“O Retrato”, documentário baseado no livro “Na Teia da Mídia”, se espalha pelo país

Há quase 20 anos, que serão completados no mês de outubro próximo, um homem inocente teve a sua imagem indevidamente associada ao de um estuprador que atacava mulheres em Joinville (SC), sempre se locomovendo pela cidade com uma bicicleta. O caso foi denominado como o do “Maníaco da Bicicleta” pela mídia e polícia. Na ânsia política da época por dar um final ao pânico que se instalou na maior cidade catarinense, Governo do Estado criou a Operação Norte Seguro, colocando dezenas de policiais na busca pelo criminoso. Nesta corrida pelos holofotes de paladino da justiça, a polícia civil errou feio ao usar a foto de Aluísio Plocharski para manipular e transformar em “retrato falado” do suspeito.

A partir daí o tal “retrato falado” foi parar nas mãos da imprensa e mídia em geral destruindo a vida de Aluísio e sua família, mãe Marli e pai Ludovico, além da irmã Áurea que já era casada e vivia em Guaramirim. Até no Fantástico da Rede Globo sua imagem foi parar. Esta triste história real virou o livro “Na Teia da Mídia – A história da família Plocharski no caso Maníaco da Bicicleta” publicado em 2011, de autoria do jornalista Salvador Neto, que escreveu a história e seus desdobramentos, e Marco Schettert, que fala sobre o dano moral no caso. Salvador Neto conheceu Marli Plocharski em 2001, e dali surgiu a vontade de contar o drama vivido pela família e apontar erros éticos e de atuação tanto da polícia quanto da mídia.

Para se ter uma ideia do poder destruidor dos erros da polícia e da mídia, dos quatro integrantes da família, três estão mortos. Marli Plocharski faleceu em 2012, meses após o lançamento do livro; Aluísio e seu pai, Ludovico, morreram em um espaço de apenas um mês em 2018. Quer dimensão de tragédia pior?

Desde que o livro foi lançado já foi base para novos estudos na comunicação e em faculdades de jornalismo no Brasil. Leonardo Kock, estudante de jornalismo no Bom Jesus/Ielusc, produziu um belo documentário baseado no livro Na Teia da Mídia, e deu o nome ao trabalho de “O Retrato”. Salvador Neto foi um dos entrevistados por Leonardo que hoje é repórter no jornal Vale do Itapocú em Jaraguá do Sul (SC) iniciando na carreira que é tão importante para a democracia, o estado democrático de direito e o direito à informação que a sociedade tem.

Bem produzido como trabalho acadêmico, “O Retrato” agora circula pelo país. Na semana passada foi objeto de reportagem do portal jornalístico “A Ponte” – www.ponte.org – focado em direitos humanos e segurança pública, e também no Yahoo onde o documentário também pode ser assistido em sua totalidade. Nos tempos que vivemos em que o jornalismo é atacado diariamente inclusive pelo presidente da República e seus seguidores, a democracia é ameaçada a todo instante não só no Brasil como no mundo, e movimentos fascistas buscam retomar o poder para instalar sua agenda autoritária, o jornalismo que informa e denuncia pode ajudar a barrar estes movimentos.

Trabalhos como “Na Teia da Mídia” tem o condão de ajudar no debate ético que deve prevalecer não só no trabalho dos jornalistas, na produção da mídia em geral, mas também na atuação do aparato policial do Estado, que precisa ter cuidados redobrados com a vida das pessoas. Importante também para motivar a estudantes de comunicação, direito, e agentes públicos de Estado para os cuidados que o seu trabalho tem para a vida das pessoas, para o bem e para o mal. Parabéns ao jornalista Leonardo Kock pelo belo documentário, que a sua carreira seja promissora e relevante para a sociedade.

Para a reportagem em A Ponte, clique aqui.

Para o vídeo no Yahoo, clique aqui.

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