Minha Crônica: “Isolde” em homenagem aos 74 anos de minha mãe

Atrasado, mas ainda valendo, segue abaixo uma pequena crônica que tenta passar a força que tem essa mulher, minha mãe, Isolde da Costa. Escrita para homenagear os seus 74 anos completados dia 6 de junho, espero que seja boa leitura para todos e todas que acessam diariamente o Blog. Então, é só ler…

Eu não sei o que seria de mim sem Isolde. Melhor. Eu sequer estaria aqui para encher a paciência dos leitores com escritos por vezes ácidos, ou sem sal. Por ela vim ao mundo “bem gordo”, segundo suas próprias palavras. Com menos de um metro e meio, essa pequena brasileira com sangue de ascendentes alemães não só deu conta de gerar este jornalista, mas ainda criou os quatro “Ês” do primeiro casamento de meu pai: Ernani, Elézio, Eliete e Evelyn que ficaram órfãos de mãe ainda pequenos. Antes de casar, Isolde ainda ajudava os pais Helmut e Mercedes em casa com os irmãos Nelson, Dionísio e Lurdes. Estudou em colégio de freiras, hoje Santos Anjos, formou-se professora e chegou a ser diretora do Colégio Estadual João Colin no velho Itaum. Só parou porque casou.

A força interior, a calma combinada com firmeza, e a vontade que vem de sua alma, de servir, a fizeram deixar o seu amor pela educação pelo amor ao marido Zeny Pereira da Costa, viúvo e com os quatro filhos por criar. Eles não poderiam ter ganho mãe melhor, e meu pai, companheira melhor. Imagino com a minha chegada qual foi o peso de trabalho que essa mulher sustentou. Logo depois veio meu irmão Zeny Junior, que chegou ao mundo com problemas mentais por conta de complicações no parto. Partos, tanto meu quanto de Junior que ela enfrentou em casa com a parteira famosa, dona Helena. Que seria de mim e de Junior sem Isolde? Que seriam dos “Es” sem ela?

Junior tinha ataques de epilepsia, tinha crises em que por vezes se autoflagelava. E Isolde estava lá ao seu lado. Buscou recuperá-lo de todas as formas. Lutou por espaço em escolas onde o preconceito imperava forte na sempre provincial Joinville. Buscou apoios para tratamento psicológico, e conseguiu. Lutou por terapia ocupacional para Junior. Conseguiu. Lutou por trabalho para ele, conseguiu! Só não conseguiu deter aquela que vem sem avisar e nos leva o que temos de mais precioso, a dona morte. Contra ela, Isolde não teve como vencer. Ela, essa ceifadora de almas silenciosa, levou seu marido, levou seu enteado Elézio, levou seu pai, sua mãe, e até Junior, por quem ela daria até sua vida. Em todas as perdas, ela estava ali, firme, lutando. Eita mulher guerreira!

Eu não sei o que seria de tanta gente sem Isolde! No meio disso tudo ela encontrou algo a mais para atuar, sempre a fim de servir ao outro. Foi participar do projeto social conhecido como Cerj, atendendo crianças e adolescentes para ingresso no mercado de trabalho. Ao longo de 20 anos essa pequenina fez coisas! Empregou milhares de adolescentes em convênios que arrumava via Prefeitura com Banco do Brasil, Correios, Akros e tantos outros. Dedicou-se tanto que esqueceu de si mesma. Dois anos após perder seu amado filho Junior, toda essa força empregada para ajudar aos outros não impediu outro ceifador de vidas silencioso, o AVC, comparecesse e a tentasse levar para outra dimensão. Mas não conseguiu. Passou 30 dias acamada no Zequinha, mas saiu dessa.

O que seria de mim sem Isolde? Acompanhei toda a sua luta de perto junto com muita gente boa como dona Marli, tia Ilse, a enfermeira Emidia, Ana, a prima Andreia, tia Lurdes, e ela ressurgiu como a Fênix. Acolheu-me em casa após minha separação, e lentamente junto com seus netos Gabriel, Lucas e João Pedro, foi se recuperando pouco a pouco. Com seus ensinamentos, fui redescobrindo o caminho que sempre deveria ter seguido, que era meu. Com a chegada de minha amada Gi e sua filha Rayssa, as melhoras foram cada vez mais significativas, e hoje ela já passa roupa, lava louça, faz pão e bolinho de banana, e até sopa já rolou pela cozinha!

Essa é minha mãe, Isolde, que me orgulha a cada dia, mesmo com suas manias no alto de seus 74 anos, muito bem vividos a cada etapa. Com coragem, força, determinação e sabedoria, ainda vai deixar muita coisa boa prá gente! Afinal, o que seria de nós sem Isolde?”

Isolde da Costa: há 50 anos era nomeada diretora da escola João Colin

IMG_7896Uma portaria da Secretaria de Educação e Cultura do Governo do Estado de Santa Catarina, datada de 20 de abril de 1961. Papel já amarelado pelo tempo, datilografado (alguém lembra o que é isso?), e assinado pelo então governador Celso Ramos de próprio punho, nomeava a então professora normalista Isolde Bäer para o cargo de Diretora do Grupo Escolar Prefeito João Colin a contar do dia 1o. de março de 1961. Que achado! Esse documento foi guardado por minha mãe, a dona Isolde Bäer, hoje Isolde da Costa, uma das primeiras diretoras daquela escola joinvilense que homenageia o ex-prefeito de Joinville (SC), João Colin.

Pesquisando um pouco na internete achei um vídeo no Youtube dos formandos da escola em 2008, quando completou 50 anos de fundação, e o que encontrei? Um documento, logo no início, com o nome dela! Que fantástico ver um pouco da obra dessa guerreira que é a dona Isolde. Veja o vídeo no link .

Ela nasceu exatamente na cidade de Ilhota, mais precisamente no distrito do Alto Baú, o mesmo que foi diluído nas enchentes do final de 2008, lembram? Pois é, de lá ela e seus pais Helmuth Bäer e Mercedes Bäer rumaram para Jaraguá do Sul para tentar vida melhor. Pouco tempo depois já estavam, ela, seus pais e seus irmãos Nelson, Dionísio e Lurdes em Joinville, onde fincaram raízes. Isolde correu atrás. Com o pai sem recursos financeiros para manter a todos em casa, ela foi estudar no internato, à época conhecido como Ginásio São Vicente de Paula, hoje Colégio dos Santos Anjos. Ali estudou até 1957, quando se formou professora normalista, denominação que se dava naqueles anos.

No ano seguinte o governador Jorge Lacerda inaugurava então o Colégio João Colin, no velho Itaum, berço de grandes nomes da cidade, mas naqueles idos, um lugar perigoso e ainda pouco habitado. Isolde não hesitou em aceitar a vaga no João Colin, que poucos queriam. Três anos depois já era nomeada diretora, e fez um trabalho que é reconhecido até hoje. Alunos dela ainda se lembram da sua dureza parar ensinar, e da sua vocação para fazer acontecer, formando várias gerações. Infelizmente, ela deixou o magistério em 1966 antes deste jornalista nascer, a pedido do marido, para cuidar da casa e dos filhos dele (era viúvo), e deste que vos escreve, que chegaria ao mundo um ano depois. Acabou ali uma carreira que certamente seria digna de homenagens.

Grande mãe, guerreira, trabalhadora e inteligente, anos depois após perder o marido, e com o segundo filho nascido com problemas de deficiência intelectual, Isolde voltou à luta na Associação de Pais, Funcionários e Amigos do CERJ, Centro de Educação e Recreação Juvenil, onde seu filho pode ter educação para o trabalho, e onde ficou como presidente até 2009, quando deixou seu último mandato devido a ter sofrido um acidente vascular cerebral em 2007, no dia da sua posse para esse último mandato.

Ver uma figura tão pequena quanto ela em estatura física, mas tão grande em estrutura moral, me deixa orgulhoso. Viúva há 22 anos, dedicou sua vida a cuidar dos outros, solidária como é até hoje. Parabéns Isolde, minha mãe, eterna educadora prestes a completar 73 anos. Preservarei para sempre a sua memória quando um dia o Criador decidir lhe convocar para novas missões.