Minha Crônica: “45”

Não, não é campanha política não gente! É que comecei a fazer umas contas aqui, assim, 1, 2, 3, 4… e já cheguei aos 45! Como um flashback, imagens, sons, momentos e vivencias que já tive me ocupam a mente por todos esses dias. Parece que foi ontem que estive no colo de meu tio Rui sem saber ao certo o que estava acontecendo, quando ele soltava foguetes em plena rua. Meu ouvido doía, e só depois vim a saber que era a comemoração pelo tri da seleção brasileira no México. Também me vejo a correr em frente à casa esperando minha mãe que não saía daquele quarto nunca! Pudera, ela estava trazendo ao mundo o meu melhor amigo, meu irmão Zeny Jr, que infelizmente não pôde contar os anos assim como faço aqui. Sua contagem parou no 33. Saudades.

Da casa de madeira, fogão a lenha e banho de banheira porque não tinha água encanada no bairro Floresta, lembro muito bem. As ruas de chão batido, valas enorme a céu aberto, e os campinhos onde jogávamos futebol com bolas de plástico furadas. Jogar peca (bolinhas de gude), pião e brincar de carrinho eram outros passatempos, além claro de chorar para ir com meu pai para suas caçadas e pescas na região do rio Piraí. Mas o futebol, esse sim sempre foi minha necessidade. Magrelo e até amarelo pela anemia, e com grandes crises de amidalite, sempre fui preterido, discriminado. Coisa que sempre tive de enfrentar aliás, até os dias de hoje. Mas assim mesmo, teimando, joguei pela minha escola e por várias equipes, sendo campeão em todas as modalidades. Perseverar é preciso, sempre.

Desses 45, aliás mais da metade deles, tive a dádiva de conviver com uma das almas mais caridosas, um anjo que ajudou a forjar minha personalidade e caráter: a dona Alcina Ribeiro, a quem apelidei quando bebê como “Táta”. Essa mulher foi também minha segunda mãe. Os dias mais felizes da minha vida passei em sua casa simples de madeira, meu refugio. Lá onde tinha o “guarda-comida”, o fogão a lenha onde assamos muitas lingüiças para comer com pirão d’água, onde as tardes pareciam não ter fim regidas por conversas do bem, da paz. Por entre pés de pitangas, carambolas, laranja-lima, goiabas, araçás e uma imensa cerejeira, brincava com latas e carretéis, criando um mundo só meu. Belos dias aqueles.

Com sua conversa franca, direta, e observando a simplicidade com que levava sua vida, ajudando crianças com seus chás para curar o “chiado”, ou “chiasso” ou ainda bronquite, e sempre pronta a ajudar quem precisava, inclusive minha mãe, Táta me inspirou a ser bom, sempre em qualquer circunstancia. Claro que nem sempre consegui, afinal a vida é dura. Mas creio que dos 45 uns 44 eu orgulhei a dona Alcina. Que Deus a tenha sempre em bom lugar. A perdi quando perdi também negócios em sociedade. Depois perdi meu pai, grande amigo e meu norte de seriedade e da coisa certa a ser feita. Casei, ganhei filhos maravilhosos. Depois perdi empregos, ganhei outros. Perdi meu irmão, companheiro. Casamento acabou. Filhos estão longe, por enquanto, acredito. Vida bem vivida.

Oportunidades peguei, aproveitei, venci a todos os obstáculos, e ainda os continuo vencendo, cada um a seu tempo, a seu modo. Encontrei o amor verdadeiro, empreendi, e continuo empreendendo tudo que meus instintos e sonhos me motivam. Vida plena é o que tive até aqui, mesmo que recheada de traições, puxadas de tapete, inimigos gratuitos, adversários duros, mais muito, muito mais amigos e amigas que fazem os 45 valerem à pena. Sinto que a vida só começa agora, novamente. Creio que esses 45 não são os do segundo tempo, mas apenas o início desse jogo maravilhoso que Deus nos concede, a vida. Um jogo em que não é o resultado que vale, mas sim todas as jogadas, bem ou mal sucedidas. O que vale é a construção de cada passo, cada emoção, cada momento. Eu de minha parte, só tenho a agradece a tudo ao Criador. E que venham mais 45!

* crônica para comemorar meus 45 anos completados este mês glorioso de maio.