Opinião: Um legislativo fraco, é a sociedade que perde!

Vereadores que agem ilegalmente, deveriam é fazer valer o poder que tem
Vereadores que agem ilegalmente, deveriam é fazer valer o poder que tem

Neste dia 31 de março completamos 50 anos do desgraçado golpe militar, com apoio civil, que nos jogou na escuridão da tortura, falta de liberdades, um atraso em nosso desenvolvimento enquanto sociedade. O Estado como o conhecemos, conjunto de instituições como os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com comando divisões político/administrativas – estados e cidades – que devem controlar e dirigir a nação, foi utilizado para impor o silencio, calar opiniões, evitar a participação popular nos destinos do Brasil. Graças à luta de milhares, inclusive com muitas mortes e desaparecimentos de irmãos brasileiros, voltamos à democracia plena.

Mas nossa democracia é ainda muito jovem. Em toda a nossa história, aliás, tivemos muito pouco de vivencia e cultura democrática. O Brasil historicamente foi marcado pelo domínio da cultura autoritária. Nosso povo reclama muito, mas participa muito pouco. Nossa cidadania está aí para fazermos valer o que queremos, cobrar, ouvir, acompanhar, ajudar, denunciar, mas isso predispõe que queiramos participar de fato, e não só de dois em dois anos na hora da urna. Não vou falar neste artigo sobre o Executivo e o Judiciário, porque todos sabem das mazelas, e merecem artigos à parte em cada esfera (federal, estadual e municipal). Vou me ater ao legislativo de Joinville, cidade em que nasci e vivo há mais de quatro décadas.

A justiça acaba de barrar a aprovação da tal reforma administrativa proposta pelo governo Udo Döhler (PMDB), mais uma reforma em menos de dois anos do seu mandato. Por quê? Porque os vereadores, nossos legisladores e fiscalizadores do executivo (deveriam ser!) decidiram negar o debate em todas as comissões necessárias. Pois bem. Quando o poder legislativo, a marca maior da democracia, onde o debate é livre e importantíssimo para iluminar determinadas atividades e ações da Prefeitura, atropela a legalidade, o que temos? Uma diminuição, um acocoramento de um poder em relação a outro, o que é potencial nocivo a toda a sociedade.

Nossa classe politica deveria olhar ao passado e ver que atitudes como essa, de subserviência, submissão, aceitação goela abaixo de tudo que um executivo manda ao legislativo, não só destrói a imagem do poder, mas diminui nossos direitos como cidadãos. Afinal, os que lá estão são apenas representantes do que nós queremos para nós mesmos! E nós aceitamos tudo goela abaixo? Não, claro que não! Questionar, analisar, se permitir observar os tramites legais, é nossa garantia de não sermos enganados, e até roubados em nossos direitos, sagrados. Quando um legislativo é fraco, não se impõe, o que temos é uma sociedade fraca, que perde a chance de evoluir e se desenvolver. E mais que isso, uma sociedade que abre espaço para o autoritarismo que tanto lutamos para afastar da nossa vida cotidiana.

Qual o remédio para isso? Participação popular permanentemente. Acompanhar seus eleitos, ir às reuniões das comissões técnicas no legislativo, cobrar a transparência total dos atos públicos, verificar o que prometeram os então candidatos, e o que fazem quando eleitos, a quem defendem de fato! Se não exercermos esse nosso direito fundamental, vamos ser governados por pessoas que não nos representam, mas que detém mandato outorgado por nós mesmo via voto. Daqui a pouco eles estarão novamente a pedir o seu voto, prometendo A, e fazendo Y no legislativo e executivo. Depois não adianta reclamar que a rua e a praça ficaram abandonadas, o IPTU aumentou demais, seu nome foi para o cartório. Um legislativo fraco, uma sociedade abandonada.

Opinião: 50 anos do Golpe Militar – Comissão da Verdade em Joinville já!

Audiência Pública foi pouco prestigiada por vereadores, população, mas teve ótimo conteúdo.
Audiência Pública foi pouco prestigiada por vereadores, população, mas teve ótimo conteúdo.

Quem viveu o período triste, violento, de perseguições, torturas, censuras e de total falta de liberdade da ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985 sabe o quanto é salutar viver na democracia. Poder dizer o que pensa onde quiser, participar de eleições votando ou sendo votado, fiscalizar sem medo de ser preso, exercer a cidadania, e principalmente, ter a liberdade como bem maior. Quem gosta de ditadura é o autoritário, o conservador que deseja tudo para si e os seus, que detesta o debate, o pensamento dos demais, ou melhor, quer a liberdade total restrita aos seus. Nada mais reacionário. Gosto do pensamento que exprime o seguinte: posso não concordar com nada do que pensas, mas defenderei até a morte o direito de dizeres o que pensas.

Dito isso, quero dizer que vivenciei momentos únicos no plenário da Câmara de Vereadores de Joinville (SC) na noite de terça-feira (11/3) na audiência pública que marcou os 35 anos do Centro dos Direitos Humanos da maior cidade catarinense, o terceiro a ser criado no país. O representante da Comissão da Verdade de SC, Naldi Otavio Teixeira, esteve palestrando para uma pequena plateia para um tema tão importante e fundamental para a sociedade que viveu mais de 20 anos sob a ditadura militar. Presentes ao evento ex-presos políticos da cidade, perseguidos políticos, e que contaram as dores de ver o ente querido sequestrado e desaparecido pelas mãos dos militares, como contou a dona Lucia Schatzmann, esposa de Edgar Schatzmann, que foi por duas vezes preso.

Coisas que me chamaram a atenção. Uma, e significativa, foi a presença de apenas três dos 19 vereadores. Sequer o presidente do Poder Legislativo, João Carlos Gonçalves, esteve no evento. Rodrigo Fachini, Adilson Mariano e Manoel Bento se manifestaram em apoio às atividades da Comissão Estadual da Verdade, mas timidamente e se preocupando mais em agradar a plateia presente ou enaltecer os seus. Vergonhoso para um poder que é a Casa do Povo, e que só existe hoje de forma independente (será?) por conta da luta de milhares de brasileiros em favor da liberdade e da democracia. Outra questão é o atraso dos trabalhos da Comissão no Estado, claramente engessada, com falta de apoio financeiro, logístico e institucional claro. Afinal, todos estão de certa forma atrelados ao governo estadual. Este tem fortes raízes politicas fincadas nos anos da ditadura.

Ouvi, emocionado, os relatos de pessoas que sentiram na pele o autoritarismo. Ouvi também atentamente as falas de professores, militantes do Partido Comunista, e resolvi colocar o dedo na ferida, pedindo a palavra. Relatei que sou um defensor da democracia e da liberdade, e que sou pesquisador assíduo deste período, leitor de varias bibliografias sobre as torturas. Contei sobre entrevistas que fiz com a família do senhor Conrado de Mira, o primeiro sindicalista de Joinville, que foi preso e torturado. A família foi estigmatizada pela sociedade de então. Do senhor João Schmitz, que estava presente à audiência, que foi o primeiro candidato a prefeito do PT na cidade, também perseguido. Do senhor Elmar Zimmermann, ex-vereador e já falecido, que abrigava os perseguidos pela ditadura. E fiz uma cobrança que repito aqui no Palavra Livre.

De que é imperioso que a Câmara de Vereadores de Joinville crie por lei a Comissão Municipal da Verdade para trazer a luz tudo o que aconteceu durante os anos de chumbo na maior cidade catarinense. Afinal, aqui não era o paraíso. Segundo dados relatados pelo professor Maycon Duarte, cerca de 70 pessoas foram presas. Quem sabe quais foram, para onde foram, se foram torturadas? Como saber sem a obrigação de um poder democrático e constitucional como o poder legislativo em buscar a verdade? Quem apoiou o Golpe Militar em Joinville? Quem torturou, quem comandou perseguições, prisões? Onde estão hoje? Tudo isso para passar a limpo a nossa história e trazer à tona as verdades necessárias à sociedade! Porque o medo, a falta de coragem tão falada nos discursos da noite pelos vereadores presentes? Falta coragem aos vereadores para encarar o peso de expor, talvez, apoiadores de campanha?

Penso que a sociedade joinvilense precisa se mobilizar via Centro dos Direitos Humanos, partidos políticos, Câmara de Vereadores, e de forma individual mesmo a cobrar a instalação aqui também da Comissão da Verdade! Sem revanchismos, sem perseguições, mas com o intuito de tirar da escuridão os nomes dos beneficiados por um regime que deve sim satisfações à sociedade. É um dever cívico dos vereadores abrirem imediatamente a Comissão, sem titubear! Eles só estão nos cargos e eleitos pelo voto por causa da luta destes homens e mulheres que deram a vida pela liberdade. E para que definitivamente cessem os sussurros perigosos dos saudosos da ditadura, que não conseguem conviver com a liberdade de todos, com o direito de todos, com a democracia! Finalizo parabenizando ao CDH pelo trabalho realizado na cidade, e a todos os que lutaram pela liberdade que hoje desfrutamos. Sem liberdade, não há vida.

* Salvador Neto é jornalista profissional e diplomado, é também blogueiro, escritor, cronista e consultor. Especializado em assessoria de imprensa e comunicação política, empresarial, sindical e do terceiro setor. Escreveu para o jornal Notícias do Dia na seção Perfil. Apresenta o programa de entrevistas Xeque Mate na TV Babitonga Canal 9 da NET em Joinville (SC).Tem mais de 20 anos de experiência nas áreas de comunicação, marketing e planejamento.

Comissão aponta autores da morte de Rubens Paiva

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O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, declarou hoje (27) que o general José Antônio Nogueira Belham e o tenente Antônio Hughes de Carvalho são os autores da morte e da ocultação do cadáver de Rubens Paiva. “Sem dúvida alguma o oficial Hughes, porque se envolveu diretamente nos atos de tortura e, pelo fato de ser comandante da unidade, estando presente no local, participando das circunstâncias da morte de Rubens Paiva, o general Belham, à época major e comandante do DOI [Destacamento de Operações e Informações]”, disse Dallari ao participar da apresentação do relatório preliminar de pesquisa do caso Rubens Paiva feito pela CNV.

Durante o período de novembro de 1970 a maio de 1971, o general Belhan era comandante do DOI do 1º Exército, na zona norte do Rio, para onde foi transferido Rubens Paiva depois de ter passado pelo Quartel da 3ª Zona Aérea, localizado próximo ao Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio. Ele foi para a unidade da Aeronáutica após ser preso, em casa, no Leblon, zona sul do Rio, por seis agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa).

De acordo com o coordenador, em depoimento à comissão no dia 13 de junho de 2013, o general Belham, que na época da morte de Rubens Paiva era major, negou ter conhecimento de torturas a Rubens Paiva e ainda acrescentou que, nos dias 20 e 21 de janeiro de 1971, estava de férias e, portanto, ausente do local. O general, que hoje tem 80 anos e mora em Brasília, não quer prestar outro depoimento e nem dar novos esclarecimentos à Comissão Nacional da Verdade.

Dallari disse que documentos conseguidos pela comissão indicam que o general Belham fez um deslocamento sigiloso e ainda recebeu diárias do Exército. Para o coordenador da CNV, isso comprova que ele interrompeu as férias. O depoimento de um militar, identificado apenas como Agente Y, informa sobre um encontro entre este militar, que estava  acompanhado do chefe da 2ª Seção do Batalhão de Polícia do Exército, capitão Ronald Leão, e o general na sala de trabalho de Belhan no dia 21 de janeiro de 1971.

No encontro, segundo o agente, ele contou que tinha acabado de ver o ex-deputado e as condições de saúde do parlamentar não eram boas. O Agente Y disse ainda que Rubens Paiva não resistiria mais às torturas. “Falamos, pessoalmente, com o então major Belham, o que fora visto, alertando-o para possíveis consequências”, disse em depoimento.

O Agente Y prestou depoimento nos dias 24 de abril de 2013,  27 de janeiro de 2014 e em 24 de fevereiro de 2014. Nos três, segundo o secretário executivo da comissão, André Saboia, ele deu detalhes de como funcionava a estrutura de torturas e apontou o tenente Antônio Hughes de Carvalho, morto em 2005, como torturador. No depoimento prestado na segunda-feira (24) identificou a foto de Hughes como o agente que viu praticando torturas em Rubens Paiva de forma extremante violenta.

A CNV teve acesso também a um depoimento de Amilcar Lobo, que na época era tenente-médico, no qual ele informa que atendeu ao ex-parlamentar na madrugada do dia 21 e constatou que o preso estava com hemorragia abdominal, por ruptura hepática, e, por isso, deveria ser hospitalizado, o que não ocorreu.

A Comissão Nacional da Verdade pretende também pedir a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Câmara Federal para investigar o local para onde foi levado o corpo de Rubens Paiva. Dallari explicou que esta é a maneira de conseguir que o general Belham dê a informação. Para os integrantes da CNV, é a única dúvida que resta sobre o caso da morte e desaparecimento de Rubens Paiva.

A comissão pretende encaminhar o pedido ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, até o fim de março. “Uma CPI de curtíssima duração que tivesse por finalidade justamente apurar a ocultação do cadáver de Rubens Paiva e o testemunho-chave é o testemunho do general Belham, que, perante uma comissão parlamentar de inquérito, se sentirá sensibilizado a elucidar este último elemento que falta para a solução deste mistério”, esclareceu Dallari.

Eleito deputado federal pelo PTB, Rubens Paiva foi cassado logo após o golpe militar de 1964. Depois de ser exilado, voltou ao Brasil. Em 1971 foi preso e levado para o Cisa e depois transferido para o DOI, onde morreu no dia 21 de janeiro.

Do EBC.

Bolsonaro tumultua visita da Comissão da Verdade ao antigo Doi-Codi no Rio

Deputado deu um soco na barriga do senador Randolfe Rodrigues e conseguiu entrar no prédio do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na zona norte da cidade.

A visita da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, na zona norte da cidade, começou com tumulto. O motivo foi a chegada do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Militar da reserva do Exército, o deputado não faz parte da comissão nem estava na lista dos integrantes da visita.

A confusão começou quando Bolsonaro forçou a passagem, no portão do quartel, e chegou a dar um soco na barriga do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que tentava impedir a entrada do deputado federal. Representantes de movimentos como o Tortura Nunca Mais e o Levante Popular da Juventude exigiam, aos gritos, a saída de Bolsonaro, que conseguiu entrar.

A comitiva, no entanto, recusou-se a fazer a visita na presença de Bolsonaro. O parlamentar permaneceu dentro do quartel. Dezenas de pessoas esperavam em frente ao batalhão o resultado da visita da comissão. No prédio, onde hoje está o Batalhão de Polícia do Exército, abrigava o Destacamento de Operações de Informações-Centro de Defesa Interna (Doi-Codi) e foi local de tortura e prisões arbitrárias durante a ditadura militar (1964 a 1985).

Além de Randolfe Rodrigues, acompanham a visita da comissão o senador João Capiberibe (PSB-AP), que foi torturado nas dependências do batalhão durante a ditadura, e as deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP).

Do Brasil Econômico

Anistia política post-mortem para ex-presidente da UNE é declarada pelo Ministério da Justiça

O ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) Honestino Guimarães foi declarado oficialmente anistiado político post mortem, hoje (20), na Universidade de Brasília (UnB), onde ele estudou geologia. Na cerimônia, o secretário nacional de Justiça,  Paulo Abrão, leu o pedido de desculpas oficial do governo brasileiro e declarou Honestino anistiado. Parentes, amigos e ex-companheiros de movimento estudantil de Honestino participaram da solenidade, ao lado de professores e alunos da universidade.

“Homenagear Honestino Guimarães é um forma de, emblematicamente, oficializar o pedido de desculpa do Estado a sua família, gesto que o país, até o momento, não havia feito”, disse Abrão, que preside a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Para Abrão, o gesto significa também o reconhecimento formal de Honestino como um dos protagonistas da história da resistência à ditadura militar. “Ele simboliza a forma pela qual os estudantes se engajaram contra a ditadura militar mostrando que a nossa juventude sabe lutar contra a opressão. Ele serve de exemplo para que a juventude continue lutando pelos seus direitos”, acrescentou.

Natural de Itaberaí, em Goiás, aos 17 anos, Honestino foi o primeiro colocado no vestibular da UnB para geologia, em 1965. Por seu envolvimento com a política estudantil, foi preso diversas vezes. Em agosto de 1967, preso pela quarta vez, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília. Em 26 de setembro de 1968, foi desligado da universidade como punição por ter liderado movimento pela expulsão de um falso professor da UnB, informante da ditadura. Naquele ano, casou-se com Isaura Botelho.

Em 1968, com a edição do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), que suspendeu várias garantias constitucionais, Honestino passou a viver na clandestinidade, em São Paulo, com Isaura. Em 1970, nasceu a filha do casal, Juliana. Quando o então presidente da UNE, Jean Marc van der Weid, foi preso, Honestino assumiu a presidência interina da entidade, permanecendo até 1971. No congresso da UNE naquele ano, foi eleito presidente. Coordenou encontros estudantis e lutou contra o regime militar até ser preso no Rio por agentes do Centro de Informações da Marinha (Ceninar), em outubro de 1973, quando desapareceu, após cinco anos de clandestinidade. Tinha 26 anos.

Emocionada com a homenagem ao pai, Juliana ressaltou, porém, que isso não basta. “Estamos atrás da verdade. Já se passaram 40 anos, e eu ainda não sei onde está meu pai. Não sabemos o que aconteceu no dia 10 de outubro, quando ele desapareceu. O ato é um pedacinho, temos muita coisa para buscar, [para ir] atrás da memória do que aconteceu. É uma coisa de respeito com ele e com todo mundo [que desapareceu]”, desabafou Juliana Guimarães.

Com apenas 3 anos à época do desaparecimento, Juliana quase não conviveu com o pai e espera que as comissões Nacional da Verdade e Anísio Texeira de Memória e Verdade da UnB possam contribuir com a investigação sobre o paradeiro do corpo dele. Até hoje não se conhece o local, nem as circunstâncias da morte ou mesmo o paradeiro dos restos mortais de Honestino. “As comissões estão aí para que se consigam as respostas. O paradeiro dele a gente ainda não sabe. É preciso descobrir o que aconteceu com todas as pessoas que sumiram e que ninguém dá uma resposta.”

Na cerimônia, também foram homenageados professores, funcionários e ex-alunos da UnB perseguidos pelo regime militar por suas posições políticas e pela defesa da democracia. Abrão entregou mais de 200 certificados de homenagem e anistia política, com pedido de desculpas oficial, aos parentes dessas pessoas. “Não se trata unicamente de conhecer a história, mas de reconhecer as violações de direitos humanos praticados pelo Estado, de reconhecer o legítimo direito de revolta dos que lutavam contra a ditadura”, disse Abrão.

O secretário nacional de Justiça lembrou que o ato também serviu para lembrar o projeto original da UnB desenhado por Darcy Ribeiro e por Anísio Teixeira. “Estamos resgatando as razões originais da fundação da UnB para que ela possa cumprir um papel democrático dentro da nossa sociedade, com profundo respeito à liberdade, aos direitos humanos e ao espírito crítico, que foi interrompido pela ditadura militar”, afirmou.

Da Ag. Brasil

Comissão da Verdade de SC ouvirá ex-presas políticas do Estado

A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright vai ouvir mulheres catarinenses que foram presas políticas na época do regime militar. Os depoimentos serão colhidos durante audiência pública que será realizada nesta quinta-feira, dia 5, às 14h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis. A audiência integra a programação da Semana Paulo Stuart Wright – 40 anos de seu desaparecimento, organizada pelo Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça.

Foram convidadas a prestar informações sobre a experiência na prisão Anne Beck, Anita Maria Silveira Pires, Brigitte Buchele de Souza, Derlei Catarina De Luca, Hildegart Brand, Lígia Giovanella, Marize Lippel, Marlene de Souza Soccas, Rosangela de Souza e Rosemeri Cardoso. De acordo com o coordenador da Comissão Estadual da Verdade, o procurador do Estado Naldi Otávio Teixeira, o objetivo da audiência é coletar dados, informações e prestar esclarecimentos a respeito das violações de direitos humanos praticadas por motivação exclusivamente política no Estado de Santa Catarina.

A Comissão
A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV) foi criada em 2013 com o objetivo de examinar violações de direitos humanos ocorridas no período de setembro de1946 aoutubro de 1988, além de subsidiar a Comissão Nacional da Verdade (CNV). As atividades desenvolvidas pela CEV são consideradas públicas, exceto nos casos em que seja necessário manter sigilo para resguardar a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem das pessoas envolvidas.

O nome da Comissão homenageia Paulo Stuart Wright, político catarinense que nasceu em Herval d’Oeste, em 2 de junho de 1933. Quando deputado foi cassado por ato da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Posteriormente, foi preso em São Paulona primeira semana de setembro de 1973, data a partir da qual não se teve mais notícias do paradeiro dele.

Protestos, vivências, manipulação e cidadania de verdade

latuffSou do tempo da ditadura. Nasci no meio dela. Cresci e estudei entre sussurros. Vivi o medo, a falta de liberdades. Senti na pele a opressão policial, mãos na parede, revista. E vi e vivi momentos da retomada da democracia, com o povo nas ruas. A democracia veio, mas só quando “eles” devolveram, por pura incompetência e falta de vontade após quebrar o Brasil. Como jornalista, já estudei muito sobre o tema, entrevistei muita gente que foi vítima desse tempo, que devemos lutar para que jamais retorne.

Sou absolutamente favorável ao povo nas ruas, mobilizado, fazendo pressão. Sou um dos que veem na política o meio para se fazer uma sociedade melhor e mais justa. Vivi e vivo nesse meio. Todos vivemos, mesmo sem saber. Mas temos também de participar da política. E participar não é somente atirar pedras, tocar fogo, gritar palavras de ordem. É também acompanhar seus eleitos, ir nas sessões da Câmara de Vereadores, ver projetos e ler. Acompanhar seus deputados e senadores.

Realmente temos um momento histórico. Jovens, velhos, homens, mulheres, todos nas ruas pedindo por um Brasil melhor. Implorando por mais saúde, transporte coletivo, educação de qualidade. Mas, cuidado! Assim como fomos manipulados pela grande mídia por longos anos, também podemos ser manipulados pelas grandes redes sociais. Não podemos perder de vista o olhar crítico, a análise dos fatos, a criticidade que nos faz buscar a verdade, entender o que se passa, quais os atores verdadeiramente envolvidos.

Como disse, já vivi a ditadura. Já vivi a volta da democracia, que ainda falta muito para realmente estar enraizada em nossas vidas, instituições. Ainda discutimos se nossos irmãos do nordeste devem ter água para viver, se devem receber ajuda para ter um mínimo de dignidade, de acesso à cidadania. Lutamos ainda por mais vagas nas creches e escolas, tem criança que infelizmente ainda morre de fome, andam nas ruas pedindo esmolas. E nossa sociedade, com todo o respeito, se mobiliza em campanhas para retirar animais das ruas. Ainda temos dificuldades em compreender que todos são iguais. Que negros, índios, GLBTs, minorias, todos temos direitos iguais.

Finalmente, como mais um a escrever para ajudar na reflexão do momento em que vivemos. Não basta ser um ativista via redes sociais, e agora sair às ruas no rumo do efeito manada, onde todos acham bacana seguir os outros, pensar como todos, e até… agir como todos. Será que é só isso? Não. Com certeza não. Esse movimento de estarmos todos nas ruas deve ser permanente todo o tempo. Nas escolas, nas ruas, nas eleições, nas festas, nos legislativos, executivos. Nos grupos sociais de igrejas, associações, empresários, todos, é sempre hora de falar sobre o que é certo ou errado para o país.

Sempre é momento de debater. De reunir e ir cobrar do Prefeito, dos vereadores, dos deputados estaduais e federais, senadores, que nós não queremos tal lei, tantos aumentos, tantos erros e desmandos! Nesses momentos de agitação, revolta, e até indução para atos não tão nobres, você deve pensar: porque mesmo estou aqui? Será que não estão também me manipulando para atingir objetivos obscuros? Em 1963/64 foi assim também. E vivemos longos anos na escuridão. Ainda estamos tentando curar as feridas da ditadura.

Portanto, vamos às ruas sim. Mas tome cuidado quando começa o “fora isso”, fora aquilo, fora este, fora aquele, ou aquela! O movimento é legítimo, necessário, mas tem muita gente esperta interessada no fogo das ruas. Vamos também exercer todos os dias a nossa cidadania, em todos os momentos. Sair do sofá, da cadeira, da frente do computador todos os momentos em que algo estiver errado para a coletividade. E não para grupos ou individualidades. E cuidado, muito cuidado com o efeito manada. Ele pode nos levar longe, mas também nos precipitar em um abismo sem fim. Às ruas, mas com consciência e atenção!

“Capitão Pereira deu um tiro na nunca de cada um deles”, diz ex-agente da ditadura

Em depoimento que terminou às altas horas desta quinta-feira, o ex-agente da repressão Valdemar Martins de Oliveira falou durante a audiência pública realizada da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Ex-paraquedista, Valdemar disse a Rodrigo Vianna, em reportagem exclusiva veiculada nessa quarta-feira 15 pelo Jornal da Record, que abandonou o Exército brasileiro por discordar de torturas e assassinatos cometidos pelos militares contra militantes políticos que se opunham à ditadura.

Valdemar foi testemunha do assassinato do casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio dos Santos Abi-Eçab, em 1968, no Rio de Janeiro. Os dois militavam no movimento estudantil e eram suspeitos de ter participado da execução do capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968, feita pela ALN e pela VPR.

Durante muito tempo prevaleceu a versão policial que atribuiu a morte do casal à explosão do veículo em que viajavam, em consequência da detonação de explosivos que transportavam, no km 69 da BR-116, próximo a Vassouras (RJ).

A versão divulgada na imprensa foi a de que ambos foram vítimas de um acidente de automóvel: “[…] chocaram-se contra a traseira de um caminhão que transportava pessoas em sua caçamba”. No veículo em que estavam, teria sido encontrada uma mala com armamentos e munição.

No boletim de ocorrência, que registrou o suposto acidente, consta:

Foi dado ciência à Polícia às 20h de 08/11/68. Três policiais se dirigiram ao local constatando que na altura do km 69 da BR116, o VW 349884-SP dirigido por seu proprietário João Antônio dos Santos Abi-Eçab, tendo como passageira sua esposa Catarina Helena Xavier Pereira (nome de solteira), havia colidido com a traseira do caminhão de marca De Soto, placa 431152-RJ, dirigido por Geraldo Dias da Silva, que não foi encontrado. O casal de ocupantes do VW faleceu no local. Após os exames de praxe, os cadáveres foram encaminhados ao necrotério local.

O laudo da exumação, elaborado pelos legistas Carlos Delmonte e Isaac Jaime Saieg, em 23 de julho de 2000, concluiu que a morte foi conseqüência de “traumatismo crânio-encefálico” causado por “ação vulnerante de projétil de arma de fogo”. Sua morte ocorreu em decorrência de um tiro que a atingiu pelas costas. Além disso, os legistas não encontraram sinais de autópsia feita anteriormente. A causa mortis apresentada em 9 de novembro de 1968, pelos médicos Pedro Saullo e Almir Fagundes de Souza, do IML de Vassouras, foi “fratura de crânio, com afundamento (acidente)”.

A reportagem feita pelo jornalista Caco Barcellos, veiculada no Jornal Nacional (TV Globo) em abril de 2001, desmentiu a versão policial de acidente e demonstrou que João Antonio e Catarina foram executados. Na entrevista ao repórter Rodrigo Vianna, Valdemar deu detalhes:

– O capitão Pereira deu um tiro na nuca de cada um deles.

Na véspera, em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, na Assembleia Legislativa, Valdemar revelou o nome do “capitão Pereira”:

– O coronel Freddie Perdigão deu um tiro na nuca de um e outro tiro na nuca do outro.

Em depoimento à Comissão Nacional Verdade, o ex-militar já havia revelado o nome de Freddie Perdigão. Como lá a audiência foi fechada, a informação não veio a público.

Dr. Nagib

Segundo o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, o nome de Freddie Perdigão, conhecido como o Dr. Nagibnos porões da ditadura, aparece em duas listas do Projeto Brasil Nunca Mais, como Major atuando no DOI/CODI do Rio de Janeiro, em 1970. Em documento de 2008, o Tortura Nunca Mais/RJ, relata:

“Na primeira destas listas, a de “Elementos Envolvidos Diretamente em Torturas”, à página 39 do Tomo II, volume 3 “Os Funcionários”, seu nome é denunciado por Tânia Chao que, em dezembro de 1970 era professora, tendo 25 anos. Seu depoimento encontra-se à pág 769 do Tomo V, volume 3, “As Torturas” do Projeto BNM, transcrito abaixo:

( ) … que a declarante anteriormente a assinatura de suas declarações foi agredida de diversas maneiras sofrendo, inclusive, choques elétricos pelo corpo sendo que esses fatos foram presenciados pelo Encarregado do IPM; que a declarante foi agredida, inclusive, pelas pessoas de nome Plínio e Nagib, e, também, por Timóteo Ferreira por palmatória; que a declarante na prisão não tem obtido tratamento médico necessário uma vez que sofre de artrite rematoide e de úlcera; que em sua prisão não tem o mínimo conforto necessário no que se refere a higiene uma vez que não há banheiro na cela …( )

Estas declarações de Tânia Chao encontram-se no Processo N.º 81/70 da 1ª Auditoria da Militar, da 1ª RM/CJM, com Apelação no STM de n.º 39.519 consta de dois volumes e dois apensos ( informações contidas à pág 209, Tomo II, Volume 1 “A Pesquisa BNM” do Projeto Brasil Nunca Mais).

Este processo, trata de réus acusados de pertencerem a ALA, no Rio de Janeiro, em 1970, tendo conseguido do dono de uma gráfica autorização para imprimirem identidades falsas, o que efetivamente fizeram. Alguns réus fundaram um curso para obter fundos para a Ala, onde era impresso em mimeógrafo o jornal Unidade Operária

Na segunda lista, a de “Membros dos órgãos da Repressão”, à página 233 do Tomo II, Volume 3 “Os Funcionários”, o nome de Nagib é denunciado também em abril de 1971 e aparece no mesmo Processo citado acima.

O Coronel Freddie Perdigão foi denunciado pelo estudante Sérgio Ubiratan Manes em depoimento ao Tribunal Superior Militar (STM), em 1969, segundo reportagem do jornal O Globo de 04/07/99, como um dos torturadores que o espancaram na Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita.

Nessa mesma reportagem, o General Newton Cruz revela que o Capitão Perdigão o avisou daOperação Riocentro e esteve no local do atentado com o grupo de militares que colocaram a bomba no estacionamento do Riocentro, durante um show em homenagem ao Dia do Trabalhador, em 30/04/81, onde morreu o sargento Guilherme do Rosário e ferindo o capitão Wilson Machado, ambos agentes do DOI/CODI.

Segundo o jornalista Elio Gaspari, publicado na sua coluna, no jornal O Globo, no dia 24/10/99 “…O grupo terrorista a que Perdigão estivera ligado em 1968 voltou a agir em 1976.

Seqüestraram, espancaram, pintaram de vermelho e deixaram nu numa estrada o bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hipólito…”

Do Correio do Brasil, assinado por Conceição Lemes é jornalista e escreve para o sítio Viomundo.

Exumação dos restos mortais de Pablo Neruda deve iniciar hoje (8/4)

nerudaAutoridades e especialistas no Chile preparam para hoje (8) o início do processo de  exumação dos restos mortais do poeta Pablo Neruda. O corpo do poeta, que morreu em setembro de 1973, foi enterrado na região de Isla Negra, a 100 quilômetros de Santiago, a capital chilena. Participarão da exumação um total de 12 pessoas – peritos do serviço forense, especialistas da Universidade do Chile e observadores internacionais.

A versão oficial é que o poeta morreu em consequência de complicações causadas pelo câncer de próstata, em um hospital privado, em Santiago. Porém, amigos e parentes de Neruda sempre manifestaram dúvidas sobre a morte, pois ele era um crítico do governo militar e morreu logo após a instauração da ditadura no país.

No grupo de especialistas que acompanhará a exumação estão o toxicologista norte-americano Ruth Winecker, o cirurgião Aurélio Luna e o legista Francisco Etxeberria – este último participou, em 2011, do processo de exumação dos restos do presidente chileno Salvador Allende, que também morreu em 1973.

Três observadores internacionais estarão presentes durante a exumação, além do presidente do Partido Comunista (PC), Guillermo Teillier, o advogado da legenda  Eduardo Contreras, um sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, assim como o motorista que trabalhou para Neruda, Manuel Araya.

Em 2011, Araya levantou a suspeita sobre a causa da morte do poeta, levando o Partido Comunista, ao qual Neruda pertencia, a apresentar um pedido à Justiça para a abertura de inquérito. Em fevereiro, o juiz Mario Carroza, da Corte de Apelações de Santiago, decidiu pela exumação para esclarecer as causas da morte.

*Com informações da emissora multiestatal de televisão, Telesur.

Comissão da Verdade fará capítulo sobre repressão e morte de trabalhadores

Todas as violações aos trabalhadores brasileiros praticadas entre os anos de 1964 e 1985, período do golpe e da ditadura militar brasileira, constarão do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) que será entregue à presidenta Dilma Rousseff em maio de 2014.

A reivindicação para que a CNV tivesse um capítulo sobre os trabalhadores perseguidos, torturados, desaparecidos e mortos pelo regime militar foi feita pelo secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, à presidenta Dilma Rousseff durante audiência realizada nesta terça-feira (5), em Brasília, com parte da Executiva Nacional da Central.

Segundo Solaney, a presidenta atendeu de pronto a reivindicação por entender que esse é um capítulo fundamental da história do Brasil e que deve constar do relatório final. “Ela fez, inclusive, uma breve consideração sobre o golpe, dizendo que a ditadura não distinguiu quem era trabalhador, se era preto, branco, estudante etc. Quem combateu o regime, disse a presidenta, sofreu as barbáries da ditadura, foi torturado, morto, perseguido”, contou o secretário.

Solaney explicou que um grupo de trabalho será criado para fazer o levantamento sobre as violações praticadas contra trabalhadores e líderes sindicais e que estes dados constarão do relatório final da CNV. “Isso”, disse o dirigente, “vai contribuir para o resgate, a memória da luta desses trabalhadores durante um dos períodos mais conturbados, violentos e tristes que o país viveu”.

Ainda durante a audiência com a CUT, a presidenta determinou ao ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Brizola Neto, que estava presente, que marcasse uma reunião com Rosa Cardoso, integrante da CNV, para que seja instalado o grupo de trabalho.

Para Solaney este resgate é fundamental: “O golpe foi especialmente antioperário, anticamponês. E a CUT, que combateu a ditadura e lutou pela redemocratização do país quer que o relatório seja o mais completo possível”.

Também participaram da audiência com a presidenta Dilma o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República e seu assessor especial José Lopez Feijó.

Da CUT Nacional