Covid em Manaus: sem oxigênio, pacientes dependem de ventilação manual para sobreviver em Manaus

Junto com as notícias da falta de equipamentos e de cilindros de oxigênio para tratar pacientes com covid-19, vieram também do Amazonas relatos dramáticos da alternativa à qual algumas equipes de saúde estão recorrendo para lidar com a falta de aparelhos de ventilação mecânica: a ventilação manual.

Em ambos os casos, o objetivo da ventilação é fazer artificialmente o trabalho do qual os pulmões e o corpo do paciente já não estão mais dando conta de garantir a respiração e a circulação de oxigênio.

Aparelhos de ventilação mecânica eletrônicos são mais eficazes, mas, na falta deles, equipes costumam recorrer ao chamado reanimador manual autoinflável, conhecido também como “ambu”. Estes são impulsionados por uma bombinha de borracha apertada com as mãos, conectada por canais até chegar ao paciente em uma máscara facial ou em tubos inseridos em sua traqueia.

“A ventilação manual tem sido usada frequente, e aconteceu desde os primeiros meses de pandemia. Isto porque a deficiência de ventiladores (mecânicos) e leitos de UTI no Amazonas é histórica”, contou à BBC News Brasil por áudios de WhatsApp o médico Pierre Souza, especializado em pediatria e cirurgia geral.

O médico, que relata prestar serviço em unidades de emergência de Manaus vinculadas ao governo estadual, diz que já participou em diversos plantões da chamada “escala do ambu” — um rodízio para realizar a ventilação manual, que exige esforço e tem duração variada para cada paciente.

“Essa situação caótica muitas vezes exigiu passar noites inteiras ao lado do leito do paciente, fazendo uma escala do ambu, com colegas, técnicos e enfermeiros se revezando por longos períodos — às vezes meia hora, uma hora, uma hora e meia.”

“Nós fazemos isso até duas situações acontecerem: ou o paciente é transferido para um ventilador (mecânico) disponível, ou o paciente falece. Vi isso acontecer algumas vezes: apesar da ventilação manual, o paciente precisava de mais suporte, de parâmetros que o ambu não tem capacidade de fazer”.

O Jornal Nacional, da TV Globo, também obteve depoimento de um funcionário do hospital 28 de Agosto, em Manaus, segundo o qual foi igualmente necessário “ambuzar” pacientes ali.

“A ventilação manual aconteceu desde o início da pandemia. É triste ver que vivemos uma segunda onda e os mesmos problemas (da primeira) continuam”, resume Pierre Souza.

Crise

Manaus vive uma crise aguda neste mês — com falta de oxigênio e uma nova variante do coronavírus. A cidade já registrou 93 mil casos de covid-19 e 3.892 mortes desde o começo da pandemia.

O jornal A Crítica relata que nas últimas 24 horas foram registrados 3,8 mil casos novos — um número inédito na pandemia. No mesmo período, 51 pessoas morreram com diagnóstico de covid-19.

A capital do Amazonas sofre um novo pico de internações por causa do coronavírus, após as festas de fim de ano.

Diversos veículos de imprensa confirmam a situação desesperadora em muitos dos hospitais da cidade.

Os cilindros com oxigênio são essenciais para manter e estabilizar os pacientes com covid-19 grave — além de pacientes com outras enfermidades. Sem esse insumo básico, muitos indivíduos hospitalizados vão acabar morrendo.

Em meio à dramática falta do gás para tratamento de pessoas internadas com covid-19 em Manaus, a Secretaria de Saúde do Amazonas determinou nesta quinta-feira a requisição administrativa de “eventual estoque ou produção de oxigênio” de 17 empresas, como montadoras e produtoras de eletrodomésticos localizadas no Polo Industrial de Manaus (PIM): Gree Eletric, Moto Honda, Yahama Motor, Electrolux, TPV, Whirlpool, Sodecia da Amazônia, Denso Industrial da Amazônia, Caloi, Flextronics International e Cometais.

Também foram impactadas pela requisição LG Eletronics, Semp TCL, Ventisol, Carrier, Daikin e Samsung.

Manaus voltou a ter dezenas de enterros por causa da covid
Legenda da foto,Em 2021, Manaus voltou a ter dezenas de enterros por causa da covid

Para suprir tanto os hospitais públicos quanto os hospitais privados, as três empresas fornecedoras de oxigênio local — White Martins, Carbox e Nitron — precisavam entregar 76.500 m³ diariamente, diz o governo do Amazonas. No entanto, a capacidade de entrega das empresas tem sido somente de 28.200 m³/dia.

Para sanar o déficit de 48.300 m³ diários, o Governo do Amazonas e o Ministério da Saúde estão realizando juntos a “Operação Oxigênio”.

“A logística da operação (para levar mais oxigênio a Manaus) prevê também rota terrestre com o insumo saindo de Fortaleza e indo até Belém, para chegar a Manaus por meio de aviões. Para atender com urgência as redes, o transporte terrestre e fluvial, que seria o procedimento mais comum, foi descartado”, informou a Secretaria de Saúde.

Com uma demanda por oxigênio e outros suprimentos que parece não ter fim, Manaus precisa urgente da ajuda de outras cidades, Estados e, claro, do Governo Federal. Nas últimas horas, 235 pacientes começaram a ser transferidos para hospitais de Goiás, Piauí, Maranhão, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte.

  • informações e imagens da BBC Brasil


Governador do Amazonas é cassado pelo TRE por compra de votos

PalavraLivre-governador-amazonas-cassacao-compra-votosO Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas cassou, na tarde desta segunda-feira (25/1), os mandatos do governador do Amazonas, José Melo (Pros) e de seu vice, José Henrique de Oliveira (PR).

Por 5 votos a 1, a maioria dos membros da corte entendeu existirem fortes indícios de que os dois participaram de um esquema de compra de votos nas eleições de 2014. Eles também foram condenados a pagar cerca de R$ 80 mil em multa.

A ação foi movida pela chapa que ficou em segundo lugar nas eleições, liderada pelo peemedebista Eduardo Braga, atual ministro de Minas e Energia.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Melo foi acusado de integrar um esquema que usava dinheiro público repassado pelo próprio governo estadual a uma empresa de segurança na Copa do Mundo de 2014.

Durante o segundo turno da campanha eleitoral, a Polícia Federal chegou a apreender cerca de R$ 12 mil em um comitê de Melo, em Manaus.

O advogado de José Melo e José Henrique, Yuri Dantas, disse que ainda estuda se vai apresentar embargos de declaração ou recorrer diretamente no Tribunal Superior Eleitoral. Até lá, ambos devem continuar no cargo.

No julgamento da ação, não ficou definido se a saída do governador e do vice abriria novas eleições para o governo do Amazonas.

Com informações da Agência Brasil

Sem escolta, líder do Amazonas teve de deixar sua comunidade

O Brasil ainda é uma vergonha em relação aos direitos humanos, e na defesa de pessoas como Nilcilene, vergonha!

Assim que Nilcilene Miguel de Lima saiu de sua comunidade no sul de Lábrea, no estado do Amazonas, foi avisada por outros moradores de que os madeireiros ilegais – cuja ação ela denuncia há anos – fizeram uma festa em comemoração. Segundo eles, houve churrasco para celebrar a saída da Força Nacional. “Agora estão dizendo para quem quiser ouvir: ‘Botamos a Força Nacional para correr, bando de frouxo” – comentou um morador.

Nilcilene foi obrigada a fugir de sua comunidade no último sábado, dia 19, porque a Secretaria de Direitos Humanos (SeDH) interrompeu a escolta prevista pelo programa Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, do qual a líder comunitária faz parte.

Presidente de uma associação de pequenos produtores que sofrem com expulsões e intimidações de madeireiros ilegais e grileiros, Nilcilene foi ameaçada de morte por ter denunciado essas quadrilhas e estava sob proteção desde novembro de 2011. A violência foi retratada pela Pública em série de reportagens veiculadas em março. Clique aqui para ler a reportagem completa

A escolta, cuja duração é temporária, permaneceu com Nilcilene durante seis meses. Em maio, a Anistia Internacional lançou uma ação pedindo providências imediatas ao Ministério da Justiça e ao governo do Amazonas. Desde que essa campanha foi lançada, membros da Anistia enviam cartas pedindo ações concretas, como a criação de uma unidade de polícia permanente no sul de Lábrea e a investigação das denúncias feitas por Nilcilene.

A retirada da Força Nacional do sul de Lábrea ocorre em meio a essa campanha, que vai até o dia 5 de Junho. Questionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da SeDH respondeu que “uma das medidas realizadas pelo Programa é a retirada provisória do defensor do local de atuação, sempre acordada previamente com as pessoas incluídas no Programa e conforme especificidades de cada caso”.

Forçada a sair

Segundo Nilcilene, porém, a saída não foi acordada. “O tenente [comandante da operação] disse que a ordem tinha vindo de Brasília e era para sair o mais rápido possível.  Não pude fazer minha mudança, não deixaram nem ir no meu lote ver minha plantação”, diz a lavradora que perdeu a plantação com milhares de pés de banana, palmito, pupunha, milho e abacaxi.

A secretaria pagou a passagem aérea de Nilcilene, a avaliação é que a líder seria assassinada se permanecesse no local sem escolta.

“A retirada é uma mensagem de impunidade e vitória da ilegalidade”, afirma Neide Lourenço, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra do Amazonas. “As pessoas que denunciam o desmatamento são expulsas e os criminosos têm toda liberdade para continuar extraindo os recursos da floresta?”

Graças às denúncias de Nilcilene e Adelino Ramos, outro líder comunitário do sul de Lábrea, assassinado em 2011, um inquérito foi instaurado com 23 nomes de grileiros, madeireiros e pistoleiros da região. Mas a investigaçãoestá parada na delegacia do município.

Desde 2007, sete pessoas foram mortas no sul da Lábrea, onde 800 famílias vivem atualmente. O último crime foi contra a trabalhadora Dinhana Nink, 27, assassinada na frente de seu filho de 6 anos no dia 30 de março. Ela era próxima à líder Nilcilene.

Ao longo dos seis meses que ficou na região, a Força Nacional apenas protegeu Nilcilene. Além de não se intimidar com a presença da polícia, os pistoleiros eventualmente passaram a fazer ameaças à própria equipe. No fim de abril, a Força Nacional recebeu denuncia de um plano de emboscada para matar a líder e os policiais.

Protestos

No dia 12 de maio, uma marcha foi realizada no Rio de Janeiro para cobrar a investigação de morte ligadas a conflitos com madeireiros. Os manifestantes fixaram o nome de 127 pessoas assassinadas em cruzes, que foram simbolicamente enterradas na areia de Copacabana.

Organizada pelo Comitê Fluminense das Florestas, a marcha chamou atenção para a relação entre a violência contra lideranças ambientas e o novo Código Florestal que, se aprovado, pode anistiar os madeireiros ilegais. No dia 24 de maio, aconteceu um ato no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna (Pará) para lembrar um ano do assassinato do casal extrativista José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Os dois foram assassinados perto dessa comunidade, onde viviam, depois de sofrerem seguidas ameaças de morte por denunciarem o corte ilegal de castanheiras.

Da Agencia Pública