A Busscar continua a se utilizar de meios pouco éticos para convencer a seus cinco mil e quinhentos trabalhadores que tem créditos a receber, para que votem sim ao seu plano de recuperação judicial. Com o dinheiro que deveria estar pagando parte dos 25 meses de salários atrasados, ela contratou uma empresa de comunicação – das maiores do sul do país, portanto, cara – para tentar reverter a imagem ruim que deixou a toda a sociedade, mercado investidor, de capitais e opinião pública. Nada contra a empresa, que vai ganhar o que merece por sua qualidade, mas a fonte das informações continua a tentar gerar desconfiança, confusão, medo e insegurança. Caminho que já a levou ao atual estágio, de quase falência.
Diferente do que seus acionistas tentam implantar na cabeça dos trabalhadores e da opinião pública, o Sindicato dos Mecânicos vem esclarecer que o voto “NÃO” ao plano de recuperação judicial proposto pela Busscar não representa necessariamente o fim da empresa, com lacre nos portões, desligamento de funcionários (quais, quantos e de onde?) e fim do sonho de retomar produção e empregos. O “NÃO” a esse plano fraco, inconsistente e sem apoio de nenhuma das classes credoras – já há informações de acertos entre bancos, fornecedores e outros fortes credores – pode sim é significar um novo começo para trabalhadores, fornecedores, para toda a economia de Joinville, do estado e do país.
Possibilidades com o “NÃO” são bem melhores
Quem vai decidir o que será feito em relação à Busscar caso o plano receba o “NÃO” é o juiz Maurício Póvoas, que é quem preside oficialmente o processo. Por exemplo: com a negativa do plano, os demais credores podem apresentar na própria assembleia geral dos credores uma outra proposta, que pode ser o aluguel das instalações e retomada da produção, ou ainda recomposições acionárias que certamente implicam na saída dos atuais acionistas da direção geral. Ou seja, em apenas duas das possíveis situações o sonho de continuar a produzir ônibus com o talento de nossos trabalhadores pode continuar, e com salários em dia, direitos e benefícios também.
Por outro lado, caso uma proposta como aluguel fosse acatada pela Justiça, os bens podem sim ser vendidos para pagar os créditos trabalhistas que 5,5 mil pessoas tem a receber da Busscar. Os mesmos bens não operacionais que a empresa alega que vai vender caso o seu sim seja aprovado, com a grande diferença que é uma nova gestão, sem vícios, um novo negócio com grandes chances de prosperar, gerando empregos, renda e estabilidade para milhares de trabalhadores. É melhor ter um novo emprego com novos gestores, sérios, com dinheiro novo, e ainda poder receber o que lhe devem, ou ficar na dúvida de manter nas mãos atuais, uma gestão fracassada que deixou os trabalhadores a ver navios por 25 meses, sem respostas, sem pagamentos, sem nada?
Na outra ideia, que um novo ordenamento acionário aconteça, com bancos, fornecedores e novos investidores assumindo todo o passivo e a empresa como está hoje, com dívidas com trabalhadores, fornecedores e tudo o mais a pagar, um novo projeto pode ser apresentando, aí sim com os trabalhadores sabendo quem são os investidores, quanto dinheiro será investido, um horizonte novo a ser trilhado com retomada da produção com novos sócios, e não o que hoje está colocado, que sempre fez promessas e a todas descumpriu.
O que você escolheria trabalhador? Uma gestão viciada, orgulhosa, que jamais cumpriu seus acordos com trabalhadores nesta crise, que pode vender todos os bens que são sua garantia de receber para colocar em mais uma aventura sem perspectivas de sucesso, ou uma nova gestão, profissional, organizada, com recursos financeiros para pagar o que se deve aos trabalhadores, manter a produção ativa, forte e gerando mais empregos, renda e fazendo a economia girar? Por isso que o Sindicato insiste em alertar e orientar aos trabalhadores: o NÃO pode ser sim o recomeço de suas vidas com dignidade, com empregos dignos, pagos em dia, e com seus créditos a receber sendo pagos com Justiça e dentro do que prevê a Lei de Recuperação Judicial.
O “Sim” quita tudo, os bens em garantia são vendidos, você fica desamparado
Uma das coisas que a Busscar não diz, ainda que amparada por assessores especializados, é que o plano de recuperação apresentado por eles, caso aprovado, representará para os trabalhadores a quitação geral e irrestrita de seus créditos a receber. Isso está previsto em lei, na Lei de Recuperação Judicial!
Ao aprovar o Plano, você trabalhador não terá mais direito aos seus valores a receber caso a Busscar venha a quebrar novamente, o que é muito provável com esse plano economicamente inviável. Mesmo entrando na Justiça novamente, você não terá direito porque receberá em garantias totais as tais “debêntures”, que no caso da Busscar são papéis “podres”, ou seja, sem valor por não existirem garantias reais. Você passará de credor a até devedor junto com os acionistas da empresa. Portanto, fique atento porque você pode trocar o certo pelo duvidoso caso o sim seja aprovado. Veja o que são debêntures:
“Debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas, regulamentados pela (CVM), os quais podem ser emitidos por sociedades por ações de capital aberto ou fechado. São usadas quando estas empresas necessitam de dinheiro para financiar seus planos de desenvolvimento mas não desejam recorrer a empréstimos bancários, se tornando portanto um dos instrumentos mais interessantes de captação de recursos de que uma empresa pode lançar mão, no âmbito dos mercados de capitais.
Podem ser de médio e longo prazos, simples ou conversíveis em ações, sendo que no segundo, o título possui características de renda fixa e de renda variável ao mesmo tempo: debenturistas podem fazer o resgate, na data de vencimento, em dinheiro ou em ações.Elas podem também podem render juros, pré ou pós fixados, prêmios e outros benefícios. As 4 garantias alternativas oferecidas aos debenturistas:
Real, assegurada por bens do ativo da empresa emissora ou de terceiros (hipoteca, penhor ou anticrese);
Flutuante, com privilégio geral sobre o ativo em caso de falência;
Subordinada, com preferência sobre o crédito dos acionistas, em caso de falência;
Sem preferência, ou seja, sem privilégio em caso de falência.
OBS: As características das debêntures devem sempre constar em sua escritura de emissão que deverá ser coordenada por uma instituição financeira, que pode ser um banco de investimento ou múltiplo, corretora ou distribuidora de valores mobiliários. Referenciada no mercado financeiro como coordenador líder, essa instituição modelará a operação, tomará providências pertinentes junto à CVM, preparará uma diligência (due diligence) sobre as informações da empresa emissora disponibilizadas ao público-alvo, organizará apresentações (road shows) e colocará o título junto a investidores”.
Viram só o que se está propondo aos trabalhadores como a poção mágica, que vai curar todas as dívidas da Busscar? E vejam bem, isso tudo em um parcelamento que prevê seis meses de carência (!) e depois mais 36 meses, completando, sem qualquer atraso, 42 meses para receber! Contando os 25 meses que já estão em atraso, já chegamos a 51 meses, ou cinco anos e três meses, caso tudo corra bem… Você acha que isso ainda é pouco para você se convencer a votar “NÃO” contra esse plano da Busscar? Pois vamos a mais informações.
A empresa diz em seus informativos e palestras para trabalhadores – onde até choro convulsivo é visto com apresentação em telão – que vai vender os bens não operacionais para manter a empresa funcionando, pagando salários, pagando atrasados, bancos, etc. E põe mais um adendo, quase imperceptível: a venda da Tecnofibras, ou TSA, como preferirem. Portanto, você trabalhador não terá mais as garantias reais caso a empresa quebre novamente – muito provável com esse plano e essa gestão – e a jóia da coroa, a Tecnofibras, será imediatamente vendida após a possível aprovação do tal plano da Busscar.
Isso está dito no informativo da empresa. Ou seja, a única empresa que gera empregos dignos ainda, paga em dia, gera impostos e tudo o mais, vai ser vendida, e para quem? Eles dizem já ter comprador. Quem será? E porque a pressa em vender exatamente a empresa que gera lucros, e até banca parte dos apaniguados aos acionistas atuais. O que estará por trás dessa manobra? Porque não manter a Tecnofibras junto ao grupo, para manter forte? Por que vender? O que ficará para garantir os trabalhadores, o que não tem valor e chances de venda rápida? E os trabalhadores da Tecnofibras, sabem que podem ser usados como massa de manobra, votando a favor de um plano, de uma gestão que vai logo em seguida descartá-los?
É por essas e tantas outras que o Sindicato orienta a seus trabalhadores pelo voto “NÃO” a esse plano da Busscar. Além de ser fraco, inviável, tem armadilhas para os trabalhadores. Não há preocupação nenhuma em garantir salários, ativos fortes para caso de quebra. Todos os bens serão vendidos, não sobrando nada para garantias reais aos trabalhadores, e nada para garantir as tais debêntures que eles propõe para pagar, papéis sem valor para receber, e que ainda quitam as dívidas deles para com os trabalhadores.
Toda essa espécie de “circo” armado com entrevistas, palestras, presenças aqui e acolá tentando mostrar transparência e preocupação não passam de cortina de fumaça, encenação, porque o desespero bateu à porta. O dia da votação na assembleia geral dos credores está chegando, anote e não falte – 22 e 29 de maio a partir das 8 horas no complexo do Centreventos Cau Hansen em Joinville (SC). Tudo que está saindo na imprensa de parte da Busscar visa encenar, confundir, criar medo do futuro. O que mais poder acontecer do que já aconteceu aos trabalhadores? Estão sem receber há meses, e ainda podem ficar sem garantias reais para receber no futuro caso o sim passe. Ou podem ver algo novo nascer, com a votação do “NÃO”, que o Sindicato e quase dois mil trabalhadores que aprovaram em assembleia, e acreditam.
Está na hora da verdade para você trabalhador! Aqui é o lugar dos trabalhadores, onde se defendem os seus direitos. A informação correta, verdadeira, você só tem aqui. Faça contato conosco, participe, convide seus colegas a votar pelo justo. Depois não adianta chorar. O Sindicato reitera que defende os direitos dos trabalhadores, deseja a recuperação dos postos de trabalho, dos salários, da renda, da produção, mas não às custas dos trabalhadores.
Posicionamento retirado do site do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região.