não lembrava mais de ter feito em alguma época. Escrevi projetos, abri caminhos para a criação da logomarca, e outras coisas que meu amigo e fundador da Pastoral me fez lembrar. Agradeci a oportunidade de estar ali, e destaquei que já perdi um irmão por conta do álcool, e sei o que ele causa nas famílias, para a saúde de todos, para a sociedade. E passei a ouvir a reunião, e observar o belo trabalho que fazem.
Emocionou a todos os testemunhos de pessoas que receberam medalhas por três, seis meses, sete anos e até 16 anos de sobriedade. Principalmente quando uma menina e um menino adolescentes falaram sobre a vida que recomeçava com seu pai sem beber álcool, a paz voltando ao lar, e a luta que empreenderam junto com a mãe e uma vizinha para salvar sua família. Simplesmente maravilhoso ver aquilo. Esquenta o coração de qualquer um.
A Pastoral Antialcoólica tem hoje 21 núcleos pela cidade, que certamente ajudam muito na redução de crimes familiares, acidentes e internações, um forte apoio na saúde pública e assistência social na maior cidade catarinense. Um trabalho sério, religioso por ser ligado à Igreja Católica, mas aberto a todas as denominações religiosas – aliás, até um membro da Igreja do Evangelho Quadrangular estava recebendo a medalha – que mostra onde pode chegar um povo se existir vontade, união e determinação.
Exemplos como esse existem em todas as áreas, e devem ser motivados, apoiados e financiados, porque rendem frutos poderosos para a reconstrução da família e da sociedade, tão atacadas que são pelo consumismo, modismos e mudanças culturais de nossos tempos. Parabéns a todos e todas que me receberam tão bem na noite fria de inverno, vocês são as pessoas que realmente fazem a diferença! Continuem esse belo trabalho, e contem com este Blog para divulgar suas atividades.
Perfis: Ideraldo Luiz Marcos, o Neco – De chapa a árbitro de futsal consagrado
Nascido em família pobre do Itaum, o menino filho do seu Alires Marcos, mais conhecido por Dico – treinador de escolinhas que já foi retratado no perfil – e de dona Maria Madalena Marcos, aprendeu desde cedo com eles que na vida é preciso ser honesto, trabalhar muito e perseverar. De saca em saca de açúcar que carregava ao lado do pai no Atacado Diana, Ideraldo Luiz Marcos, o Neco, foi moldando seu futuro. Com o esporte em primeiro lugar, o menino já aos 12 anos jogava no time do Pio 12 no Sagrado Coração de Jesus no bairro Bucarein. Com 15 já era o dono do time, organizando agenda de jogos e torneios.
Graças ao amigo Linor do Rosário, volta e meia apitava alguns jogos amistosos do Caxias no Ernestão. Ao mesmo tempo estudava no Colégio Estadual Celso Ramos à noite. Durante o dia trabalhava como chapa. Com o dinheiro do trabalho no último ano do então segundo grau, atual ensino médio, Neco resolveu fazer o vestibular para o curso de Educação Física na Furj, hoje Univille. Passou e se formou em 1979. Chegou a jogar no time de futsal do Guarani com Salomárcio, Renato Cassou, Kimura. “Eu era um fixo forte, só ‘chegava’”, conta ele aos risos altos, marca registrada. Seu primeiro emprego foi no Jec em 1980 como auxiliar técnico de Paulo Coutinho. “Treinei o Hélio dos Anjos, Lico, Barbieri, Adilço, grandes craques”, relembra Neco. Ficou no clube até 1984.
Irrequieto, o jovem já se firmava como árbitro nas horas vagas. Apitou o primeiro Copão Kurt Meinert em 1977. Já professor de educaçao física formado, Neco foi também o primeiro preparador dos deficientes visuais na cidade. “Trabalhei voluntariamente na Ajidevi entre 1983 e 1986. Nao sabia nada, mas fui aprender. Usei cordinha de varal para as corridas que faziamos na pista do Ernestao, cedida pelo seu Mauro Bley”, conta. Nesta época o sonho de ser árbitro ganhou mais força. “Meu sonho era o apito”, revela ao comentar que já era muito requisitado. “Eu posso dizer que vivenciei o sonho em plenitude”, explica o professor de 52 anos, pai de Thomas, 19 anos. Em 1986 entrava no magistério estadual via concurso para trabalhar na escola estadual Alpaídes Cardoso, no bairro Nova Brasília.
De nove irmãos, ele e mais sete irmãs são professores. O professor Neco trabalhou em várias escolas, sofrendo também preconceito por se afastar várias vezes para apitar jogos pelo Brasil. “Muitos não entendiam minhas ausências, licenças, para apitar jogos da Liga de Futsal, Jogos Abertos”, explica. Neco foi árbitro do primeiro jogo da primeira edição dos Joguinhos Abertos. Fez história levando o nome de Joinville e de Santa Catarina por todo o país como árbitro de futsal. “Fui o único árbitro joinvilense que foi da Confederação Brasileira”, ressalta Neco. Ele estima ter apitado cerca de 40 mil jogos na carreira que durou 25 anos e encerrou oficialmente em 2008. “Agora é só pelada”, diverte-se.
O auge da carreira o levou a apitar quatro finais seguidas da Liga de Futsal nacional em 1998, 99, 2000 e 2001. “O dia mais feliz, e também o mais triste de minha vida foi final entre Miécimo (RJ) e Atlético (MG). Minha mãe estava na UTI em Joinville, e eu apitando a final no Mineirinho para quase 26 mil pessoas, o maior público da história do futsal. Chorei o jogo todo, e quando voltei no dia seguinte minha mãe faleceu”, conta. O pai Dico morreu no final de 2010. Neco ressalta sua presença no movimento afro. “Presidi o Kenia Clube durante seis anos, recuperando a sociedade para a raça negra. Fui diretor técnico da Fundação de Esportes, onde recolocamos o futsal joinvilense em atividade com o Jec/FME Futsal em 2000 e atuei também no futebol de campo”, destaca.
Hoje o professor Neco encampa novo sonho: a criação da Liga Norte de Futsal, a Linfesc. “Vamos dar abrigo aos árbitros desabrigados e promover campeonatos em todo o norte de Santa Catarina”, revela. Como professor mantém aulas na escola Maria Amin Ghanem, e hoje trabalha com os filhos de seus ex-alunos. Diabético, Neco leva a vida mais devagar, mas não se afasta do esporte. “Minha vida foi pautada pelo esporte. Fiz grandes amigos, não sei viver longe das quadras”, afirma. Conta que nunca ganhou dinheiro com arbitragem – “mas conheci muita coisa”- e só não chegou a ser da FIFA por imagem. “Eu não tinha o corpo exigido, eles achavam que eu não tinha condicionamento físico”, comenta magoado.
Pós-graduado em Ciência do Futebol e do Futsal pela Fundação Castelo Branco (Ficab), Neco agora se concentra na Linfesc, nas aulas diárias aos alunos do bairro Aventureiro, e nos cursos de arbitragem. “Dei aula para 500 árbitros do Brasil todo pela Federação Catarinense de Futsal. Passo a eles minha experiência, porque nunca deixei nenhum atleta bagunçar jogo meu”, revela orgulhoso. Da vida que iniciou carregando sacos de açúcar com o pai Dico, superando preconceitos, estudando e lutando para concretizar sonhos, Neco deixa seu recado à juventude. “Nunca deixe de tentar. Você pode ser o que quiser ser, se você quiser e lutar por seus sonhos”. Boa juiz!
Publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia de Joinville em Junho de 2011.
Entenda o que é o oxi e como a droga se espalhou pelo Brasil
Os primeiros relatos de consumo do oxi foram registrados no Norte do Brasil, mas, nos últimos dois meses, a droga já foi apreendida em pelo menos 13 Estados do país.
Apesar de ter sido apontada como uma nova droga pela mídia, o oxi é considerado por especialistas como uma variação mais barata e tóxica do crack, que combina a pasta base de cocaína com substâncias químicas de fácil acesso.
Entenda as principais características do oxi e saiba o que já foi descoberto sobre os efeitos e a proliferação da droga.
De que é feito o oxi?
O oxi é uma mistura da pasta base de cocaína, fabricada a partir das folhas de coca, com substâncias químicas de fácil acesso, como querosene, gasolina, cal virgem ou solvente usado em construções.
De acordo com o perito do Instituto de Criminalística de São Paulo, José Luiz da Costa, a fabricação da pasta base de cocaína – da qual também são feitos a cocaína em pó, o crack e a merla – também é feita utilizando uma substância alcalina e um solvente para extrair uma maior quantidade do princípio ativo da planta, responsável pelo efeito principal da droga no sistema nervoso.
“Para se transformar em oxi, a pasta recebe novamente uma quantidade de solvente e alcalino. Só que, desta vez, são produtos como o querosene e o cal, ainda mais tóxicos do que o bicarbonato de sódio, o amoníaco e a acetona, usados para fazer o crack e na cocaína em pó”, diz o perito.
A droga pode ser misturada ao cigarro comum e ao cigarro de maconha, mas, geralmente, é fumada em cachimbos de fabricação caseira, como o crack.
Segundo o psiquiatra Pablo Roig, diretor da clínica de reabilitação Greenwood, em São Paulo, o oxi libera uma fumaça escura ao ser consumido e costuma deixar um resíduo marrom, semelhante ao efeito da ferrugem em metais.
Por isso a droga recebeu o nome de oxi, uma abreviação de “oxidado”.
Como a droga chegou no Brasil?
Especialistas e investigadores afirmam que o oxi começou a entrar no país pela fronteira com a Bolívia, que é o terceiro produtor de cocaína do mundo, segundo dados da ONU.
Há relatos de que o uso do oxi começou em Estados como Acre e Pará há cerca de 20 anos, mas, ao que tudo indica, começou a se espalhar pelo país nos último sete anos.
ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
Perfis: Valdir Moreira, o Betara – Futebol amador e sindicalismo no sangue
O sonho dele era ser jogador de futebol profissional, mas o destino o levou ao trabalho como torneiro mecânico e, finalmente, o sindicalismo. Valdir Moreira, 63 anos, é desconhecido para a grande maioria, mas o Betara, apelido e nome de guerra desde a infância – “é nome de peixe, mas nem meu pai sabia por que o chamavam assim também” -, é figura carimbada nas portas das fábricas entregando jornais, discursando em cima de caminhões de som, ou simplesmente conversando com trabalhadores e trabalhadores nas madrugadas, dividindo o café das garrafas térmicas com seus companheiros de luta.
Caxiense de coração – “coisa de família, desde pequeno” – pois nasceu na avenida Getúlio Vargas, ao lado do antigo campo do São Luiz (hoje existe o Elias Moreira no terreno), também tem paixão pelo Flamengo do Rio. Com dois anos Betara foi para a avenida Cuba, lendária região do Bucarein que foi celeiro de grandes craques do futebol joinvilense como Piava, Correca, Orlando, Tete, Giga, Helio Sestrem, Canã, Paca, Vieira e tantos outros, segundo elenca o ex-jogador de futebol amador, hoje avô de cinco netos, pai de quatro filhos com a esposa Erna, uma união que já dura quase quatro décadas.
O guerreiro atarracado, cabelos brancos e andar rápido com a inseparável pochete, lembra com saudades daqueles tempos. “Me criei jogando bola no campo do Santos, do Estrela. Vivia na casa de dona Amélia e seu Alemão, pais do Giga, Tite e Orlando, pessoas que reverencio e tenho saudades”, fala Betara. A família Moreira tem estreita ligaçao com o futebol. Jurandir Moreira, grande centroavante que jogou na Tigre, é seu primo. Betara buscou seu sonho no futebol. Jogou no Santos da avenida, Fluminense do Itaum, Juventus do Iririú, Tigre, Baependi de Jaraguá do Sul e Caxias, onde foi campeão do torneio Vera Fischer. “Jogava bem, mas não tinha cabeça. Larguei tudo e fui trabalhar como torneiro mecânico”, conta. Bola, só nas peladas das empresas e em veteranos.
Se o futebol perdeu um craque – “a turma dizia que eu jogava bem” – o sindicalismo ganhou uma liderança forte. Betara começou a trabalhar na Oficina do Jaci, foi para São Paulo trabalhar na oficina do primo. Voltou e serviu o exército, período em que jogou no extinto Guarani. Fundemaq, Kawo, Embraco, Granalha de Aço e Wetzel Tecnomecanica foram outros empregos até se aposentar, aí já alinhado ao Sindicato dos Mecânicos. “Sempre fui contestador. Uma vez demitiram colegas injustamente. Fizemos greve, e eles foram reintegrados. O Dentinho e o João Batista me colocaram na diretoria, e estou até hoje na luta”, afirma Betara.
Ele foi pegando gosto pela atividade. Em defesa dos direitos dos trabalhadores participou de várias greves, paralisações. Foi até da executiva da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre 1995 e 98, morando em Florianópolis. “Viajei o país inteiro, fazendo política sindical. Conheci o Lula nos eventos nacionais da categoria, tenho orgulho dessa trajetória”, comenta feliz. A morte do pai, e o roubo de todos os pertences da sua casa, no Costa e Silva, o fizeram voltar para Joinville. Combativo, não poupa nem colegas quando entende que há o que discutir em favor dos trabalhadores. “Eles me respeitam”, explica, agradecendo especialmente ao atual presidente João Bruggmann, que o trouxe de volta para a direção.
Após quase 20 anos no sindicalismo, ele busca filiados para o Sindicato todos os dias. Conta que há filiados em 400 das 700 empresas da categoria. Cheio de fotos da sua história, Betara diz lamentar que os campos de futebol do São Luiz, do Santos e outros tenham sumido. “Neles é que se criavam os craques, é uma tristeza, uma decepção”. Sobre a data de parada, ele prefere não comentar, mostrando apreensão. “Estar aqui é um orgulho, uma emoção muito grande, eu amo isso aqui. Marcou minha vida”, conta emocionado, para encerrar dizendo que não tem nada melhor que conversar com os trabalhadores no dia a dia e ajudar. “Sindicalismo e futebol é assim, depois que se conhece e participa, é difícil de largar”.
* publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia Joinville – Maio de 2011
Perfis: Marilda Oliveira Ramos – “Minha vida é a escola”
Ela foi aluna de professoras que marcaram história em Joinville, como Herondina Vieira, Ady Lopes dos Santos e Lia Jardim, profissionais em quem se espelhou para fazer o melhor na educação, onde queria atuar desde que se deu por gente. Marilda de Oliveira Ramos é talvez a recordista em tempo de trabalho na área, e principalmente na direção de escola. Há 45 anos ela é professora, e há 43 dirige a escola municipal Heriberto Hülse no bairro Boa Vista. Nascida em Brusque, ela é fruta que não caiu longe do pé, pois os avós, a mãe, irmãos são professores, e até os dois filhos também dão suas aulinhas.
“Minha vida é a escola”, afirma Marilda com convicção e alegria que passa pelos olhos azuis. Ela conta que começou a trabalhar na escola quando se denominava Júlio Machado da Luz, na gestão do prefeito Nilson Bender em 1966. Tinha 18 anos. Morava no Glória e estudava no colégio Celso Ramos. O trajeto era feito de bicicleta. Marilda lembra que foi surpreendida quando Iraci Schmidlin, então secretária de educação, avisou a ela que iria assumir a direção da escola. “Dona Iraci Schmidlin me comunicou. Eu fiquei super-nervosa. Imagina, tinha apenas 19 anos. Mas ela disse que conhecia minha família e acreditava na minha competência”, fala a diretora.
A transição foi complicada, mas ela não esmoreceu. Com muito tato e fé em Deus, segundo ela, foi compensando a falta de experiência com muita presença na escola. “Meu marido me apoiou muito. Ele ficava com os filhos, levava na creche, tudo. Assim fui conquistando a equipe, e estou aqui até hoje”, explica Marilda, reafirmando que faria tudo novamente se fosse preciso. Naquele tempo só havia ônibus e hora em hora, a rua Albano Schmidt era de chão batido. “Seu Moreira, o motorista, esperava os professores para tocar em frente”, comenta. Formou-se em pedagogia na primeira turma da faculdade do Guimbala – atual Associação Catarinense de Ensino – em 1974.
Em 1996 aposentou com 30 anos de serviços prestados no magistério, mas o destino a colocou novamente frente a frente com Iraci Schmidlin, novamente secretária de educação, agora no governo de Wittich Freitag. “Ela me convenceu a fazer novo concurso, e passar bem. Fui a quinta colocada. Assim que foi homologado o concurso, ela me nomeou novamente professora, e a seguir, diretora na mesma escola”, relembra. Marilda sobreviveu a vários administradores públicos desde o fim da década de 1960. Nilson Bender, Harald Karmann, Pedro Ivo, Luiz Henrique, Freitag, Luiz Gomes, Freitag, Luiz Henrique, Tebaldi e agora Carlito Merss foram os Prefeitos. Como superou as nuances da política? “Defendo a educação, e trabalhei duro, honestamente. Essa foi a receita. Nunca pedi para ficar”, conta.
Dos tempos em que começou a lecionar, a diretora diz que o que mudou muito foi a família. Segundo Marilda, a desestruturação familiar atinge a educação, já que os pais estão cada vez mais sem tempo para participar da vida dos filhos, há separações, mudanças nas relações familiares. Outra situação é a tecnologia, que desafia os professores. “Antes a professora ensinava o aluno a pegar o lápis, quando iniciava na escola. Hoje a criança tem acesso à internet, muita informação, são muito criativas, sabem de tudo. O professor tem de correr atrás, e é isso que fazemos aqui na equipe”, ensina. A escola mantém um blog no endereço www.emheribertohulse.blogspot.com para interagir com alunos, pais e comunidade.
A escola, que já teve mais de mil alunos na década de 1970, conta com 430 crianças em dois turnos, além de funcionar à noite com turmas da Educação de Jovens e Adultos e do Pró-Jovem. Marilda se orgulha do trabalho, que exerce com paixão. Para ela o olhar da criança, o abraço diário, a vivencia na escola não tem preço. “Não me vejo fora daqui. É difícil desapegar. Eu me preparo há três anos para isso, mas é complicado. Moro aqui perto, venho de carro para ajudar em alguma emergência. Ainda quero construir a quadra coberta, é meu sonho. Aí quem sabe, eu paro”, fala entre risadas. O sombreiro e o fícus plantados há 40 anos, comunidade, ex-alunos, professores, ex-professores são testemunhas dessa história de amor pela educação.
* publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia Joinville no mês de maio de 2011.
A música do dia, mais uma do Ney Matogrosso – Sangue Latino
http://youtu.be/ENJh1_xzx6c
Perfis: Jean Helfengerger – Com o Vasco, sempre
Ele é sócio do Vasco, com carteirinha e tudo. Se tiver jogo do clube na televisão, deixa os amigos na mão no futebol. Os mesmos que convida para ir em caravana para Curitiba ou Florianópolis para prestigiar o Vascão. Ou ainda, passa 15 dias sem ir à faculdade por uma derrota para o Flamengo em 2001 com o famoso gol do Petkovic aos 43 do segundo tempo. Declama de cor a escalação dos quatro times campeões brasileiros pelo time carioca. E finalmente, dá o nome de Felipe ao filho, de um ano e sete meses, homenageando o craque do Vasco.
Esse é Jean Helfenberger, 31 anos, empresário e morador do bairro Costa e Silva, casado com Fernanda, a quem teve de convencer para dar o nome ao filho, formado em jornalismo. Na sua casa, que fica no mesmo terreno onde ficam também a empresa e a casa dos pais, há um quarto onde ele deposita toda a sua paixão pelo clube cruzmaltino de São Januário. Entre pôsteres, quadros, copos, canecas, almofadas, faixas e agasalhos, Jean coleciona 57 camisas, até agora. A paixão iniciou por volta dos 10 anos.
“Meu avô serviu no Rio de Janeiro, jogava basquete. De lá é que o seu Theófilo Godrich Helfengerger trouxe essa mania”, brinca o descendente de suíços. O pai também é vascaíno, mas nao tao “doente” quanto o filho. Jean cresceu com a era Romário, depois de Felipe, Juninho Pernambucano, Euler, Ramon, que hoje joga no Jec, de quem ele também é sócio. Se jogou futebol? Ele responde: “Futebol é minha paixão. Não bebo, não fumo, só vou no 25 de Agosto. Mas jogar, prá ser profissional, logo vi que não dava. Só joguei no amador, e pouco”, confirma.
Divertido, o empresário formado em jornalismo não esconde que sonha ainda trabalhar com jornalismo esportivo, mas no rádio, causa que o levou a cursar a faculdade. “Ouço rádios do Rio, de São Paulo. Quando eu namorava minha esposa, levava o radinho prá casa da sogra!”, conta sorrindo. Jean conta que nasceu no 25 de Agosto, onde seu pai é diretor e sócio dos mais antigos. “Meu pai Ivo Helfenberger, é diretor lá. Lá fui batizado, fiz a festa do casamento, é uma extensão da casa”, explica. De 2008 a 2010 ele treinou algumas turmas da escolinha do clube, mas a família, o nascimento de Felipe e o trabalho o fizeram dar uma parada. “Quando ele tiver uns seis, sete anos eu volto”, afirma.
O fanatismo é tanto que histórias não faltam. Além dos fatos citados no início da reportagem, Jean conta do sofrimento na derrota de sete a dois para o Atlético Paranaense em 2006. “Quando estava seis pro Atlético eu não agüentei. Fui pro estacionamento, mas nosso carro estava trancado por outros. Para piorar, toda hora um menino passava e gritava “A-tlé-ti-cooo”, comenta. Nem a imagem da Santa Paulina não escapou de uma vitória do Vasco, agora na final contra o Palmeiras, vitória de virada por quatro a três para o Vasco.
“Minha mãe me deu a imagem e disse que ela ajudaria. Pensei: se ela é boa, vai ajudar. Coloquei em cima dos foguetes que armei para a vitória. Primeiro tempo, três a zero pro Palmeiras, tirei tudo da rua, bandeiras, camisas. Esqueci da Santa. Quando o Vasco virou e ganhou, corri e soltei os foguetes. A Santa ficou queimada, nem sei onde a mãe guardou, pois só achou no outro dia no terreno”, conta entre risadas. No dia do casamento, por causa de um jogo do Jec e outro do Vasco, ele chegou em cima da hora, depois de várias testemunhas.
O fanatismo pelo clube é também enorme pelo esporte. Nele Jean fala que fez muitas amizades, e que jamais ofendeu alguém por sua preferência clubística. O vascaíno sonha em ver um Flamengo e Vasco no Maracanã, e quer convidar o meia do Jec, ex-Vasco, Ramon, para conversar em sua casa. “Tenho várias camisas autografadas, quero também a assinatura dele. Penso também em criar a torcida organizada do Vasco na cidade, quem sabe com o grupo de amigos que já temos”, finaliza o fanático torcedor e esportista.
* publicado no jornal Notícias do Dia em maio de 2011