Caso Busscar: Juiz manda empresa mudar Plano ilegal e marca continuidade da assembleia

O juiz Maurício Cavalazzi Povoas marcou para 7 de agosto acontinuação da assembleia de credores da Busscar Ônibus no Centreventos Cau Hansen, em Joinville. O magistrado entende que o plano de recuperação judicial apresentado é ilegal e manda a empresa modificá-lo, em até dez dias, para adequar-se à legislação.

O ponto considerado à margem da legislação é a do pagamento total dos créditos trabalhistas – que são de R$ 115,6 milhões – em 36 meses. Eles precisam ser pagos em, no máximo, 12 meses, segundo o artigo 54 da lei 11.101/2005.

O valor mensal seria de R$ 9,6 milhões. Diz o juiz, nos autos do processo 038.11.046851-9, que a proposta apresentada não poderia ser mantida, “sequer por aprovação unânime em assembleia geral de credores”.

Povoas também determina à empresa manifestar-se no prazo de dez dias e informar valor de ativos permanentes no laudo de avaliações dos bens. Ele não vai abrir novo prazo para objeções porque as outras alterações feitas no plano, pela Busscar, são muito pequenas em relação ao texto inicial.

A Busscar considera longo o prazo de 7 de agosto para a continuação da assembleia de credores, uma vez que o mesmo é superior aos 60 dias que haviam sido mencionados como prazo máximo na primeira reunião e também difere da sugestão formalizada pela empresa, que seria 12 de julho.

A empresa surpreendeu-se com a posição da Justiça solicitando uma nova proposta para o pagamento dos débitos trabalhistas, uma vez que, no entendimento de seus advogados, as modificações protocoladas após 22 de maio não alteram na essência o que estava no plano recebido e aceito pelo juiz em 12 de janeiro.

A Busscar se baseia no seguinte trecho dos autos do processo para defender sua argumentação: “3) Do plano de recuperação judicial: O plano de recuperação judicial foi apresentado tempestivamente (fls. 2980-3844), com observância dos requisitos previstos no artigo 53 da lei 11.101/2005. Diante disso, recebo o plano de recuperação judicial de fls. 2980-3844.”

De acordo com a assessoria jurídica da Busscar, a empresa não paga em 12 meses porque não há caixa para isso, nem geração de receita:

— Entendemos que o plano atende à lei porque haverá quitação legal em 12 meses; a solução jurídica posta no plano (por meio de debêntures) já foi aceita em outros casos de recuperação judicial no País.

Plano alternativo

Se o plano de recuperação da companhia for recusado, o juiz também já analisa a possibilidade de, na própria assembleia, colocar em apreciação e votação algum plano alternativo, vindo de credores, desde que seja tecnicamente razoável.

— Isto não está previsto na lei, mas a importância social da empresa merece uma atenção adicional e é possível inovar.

Explica que não há precedente conhecido neste sentido. Ele já conversou com o administrador judicial Rainoldo Uessler sobre esta questão e vai conferir a sua legalidade.

Concorrente

A Busscar está em processo de recuperação judicial desde outubro. Tem dívidas superiores a R$ 1,4 bilhão e 6,8 mil credores. Enquanto isto, a gaúcha Marcopolo anuncia novo investimento de R$ 450 milhões na expansão dos negócios. De 2007 até 2016, a fabricante de carrocerias de ônibus, com sede em Caxias do Sul, vai aplicar R$ 1 bilhão.

Do jornal A Notícia, colunista Claudio Loetz em Livre Mercado

BNDES: Busscar tem que mudar – Coluna de Claudio Loetz em A Notícia

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pede, em ofício, mudanças efetivas na gestão do Grupo Busscar, sob comando de Cláudio Nielson. O documento foi protocolado na 5ª Vara Cível de Joinville, responsável pelo processo de recuperação judicial da fabricante de carrocerias, na segunda-feira. Além de afirmar que não concorda com a exclusão de juros e correção monetária anteriores à assembleia dos credores, o banco alega que o pagamento de juros de 4% ao ano, que seria aplicado sobre o valor da dívida após a aprovação do plano de recuperação, são “significativamente inferiores” aos estabelecidos em contrato vigente, de 8% ao ano.

Amortização
O BNDES ainda discorda da proposta apresentada pela Busscar, que prevê o pagamento da dívida em oito anos, com carência de quatro anos. “Ou seja, tal amortização dar-se-á, de fato, em 12 anos”, escreve o banco no documento. O terceiro e decisivo ponto reclamado é que “não há previsão da retirada dos atuais controladores da gestão da empresa”. Na prática, significa que quer a saída de Cláudio Nielson do comando da Busscar. A dívida da empresa com o banco é de R$ 57,3 milhões. A Busscar continua produzindo carrocerias sob encomenda de clientes.

No site
Quem entrar no site do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região (www.sindmecanicos.org.br) encontrará mensagens recorrentes sobre a crise da empresa. Grande parte delas fala em falência da companhia. É um evidente exagero. Há assembleia de credores, em data a ser marcada pela Justiça, que vai definir o futuro da companhia.

Assembleia
Ainda no site, o Sindmecânicos convida os trabalhadores para uma assembleia geral no dia 15, um domingo, às 9 horas. O evento será no centro esportivo do sindicato, na rua Rui Barbosa, 495, bairro Costa e Silva. O objetivo é decidir a posição de voto dos trabalhadores na futura assembleia geral dos credores, que por ora está prevista para maio.

Coluna de Claudio Loetz, publicada hoje no jornal A Notícia