No meio do programa de MBA na Liautaud Graduate School of Business, da Universidade de Illinois-Chicago, Elizabeth Barry deu à luz a sua filha. Não foi fácil cuidar da bebê enquanto equilibrava a escola e uma carreira autônoma, mas ela conseguiu se formar em 2009 e ir trabalhar em uma agência de publicidade em Chicago.
Quando Elizabeth e seu marido decidiram se mudar para Denver e ter o segundo filho, um amigo sugeriu que ela deixasse de fazer entrevistas para empregos que buscam tradicionalmente profissionais com MBA, porque essas vagas parecem exigir uma carga horária semanal inacabável. Ela acatou o conselho e se candidatou a uma vaga em uma escola independente, apesar de não estar convencida de que seria a melhor ideia. Hoje ela vê que a sua percepção estava errada. “Como organização sem fins lucrativos, a escola não conseguia me pagar de acordo com minha experiência e formação. Mas ela tinha algo que outros empregadores não tinham: flexibilidade”, diz. “Nós conseguíamos negociar uma jornada semanal de quatro dias e folgar feriados escolares.”
Pessoas como Elizabeth, que fazem parte da geração Y, nascidos entre 1980 e 1995, priorizam ter algum tipo de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mesmo após investir em um curso de MBA. Essa preferência tem tornado a questão da flexibilidade da jornada de trabalho uma prioridade para alguns empregadores. Um estudo da consultoria PwC, da Universidade do Sudeste da Califórnia e da London Business School analisou dados do quadro de funcionários da consultoria em 2011 e 2012 e descobriu que profissionais mais jovens não estavam satisfeitos com as longas horas trabalhadas e a atitude de terem que ficar presos ao escritório – aspectos que já foram considerados parte do pacote pós-MBA.
Na verdade, 71% dos funcionários da geração Y dizem que o trabalho interfere na vida pessoal. 64% querem trabalhar de casa ocasionalmente, enquanto 66% querem flexibilizar o horário de trabalho. “O equilíbrio entre vida profissional e pessoal é uma das causas de retenção mais significativas e uma das principais razões para essa geração escolher trajetórias de carreira menos tradicionais”, diz o relatório do estudo.
A PwC, que recruta centenas de profissionais com MBA todos os anos, encoraja as equipes a descobrirem formas de serem mais flexíveis, diz Miranda Kalinowski, líder de recrutamento na consultoria em Nova York. Alguns times, por exemplo, organizaram um dia da semana em que todos podem sair mais cedo para resolver assuntos pessoais, enquanto outra equipe deixa que funcionários trabalhem à distância em parte da semana.
A empresa como um todo também oferece horários flexíveis no verão, e em breve vai contratar profissionais temporários para os períodos de maior demanda, como a temporada de impostos, para não sobrecarregar os funcionários, diz Kalinowski.
Como Elizabeth, ex-alunos de MBA estão dispostos a resolver os problemas com as próprias mãos para maximizar seu tempo pessoal. Andres Zapata, que se formou em 2005 na Carey Business School, da Universidade de Johns Hopkins, optou por um emprego em uma consultoria pequena para que pudesse passar mais tempo com a família e jogar esportes. Ele diz que ficou tão feliz com os resultados que quando teve a chance de comandar a empresa formalizou a política de equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ela agora inclui horários flexíveis, licença flexível e uma política rígida de não contatar os funcionários por motivos profissionais enquanto eles estão de férias.
“Agora temos uma cultura profissional altamente eficaz e focada, cheia de pessoas espertas e produtivas. Ande pelo escritórios às 17h30 e a única coisa que você verá sou eu desligando as luzes e trancando as salas”, diz Zapata, que agora é vice-presidente executivo de estratégia na idfive, uma empresa de marketing e comunicação de Baltimore.
Para alguns, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional não tem a ver apenas com o tempo trabalhado, mas com fazer aquilo que gostam e não levar trabalho para casa. Chris Brusznicki, formado na Kellogg School of Management, da Universidade de Northwestern, trocou uma jornada de trabalho de mais de 80 horas semanais no Goldman Sachs por trabalhar mais de 80 horas nos seus próprios empreendimentos, como o GamedayHousing.com, site que conecta fãs de esporte com aluguéis de propriedades perto de estádios. Apesar do horário cheio, ele diz que escolheu aproveitar ao máximo o tempo que tem com a esposa e os filhos.
“Quando estou em casa, tento estar no momento”, diz Brusznicki. “Sem iPhone, sem trabalho, sem nada. Eu costumava levar trabalho comigo para todos os lugares. Agora não faço mais isso.”
Do Valor Econômico