A história de Joinville está guardada entre os tijolos, janelas e móveis em um casarão, localizado na rua Araranguá. Considerada a única edificação original da técnica enxaimel com dois pavimentos, no perímetro urbano da cidade, o imóvel de 1910 passa pelo processo minucioso de restauração. As obras de restauração da casa iniciaram em março deste ano com a retirada dos telhados, troca e restauração das madeiras da parte superior e reconstrução de uma das paredes laterais da casa.
O diretor presidente da Fundação Cultural de Joinville (FCJ), Silvestre Ferreira esteve na manhã desta sexta-feira (02/09) visitando o imóvel, para conhecer as obras de restauração. Acompanharam a visita o engenheiro Victor Cavinatto, proponente do projeto, o engenheiro Maurício Jauregui, responsável pela obra, e o arquiteto urbanista e coordenador do Patrimônio Cultural, Raul Walter da Luz.
Os processos de restauro foram realizados a partir do projeto aprovado no Mecenato do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultural (Simdec), da FCJ. A casa tombada em esfera estadual aguardava o processo de aprovação do projeto desde 2001 pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Com a demora na aprovação, o valor das obras teve que ser revisado, resultando no aumento dos serviços de restauração. O projeto de restauração foi dividido em etapas, que foram contempladas pelo Simdec nos anos de 2007, 2008 e 2010. Atualmente, a construtora está finalizando a parte superior da casa. A previsão de término dessas obras é para janeiro de 2012.
O engenheiro mecânico e proponente do projeto do imóvel, Victor Cavinatto, conta que os recursos do Simdec colaboraram com o sonho de restauro da casa. “Com a notícia do tombamento nós (família) ficamos interessados em consersar a história do casarão. O processo de restauração foi muito longo, cheio de entraves. Apenas com a ajuda da Fundação Cultural de Joinville conseguimos desenvolver esse processo, por meio dos recursos do Simdec”, explica o engenheiro. O relacionamento de Cavinatto com o imóvel histórico se envolve com os laços familiares. A proprietária do imóvel é a esposa do engenheiro. A ideia de restaurar a casa partiu da filha Fabiana, que sonhava em montar seu escritório de arquitetura neste espaço.
A quarta etapa das obras aguarda o resultado do Mecenato 2011, que está em tramitação. O valor total da restauração do imóvel ficará em torno de R$ 330 mil, estimativa superior ao orçamento inicial. A parte elétrica e hidráulica serão realizadas na fase final das obras.
A história da casa
A construção da casa, localizada na rua Araranguá, nº 53 no bairro América, é uma réplica original da residência do imigrante alemão Friedrich August Adolf Schmidt. Em 1882, o imigrante chega ao Brasil, vindo a radicar-se em Joinville por recomendações médicas. Ele era prefeito de Blankenheim, sua cidade natal no norte da Alemanha. A construção da casa foi iniciada em 1910 e concluída em 1911, sendo que os tijolos e telhas foram produzidos na olaria da família, também estabelecida na cidade. Essas telhas e tijolos foram preservados nas obras de restauração da casa, assim como os assoalhos, janelas e portas.
O pavimento térreo foi edificado com tijolos maciços, formando uma estrutura autoportante, apoiado sobre base de pedras das quais é formada a fundação. Acima das paredes apoia-se o barroteamento do enxaimel, que apenas foi edificado no pavimento superior. Localizada numa área residencial e central, o imóvel apresenta palmeiras imperiais em seu jardim.
Os móveis do casarão também irão passar por um processo de restauração. Alguns ítens e objetos foram doados ao Museu Nacional de Imigração e Colonização e a Casa da Memória. Os documentos, fotos e cartas foram destinados ao Arquivo Histórico de Joinville. Por enquanto, os móveis estão guardados em uma oficina para o início do processo de restauração das peças.
Na história da casa nos deparamos com muitos fatos interessantes. Durante as obras no telhado foram encontrados livros e documentos escritos em alemão escondidos durante a guerra. Um dos filhos da primeira geração era colecionador de selos e outro filho colecionava borboletas, além de ser pintor. Atualmente, estas coleções estão em museus no Rio de Janeiro (RJ). Imagens de compositores clássicos estavam presentes nas paredes da casa, inspiração para o pai que também era compositor. A família tem o interesse em preservar o imóvel, não somente pelo valor histórico familiar, mas por representar para Joinville um registro vivo etnográfico e paisagístico.
Fundação Cultural de Joinville (FCJ)