Aplicativo para telefone celular facilita fiscalização das contas públicas

palavralivre-contas-publicasEntender o significado da infinidade de números e planilhas dos contratos públicos para construção de praças, escolas e também de grandes obras é uma tarefa para especialista e uma missão praticamente impossível para o cidadão comum.

Mas a parceria entre o Poder Público e um grupo de programadores resultou em um aplicativo para celular que pode revolucionar a maneira como a sociedade acompanha e fiscaliza a aplicação dos recursos públicos.

Vencedor de um concurso público promovido pelos ministérios da Justiça, do Planejamento e pela Controladoria-Geral da União (CGU) e lançado esta semana, o aplicativo As Diferentonas permite que o cidadão compare a aplicação dos recursos destinados pelo governo federal a sua cidade com o montante repassado a outro município de perfil socioeconômico semelhante.

“O mote todo do aplicativo é o de ajudar o cidadão a comparar o uso da verba do município dele com a de outros parecidos. A pessoa digita o município que interessa e o aplicativo usa dados socioeconômicos para descobrir os mais parecidos e já mostra os resultados com as ‘diferentices’”, explicou o professor da Universidade Federal de Campina Grande Nazareno Andrade, um dos responsáveis pelo aplicativo.

Nazareno explicou à Agência Brasil que a ideia do aplicativo surgiu de um meme que viralizou nas redes sociais, a partir de uma brincadeira com o termo ‘diferentona’. “Queríamos pegar essa ideia do meme para quebrar a formalidade [dos dados] do governo federal, aproximar das pessoas e elas descobrirem se a cidade delas é a ‘diferentona’ das outras”.

Uma das formas de despertar o interesse das pessoas pelo aplicativo, e também pelos dados públicos, é o humor. Nazareno contou que um dos desenvolvedores do aplicativo nasceu na cidade de Emas, município de 13 mil habitantes do sertão da Paraíba. Em meio ao processo de criação, a equipe quis identificar em que a cidade poderia ser diferente.

“Descobrimos que Emas é a ‘diferenona’, porque ela recebeu R$ 1 milhão para convênio de esporte e lazer que nenhuma outra cidade do tamanho dela recebeu na Paraíba”, exemplificou Andrade.

A diretora adjunta da Secretaria de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, Carolina Yumi de Souza, que coordenou o concurso para a escolha do aplicativo, disse que a ideia era conseguir desenvolver uma ferramenta que conseguisse “traduzir” os dados do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Siconv), ferramenta oficial do governo para gerenciar transferências de recursos.

“Os dados fornecidos pelo Poder Públicos são muitos complicados de entender”, reconheceu Yumi de Souza. “O aplicativo tem esse aspecto de não só fazer o cidadão se envolver, mas ajudar ao Estado na fiscalização, evitar e diminuir a corrupção e cobrar do Pode Público que providências sejam tomadas se uma obra não for concluída”, salientou.

Interatividade
Além de poder acompanhar o andamento de obras, o aplicativo também permite que o cidadão questione o ritmo de construção do empreendimento e denuncie eventuais suspeitas de irregularidade.

“A gente usa as metáforas de seguir uma obra, seguir uma cidade, acompanhar, comentar, discutir com outras pessoas sobre aquela obra. Permitimos a troca de informações e de denúncias à CGU. A partir de uma obra a pessoa pode adicionar comentários positivos, negativos e gerar uma denúncia”, disse Nazareno.

Concurso
Para o desenvolvedor, foi importante o Estado promover o concurso, uma vez que, segundo ele, a sociedade civil tem um entendimento melhor das necessidades dos cidadãos.

“Nunca o Estado vai fazer pelo cidadão como se fosse o [próprio] cidadão. O Estado não consegue criar uma ferramenta com a visão do cidadão. E no momento em que o Estado faz um concurso como esse [abre a possibilidade] para que um paraibano, de 30 e poucos anos, que tem uma certa vivência fora da máquina do governo, mostre isso”.

De acordo com Carolina Yumi de Souza, o concurso teve 54 inscritos que apresentaram protótipos na primeira fase. Desses, foram escolhidos os três melhores para a segunda etapa Cada um deles recebeu R$ 10 mil. Na terceira e última fase, o aplicativo As Diferentonas foi o selecionado, e os desenvolvedores ganharam mais R$ 30 mil.

O aplicativo está disponibilizado em uma versão de teste no portal do Ministério da Justiça para as pessoas baixarem. Em fevereiro será disponibilizado nas lojas online.

“Desde agora estamos fazendo uma campanha para que ele se torne conhecido, mas uma campanha mais maciça será feita em fevereiro”, disse Yumi de Souza.

Com informações da EBC

Contas Públicas: Governo pressiona Congresso a mudar a LDO

A retomada dos trabalhos nesta terça-feira (11) no Congresso Nacional trará uma missão complicada para o Palácio do Planalto. Com a arrecadação baixa e os gastos em alta, o governo federal pretende ver modificada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) a meta de superávit fiscal, hoje oficialmente em R$ 116,1 bilhões – incluindo as estatais.

O superávit é a economia que a União faz para pagar compromissos como a dívida pública. Para conseguir cumprir esta tarefa, líderes precisarão convencer os aliados e superar o bloqueio prometido pela oposição.

A tarefa ganhou novos contornos com a presença da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, nesta terça na Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Caberá a ela levar a deputados e senadores os argumentos do governo para a mudança do superávit. De acordo com a pasta, se não ocorrer a mudança desejada, será preciso cortar incentivos fiscais e subsídios concedidos, além de aumentar impostos.

Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse que a redução da meta do superávit é necessária para que a atual política de manutenção de empregos, bancada às custas de investimentos estatais, seja mantida.

“É muito importante manter o emprego e a renda da população. É uma opção clara do governo, e acho que haverá maioria, seguramente [o Congresso] vai aprovar”, disse Mercadante.

A meta oficial deste ano é de R$ 116,1 bilhões para o governo federal (incluindo as estatais), valor que pode ser reduzido para R$ 49,1 bilhões, com abatimentos de até R$ 67 bilhões previstos na LDO.

Na semana passada, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, reconheceu que o governo não conseguirá atingir os valores oficiais nem mesmo usando todo o desconto, e adiantou que um projeto deverá alterar o tamanho do abatimento.

Bloqueio
Desde o primeiro semestre que a CMO não consegue se reunir e votar propostas. Sem quorum, a sessão da semana foi cancelada. Por isso, a LDO de 2015, por exemplo, até agora não foi analisada.

O orçamento para o próximo ano já tramita, mas o governo trabalha com a possibilidade de o texto final não ser apreciado pelo Congresso até 22 de dezembro. O presidente da comissão, deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), entende que os partidos da base devem atuar para viabilizar o quorum.

Porém, se depender da oposição, a mudança no superávit não passará. “Consertar a LDO no final do ano é uma piada de mau gosto. É cobrir a nudez com folha de parreira”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Líder da minoria na Câmara, Domingos Sávio (PSDB-MG), engrossa o coro. Disse que o Palácio do Planalto não pode corrigir um erro com outro. “Não vamos permitir isso. Entendemos que o correto é o governo ter mais responsabilidade com as contas públicas”, completou.

Do Congresso em Foco

Brasil tem superávit primário recorde de R$ 30,25 bilhões

superávit primário recorde em janeiro e a perspectiva de reação da atividade econômica indicam cenário mais favorável para as contas públicas este ano. A avaliação é do chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. O superávit primário, esforço para o pagamento de juros da dívida, do setor público consolidado (governos federal, estaduais e municipais e empresas estatais) chegou a R$ 30,251 bilhões, em janeiro. É o maior resultado mensal da série histórica iniciada em 2001.

Em 12 meses encerrados em janeiro, o resultado ficou em R$ 109,187 bilhões, o que representa 2,46% de tudo o que o país produz  Produto Interno Bruto (PIB). A meta para este ano é R$ 155,9 bilhões.

Maciel lembrou que o resultado de janeiro refletiu o aumento das receitas. O Tesouro Nacional informou que as receitas do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) apresentaram crescimento de R$ 14,9 bilhões (14,5%), ante janeiro de 2012. Segundo Maciel, o aumento das receitas reflete expansão da atividade no final do ano, com arrecadação feita em janeiro. “Mas é preciso aguardar um pouco mais para a gente ter um quadro mais definido do comportamento das receitas”, disse.

Maciel negou que o aumento do esforço fiscal em janeiro tenha ocorrido porque o Orçamento deste ano ainda não foi aprovado, o que cria dificuldades para o governo fazer despesas. Eles destacou que o Executivo editou medida provisória para despesas com investimentos, que ficaram em R$ 9,6 bilhões, em janeiro deste ano, contra R$ 7,7 bilhões, de igual mês 2012.

O esforço fiscal do setor público foi suficiente para cobrir os gastos com os juros que incidem sobre a dívida. Esses juros chegaram a R$ 22,649 bilhões, em janeiro, contra R$ 19,661 bilhões de igual período do ano passado. Com isso, o superávit nominal, formado pelo resultado primário e as despesas com juros, ficou em R$ 7,602 bilhões, no mês passado, contra o déficit nominal de R$ 6,355 bilhões de igual mês de 2012. O superávit nominal é o melhor para meses de janeiro já registrado pelo BC.

Do Correio do Brasil