Processo de cassação de vereador em Joinville (SC) deve ser considerado nulo na origem

O processo relâmpago aberto contra o vereador tucano Odir Nunes na semana passada pela Câmara de Vereadores de Joinville deve ser declarado nulo já em sua origem. A Constituição Federal em seu artigo 15 é muito clara para o caso em questão. O artigo diz que “É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

    I -  cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

    II -  incapacidade civil absoluta;

    III -  condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

    IV -  recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

    V -  improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Ocorre que o representante que protocolou o pedido de cassação (leia mais aqui), o senhor Carlos Eduardo da Silva, que se declara motorista/socorrista, tem condenação criminal e cumpre a pena no momento, apurou o Palavra Livre. Assim ele está com os direitos políticos suspensos, e conforme diz o artigo 15, inciso III da Constituição Federal, ele não pode exercer direitos políticos, e portanto, a representação que apresentou pode, e deve, ser considerada nula.

As fontes consultadas pelo Palavra Livre, todas da própria Câmara de Vereadores de Joinville, são enfáticas em dizer que todo o processo está viciado desde o seu início. Parece claro que a pressa em acusar o opositor ao governo Udo Döhler (MDB) levou os governistas a atropelarem os ritos legais, a lei e regimento interno, inclusive a Lei Orgânica do Município. Não se concebe que uma Casa de Leis não observe a legalidade dos atos.

A representação, antes de ser aceita, deveria ter sido encaminhada ao Presidente do Legislativo, Claudio Aragão (MDB), que ao seu tempo, deveria ter enviado o pedido à área jurídica da Câmara para avaliar exatamente isso, se as premissas para o aceite da representação cumpriam a legalidade, inclusive checar se o representante do pedido de cassação estava com seus direitos políticos plenos. Ele não está. E mais, deveria aguardar parecer jurídico para aí sim iniciar debates, e todos os demais passos para a abertura de comissão processante. Nada disso foi feito.

O Palavra Livre já abordou aqui a inusitada, para dizer pouco, pressa para cassar um oponente do Governo Municipal que tem ampla maioria na casa, enquanto deixou de fiscalizar e investigar as denúncias contra a Prefeitura, incluidas aí as infindáveis obras do Rio Mathias, que estão ceifando empregos, renda, comércios e impostos da cidade há pelo menos seis anos. Até CPI foi barrada pela bancada governista, votaram contra a abertura de investigação, mas em alguns dias abriram, sem base legal, comissão processante para cassar o vereador Odir Nunes (PSDB).

Esta Câmara de Vereadores não vai deixar saudades. Pelo bem da imagem do Legislativo da maior cidade do Estado, deve voltar atrás nesta ação que mais parece um ato da inquisição dos tempos medievais. Segundo a defesa do vereador, que ainda não se considera citado, ainda estudam os atos para a defesa. Juristas consultados pelo Palavra Livre dizem que o ato é nulo e deve ser arquivado.

Comissão da Verdade: deputados querem julgar Bolsonaro por falta de decoro

Deputados da Comissão de Direitos Humanos e da Subcomissão da Verdade protocolaram hoje (4) na presidência da Câmara representação contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro parlamentar. Os deputados alegam que Bolsonaro tentou impediu a realização da primeira sessão da subcomissão e ofendeu um servidor da Casa. Procurado pela Agência Brasil, Bolsonaro, que é oficial da reserva do Exército, se defendeu dizendo que foi ofendido pelo funcionário.

De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Domingos Dutra (PT-MA), que também é membro da subcomissão, Bolsonaro quebrou o decoro parlamentar ao impedir a realização da reunião. A audiência, fechada à imprensa, estava marcada para ouvir os depoimentos de dois camponeses e dois militares que tiveram participação na Guerrilha do Araguaia. Bolsonaro, segundo Dutra, também tirou foto dos depoentes para tentar constrangê-los.

“O deputado Jair Bolsonaro, que está acostumado a agredir as pessoas e tentar obstruir os trabalhos do Legislativo e, apesar de não fazer parte da subcomissão, tentou obstruir os trabalhos. Ele agrediu um servidor da comissão, o secretário Marcio Araujo, ameaçou os depoentes, tentou paralisar as atividades da comissão. Como ele não conseguiu, ficou no corredor aos berros ameaçando todo mundo”, contou Dutra.

Para Chico Alencar (PSOL-RJ), Bolsonaro atingiu não só o trabalho da subcomissão, mas também o Código de Ética que diz ser grave falha ao decoro interromper uma sessão “da forma como ele fez”. “Ele também ofendeu um servidor. Isso não pode ficar apenas no folclore do Bolsonaro para satisfazer o nicho fascista dele”, acrescentou o líder da legenda.

Por outro lado, Bolsonaro disse que a confusão começou quando o servidor o impediu de ter acesso à lista com o nome das pessoas que estavam depondo. Segundo ele, uma secretária iria lhe passar o documento e o servidor Marcio Araujo “tomou o papel” da mão dela.

“Estava ouvindo o depoimento e fui pegar a relação dos nomes dos depoentes. Mas um assessor não me deixou ter acesso ao papel. Tomou o papel e correu para um canto. Peguei minha máquina fotográfica e tirei uma foto dele e ele veio atrás de mim para tirar satisfação”, contou Bolsonaro à Agência Brasil.

“Todo os deputados tomaram as dores do servidor e houve bate-boca lá dentro. Não houve xingamento, mas uma discussão pesada. Falei lá dentro que o depoimento teria que ser aberto [à imprensa]”, acrescentou Bolsonaro.

Para o parlamentar, que defende os temas de interesse dos militares no Congresso, a representação é uma forma de tentar impedi-lo de participar das reuniões da subcomissão. “Essa é uma comissão da mentira. Eles estão revoltados porque eu falei que vou participar de toda e qualquer sessão da comissão que for dentro da Câmara. Eles querem que eu não adentre a subcomissão, mas se essa for a intenção deles, vão dar com os burros n’água”, provocou Bolsonaro.

A representação foi entregue ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que irá encaminhar o documento à Corregedoria da Casa. Lá, o corregedor, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), terá prazo de 45 dias para apresentar parecer sobre o caso. Caso considere que houve quebra de decoro, enviará o documento à Comissão de Ética para abertura de processo, que pode resultar na cassação de Bolsonaro.

Da Agência Brasil