Retorno a publicar no Blog os perfis de personagens importantes da cidade de Joinville (SC) que produzi durante 2011 para o jornal Notícias do Dia. Hoje destaco o perfil de uma professora que educou milhares de crianças e jovens por quase 50 anos, marcando época no hoje Colégio Elias Moreira. Dona Dulce, como era conhecida, tem muito a ensinar ainda, e certamente muitos relembrarão da professora dura, mas que fazia entender que para vencer na vida, é preciso estudar, aprender, sempre! Com vocês o perfil da professora Dulce:
“Há 40 anos a maior cidade catarinense recebeu uma migrante joaçabense que vinha com toda a energia para espalhar conhecimento e formar cidadãos: a professora Dulce da Silva Santar. A escola Dom Pio de Freitas, no bairro Floresta, foi seu primeiro reduto, sua trincheira inicial para a trajetória que viria a empreender, deixando um legado de profissionalismo, dedicação e amor ao próximo. Ela, que já foi confundida com irmã de congregação religiosa, tal sua postura e aparência recatada que passa paz e tranqüilidade, finalizou oficialmente sua carreira há apenas seis meses na Secretaria Municipal de Educação.
“Trabalhei 27 anos em sala de aula, e os demais em coordenação pedagógica e planejamento”, ressalta Dulce que trabalhou oito anos em Joaçaba e Ibicaré, pouco tempo em São Francisco do Sul na Escola Annes Gualberto no Paulas, e Escola João Colin e Elias Moreira, onde marcou época lecionando História, OSPB e Estudos Sociais, além de orientar pais, alunos, professores quando foi coordenadora pedagógica. Em Ibicaré, ia para a escola de trem, todos os dias. Já em Joinville buscou sua formação na faculdade de Filosofia na antiga Furj, hoje Univille. “A gente pisou em muita lama para estudar, estava no início do que é hoje a universidade”, recorda a professora.
Da experiência de 47 anos na educação, desde a lousa, quadro negro até a atual tecnologia que está avançando rapidamente nas formas de produzir, gerar e ensinar conhecimento, Dulce passa suas impressões. “Penso que a vida toda é uma escola. Por onde a gente passa, aprende coisas boas, e as ruins se usa para não errar. E para se conseguir o melhor na educação, é preciso acompanhar de perto, porque em sala de aula, da um é um, é único”, ensina a veterana educadora. E um dos lemas que carrega em sua vida é da escritora Cora Coralina que dizia, “eu aprendo quando eu ensino”.
Do pai, que tinha pouca instrução, mas “ensina até raiz quadrada para a gente”, ela lembra do incentivo à leitura que a ajudou na carreira. “Na nossa casa não faltava o Correio do Povo, O Cruzeiro e a revista Seleções”, elogia Dulce. Tem saudades dos tempos do João Colin e Elias Moreira, suas paixões. No Elias lecionou e foi coordenadora pedagógica entre 1977 e 1992, e na Escola João Colin encerrou seu ciclo na rede estadual em 1989. Contemporânea da lendária ex-diretora da escola, Maria Laura Cardoso Eleotério, a professora diz que era um grupo muito unido. “Maria Laura fazia a união, e todos os professores ajudavam a superar as dificuldades”, lembra.
Até hoje um grupo de professoras e ex-professoras da escola do Itaum se reúne para conversar, celebrar e trocar ideias sobre a educação, e isso já superou os 20 anos de encontros. Viúva de Nilson Santar há 14 anos, dona Dulce – como era conhecida por seus alunos – tem três filhos, Marcos, Marcio e Raquel, e um casal de netos já adultos. Muito religiosa desde a infância, participa de pastorais diversas, e hoje ainda ajuda na Paróquia Cristo Ressuscitado no bairro Floresta. Mas já foi catequista também no Santuário Sagrado Coraçao de Jesus, no Bucarein. “Deus está acima de tudo, e é quem nos mantém fortes”, afirma.
Aos 68 anos, com muita saúde e vitalidade, dona Dulce agora se dedica a ler, curtir a família e praticar atividades como a oficina de italiano e dança oferecidos pelo Ipreville, instituto de aposentadoria dos servidores municipais. E como fazer para educar com qualidade hoje em dia professora? “Você precisa se dedicar, estudar, pesquisar. Eu preparava aulas depois das onze da noite, e finais de semana, é assim. E principalmente, voce precisa entender as pessoas mais do que ser entendida”, finaliza a educadora que atuou por 47 anos.