CUT cobra a humanização das perícias médicas no Brasil

Mesmo com uma insistente chuva que castigou a cidade de São Paulo na manhã desta sexta-feira (27), trabalhadores e trabalhadoras se juntaram à população para lembrar o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho – 28 de Abril – e denunciar o sistema capitalista exploratório que adoece, mutila e mata milhares todos os anos. O local escolhido para o ato da CUT junto com as demais centrais sindicais foi simbólico: em frente à Superintendência do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Dados oficiais do Ministério da Previdência revelam que entre 2008 e 2010 ocorreram 2,3 milhões de acidentes de trabalho, com 8.089 acidentes fatais, o que representa uma morte a cada 3,5 horas. Deste total, 41.798 trabalhadores ficaram permanentemente incapacitados para o trabalho. Mesmo com este quadro alarmante, os números ainda não representam a total realidade. Isso porque muitos acidentes de trabalho são subnotificados. Nos dados oficiais são contabilizados apenas aquelas informações referentes aos trabalhadores com carteira assinada.

“Infelizmente, não há uma preocupação por parte dos órgãos responsáveis em investigar e punir as empresas que descumprem a lei e subnotificam os acidentes”, revela Plinio Pavão, diretor executivo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro).

Dirigente da CUT quer governo ativo na prevenção e assistência ao trabalhador acidentado 

Já a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Junéia Batista, lembrou que um dois eixos da manifestação neste ano é a campanha pela humanização das perícias médicas do INSS lançada pela CUT no ano passado com o objetivo de cobrar da Instituição e de seus peritos um atendimento mais humano, respeitoso e ético.

“Baseado no preceito constitucional de seguridade social, o INSS tem o compromisso de garantir os direitos previdenciários dos trabalhadores, porém tem caminhado na contramão da boa prática médica e do seu papel constitucional”, lamenta Junéia.

Afastado do trabalho por motivo de doença ou acidente de trabalho, o/a trabalhador/a ao ser encaminhado para o INSS acaba se deparando com uma situação desumana. Além da maratona para conseguir um atendimento e a humilhação imputada por peritos que os tratam como fraudadores, não são poucas as ocasiões onde recebem um atestado por um período não condizente para a sua total recuperação.

“Ao retornar a empresa, o trabalhador é avaliado por um médico e acaba dispensado por ainda não estar totalmente recuperado. Daí fica sem receber o benefício do INSS e o salário da empresa. Uma situação deplorável e desesperadora que acaba muitas vezes agravando seu quadro, porque não há como sustentar sua família, os altos custos dos medicamentos”, relata Plinio.

Democratizar o debate sobre alta programada
Nesta semana a CUT travou uma árdua batalha no Congresso Nacional para suspender a consulta pública promovida pelo INSS sobre as novas regras de concessão de auxílio-doença e auxílio-acidente pelo INSS, baseado em estimativas sobre o tempo de recuperação do trabalhador, conhecida como alta programada. A partir de uma lista com as doenças e o tempo previsto para recuperação, o trabalhador, a depender de sua doença, não precisará passar pelo perito médico, instituindo uma alta automática.

Pelo fato deste projeto ser de grande relevância para os trabalhadores e para toda a sociedade brasileira e uma vez que a discussão não foi ampliada para o debate entre os especialistas sobre o assunto, a CUT juntamente com outras entidades tem cobrado a sua imediata suspensão.

O presidente do INSS, Mauro Hauschild, informou em audiência nesta quinta que prorrogará o prazo da consulta pública por 60 dias, uma vez que deveria ter sido encerrada ontem (26). “Com esta postergação teremos mais tempo para debater. Esperamos que em 15 dias ocorra uma nova reunião com o presidente do INSS”, revela Junéia.

História
O dia de 28 de Abril – Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho – é uma iniciativa do movimento sindical canadense. Esta data foi escolhida em memória aos 78 trabalhadores que morreram após acidente em uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, no ano de 1969. Surgiu como forma de denúncia e protesto contra as mortes e doenças causados pelo trabalho e hoje diversas manifestações ocorrem em vários países.

Da CUT Nacional

Afastamentos por doenças mentais disparam no país

O mercado de trabalho tornou-se um foco de doenças como depressão e estresse. A tendência já se reflete em forte aumento no número de brasileiros afastados pelo INSS por esse tipo de problema de saúde, informa reportagem de Érica Fraga e Venscelau Borlina Filho publicada na Folha desta sexta-feira.

As concessões de auxílio-doença acidentário –que têm relação com o trabalho– para casos de transtornos mentais e comportamentais cresceram 19,6% no primeiro semestre de 2011 em relação ao mesmo período do ano passado.

Esse aumento foi quatro vezes o da expansão no número total de novos afastamentos autorizados pelo INSS.

Nenhum outro grupo de doença provocou crescimento tão forte na quantidade de benefícios de auxílio-doença concedidos entre janeiro e junho deste ano.

“Há ondas de doenças de trabalho. A onda atual é a da saúde mental”, diz Thiago Pavin, psicólogo do Fleury.

Mudanças adotadas pelo Ministério da Previdência Social em 2007 facilitaram o diagnóstico de doenças causadas pelo ambiente de trabalho. Isso levou a um forte aumento nas concessões de benefícios acidentários para todos os tipos de doença em 2007 e 2008.

Os afastamentos provocados por casos de transtornos mentais e comportamentais, por exemplo, saltaram de apenas 612 em 2006 para 12.818 em 2008. Mas, depois desse ajuste inicial, tinham subido apenas 5% em 2009 e recuado 10% em 2010.

Da Folha Online