Joinville começa a debater planos cicloviário e de caminhabilidade

A Prefeitura de Joinville, através do Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj), inicia na próxima terça-feira (3/11) uma série de debates para implantação dos planos cicloviário e de caminhabilidade.

Os temas fazem parte dos projetos complementares do Plano de Mobilidade (PlanMob) aprovado em março deste ano. Além destes, o PlanMob também prevê ações como a adequação do plano viário e a implantação do estacionamento rotativo.

O presidente do Ippuj, Vladimir Constante, explica que na discussão dos planos serão desdobradas as metas gerais descritas no PlanMob.

“Será o momento de explicar de que forma pretendemos atingir estas metas”, comenta. No caso das bicicletas, a meta é de implantar 730 km de ciclovias. Já para o transporte a pé, uma das metas prevê melhoria na avaliação das calçadas.

Assim como ocorreu com o PlanMob, os planos cicloviário e de caminhabilidade serão aprovados por decreto, ficando a cargo do Legislativo a aprovação da Lei das Calçadas. Constante prevê a conclusão dos planos até o final de 2015.

“Depois destas consultas públicas, o documento passa para a elaboração do texto e em seguida faremos uma audiência pública”, descreve.

Na terça-feira (3/11), às 19 horas, técnicos do Ippuj iniciam a programação com abordagem sobre as diretrizes e metas do PlanMob para o eixo transporte por bicicleta e projetos cicloviários. Constante esclarece que o Plano de Mobilidade é um documento que contém metas e prazos bem definidos, cujo planejamento contempla ações para 30 anos.

Na sequência, palestra sobre integração das vias cicláveis de Joinville e trabalhos de extensão realizados, como o diagnóstico e índice cicloviário, aplicativo Bike Trilhas e blog. O tema será abordado pelo professor Fabiano Baldo, da Udesc.

Os grupos Pedala e Bicicletada contribuem com palestras e ideias sobre o modal para o Plano Cicloviário. A partir das 21 horas iniciam os debates sobre os temas.

Na quarta-feira (4), os trabalhos iniciam às 8h30 com reunião do grupo técnico infraestrutura cicloviária, em sala de reuniões do Ippuj. Às 13h30 se reúne o grupo técnico legislação e educação.

Caminhabilidade
Quinta-feira (5) é a vez dos estudos sobre o projeto de caminhabilidade. No Museu da Bicicleta, o Ippuj apresenta, às 19 horas, os estudos sobre o eixo transporte a pé.

As palestras iniciam às 19h30. Na primeira, a servidora Patrine Macoppi, da Secretaria do Meio Ambiente, fala sobre a situação atual das calçadas de Joinville, quantitativos e fiscalização.

Às 20 horas, Mário Cezar da Silveira, do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), aborda questões acerca da acessibilidade espacial nos deslocamentos a pé  e da legislação pertinente.

Antes dos debates, que iniciam às 21 horas, Andréa Pfützenreuter, da Universidade Federal de Santa Catarina, faz relato sobre os índices de caminhabilidade e o grupo de pesquisa.

Na sexta-feira (6) encontros técnicos sobre infraestrutura e legislação, em sala de reunião do Ippuj, encerram a programação.

Com informações da Secom/PMJ

“A via pública é para todos, não só para automóveis”, diz cicloativista

Diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), uma das entidades mais ativas na defesa do uso de bicicletas na capital paulista, Daniel Guth defendeu o desestímulo ao uso de veículos na cidade e o incremento a outros modais de transporte como a bicicleta e o transporte coletivo.

Para ele, a instalação de vias exclusivas de ônibus na cidade, assim como para as bicicletas, a retirada de vagas de estacionamento para carros e o fechamento de rua aos veículos motorizados tem gerado nos motoristas o sentimento de perda de espaço e a falsa sensação da perda de direitos.

“As pessoas estão confundindo o direito de ir e vir com o direito de dirigir. Não pode haver essa confusão. Quando não é permitido a você circular de carro, não está se cerceando o seu direito de ir e vir, você pode muito bem se deslocar, a pé, de bicicleta, de transporte público, uma série de outros modos de transporte. As pessoas confundem, muitas vezes, o direito constitucional de ir e vir com o direito de dirigir”, disse Guth, em entrevista à Agência Brasil,  para marcar o Dia Nacional sem Carro, comemorado hoje (22).

A seguir, a íntegra da entrevista:

Agência Brasil: os modais bicicleta e carro não têm como se complementar sem que haja um enfrentamento entre as partes, como hoje vemos em São Paulo?
Daniel Guth: não é que existe um enfrentamento deliberado, do ponto de vista do discurso. Quando você tira uma faixa de estacionamento na rua e coloca uma ciclovia, os motoristas têm visto isso como enfrentamento. Mas isso não é enfrentamento, isso é só uma política de inclusão.

Quem se desloca de automóvel na cidade de São Paulo representa pouco menos de um terço da população, e esse um terço ocupa 80% da via pública. A via pública é para todos, não é só para o automóvel. Um único meio de transporte está ocupando 80% do espaço que é para todo mundo. Isso é chocante, isso é falta de equidade.

Quando você tira um pouco desse espaço para dar a outros modais, que têm tantos direitos ou mais, como diz a legislação, então as pessoas veem isso como enfrentamento. Mas isso tem a ver muito mais com um século de narrativa da indústria automobilística, da publicidade, do que efetivamente um enfrentamento na prática, como você citou.

Tem muito mais a ver com a sensação de perda de direitos que, na verdade, não são direitos, são privilégios. Estacionar na rua nunca foi um direito, sempre foi um privilégio, e um privilégio que a gente tem que aprender a abrir mão. Estacionar na via pública é uma privatização tosca do espaço público. Quando se retira estacionamentos, as pessoas sentem que perderam direito.

Há uma confusão entre direito de ir e vir e direito de dirigir. Não pode haver essa confusão. Quando não é permitido a você circular de carro, não está se cerceando o seu direito de ir e vir, você pode muito bem se deslocar, a pé, de bicicleta, de transporte público, uma série de outros modos de transporte. As pessoas confundem muitas vezes o direito constitucional de ir e vir com o direito de dirigir.

No caso do fechamento de ruas para carros, como ocorre na Avenida Paulista, o debate, em vez de ser feito no sentido de entender que esse espaço tem de ser devolvido às pessoas, que podem usufruir a avenida de outra maneira, as pessoas elas encaram isso como um enfrentamento, como se tivessem perdendo direitos. Isso tem a ver muito mais com uma análise subjetiva, social, cultural, do que com enfrentamento direto, um embate, uma acareação de ideias, de argumentos.

Agência Brasil: há muita resistência dos motoristas?
Guth: não há nenhuma medida de desestímulo ao uso do carro que não seja acompanhada de uma resistência dos motoristas. E não é falta de diálogo, não é falta de argumentos, não é falta de campanhas, é simplesmente o fato de que essas pessoas estão sentindo a perda de privilégios.

Todas as cidades do mundo que entenderam que o modelo “rodoviarista” tem um limite – há um ponto em que a cidade não anda mais porque não há sistema que comporte a quantidade de automóveis – passaram a criar medidas e políticas públicas que, de certa forma, criaram resistências porque tiveram que tirar espaço desse único modal que reinou nas cidades.

Nova York, Londres e Paris passaram por isso, Bogotá passou por isso, Buenos Aires tem passado por isso, a Cidade do México tem passado por isso, e não estou só falando de cidades europeias, estou falando de cidades vizinhas nossas. São Paulo tem de enfrentar isso com serenidade, com argumentação, porque não é uma questão de bicicleta contra o carro, transporte público contra o carro, não.

É uma questão de dar maior equidade àqueles que merecem ser incluídos, aqueles que sempre estiveram marginalizados, e isso significa obviamente tirar espaço do carro. Isso não é um enfrentamento, isso é um processo natural, que tem que acontecer.

Agência Brasil: em que medida o uso da bicicleta pode dar mais acesso à cidade e à cidadania?
Guth: a bicicleta é um veículo porta a porta. Você consegue sair da sua origem e chegar a seu destino com esse único meio de transporte. Isso dá autonomia, garante direito ao deslocamento. É um veículo econômico, não apenas porque é mais barato comprar uma bicicleta, mas também porque a manutenção é mínima, é com a sua própria energia que você vai se deslocar.

Ela não requer nenhuma outra mediação de combustível, a não ser a sua própria energia, o que também garante maior direito à cidade, uma vez que ela pode ser acessível a todos, todos que tenham condições físicas de utilizá-la. Outro elemento importante é a velocidade, a bicicleta traz um elemento importante para a relação com a cidade que é velocidade mais baixa.

Faz com que a pessoa tenha uma relação de maior troca, de maior diversidade de trocas com a cidade, seja com o comércio de rua, seja com as pessoas. Ao pedalar a uma média de 10 a 15 quilômetros por hora, você está muito mais afeito a consumir em uma loja, a parar para cumprimentar alguém, a conversar com as pessoas, a interagir com a cidade de outra maneira, coisa que com outros meios de transporte, no caso o carro, ônibus ou o metrô e trem, você não consegue fazer.

Há vários outros elementos, como promover a saúde, seja para a cidade seja para si mesmo, a sensação de pertencimento e de senso crítico da cidade, Todo mundo que passa a se deslocar de bicicleta naturalmente acaba tendo uma visão mais crítica sobre o meio urbano. Passa a sentir as agruras da cidade de uma maneira mais intensa, seja a violência do trânsito, sejam os cheiros, a falta de infraestrutura, a qualidade do asfalto, a feiura e a beleza da arquitetura. Ou seja, em cima de uma bicicleta você consegue perceber a sutileza dos elementos urbanísticos de maneira muito mais intensa, o que aguça o senso crítico.

Agência Brasil: hoje se comemora o Dia Mundial Sem Carro. Como você avalia as alternativas a esse meio de transporte em São Paulo?
Guth: é um dia de concentração de esforços para mostrar que outra cidade, do ponto de vista da mobilidade, é possível. São Paulo chegou a um esgotamento do modelo “carrocêntrico”, de só nortear as políticas de mobilidade em uma visão exclusivista nesse modelo “rodoviárista”. Um novo paradigma para a mobilidade urbana é necessário, e ele está em curso.

Nós temos o amparo bastante forte de legislações, sejam elas federais, estaduais ou municipais, que colocam a devida prioridade para a mobilidade urbana a partir do transporte coletivo, e depois dos modos ativos de transporte, que são majoritariamente a bicicleta e o pedestre.

Tendo esses marcos legais importantes, a gente entende que a cidade de São Paulo tem feito isso, talvez com um pouco mais de intensidade, e por isso tem gerado mais debates. [A cidade] tem passado a inverter a lógica que sempre foi vigente. E, necessariamente para isso, é preciso desestimular o uso do carro.

São Paulo tem tomado diversas medidas para desestimular o uso do carro, de maneira piloto. Mudanças que precisam ser feitas, como por exemplo a remoção de faixas de estacionamento nas ruas, a criação de mais infraestrutura cicloviária, a criação de corredores e faixas exclusivas de ônibus, a ampliação de calçadas, a retirada de vagas de estacionamento para ampliar as calçadas, para que quem queira caminhar a pé possa fazer isso com conforto e segurança.

O que o Poder Público faz ao dar prioridade ao transporte coletivo, aos modos ativos de transporte, não é nada mais do que seguir o que a legislação já manda. Então, não há nenhuma grande iluminação de um gestor, político ou prefeito. O que há é o cumprimento do que está na legislação. Que precisa ser intensificado.

Com informações da Ag. Brasil e Justificando

Joinville terá mais 10,2km de ciclovias e ciclofaixas

Na manhã desta terça-feira (31/7), foi assinado na Prefeitura o contrato para a implantação de mais 10,2 km de ciclovias e ciclofaixas em Joinville com a empresa JMS – Serviços de Trânsito Limitada. As obras serão iniciadas nos próximos dias com a assinatura da ordem de serviço.

Atualmente, o plano cicloviário da cidade soma 101,4 km, sendo 85,8 km de ciclovias e 15,6 km de ciclofaixas. Joinville é o terceiro município do Brasil com maior quilometragem de vias para bicicleta, ficando atrás apenas do Rio Janeiro que tem mais de 200 km e Curitiba que conta com aproximadamente 120 km.

No total, 20 ruas serão contempladas com 10,2 km de ciclovias e ciclofaixas que vão interligar os parques Morro do Finder, Morro da Boa Vista, Porta do Mar, Parque da Cidade, Caieiras, São Francisco, Parque das Águas e Estação Ferroviária.

O projeto também prevê obras de pavimentação e sinalização horizontal e vertical. O investimento é de aproximadamente R$ 989 mil e também faz parte programa Linha Verde, financiado pelo Fonplata (Fundo Financeiro de Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata). O prazo de conclusão dos trabalhos é de quatro meses e, será fiscalizado pelo Fundação Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj) e pela Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra).

A meta de Joinville é ampliar o plano cicloviário para 300 km. O Ippuj já realizou um estudo mapeando os principais pontos da cidade onde devem ser implantadas mais ciclovias e ciclofaixas.

Bicicletas: retorno das “magrelas” melhora a vida na Cidade do México

A bicicleta começa a cumprir uma função que em poucos anos será indispensável: ajudar os moradores das cidades a irem de suas casas até o metrô, terminais urbanos ou trens, e dali para o trabalho ou escola. E desta forma reduzir o uso de mais de 3 milhões de automóveis que circulam diariamente na Cidade do México.

Estima-se que, em média, cada cidadão gasta duas horas de viagem por dia, considerando ida e volta. Isto soma milhões de horas de atividade não produtiva, já que número de viagens na zona metropolitana é de 22 milhões a cada dia. A reaparição da bicicleta na cidade propicia, também, a utilização dos espaços públicos, pois nos lugares onde ela está presente o ambiente melhora – independente da região.

Foi o que aconteceu em 2010 com o Monumento à Revolução, uma região esquecida que se regenerou e incluiu infraestrutura ciclista, travessias seguras e cicloestacionamentos; logo abriram novos comércios, restaurantes e cafés. De um lugar considerado de risco, se converteu em um espaço público que hoje é convidativo aos cidadãos.

Em nível global, a bicicleta se tornou o símbolo do bem estar urbano. Hoje já as vemos estabelecidas nos centros econômicos, políticos e sociais mais importantes dos países que a adotaram como meio de transporte seguro, ecológico e saudável.

Paris, por exemplo, tomou a iniciativa em julho de 2007, com sistema público Velib (20 mil bicicletas). Assim a prefeitura de Paris deu um novo rosto à bela cidade e a tornou ainda mais turística e atrativa. Da mesma forma em Barcelona, Montreal e Londres, a bicicleta propiciou uma nova fisionomia urbana; diminuiu o uso do automóvel; e a poluição. A bicicleta torna os parques, a cultura, a educação e o comércio mais acessíveis. Quando adequadamente planejado, seu uso permite uma mobilidade sustentável baseada na interconexão com os sistemas públicos de transporte, reduzindo a dependência do transporte particular.

A volta da bicicleta é um fenômeno global cujo epicentro são as megalópolis – sempre é bom lembrar que mais de 50% da população do planeta vive em centros urbanos. Alguns especialistas classificam o século XXI como aquele em que vigora o triunfo das cidades, e ao qual se apresenta o desafio de fazê-las viáveis.

A Cidade do México, ponto de partida da bicicleta

No começo do século passado, 80% da população mexicana vivia em zonas rurais. Atualmente, 70% reside nas áreas urbanas. Nesse contexto, as prefeituras se perguntam como incrementar a mobilidade.

Um exemplo que temos é a Cidade do México e cidades periféricas, cuja extensão ocupa 500 mil quilômetros quadrados. Estima-se que 70% desta gigantesca área seja propícia para o uso da bicicleta. Além disso, a temperatura média é de 16 graus, ideal para passeios de bicicleta.

Por outro lado, sabemos que 40% das viagens na cidade duram menos de 15 minutos e menos de oito quilômetros, o que significa um enorme potencial para a interconexão do ciclismo ao transporte público, que responde por 70% das viagens. Além disso, a maioria dos usuários precisa de dois ou mais meios de transporte para chegar ao seu destino final. Isso aumenta o tempos de viagem e reduz a qualidade de vida.

De acordo com um censo da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) realizado em 2010, a despesa diária com transporte público, por pessoa, é de 17 pesos, ou cerca de 2,50 reais. Isso significa que as pessoas de baixa renda gastam 35% do que ganham com transporte. Ou seja: aumentando o uso de bicicletas, o custo fica reduzido (além do trânsito e da poluição). Na década de 80, o uso das bicicletas para mountain bike se tornou ferramenta para a conservação de parques e reservas florestais em torno das cidades.

Agora, as bicicletas vão para o asfalto.

Mexico, um “povinho de ciclistas”

Hoje em dia, diferentemente do século passado, o uso das bicicletas não se restringe às camadas sociais com renda mais baixa. Usar a bicicleta era uma marca de inferioridade. A alta sociedade torcia o nariz, dizendo que o México era um “povinho de ciclistas”.

Agora, pessoas de diferentes classes sociais vêem a bicicleta como uma opção de transporte vantajosa e versátil. Hoje a bicicleta compete com os carros particulares e o sistema de transporte público: ocupa menos espaço, é fácil de estacionar e barata de manter. Também chega a ser mais veloz na megalópolis do que um veículo motorizado: na hora do rush na Cidade do México, a velocidade de um veículo motorizado é de cerca de 14 km/h; a da bicicleta supera 16 km/h.

A vantagem é mais evidente em viagens curtas. De acordo com a estratégia de mobilidade de bicicletas traçada pela UNAM, dá para substituir entre 2,5 e 3,5 milhões de viagens diárias feitas em outro meios de transporte, já que 40% delas não é superior a 11 quilômetros

A ideia do bem estar está mudando

O uso urbano da bicicleta é um sintoma de uma mudança social, que favorece a flexibilidade e a liberdade no deslocamento dos cidadãos, afirmou Connie Hedegaard, comissária europeia do Ambiente, durante a Conferência Mundial de Velocidade, em 2010. “As cidades que têm as bicicletas são modernas, e uma cidade moderna é muito mais equitativa, uma vez que promove o bem-estar de todos os membros do núcleo social. Uma cidade com bicicletas tem mais benefícios sociais, ambientais e éticos”.

A idéia de bem-estar também está mudando. Assim como casais jovens vivem em locais muito menores do que antes, há uma mudança cultural no que diz respeito à idéia de bem-estar. Se antes o sonho era ter uma casa e jardim, agora muitos optam por viver em um apartamento para não terem quem enfrentar o transtorno de dirigir, explica Edward Glaeser  no seu livro O Triunfo das Cidades.

Diferentemente dos seus pais ou avôs, os jovens de hoje já não vêem a posse de um carro como sinônimo de bem estar, diz Glaeser. Para o economista graduado em Harvard, isso já se reflete na redução das viagens de carro, que começam a ser substituídas pela bicicleta e pelo transporte público.

Ao mesmo tempo, a bicicleta contribui para a transformação da cidade, tornando habitáveis novamente áreas decadentes. Isso fica claro em determinadas regiões, como o sul da Cidade do México, que experimentam um “boom” imobiliário porque os habitantes preferem viver perto do transporte público para não ter que dirigir longas distâncias.

A mudança das moradias para áreas mistas, onde estão localizados lojas, serviços, recreação e estações de metro, está mudando a paisagem urbana da Cidade do México – e um dos vetores dessa mudança é o ciclismo. “É o local de habitação que determina o tipo de meio de transporte”, disse o Dr. Manuel Suarez, do Instituto de Geografia da UNAM, que estuda o fenômeno da habitação, mobilidade e bicicleta na cidade. “A ausência de espaço entre as pessoas reduz os custos de transporte de bens e idéias, o que conta mais na cidade do futuro é o fluxo de idéias, o conhecimento é mais valorizado do que o espaço. Isso que é a cidade moderna”.

Glaeser diz que “estamos testemunhando uma nova forma de moradia e uso da terra que, em meados do século passado se consolidou em algumas cidades que hoje são ícones do ciclismo urbano” –como Amsterdã, Copenhague e algumas capitais da Ásia.

O automóvel continua a predominar no México – bem como os recursos alocados para a construção de novas estradas e manutenção das antigas. O investimento para a chamada Supervia, atualmente em construção, é estimado em 18 bilhões de pesos (cerca de 2,5 bilhões de reais) enquanto na cidade de 70% das viagens são feitas por transportes públicos.

O Sistema ECOBICI

Em fevereiro de 2010, as autoridades da Cidade do México começaram a estabelecer medidas para incrementar o uso da bicicleta, com o sistema ECOBICI. Como resultado, mais de mil bicicletas foram adicionadas ao sistema de transporte público.

Foi um marco importante para a promoção e investimento governamental na infraestrutura ciclista. Não apenas pelo investimento –100 milhões de pesos, cerca de 14 mihões de reais –mas pela contundência da mensagem, pois a experiência mundial confirma que uma vez que se instala um sistema desse tipo, a tendência é crescer.

O programa visa substituir o primeiro e o terceiro modo de transporte: a pessoa sai de casa para o trabalho ou escola com a própria bicicleta para chegar ao metrô ou metrobus. Ao sair destes meios de transporte, toma uma bicicleta pública para chegar ao destino final.

O resultado tem sido satisfatório. No começo, o registro era feito através do cartão de crédito. Mas descobriu-se que um sistema simples de registro não representam uma grande despesa e traz muito menos uma complicação. Hoje, há uma lista de espera de 15.000 usuários.

O sistema ECOBICI oferece, como em outras cidades do mundo, meia hora de uso gratuito – o que costuma ser suficiente para ir de um ponto para outro.

Antes da implementação do novo sistema, 99,4% das viagens de bicicleta não eram combinadas com nenhum outro meio de transporte – as outras100.250 viagens diárias se articulavam com ônibus ou metrô. Com o estabelecimento do ECOBICI, o último número aumentou entre 8 e 9 mil viagens diárias.

Segundo a Estratégia de Mobilidade em Bicicleta realizada pela UNAMA, entre 2008 e 2009, para que a população jovem utilize a bicicleta para chegar à escola e para se deslocar no interior dos bairros é preciso criar zonas de trânsito calmas, seguras para os pedestres e ciclistas, com cruzamentos adequados e programas de médio e longo prazo para incidir na mudança de hábitos e aquisição de confiança e segurança.

Espaço público X risco

O uso da bicicleta também vem sendo aproveitado por administrações públicas municipais para melhorar o espaço público de forma a propiciar encontros casuais e harmoniosos entre os cidadãos.

Por exemplo, em um domingo de manhã, no Paseo de La Reforma, não somente pode-se andar de bicicleta como também ter uma aula de dança ou ioga a céu aberto e conviver com patinadores e skatistas. Nesse dia, essa importante via pela qual transitam uma infinidade de automóveis muda sua fisionomia para integrar a bicicleta.

A estratégia do governo na Cidade do México para integrar bicicletas às avenidas tem um impacto positivo porque envia uma mensagem ao público, mostrando que o ambiente social e urbano pode ser diferente. Pelo menos em uma avenida da cidade. E se nesse espaço a atmosfera é diferente, então você pode ter em outros.

Segundo o plano de mobilidade desenvolvido por especialistas na UNAM, a infra-estrutura de ciclismo, além de estar no Paseo de la Reforma e em bairros como La Condesa, Chapultepec, Polanco, deve chegar aos arredores da cidade. O ponto essencial da bicicleta não é apenas a mobilidade na capital, mas que os espaços dignos gerados cheguem a todas as classes sociais.

Vários especialistas na área, como o arquiteto paisagista Pedro Camarena, acreditam que o investimento público deva ser ampliado em áreas distintas para atingir o conjunto da população. Se os governos instalarem infraestrutura para o ciclismo em diferentes áreas, os cidadãos começam a acreditar na mudança e, portanto, a participar dela.

O relatório do uso de bicicletas públicas indica que, depois de 3 milhões de viagens no sistema ECOBICI, houve apenas acidentes menores –  e nenhuma morte. O sistema mexicano de bicileta pública é que sofre menos vandalismo no mundo.

A Estratégia de Mobilidade em Bicicleta da UNAM

A mesma pesquisa da UNAM investigou os principais obstáculos e preocupações dos cidadãos em relação ao uso da bicicleta. 39% por cento dos entrevistados citaram a segurança como o principal fator contrário ao ciclismo. Outro é a longa distância entre origem e destino das viagens.

Os pesquisadores da UNAM perguntaram se as pessoas usariam bicicletas para ir ao trabalho. A aceitação foi relativamente alta: 22% das pessoas se mostrou disposta a sempre usar o programa de bicicletas públicas; 26% respondeu que sempre utilizariam uma bicicleta se existisse uma ciclovia; e 27% substituiria o primeiro modo de transporte se existisse um lugar seguro para guardar a sua bicicleta.

Com base nestes dados anteriores se pode traçar um detalhado mapa sobre os locais ideais para a instalação de infraestrutura ciclista na Cidade do México.

Em casos como a Cidade do México, onde a média de viagem diária por trabalhador que vai ao centro da cidade é de duas horas, o uso da bicicleta poderia ajudar a reduzir esse tempo.

Segundo pesquisadores da UNAM, se as 15 estações de metrô nas quais se detecta mais bicicletas contassem com cicloestacionamentos seguros, se poderiam substituir 128.740 viagens que atualmente se fazem por outros meios.

Os bairros devem articular múltiplas ciclovias, cicloestacionamientos e zonas de trânsito tranquilo unindo estações de metrô, centros de trabalho e residências.

O estudo mostra que o ciclismo urbano na capital mexicana tem grandes possibilidades de crescer. Se as políticas públicas conseguirem consolidar a bicicleta como articuladora entre mobilidade motorizada e não motorizada, em poucos anos a capital mexicana poderia ser exemplo mundial de mobilidade limpa.

O ciclismo urbano também mantém presença em outras metrópoles do país, com atores muito engajados. É o caso de Guadalajara, Querétaro, Torreón e Monterrey, onde organizações, coletivos, órgãos governamentais, academia, corporações e, sobretudo, cidadãos interessados na construção de uma nova paisagem urbana, participam ativamente. É notória, também, a recente onda de livros, manuais técnicos, estratégias locais e, inclusive, a oferta de capacitação acadêmica que promove a instauração de uma cultura e infraestructura ciclista nas cidades do México.

Por Antonio Suárez, do La Jornada da Cidade do México, reproduzido no site da agencia Pública.