Países ricos têm 30 milhões de crianças pobres, diz Unicef

Os 35 países mais ricos do mundo concentram 30 milhões de crianças pobres – 15% da população infantil assistida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Segundo relatório divulgado hoje, somente na Europa há 13 milhões de crianças pobres.

O relatório do Unicef é constrangedor para os países ditos economicamente avançados. E deve servir de alerta. O estudo foi feito nos 27 países da União Europeia, além da Noruega, da Islândia, da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos, do Japão, da Nova Zelândia e da Suíça.

As democracias escandinavas têm somente 3% de crianças pobres. Os maiores índices de privação estão em países como a Romênia, Bulgária e Portugal (com mais de 70%, 50% e 27% respectivamente).

O Unicef definiu alguns critérios de comparação para estabelecer pobreza, entre eles, o acesso a três refeições por dia, com frutas e legumes frescos, livros, conexão à internet e um local calmo para fazer as atividades escolares.

De acordo com o relatório, um dos casos que chama a atenção é o da França. Para o Unicef, o país desperdiça dinheiro público. A França é o país que mais gasta verba pública em políticas familiares: 3,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) é investido no setor, ficando atrás apenas da Itália.

Apesar dos investimentos, a França ocupa o 14° lugar no ranking de crianças pobres. O relatório informa que há cerca de 1,3 milhão de crianças francesas consideradas pobres, o equivalente a 8,8% da população infantil. Do total, a metade mora em locais insalubres e 20 mil crianças não têm domicílio fixo.

Outro critério pesquisado pelo Unicef é a pobreza relativa, o percentual de crianças que vivem em agregados familiares com rendas, ajustadas em função do tamanho e da composição familiar, inferiores a 50% da renda média no país onde vive. Novamente, os países nórdicos e a Holanda têm as menores taxas de pobreza relativa para as crianças, cerca de 7%.

Em contraste, mais de 20% das crianças da Romênia e dos Estados Unidos vivem na pobreza relativa. “A comparação entre países semelhantes mostra que as políticas governamentais podem ter um impacto significativo sobre as vidas das crianças”, afirma o Unicef.

Do Observatório Social

Abismo social: No Brasil, ricos ganham 50 vezes mais que pobres

No Brasil, os 10% mais ricos ganham 50 vezes mais que os 10% mais pobres. Este continua sendo um dos piores índices de desigualdade do mundo. As informações foram reveladas nesta segunda-feira (5) em um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As diferenças na renda e na qualidade de vida permaneceram altas, mesmo o Brasil sendo o único entre os Brics – grupo que também inclui Rússia, Índia e China – a reduzir a distância entre ricos e pobres em 15 anos.

Enquanto o índice Gini, que mede a desigualdade de um país, caiu de 0,61 para 0,55 no Brasil entre 1993 e 2008, em todos os outros Brics esse índice passou para um valor mais alto. Entretanto, o Gini do Brasil ainda é maior que o de todos os Bric. É também o dobro da média dos países ricos. Quanto menor o índice Gini, melhor a posição.

Um dos destaques do relatório é o crescimento da desigualdade nos países ricos, chegando ao nível mais alto dos últimos 30 anos. Entre os ricos, a maior diferença na renda é nos Estados Unidos (14 vezes). Na Itália, Japão, Coreia do Sul e Grã-Bretanha a distância é de dez vezes.

A explicação para o crescimento da desigualdade nos países ricos estaria no corte de benefícios sociais. Os menos desiguais são a Alemanha, Dinamarca e Suécia, onde a diferença é de seis vezes.

SMABC

Desigualdades raciais no Brasil continuam enormes

divisoesMelhorias econômicas, sociais e educacionais reduziram mas não eliminaram a imensa desigualdade no país

Apesar de nos últimos anos ter melhorado a situação do negro em termos econômicos, sociais e educacionais, as desigualdades entre negros e brancos no Brasil continuam enormes.

“As diferenças persistem em praticamente todos os indicadores socioeconômicos”, afirma a professora Luiza Rosas, da USP.
Ela diz que se o Índice de Desenvolvimento Econômico, que considera critérios como educação, salário e expectativa de vida forem separados por grupo racial, haverá um abismo entre o Brasil negro e o Brasil branco.

Políticas afirmativas
“Os brancos ficariam em 46º lugar e os negros em 107º lugar. É pior do que os índices de todos os países africanos”, comenta.
Luiz Rosas defende a política de cotas para negros nas faculdades e a criação de outras políticas afirmativas, pois entende que as desigualdades raciais não serão superadas com as políticas tradicionais de inclusão social.

ProUni beneficia negros
Nos últimos dez anos, dobrou o número de negros no ensino superior. Mas, apesar desse aumento, os negros representam apenas um terço dos estudantes brancos nas faculdades.
Em 1999, 4,6% de negros tinham curso superior diante de 9,8% de brancos. No ano passado, o percentual de negros subiu para 10% ante 15% de brancos.
Para José Jorge de Carvalho, professor da Universidade de Brasília, o que mais contribuiu para esse aumento foi o ProUni (Programa Universidade para Todos), que oferece bolsas em faculdades particulares.

Tese derrubada
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os negros que entram nas faculdades públicas em razão das políticas afirmativas têm desempenho igual ou melhor que os não-cotistas.
“O estudo derruba a tese de que os alunos beneficiados pelas cotas não estariam preparados para cursar o ensino superior”, ressalta Cláudio Teixeira, o Zuza, coordenador do Coletivo de Igualdade Racial do Sindicato.

Mídia esconde racismo
Os meios de comunicação, no entanto, vêem o racismo e a discriminação como assuntos secundários. Pesquisa feita pelo professor Dennis de Oliveira mostra que a mídia trata o racismo como uma manifestação individual de pessoas e não um problema da sociedade.
“Para a mídia, se o negro se esforçar, estudar e trabalhar duro ele consegue vencer e superar as dificuldades, pois suas dificuldades não são um problema da sociedade e sim do próprio negro”, critica.

Do site ABCD