Perfil: Maria Conceição Honorato de Carvalho – “Movida pela fé ela superou doenças e continua a sua obra”

Há 27 anos ela entrou em uma mesa de cirurgia sem saber ao certo se dali sairia. Em poucos dias já estava de volta à sua família. Em 2001 ela repentinamente perdeu todos os movimentos corpo por conta de uma doença chamada mielite. Passou dois anos recostada em uma poltrona azul até recuperar a saúde, e para não perder a missa aos domingos, um sofá também azul era colocado na igreja para que ela pudesse participar.

Hoje, sentada na mesma poltrona azul que agora faz parte do mobiliário da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora do bairro Costa e Silva, Maria Conceição Honorato, 54 anos, contou sua história de superação, fé e muita ação comunitária com a paz estampada em seu rosto.

Conceição, como é conhecida em toda a região, nasceu na localidade interiorana de Indaial, na cidade de Laguna. “Lá aprendi a rezar o terço com meu pai. Era um momento sagrado, no mesmo horário todos os dias. É minha prática até hoje”, conta. Com 21 anos veio para Joinville já casada com Lúcio de Carvalho. Aí veio o problema no coração.

“Descobri só na terceira gravidez, da minha filha, que tinha sopro cardíaco. O médico disse que minhas chances eram de dez por cento apenas e eu não podia ter minha filha senão eu morreria. Não aceitei o diagnóstico, rezei muito, tive a aparição de uma pessoa que disse para eu não ir ao médico antes de cinco meses.Foi o que fiz. Ele relutou muito mas aceitou me atender. Ela nasceu em uma cesárea de emergência. Mas depois eu fiquei bem fraca”, relata como se vivesse novamente aquele momento.

Para se salvar, ela decidiu ir a São Paulo para fazer a cirurgia com o famoso doutor Zerbini (1912-1993), que fez o primeiro transplante de coração da América Latina. “Esperei três meses lá até ele voltar da França, onde foi fazer especialização. Quando voltou me atendeu, fez exames e disse o mesmo. Que era difícil, mas eu tinha de arrumar doadores. Consegui vinte doadores em 24 horas graças a meu irmão e fiz a cirurgia. Voltei a Joinville oito dias depois, contra todos os prognósticos dele”, afirma sorrindo. A outra doença que Conceição superou a deixou paralisada, e somente com a audição funcionando. Ela somente voltou a dirigir em 2005, quando ficou totalmente recuperada.

“Sei que a comunidade orou muito por mim, o padre Lino, todos. Lembro que tive a experiência de sair de meu corpo. Me vi deitada e as pessoas em volta. Recebi cinco vezes a unção dos enfermos. Aí um dia o padre me deu a hóstia. Lembro que consegui engolir, e aos poucos senti meu corpo de volta, e na mesma noite abri os olhos. É coisa de Deus”, destaca Conceição.

Toda essa fé e perseverança se transformaram também em obra na comunidade do Costa e Silva. Ela foi catequista e passou por todas as áreas da comunidade. Todo o início da comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, passando pela construção da Igreja como está hoje, teve a liderança de Conceição com o apoio da comunidade que já vai para 27 anos de atividades.

“Fizemos muitos bingos, muita rifa, recebemos doações de tudo, e com mutirão que envolveu tanta gente, conseguimos ter hoje a nossa Igreja, atendendo a todos”, avalia a líder comunitária. A amiga Neves Pires Claudino e o atual coordenador da comunidade, José Carlos Ravadelli, dedicam a ela uma grande distinção. “Se a comunidade existe hoje é graças a ela, que foi uma lutadora, uma guerreira”, dizem os amigos e também líderes da comunidade religiosa.

Da famosa poltrona azul que a acolheu por dois anos, Conceição diz onde vai aplicar essa força e fé daqui por diante: “Nosso sonho é fechar esse rio que divide o terreno aqui, construir um centro de catequese, ampliar o salão para uso dos idosos, clubes de mães, etc”, finaliza. Qual sua maior qualidade? “Confiar em Deus. Não desistir nunca, acreditar sempre”, finaliza.”

* Perfil publicado no jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) no início de 2012, com foto de Fabrízio Motta.

Perfis: Pastor Ari Estevam – “Deus tinha uma missão para mim”

Elegantemente vestido com um terno verde bem cortado, camisa clara e gravata estampada, tudo combinando perfeitamente com os sapatos marrons, Ari Estevam chega para a entrevista na sede central da Igreja Maravilhas de Jesus, na rua São Paulo, esquina com a rua Piauí, em frente à Cipla na divisa dos bairros Anita Garibaldi e Bucarein. “A paz do senhor”, ele cumprimenta e caminha para a escada que leva ao interior do templo. No espaço bem arrumado, naquela tarde de muito sol, se vê na parede a frase que diz tudo sobre a filosofia adotada: “Adorai ao único Deus senhor Jesus Cristo, cantai a glória do seu nome”.

De uma pasta ele tira outras pastas com fotos de uma história que começou há 43 anos, quando o alfaiate Ari se converteu ao pentecostalismo tradicional na então igreja da Cruzada, hoje Evangelho Quadrangular. “Desde pequeno minha família dizia que eu seria sacerdote. No início não deu certo, mas depois Deus me fez conhecer o evangelho. Deus tinha algo, uma missão para mim”, afirma com a seriedade estampada em seu rosto. Aos 70 anos, em 2010 ele voltou a comandar a Igreja que fundou em fevereiro de 1974, junto com outros 40 irmãos da fé. “Voltei para reorganizar os rumos, as coisas estavam ficando muito liberais”, conta o pastor.

Ari tem o registro de nascimento em São Francisco do Sul, no distrito do Saí, mas tem raízes na região de Itajaí. O pai tinha uma serraria, que logo transferiu para Joinville, onde se fixou na rua Dona Francisca, nos arredores do clube América, de quem ele foi torcedor por muitos anos. “Desde os 13 anos não dependi mais da família. Ajudei meu pai, mas logo fui trabalhar na Alfaiataria Müller que ficava na avenida Getúlio Vargas, próximo a Casa da Borracha. Lá aprendi muito nos três anos que fiquei”, relata. O dom da costura ele credita à família, onde todas as irmãs costuravam ou bordavam, e assim o menino logo aprendeu o oficio, que quando adulto, sustentou a família por muitos anos. Trabalhou também na antiga rede de lojas Prosdócimo, serviu o exército, até abrir seu ateliê na rua Monsenhor Gercino, ao lado de onde fica hoje a Luizinho Autopeças.

Sua conversão causou espanto aos familiares, mas Ari não se abalou. Sua fé era muito maior, e partiu para trabalhos missionários, até que um grupo de irmãos, conta ele, seguiu um chamado de Jesus para que defendessem a igreja primitiva, tradicional. “Nos reunimos, discutimos os rumos. Eu recebi uma visão do nome Maravilhas de Jesus, apresentei e foi aprovado por unanimidade”. Ari foi vice-presidente até 1987, quando assumiu a Presidência. Morou em Florianópolis por 15 anos, passou por Jaraguá do Sul, até retornar a Joinville em 2003. Pastor Ari ficou fora da Presidência entre 2004 e 2010. Foi reconduzido ao comando na Convenção da Igreja em 2010.

A Igreja Maravilhas de Jesus está presente em quatro estados brasileiros (RS, SC, PR, SP) e tem um núcleo na Argentina, e conta com cerca de 50 igrejas atuantes. Disposto, o Pastor ainda viaja por suas igrejas, mas agora com alguém dirigindo. Prega com todo ardor a forma tradicional de apresentar os mandamentos do evangelho. Ele não teme o afastamento da juventude da Igreja diante do mundo atual, globalizado e cheio de alternativas. “Os jovens vem até nós pela família, de pequenino. O povo precisa ouvir o evangelho, e é isso que fazemos. Por isso não fico parado, viajo para dar apoio e energia para nossa gente”, completa.

O Pastor conta que eles foram muito perseguidos no inicio, mas tiveram apoio do então prefeito Pedro Ivo Campos, via vereador Aderbal Tavares Lopes. “Nós pedimos apoio para comprar esse terreno aqui onde fica a sede. Conseguimos 10 mil cruzeiros na época, o bastante para completar o pagamento”, diz soltando um dos raros sorrisos. Aposentado, casado há 50 anos, pai de quatro filhos tem nove netos e três bisnetos, Ari prepara a Convenção Nacional que será realizada dias 7 e 8 de maio em Joinville com muita garra na defesa da sua fé, e ainda encontra tempo e força para apresentar um programa de rádio todos os sábados das 11 ao meio-dia na rádio Colon AM 1090 Khw. E avisa: “Agora só vou parar minha missão quando Deus quiser”.

* publicado na seção perfil do Jornal Notícias do Dia em abril de 2011

Uso da fé sem limites

Sou uma pessoa que acredita em Deus, mas não em religiões. A cada templo que vejo cheio de pessoas a gritar, chorar, e em alguns entregar até seus pertences pessoais, dinheiro, roupas e sei lá mais o que, mais fico indignado. Não que todos sejam iguais, mas a enorme maioria somente usa o nome do Criador para obter vantagens pessoais, pecuniárias e outras. Conheço vários nessa linha, que usam de suas “santidades” para esse uso indevido da fé humana. Uma barbaridade.

O caso dessa jovem mulher de 34 anos, que ao invés de ser imediatamente atendida ao desmaiar foi utilizada como exemplo de “ação” da oração, e morreu após a segunda parada cardíaca, ilustra bem o uso da fé sem limites. Aliás, penso que agora chegaram ao limite do aceitável com a morte de uma pessoa dentro do seu templo. Igrejas de diversas linhas de religião se multiplicam sob nomes que beiram ao ridículo por todo o país, e muito, mas muito mesmo na maior cidade de Santa Catarina.

Se havia uma coisa a ser feita naquele momento era o atendimento imediato, primeiros socorros. Era o momento de partir para a parte mais importante da nossa tentativa de comunicação com o divino, que muitos chamam de “oração”. Era hora da “ação”, mas o que se viu conforme as reportagens é a “omissão”, ou pior, o uso de um fato de saúde, grave, para ludibriar a fé de pessoas que buscam a paz interior.

Lamentável, e o que se espera agora é uma investigação séria que não só busque os culpados dessa tragédia para a famíliia, mas que faça nascer na consciência dessas pessoas que se autointitulam pastores, padres, monges e tudo o mais, a necessidade de se levar a sério a questão religiosa que move milhões no mundo inteiro, diariamente. Mais respeito à inteligência, meus senhores, mais seriedade ao tratar com a fé das pessoas, senão, terão de pagar sim com a Justiça dos homens, e mais tarde, com a do Criador.