Mais uma vez o professor Eduardo Guerini nos dá a honra de publicar seus textos polêmicos aqui no Palavra Livre. Agora ele se debruça sobre a renúncia do papa Bento XVI, vale a pena conferir, curtir e compartilhar:
“No mundo cada vez mais secularizado, a lógica da mística religiosa sempre esteve enclausurada entre muros dos monastérios, ou, do silêncio obsequioso da instituição clerical dominante no mundo ocidental.
Na atualidade, a Igreja Católica Romana sofreu abalos sísmicos pelas escaramuças reveladas por trás do silêncio obsequioso , assim como, as muralhas intransponíveis do Vaticano sucumbiram nos sucessivos escândalos profanados pela corrupção nos valores propostos na gênese do cristianismo.
A propalada renúncia papal de Bento XVI, resultada de algo que está muito além do campo de visão dos fiéis e cristãos de todo mundo, assim como, da fantasia midiática veiculada exaustivamente em tempo de festa profana na “terra brasilis”.
A escalada de problemas entre o mundo profano e a lógica divinizada da interpretação do catolicismo, demonstram que , o envelhecimento da mensagem , a apatia do reinado (que até então seria vitalício) do papa, forjado à ferro no Concílio que o nomeou representante máximo para um Pontificado que enfrentaria uma evasão crescente de fiéis, problemas de abusos sexuais em todas as partes do mundo – em virtude da ultrapassada ideia celibatária para os religiosos, sem contar da incidência de problemas políticos de toda a ordem na “governabilidade” da Santa Sé, diante do rumoroso vazamento de segredos conhecidos como “Vatileaks”, pelo mordomo sugestivamente chamado de “Il Corvo”, que após denúncias do jornalismo investigativo demonstraram uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro no interior da Santa Sé.
Se os problemas de ordem interna- velados misteriosamente diante do silêncio sepulcral dos representantes do Pontificado enrijeceram a liderança religiosa do cristianismo no Ocidente, tal é o ritmo frenético das novas configurações relacionais.
A dinâmica das relações extramuros no catolicismo romano aprofundaram o fosso do atual líder religioso , petrificando suas contundentes declarações contra um mundo que insistia em contrariar as preces celestiais de nosso representante divino na atualidade.
No contexto místico-religioso do bento pontificado , a mística profana tomou conta da lógica no papado envelhecido pela velocidade dos fatos mundanos. O papa Bento XVI que sonhara governar com mãos de ferro, depreciando a vida pulsante neste mundo, e, aspirando um mundo ideal, deixou escorrer pelas suas mãos todo o poder espiritual no âmbito temporal.
A conciliação filosófica-religiosa encontrou sua base no tomismo – linha oficial que perde sua eficácia em velocidade exponencial , resultado de um mundo que se afasta cada vez mais do ideário dogmático do catolicismo apregoado para o mundo ocidental.
Como diria Erasmo de Roterdã (1509), nossa imprensa em sua noticiosa surpresa adula e modula sua voz , apresentando todas as virtudes do pontificado de Bento XVI, fazendo de uma mosca um elefante. Porém, esquece que nosso bendito homem para evitar uma averiguação aprofundada dos escândalos que envelheceram seu reinado , segue o famoso provérbio “Não tens que te elogie? Elogia-te a ti mesmo.”
* Eduardo Guerini é professor de ciência política da Univali desde 2000. Cursou mestrado em gestão de políticas públicas e sociologia política. Atualmente orienta pesquisas nas áreas da Dinâmica Institucional de Políticas Públicas, Criptoeconomia, Sociologia do Crime, Economia Política da Corrupção e Corrupção Institucional. Atento observador da cena política.