Açeçorias
A constrangedora entrevista de Dilma Rousseff ao jornalista português Miguel Souza Tavares pode ser jogada integralmente na conta da presidente (veja a íntegra). Com inúmeros assuntos lhe cobrando atenção, acaba desconhecendo coisas importantes. Cabe à assessoria oferecer-lhe um briefing, um resumo dos fatos do momento, das tendências, dos caminhos, para que possa transitar sem problemas diante de um bom entrevistador.
E nesse governo de 40 ministros, centenas e centenas de assessores, mais o ministro paralelo Marco Aurélio Garcia, que continua perto do palácio, não houve ninguém para informar à presidente que o primeiro-ministro português havia perdido a confiança do Parlamento, anunciado que deixaria o cargo (o que ocorrerá dentro de um mês, mais ou menos), e que isso nada tem a ver com o presidente da República, que é outra pessoa, com outras funções e que tem mandato por tempo determinado?
As centenas de ministros e auxiliares deixaram Dilma Rousseff solta no espaço, sem saber que o primeiro-ministro tinha renunciado, acreditando que primeiro-ministro e presidente eram a mesma pessoa, e temendo que não houvesse ninguém para recebê-la na visita oficial que faria em seguida ao país.
Gente demais é, para o desempenho de um trabalho, tão ruim quanto gente de menos. Os meios de comunicação não cuidam deste assunto, exceto para lamentar, muito de vez em quando, o dinheiro desperdiçado com ministérios em excesso e com aquele tipo de auxiliar que custa caro e que, com o qual ou sem o qual, o governo seria tal e qual.
Já que a imprensa não se manifesta, seria interessante que a presidente tomasse nota das razões deste tropeço e fosse, aos poucos, limitando a multidão que vive do leitinho do governo – pois, como desta vez, a vítima pode ser ela.
Do Observatório da Imprensa