O médico e os monstros no estupro de uma menina de 10 anos

A criança de 10 anos que engravidou após ser violentada por um tio em São Mateus, no Espírito Santo, começou o procedimento de aborto neste domingo, após o Tribunal de Justiça do Espírito Santo conceder a ela o direito previsto na lei brasileira de interromper uma gravidez fruto de um estupro. Por tratar-se de uma menina que era violentada desde os 6 anos, o caso deveria correr em absoluto sigilo, como tantos outros no Brasil, pela preservação da vítima e por tratar de um assunto delicado, que é o aborto, mesmo legal. Mas o processo da menina virou joguete político, depois de vazar para a imprensa sem explicação. O caso deveria ter ficado no âmbito da saúde, uma vez que outros casos do gênero nem passam pela Justiça.

Centenas de meninas estupradas são obrigadas a recorrer um aborto legal no Brasil sem precisar de autorização da Justiça e sem que a opinião pública tome conhecimento. O papel do serviço de saúde é seguir o protocolo do Ministério da Saúde para estes casos e realizar a interrupção da gravidez. Mas a repercussão obrigou o Estado do Espírito Santo a buscar uma solução longe dali. A menina viajou para o Recife, onde foi atendida no Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros (Cisam), que atende casos como o dela. São ao menos 40 abortos legais por ano, segundo o doutor Olympio Moraes Filho, diretor do Cisam, e que já cuidou de muitos casos similares, seguindo a lei.

Ao lado da avó, e de seus bonecos de pano, a criança capixaba estava serena enquanto aguardava o início da primeira etapa do procedimento, relatam testemunhas. Estuprada desde os 6 anos por um tio, a vítima e sua família perderam a privacidade inerente a casos tão violentos como este. Do lado de fora da clínica, um grupo de pessoas de mãos dadas gritavam “Assassino” para o médico Moraes Filho. A vó, no entanto, estava segura da decisão tomada, seguindo o pedido da própria neta.

O caso ganhou repercussão depois que a ministra Damares Alves, da Secretaria da Mulher, deu publicidade ao caso em redes sociais, e enviou emissários para a cidade do Espírito Santo. Neste sábado, Alves se manifestou em sua página do Facebook, lamentando a decisão da Justiça de autorizar o aborto. Também bolsonarista Sara Giromini, que ganhou fama por fazer protestos em frente ao Supremo Tribunal Federal e chegou a ser presa, expôs o detalhes do caso nas redes sociais. Damares já havia enviado emissários da Secretaria para São Mateus para acompanhar o caso.

O gesto da ministra criou um clima de terror e de caça às bruxas na Justiça de São Mateus, uma cidade de 130.000 habitantes, a 183 quilômetros da capital capixaba, Vitória. O assunto virou palanque político, segundo fontes próximas ao caso, e uma “crueldade cínica” para a vítima, que é negra, e vive com a avó, ambulante. A sensação de que ela poderia dar conta de uma violência dessa estatura mostrou traços de racismo e indiferença pela sua classe social entre os que a atenderam no serviço público, dizem. A menina vive um quadro comum a milhões de crianças pobres no Brasil. Sua mãe foi embora, o pai está preso, e o tio que a estuprou, e é procurado agora pela polícia, é um ex-presidiário.

A avó, porém, é identificada como alguém bastante responsável com a educação da menina. Só não estava por perto dela quando tinha de trabalhar. Tanto ela como a própria neta deixaram bem claro à Justiça que queriam ser amparadas pela legislação brasileira e interromper a gravidez que é fruto de violência. A reação da menina era de desespero quando se insinuava manter a gravidez, segundo testemunhas. Ela já está de 22 semanas, prazo limite para interromper a gestação, segundo norma técnica do Ministério da Saúde. Para Fagner Andrade Rodrigues, promotor da Infância e Juventude de São Mateus, a interferência externa, neste caso, é inadmissível. “A difícil escolha íntima a cargo da família da vítima de violência não pode sofrer interferência política, religiosa ou de qualquer natureza”, diz ele. “Trata-se de uma violação abominável aos direitos humanos”, completa. O aborto em caso de estupro de vulnerável está previsto no Código Penal Brasileiro há 80 anos.

O médico Olympio Filho encarou a pressão sem temer represálias. Não é a primeira vez que o obstetra se vê diante de um caso que gerou estardalhaço público. Há 12 anos, ele chegou a ser excomungado pela Igreja de Pernambuco por interromper a gravidez de uma menina de 9 anos, que também fora estuprada pelo padrasto. Agora, sofre pressão de evangélicos do Estado. É ele quem vai examinar o caso da criança grávida que chega do Espírito Santo para obedecer ao procedimento e ao desejo dela. “Manter a gravidez é um ato de tortura contra ela, é violentá-la novamente, é o Estado praticar uma violência tão grande ou maior do que ela já sofreu”, afirma. Há, ainda, um risco obstétrico, de hemorragia, além de pesar a ausência de estrutura psicológica para assumir uma maternidade fruto de uma violência, alerta. “Primeiro é preciso preservar a criança [vítima do estupro], e depois dar o apoio psicológico para ela superar isso. O dano é muito maior se você a obriga a manter uma gravidez”, completa.

Um dos pontos aos quais os conservadores se apegam é o fato de a gravidez ter chegado 22 semanas. Essa seria a razão para o hospital que atendeu a jovem ter sido contrária a apoiar a interrupção da gravidez. “Quanto sofrimento!”, escreveu a ministra Damares Alves, em sua página no Facebook. “Os médicos do Estado do Espírito Santo entendem que o aborto nesta idade pode colocar em risco a vida da mãe ou deixá-la com sequelas permanentes, como útero perfurado”, diz ela, algo que contradiz a própria norma técnica do Ministério da Saúde.

A norma prevê que em caso de estupro o aborto pode ser feito com até 22 semanas de gestação, ou o feto pesar 500 gramas. A ministra, porém, apelou para seu lado religioso ao abordar a questão. “Meu coração aqui apertado. Desde domingo passado oro por esta criança para que tudo sua vida seja preservada e para que ela fique bem”, disse, dizendo que confia no poder Judiciário para cuidar do caso.

Especialistas garantem que não há restrições para abortos quando a vida da mãe corre risco, como é o caso da criança capixaba. Se por um lado há barulho e um clima ameaçador para quem está dando suporte à menina capixaba, por outro, a publicidade pode ter um efeito bumerangue. Ao cumprir a lei e realizar o procedimento, o caso se torna pedagógico para os hospitais públicos de cidades menores que se deparam com casos dessa natureza.

A cada hora, quatro meninas brasileiras de até 13 anos são estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, e a maioria dos crimes é cometido por um familiar. Em 2018, último dado disponível, foram mais de 66.000 estupros no Brasil, 53,8% de meninas com menos de 13 anos. O embate de conservadores, incluindo a bancada evangélica, se intensificou nos últimos anos, seguindo o padrão da direita radical em outros países.

  • matéria do El País, a qual o Palavra Livre assina embaixo e compartilha

Fascismo – Cardeal de São Paulo é agredido em missa na Catedral da Sé

O cardeal de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, foi atacado na manhã desta quinta (24), na Catedral da Sé, por uma mulher que acusou-o e à CNBB de serem comunistas infiltrados na Igreja Católica.

 Aos gritos, ela dizia: “Você e a CNBB são comunistas infiltrados; não podem fazer isso com a minha Igreja”.

Ela avançou sobre o cardeal e arrancou sua mitra, derrubando-o ao chão e ferindo-o no rosto.

Dom Odilo levantou-se com ajuda das pessoas em volta e seguiu caminhando e abençoando as pessoas na catedral lotada.

Tudo aconteceu durante a missa dos Santos Óleos, que abre as celebrações do Tríduo Pascal.
A Igreja tratou o assunto com discrição. Dom Odilo não falou do assunto publicamente.

Segundo a cúpula da Igreja em São Paulo, a mulher não identificada apresentava evidentes sinais de desequilíbrio, mas os padres ouvidos por por Jornalistas Livres estavam preocupados com a agressão no contexto da crise política nacional.

O padre Luiz Eduardo Baronto, cura da Sé, afirmou não entender a origem da agressão: “Não sei se ela agiu por orientação de alguma organização ou por conta própria.”

De acordo com nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, Scherer está bem e vai presidir todas as celebrações da Semana Santa.

Com informações do Jornalistas Livres, Ag. Brasil

Estado Islâmico reivindica atentados em Bruxelas

PalavraLivre-atentado-terrorista-bruxelas-estado-islamicoO grupo terrorista Estado Islâmico (proibido na Rússia) reivindicou os atentados que sacudiram nesta terça-feira a capital da Bélgica, Bruxelas, informa a agência italiana Askanews alegando fontes ligadas ao próprio EI. Duas explosões atingiram nesta terça-feira às 08h00 (horário local) o aeroporto internacional de Bruxelas.

As autoridades consideram que um dos engenhos explosivos foi acionado por um homem-bomba. A terceira explosão ocorreu em um trem de metrô na estação de Maelbeek.

Em resultado, morreram pelo menos 34 pessoas, mais de 150 ficaram feridas. O primeiro-ministro belga qualificou as explosões como atentados terroristas.

Testemunha
À agência russa de notícias Sputnik falou com Jana Toom, deputada da Estônia no Parlamento Europeu e testemunha do atentado que sacudiu o aeroporto de Bruxelas.

– Estou na pista de decolagem com milhares de passageiros como eu. Não sabemos nada, a ligação móvel funciona em uma só direção. Eu conheço as novidades através dos amigos. Isso foi no edifício do aeroporto, estava muito perto, talvez a uns 30-40 metros, depois disso um dos guardas de segurança nos deu um sinal ‘run! (corram)’ e todos fugimos na direção indicada pelo guarda. Fomos todos evacuados do edifício do aeroporto, todos estão na pista de decolagem. Durante a evacuação do edifício do aeroporto foi tirada a bagagem que ainda não foi verificada, como era o meu caso, por exemplo, porque não passei pela verificação de segurança. Aqueles cuja bagagem foi verificada, aqueles estão com as suas malas. A evacuação está em curso, há cada vez menos gente, mas eu francamente não sei por que razão. Eu evito a  multidão como pessoa que foi ensinada a fazê-lo.

Com informações do Correio do Brasil

Papa Francisco pede à comunidade internacional o fim da pena de morte

PalavraLivre-papa-fim-pena-morteO papa Francisco pediu ontem (21) que não seja executada nenhuma pena de morte durante a celebração do Jubileu Extraordinário, que ocorre até 20 de novembro, e pediu à comunidade internacional o fim definitivo dessa prática.

“Faço um apelo à consciência dos governantes para que consigam um acordo internacional para abolir a pena de morte. E proponho aos católicos que cumpram um gesto de valentia: que nenhum condenado seja executado durante o Ano Santo da Misericórdia”, disse.

Diante milhares de fiéis que se juntaram na Praça de São Pedro para a habitual oração dominical do Angelus, Francisco disse que “também os criminosos gozam do direito inviolável à vida”.

Ao falar da janela do Palácio Apostólico do Vaticano, o papa lembrou que “o Jubileu Extraordinário da Misericórdia é uma ocasião propícia para promover no mundo formas mais maduras de respeito pela vida e pela dignidade das pessoas”.

Para Francisco, cresce no mundo contemporâneo um sentimento “contra a pena de morte, inclusivamente como instrumento de legítima defesa social”.

Segundo ele, “as sociedades modernas têm a possibilidade de castigar eficazmente o criminoso sem o privar da oportunidade de redimir-se”.

“O problema deve abordar-se pela lógica de uma justiça penal que está cada vez mais em linha com a dignidade do homem. O mandamento ‘não matarás’ tem um valor absoluto e diz respeito tanto aos inocentes como aos culpados”, disse.

O papa Francisco concluiu o seu discurso com uma mensagem dirigida a “todo os cristãos e a todos os homens de boa vontade”, a quem pediu que trabalhem “não só pela abolição da pena de morte, mas também para melhorar as condições das prisões, em respeito pela dignidade das pessoas privadas de liberdade”.

Com informações de Ag. de Notícias

Cuba vê renascimento de fés afro-cubanas

No canto, uma estátua da divindade repousa sobre um recipiente de madeira, ladeado por cabaças. No alto, Jesus Cristo e seus apóstolos se sentam à mesa da Santa Ceia.

Tavio é sacerdotisa da santeria, principal religião afro-cubana, mas isso não a impede de também se definir como “100% católica”.

“Somos mais seguidores de Cristo que qualquer outro grupo”, ela diz à BBC Brasil enquanto abana um leque azul.

Tavio e vários de seus filhos espirituais assistiram no domingo à missa em Havana do papa Francisco, louvado por muitos cubanos por seu papel na reconciliação entre Cuba e os Estados Unidos.

Alguns dos pontos brancos na multidão que encheu a Praça da Revolução sinalizavam santeiros recém-iniciados. Pela tradição, quem “faz o santo” (consagração a um orixá) deve se vestir todo de branco por um ano. Outros usavam colares e pulseiras de contas com as cores de seu “orixá de cabeça”, guia espiritual de um santeiro.

Após passar várias décadas nas sombras, a santeria e outras religiões surgidas da mescla entre o Cristianismo e tradições africanas – fenômeno também ocorrido no Brasil – vivem hoje um reflorescimento na ilha. O processo ocorre simultaneamente à reaproximação entre o Estado cubano e a Igreja Católica.

Ateísmo de Estado

Ficaram para trás os dias em que, guiado pelo espírito socialista, o governo de Fidel Castro mudou a Constituição para definir Cuba como um Estado ateu, em 1976.

Na época, conta a católica e sacerdotisa santeira Alina Garcia, de 67 anos, “tínhamos que fazer todos os rituais escondidos.”

Alina Garcia | Foto: João Fellet/BBC BrasilImage copyrightBBC Brasil
Image caption“Tínhamos que fazer todos os rituais escondidos”, diz Alina Garcia sobre perseguição após a Revolução Cubana

Ela diz que a santeria – também conhecida como Regla de Ocha – era vista com desprezo pela classe dirigente e sofria uma espécie de “racismo religioso”, tida como a crença “dos negros, delinquentes, prostitutas”.

Foi naqueles anos, afirma Garcia, que um padre se recusou a abençoá-la porque vestia colares e pulseiras de contas vermelhas e brancas, as cores de Xangô. Nesse dia ela percebeu que nem todos viam o catolicismo e a santeria como faces de uma mesma religião.

Para Garcia, a adoração dos orixás foi um desdobramento natural de sua evolução como católica. Como a maioria dos santeiros, ela só pôde se iniciar na tradição afro-cubana porque já havia sido batizada por um padre e feito a primeira comunhão.

E tal qual no Brasil, em Cuba santos católicos têm correspondentes no mundo dos orixás.

A Virgem da Caridade é Oxum; a Virgem de Regla, Iemanjá; Santa Bárbara, Xangô. As três divindades também são cultuadas no Brasil onde se sincretizaram com outros santos – e foram levadas aos dois países por escravos iorubás, oriundos da atual Nigéria e países vizinhos.

Na santeria praticada por Garcia, todos os rituais começam com um Pai Nosso e a semana de reclusão iniciatória termina com uma visita à igreja.

Abertura e laicização

A sacerdotisa conta que os santeiros começaram a sair à luz conforme o Estado cubano reviu sua postura sobre religiões. Em 1992, mudou-se a Constituição e Cuba se tornou um Estado laico.

As visitas de João Paulo 2°, em 1998, e de Bento 16, em 2012, reforçaram a abertura.

Garcia diz que mais um passo será dado com a passagem de Francisco pelo país. “A vinda dele fortalece a igreja, e precisamos da igreja para expressar nossa fé.”

Segundo ela, a santeria já superou muitos estigmas e hoje tem praticantes entre todos os grupos sociais cubanos. Um exemplo é seu filho, “um engenheiro branco de olhos claros” que se tornou babalaô (adivinho).

Santeira recém-iniciada em Havana, Cuba | Foto: João Fellet/BBC BrasilImage copyrightBBC Brasil
Image captionEstado e Igreja católica se tornaram mais tolerantes com santeiros nos últimos anos, segundo sacerdotisa

A sacerdotisa afirma que a Igreja Católica cubana também se tornou mais tolerante com os santeiros e que nunca mais foi censurada por um padre.

Não há dados oficiais sobre o número de adeptos de religiões afro-cubanas na ilha. Um estudo do Departamento do Estado americano estimou que 80% dos cubanos tenham algum vínculo com as práticas.

Dinheiro e religião

O renascimento das práticas afro-cubanas também se deve às reformas econômicas promovidas em Cuba nos últimos anos, diz à BBC Brasil a socióloga Daymeé Novo.

Novo estudou em seu trabalho de conclusão de curso na Universidade de Havana o impacto da abertura econômica no mercado religioso cubano.

Ela diz que, ao diminuir as restrições à existência de pequenos negócios, as reformas favoreceram o surgimento de lojas de artigos religiosos. Segundo a historiadora, muitos donos dessas lojas são santeiros que passaram a “viver de religião” e a se dedicar integralmente a trabalhos espirituais.

Também graduada em história, a sacerdotisa Rosada Tavio integra o grupo. Em seu apartamento no andar térreo de um edifício de três pisos em Vedado, distrito vizinho a Havana, ela vende itens religiosos e conduz rituais.

Na última quarta-feira, Tavio hospedava um homem e uma mulher panamenhos que foram a Cuba atrás de seus serviços: ele se iniciara no terreiro há alguns anos e dessa vez levou uma amiga, que passaria uma semana em reclusão.

Reafricanização no Brasil

Praticante de santeria em Havana | Foto: João Fellet/BBC BrasilImage copyrightBBC Brasil
Image captionMercado religioso também se abriu com reformas econômicas em Cuba

Estudioso da cultura afro-brasileira, o escritor e historiador carioca Luiz Antonio Simas diz que a religião nacional mais próxima da santeria é a umbanda.

Segundo Simas, que visitou Cuba quatro vezes, a interpretação de que escravos adotaram práticas e santos católicos como um disfarce para continuar cultuando os orixás tem perdido espaço entre os pesquisadores.

Cada vez mais, diz ele, reconhece-se o sincretismo como uma manifestação original de fé. “Existe uma visão deturpada de que o sincretismo embranqueceu religiões negras, mas foi o inverso: ele ‘empreteceu’ o catolicismo”.

Simas diz que a santeria e a umbanda vivem hoje momentos distintos: enquanto a religião afro-cubana se fortalece em Cuba, a brasileira tem sido a mais prejudicada pela acirrada competição com as igrejas neopentecostais.

Paralelamente, afirma Simas, a partir dos anos 90 os terreiros brasileiros passam a viver uma “reafricanização, a busca de uma África imaginada”, que beneficiou linhagens de candomblé tidas como mais puras e livres de influências cristãs.

Antes, diz o historiador, mesmo ícones do candomblé acenavam abertamente ao catolicismo. Ele conta que, indagada certa vez sobre sua religião, a célebre ialorixá (mãe de santo) baiana Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) se declarou católica.

Para ela, como para os santeiros, não havia qualquer incoerência.

“Essa contradição que detectamos num exercício de análise intelectual, na prática religiosa ela não existe”, diz Simas.

 

“Cristofobia”: Cunha quer urgência para votação de projeto

O projeto de lei que tenta transformar a chamada “cristofobia” em crime hediondo deve tramitar em regime de urgência na Câmara.

Foi o que declarou nesta quinta-feira (11) o próprio presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois de mais uma rodada de votações sobre reforma política.

Entenda-se por cristofobia, de acordo com quem utiliza o termo, uma espécie de aversão a preceitos e práticas cristãos, em que eventuais detratores dispensariam a religiosos o mesmo tratamento – a “homofobia” – dado a homossexuais por parte dos chamados homofóbicos.

De autoria do líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (DF), a matéria aumenta a pena de ultraje a culto para até oito anos de prisão. Hoje, a pena para esse tipo de crime varia de um mês a até um ano de cadeia, como estipula o artigo 208 do Código Penal.

“Se tiver a urgência dos líderes, eu ponho para votar”, disse Cunha nesta quinta-feira (11), referindo-se à tramitação do projeto. A proposta foi apresentada em resposta às manifestações da Parada do Orgulho Gay realizada em São Paulo, no último domingo (7).

Durante os protestos, a atriz Viviany Beleboni, de 26 anos, transexual e espírita, desfilou presa a uma cruz encenando o sofrimento de Jesus Cristo. Na extremidade superior da cruz, uma frase de protesto: “Basta de homofobia LGBT”. O gesto foi entendido como uma provocação contra católicos e evangélicos.

Na noite de quarta-feira (10), Rosso apresentou um requerimento de urgência à tramitação da proposta assinado por lideranças de partidos como PSDB, PSD, PMDB e DEM. Enter as grandes legendas da Câmara, apenas o PT não aderiu ao pedido. “A gente quer transformar isso em lei ainda neste ano”, disse Rosso.

Para já
Para o líder do PSD, a tendência é que a proposta seja votada nas próximas três semanas, desde que a urgência lhe seja devidamente conferida por vontade da maioria do plenário. Atualmente, tramitam em caráter de urgência constitucional na Câmara o pacote anticorrupção do governo e o projeto de lei que promove a desoneração da folha de pagamento. Ambas as proposições devem ser apreciadas na próxima semana.

“O que eles [os grupos LGBTs] estão fazendo, e que ninguém imaginava, é unir os cristãos”, observou Rosso. Segundo apuração do Congresso em Foco, o próprio presidente da Câmara também quer que o projeto da “cristofobia” seja apreciado até o final de junho.

Ainda na noite de ontem (quarta, 10), representantes de pelo menos 330 parlamentares apresentaram uma nota de repúdio contra a Parada Gay do último domingo.

No documento, lido no Plenário da Câmara, deputados classificaram a manifestação LGBT como uma “tentativa de desmoralizar a crença de milhões de brasileiros, com provocações desnecessárias, atitudes nefastas, inescrupulosas e reprováveis”.

O coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), por exemplo, disse que “dinheiro público” foi utilizado para “patrocinar a intolerância”, em referência a patrocínios de autarquias do governo federal à manifestação.

Com informações do Congresso em Foco

Eleições 2014: No debate da Band, Aécio não explica nepotismo, desvios e publicidade milionária

O candidato tucano Aécio Neves saiu do debate na TV Bandeirantes, na madrugada desta quarta-feira, com assuntos pendentes junto à opinião pública.

Acusado de nepotismo e de promover uma onda de censura à imprensa em Minas Gerais, Estado que governou ao longo de oito anos, AécioNeves também não respondeu à denúncia da adversária petista, Dilma Rousseff, de desvios na área da Saúde, que somam R$ 7,6 bilhões, e transferências milionárias de recursos públicos para rádios da família Neves.

Sobre a questão do nepotismo, Neves saiu-se com uma evasiva, sem admitir, como já havia feito anteriormente, ter sido contratado para trabalhar na Câmara dos Deputados, que fica em Brasília, mesmo enquanto ainda morava no Rio de Janeiro, em 1980. Na época, tinha 19 anos.

Em nota recente, o tucano disse que cuidava da agenda do deputado Aécio Ferreira da Cunha – seu pai – que exercia mandato no Partido Democrático Nacional (PDS), sigla sucessora da Arena, legenda criada pela ditadura militar.

De acordo com a nota emitida pela assessoria de imprensa de Aécio, não havia qualquer irregularidade no fato de ele estudar no Rio e trabalhar para o gabinete do papai. Os ocupantes de cargos na Câmara só passaram a ter que atuar em Brasília a partir de 2010, segundo o texto.

A questão do nepotismo, porém, pareceu inexpressiva para o atual candidato à Presidência da República. Em sua biografia oficial, porém, Aécio Neves omite o período em que trabalhou remotamente para o mandato paterno.

Rádios milionárias
No debate, Dilma pediu que o adversário esclarecesse quanto pagou, em dinheiro público, aos meios de comunicação que sua família controla do Estado de Minas Gerais.

Nem ele, nem o atual governo mineiro, no entanto, divulgam informações precisas sobre despesas que o então governador realizou na veiculação de publicidade oficial em três rádios e um jornal de seus parente, entre 2003 a 2010, período em que esteve à frente da máquina pública.

Em relatório, divulgado no início da semana, o atual governo reconhece que as empresas da família Neves receberam repasses milionários, em publicidade, no período em que ocupava o Palácio da Liberdade. Mas recusa-se a dizer, exatamente, quanto pagou.

A família do presidenciável tucano controla a Rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário Gazeta de São João del Rei.

Aécio é sócio da Arco Íris com a irmã mais velha, Andrea, e a mãe, Inês Maria Neves Faria. Quando o irmão era governador, Andrea Neves era coordenadora do grupo de assessoramento do governo que tinha como atribuições “estabelecer diretrizes para a política de comunicação” e “manifestar-se previamente sobre a relação de despesas com publicidade”, de acordo com o decreto que o regulamentou.

Em 2011, a pedido do PT, o Ministério Público de Minas Gerais apurou, junto ao governo, que a rádio Arco Íris recebera R$ 210.693 no ano anterior e aguardava um levantamento detalhado sobre os gastos desde 2003, mas esses dados, até agora, permanecem sigilosos.

Procurada, a assessoria da campanha do candidato tucano preferiu não se manifestar. Na véspera, o candidato do PSDB à Presidência já havia tangenciado a questão e afirmou a jornalistas que “não tem ciência” dos números sobre o quanto o governo de Minas Gerais transferiu, em forma de publicidade, às rádios e ao jornal da família.

Neves mostrou-se irritado com as perguntas dos repórteres e disse apenas que a pergunta devia ser feita ao governador de Minas – Alberto Pinto Coelho, do PP, seu aliado.

– Não tenho ciência destes números, mas estimulo o governo que os dê. Tem que perguntar ao governador de Minas. Não sou governador – disse Neves, de forma ríspida, em rápida coletiva na capital paulista.

A propriedade da rádio por Aécio, a irmã Andrea Neves e a mãe, Inês Maria Neves Faria, veio a público em abril de 2011, quando o senador teve a carteira de habilitação apreendida durante uma blitz da Lei Seca no Rio. Ele dirigia um Land Rover, comprado no ano anterior em nome da emissora.

Aécio tornou-se sócio da Arco Íris em dezembro de 2010 quando já tinha deixado o governo. No período em que Aécio era governador, Andrea Neves já integrava o Núcleo de Comunicação Social do Governo – que tratava da publicidade do Executivo.

Irmã poderosa
A jornalista Andrea Neves chegou a receber a alcunha de “primeira irmã da república das Gerais”. Ela, segundo a Wikipedia “fez parte do Grupo Técnico de Comunicação do Governo de Minas Gerais.

Trata-se de um núcleo de trabalho que reúne os responsáveis pelas áreas de comunicação dos órgãos da administração direta e empresas públicas, entre outros, para estabelecer as diretrizes e a execução das políticas de prestação de contas do governo estadual à população. O grupo atua de forma colegiada e tem caráter consultivo e de assessoramento”.

“À frente do Grupo Técnico de Comunicação do Governo, Andrea despertou som e fúria, dependendo do gosto e do partido do freguês. Aos olhos da situação, ela teve papel fundamental na construção da imagem de Aécio como gestor competente que saneou as finanças do Estado”, acrescenta o jornalista Luiz Carlos Azenha, em seu blog.

Ainda segundo reportagem publicada no blog do Azenha, a principal tarefa da irmã de Aécio Neves era servir como um “tentáculo do irmão esticado em direção à mídia, que se valeu dos mais variados instrumentos para afagar ou sufocar veículos de comunicação.

Durante o governo de Aécio Neves, Andrea foi acusada de manejar as verbas de publicidade do Estado de acordo com os interesses políticos de Aécio e de influir na imprensa mineira, a ponto, inclusive, de provocar a queda de jornalistas pouco simpáticos ao governo.

Deputados da oposição chegaram a apresentar denúncias formais contra Andrea, imputando a ela e ao irmão desvio de recursos da área de comunicação do governo”.

O vídeo intitulado Liberdade, essa palavra, foi veiculado com depoimentos de comunicadores censurados:

Liberdade, essa palavra – Parte 1.

Liberdade, essa palavra – Parte 2.

Citada no vídeo, Heloísa Neves – mencionada por Marco Nascimento (na Parte 1) era assessora do governador, subordinada a Andrea Neves. Trata-se da ex-mulher do jornalista e publicitário Eduardo Guedes, que por sua vez assessora Aécio Neves – e é um dos réus do mensalão tucano, acusado de desviar R$ 3,5 milhões para a empresa de Marcos Valério.

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Andrea Neves é a responsável por comandar a comunicação da campanha do tucano à Presidência.

Do Correio do Brasil

Deputado propõe lei contra “nova ordem satânica”

deputadoUma proposta apresentada nesta semana na Câmara por um deputado paulista pretende impedir a implantação de uma “satânica Nova Ordem Mundial”. Este é o argumento utilizado pelo Missionário José Olímpio (PP-SP), da Igreja Mundial do Poder de Deus, para justificar a necessidade de se proibir a implantação de chips em seres humanos no Brasil. Na justificativa de seu projeto, protocolado na Casa na última quarta-feira (14), o missionário compara a implantação de dispositivos eletrônicos e eletromagnéticos à “marca da besta” e diz que o Congresso tem de se antecipar ao “fim dos tempos” e impedir que esse tipo de tecnologia seja incorporado aos brasileiros.

“Tendo em conta que o fim dos tempos se aproxima, é preciso que o Parlamento brasileiro se antecipe aos futuros acontecimentos e resguarde, desde logo, a liberdade constitucional de locomoção dos cidadãos”, escreveu o religioso na argumentação da proposta. “Urge que se proíba a implantação em seres humanos de chips ou quaisquer outros dispositivos móveis que permitam o rastreamento dos cidadãos e facilitem que sejam as pessoas alvo fácil de perseguição e toda sorte de atentados”, acrescentou.

Veja a íntegra do PL 7561/2014

O deputado afirma que “rastreadores pessoais” estão sendo desenvolvidos no Brasil sob a alegação de que a tecnologia vai permitir a rápida localização de pessoas em poder de sequestradores. Mas o objetivo não é este, segundo ele. “O povo brasileiro não deve se iludir com tais artifícios, que escondem uma verdade nua e cruel: há um grupo de pessoas que busca monitorar e rastrear cada passo de cada ser humano, a fim de que uma satânica Nova Ordem Mundial seja implantada”.

Ainda na justificativa, Olímpio cita trecho da Bíblia sobre a “marca da besta”, espécie de selo para seguidores do anticristo e referência, na visão dele, ao fim dos tempos:

“A Bíblia Sagrada, no livro de Apocalipse, capítulo 13, versículos 16 e 17, diz o seguinte: ‘16 – E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, 17 – Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome’”.

Perseguição

O Missionário José Olímpio afirma que “chips, fios ópticos e outros produtos similares na camada subcutânea ou superficial da pele, derme e epiderme, cartilagem, órgãos internos, músculos, ossos, cabelos ou tatuagem” podem facilitar que as pessoas se tornem alvos de perseguição e atentados, a partir do rastreamento via satélite, GPS, telefonia, rádio ou antenas.Pela proposta, fica proibido o implante em seres humanos, independentemente da idade, de identificação para substituir RG, CPF ou código de barras. O projeto prevê responsabilização administrativa, cível e penal para quem descumprir o estabelecido, caso a proposta vire lei.

Advogado e empresário, o Missionário José Olímpio, de 57 anos, é o primeiro representante na Câmara da Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada e liderada pelo apóstolo Valdemiro Santiago, que rivaliza com a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo. Antes de chegar à Casa, em 2011, Olímpio foi vereador em São Paulo com apoio da Universal. Ele é pai do vereador paulistano José Olímpio Júnior (PSD).

Diversos sites evangélicos publicaram, recentemente, uma falsa notícia sobre uma eventual lei aprovada na Europa que obrigaria todas as crianças nascidas a partir de maio de 2014 a receberem um chip sob a pele. No Brasil, a inserção de dispositivos eletrônicos no corpo humano tem sido utilizada em tratamentos médicos e também por empresas de segurança. Em 2004, o governo dos Estados Unidos aprovou a venda de um dispositivo que permite aos médicos ter acesso ao prontuário de um paciente em questão de segundos por meio de um chip, do tamanho de um grão de arroz, implantado sob a pele.

O Projeto de Lei 7561/2014, do Missionário José Olímpio, aguarda despacho do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para ser remetido a comissões permanentes da Casa.

Do Congresso em Foco.

Alemanha intercepta cocaína endereçada ao Vaticano

cocaina(1)A Alfândega da Alemanha apreendeu um pacote contendo 340 gramas de cocaína acondicionada em 14 camisinhas que era endereçado ao Vaticano. A apreensão aconteceu em janeiro, disse o jornal alemão Bild am Sonntag. O pacote foi enviado de um país sul-americano não identificado.

Segundo o jornal, o pacote com a droga, avaliada em 40 mil euros, foi encontrado em janeiro por oficiais da Alfândega alemã no aeroporto internacional de Leipzig. As camisinhas com a cocaína estavam dentro de um carregamento de almofadas que estava endereçado apenas ao Correio Geral do Vaticano – o que significa que qualquer um dos cerca de 800 residentes do Vaticano poderia retirá-lo.

As polícias da Alemanha e do Vaticano montaram uma armadilha, permitindo que o pacote ficasse à disposição de quem fosse buscá-lo. Mas ninguém apareceu, o que indica que o destinatário ou destinatária teria sido alertado.

Martin Chaudhuri, porta-voz do Ministério das Finanças alemão, que supervisiona a Alfândega do país, disse que os procuradores públicos de Leipzig devem divulgar um comunicado nesta segunda-feira com mais detalhes sobre o caso, O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, confirmou que a polícia local colaborou com a polícia alemã na tentativa de identificar os traficantes e que continua a investigar o caso. Fonte: Associated Press.

Do Estadão.

Definida pré-candidatura de Afrânio Boppré ao governo de SC

afranioO PSOL definiu no último domingo a pré-candidatura do vereador e economista Afrânio Boppré ao governo de Santa Catarina. A decisão se deu durante a Conferência Eleitoral do partido, com representantes de 14 municípios do Estado.
O deputado estadual Sargento Soares foi indicado como possível nome ao Senado. Entretanto, o parlamentar solicitou alguns dias para consultar as bases do movimento da Polícia Militar, liderados pela Aprasc.
Segundo Afrânio, o governador Raimundo Colombo tenta construir uma “mega-aliança” para construir um cenário eleitoral sem adversários. “o PSOL é a alternativa para combater a velha política. É o partido capaz de fazer valer a energia que mobilizou o Brasil no mês de junho.Nosso compromisso é de mudança em Santa Catarina e no Brasil”.
Os socialistas se reuniram na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Previdência (Sindprevs-sc), e além de definirem o nome do candidato ao governo, debateram o cenário político catarinense e possíveis alianças à esquerda para o pleito.
A Conferência decidiu abrir conversas com o PSTU e o PCB, além de buscar diálogo com outras organizações não partidárias, como as Brigadas Populares e a Consulta Popular.
Perfil
Em seu primeiro mandato de vereador, Afrânio Boppré foi vice-prefeito de Florianópolis (1992-1996) e deputado estadual (2001-2006). Além disso, foi presidente nacional do PSOL (2009-2010) e coordenador da campanha de Plínio de Arruda Sampaio à Presidência da República em 2010. É formado em Economia e Mestre em Geografia pela UFSC, e atualmente, leciona economia no curso de direito do Cesusc, na Capital.
Fonte: Leonel Camasão.