Palavra Livre apoia o Movimento Amplia em apoio a estudantes negros e indígenas para o ENEM

O Palavra Livre ficou sabendo de um movimento social que busca apoiar estudantes negros e indígenas para que consigam pagar a taxa de inscrição ao ENEM deste ano. A crise da pandemia do Covid-19 ampliou e muito as dificuldades para estes segmentos, e podemos sim ser solidários para que mais estudantes possam fazer a prova e acessar o ensino superior.

No dia 02/06 o INEP prorrogou o prazo de pagamento da taxa de inscrição do ENEM 2020 para o próximo dia 10/06. Para quem não sabe, a taxa da prova desse ano custa R$85,00 e muitos estudantes não conseguiram a isenção do pagamento. Muitos(as) deles/delas não conseguiram a isenção pelo fato de não se encaixarem nos critérios estabelecidos no edital do exame, mas ainda assim, são estudantes em situação de vulnerabilidade.

Diante disso, o movimento AMPLIA está organizando uma campanha de “apadrinhamento/amadrinhamento” de estudantes negros/as e indígenas que não receberam a gratuidade do exame e precisam de ajuda.

Como participar? 

– Preencha os dados no formulário (clique aqui), indicando se você deseja ser apoiador (madrinha/padrinho) ou se é candidato/a.
– Nos próximos dias o/a apoiador/a receberá o contato de um/uma estudante que precisa de apoio para realizar sua inscrição.
– O/A estudante fará a inscrição e te enviará o boleto para pagamento, gerado exclusivamente pelo INEP para o(a) candidato(a).

O formulário ficará aberto até às 22h00 do dia 06/06. O objetivo é ter uma margem de segurança para a verificação do pagamentos dos boletos de inscrições.

AMPLIA é um movimento criado por um grupo multidisciplinar que busca ampliar oportunidades para negros/as e indígenas nas diferentes regiões do Brasil por meio da educação.

Instagram: @movimento_amplia
Dúvidas: amplia2020@gmail.com

Lei da Biodiversidade – “Nos trouxeram só para dizer sim”, critica indígena

Representantes de povos indígenas que foram esta semana para Brasília, a convite do Ministério do Meio Ambiente, para uma oficina nacional sobre a nova Lei da Biodiversidade se recusaram a participar da audiência pública ontem (22), no Ibama, sobre a regulamentação da lei.

A legislação define regras para o acesso a recursos da biodiversidade nacional por pesquisadores e pela indústria. Trata também do direito dos povos tradicionais à repartição dos lucros pelo uso dos conhecimentos que têm sobre plantas e animais e cria um fundo para fazer esse pagamento.

Eles entregaram uma carta, lida durante a audiência, em que se manifestam contra a lei 13.123, de 2015, e pedem a revogação do texto. Segundo os indígenas, o texto foi feito sem a devida participação dos povos tradicionais do Brasil e não valoriza os conhecimentos dessas populações sobre plantas e animais, além de desrespeitar as crenças e a forma de lidar com a natureza.

A índia pankararu Cristiane Julião, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo (Apoinme), veio do interior de Pernambuco para participar da oficina e foi até o Ibama, mas não entrou no auditório.

“Achamos que seria uma afronta, um desrespeito com nós mesmos, participar e consensuar sobre algo que somos contra. Nos 48 minutos do segundo tempo nos trouxeram apenas para dizer sim. E nós dizemos não.”

Cristiane disse que os povos tradicionais não foram consultados durante a elaboração da lei. Segundo ela, foram feitas oficinas regionais, mas dizer o que é a lei, não para construir a legislação.

“O que aconteceu na oficina nacional foi uma comunhão dos anseios das populações tradicionais, em que todo mundo ‘falou com uma boca só’ que essa lei não nos contempla, não nos atende, além de ter burlado a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que o Brasil ratificou, e que traz em detalhe como fazer consultas a povos indígenas antes de fazer leis e empreendimentos que tenham impacto sobre nós e nosso conhecimento ancestral”, afirmou.

O diretor de Patrimônio Genético da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Rafael Marques, disse que a audiência foi organizada em parceria com os representantes indígenas para garantir que tivessem espaço no debate.

“A oficina nacional foi custeada pelo governo federal. Se dependesse deles sozinhos terem que se organizar para encontrar recursos e logística para participar da audiência, não seria viável, a gente sabe que muitos vivem em condições difíceis”.

Segundo Rafael Marques, eles participaram da oficina por três dias e no quarto dia, ontem (22), entenderam que era uma “mensagem política importante” declarar que discordam de vários pontos da legislação. “Eles entendem que a maneira como a lei foi construída no Congresso não atendeu aos principais pleitos deles, então foi uma forma de protesto”.

Consulta pública
O Ministério do Meio Ambiente divulgou nessa quarta-feira (21) a primeira sugestão da Casa Civil para a regulamentação de alguns pontos da Lei da Biodiversidade.

A proposta do governo é um ponto de partida para a discussão e foi feita a partir das contribuições de diversos setores da sociedade que chegaram por meio da consulta pública que está aberta desde o dia 12 de junho no site do ministério.

“A Casa Civil definiu uma minuta de texto básica para ajudar a orientar a discussão para que as pessoas tivessem uma ideia melhor do que seria uma modelo de regulamentação e como poderia funcionar”, afirmou Rafael Marques.

Ele disse ainda que o ministério sistematizou as contribuições recebidas e assim puderam ter uma ideia de qual eram os pontos mais polêmicos, ou que despertavam maior interesse. “O governo federal está em busca de um “mínimo múltiplo comum para criar uma legislação que atenda de maneira mais democrática os diversos setores”.

Foram listados os pontos principais que precisam ser regulamentados, como a composição do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, o funcionamento dos cadastros e autorizações para acesso ao conhecimento tradicional associado.

A proposta da Casa Civil está disponível na internet com espaço para críticas e sugestões. Qualquer pessoa ou organização pode enviar contribuições até o dia 30 de outubro na página do Ministério do Meio Ambiente.

De acordo com Rafael Marques, a composição do conselho, autoridade máxima da legislação de acesso ao patrimônio genético e a conhecimentos tradicionais e repasse de benefícios, é o ponto mais polêmico.

“Há diversas posições. Há o medo de o Conselho se tornar muito técnico e pouco representativo politicamente, ou muito político e com pouca tecnicidade, também há preocupações de que seja muito grande, o que inviabilizaria a tomada de decisões, entre outras manifestações”.

Segundo ele, a participação dos povos tradicionais no conselho está garantida. “A lei determina que eles participem com direito a voto e voz”, afirmou.

Com informações da EBC

Jogos Mundiais Indígenas: Fogo Sagrado é aceso em Palmas (TO) dando início ao evento

Poucas pessoas compreendiam o que se passava ontem (22) na Praça dos Girassóis, no centro de Palmas (TO), mas de uma coisa todas tinham certeza: aquele era um momento único, singular na história dos indígenas de vários países. Em que outra oportunidade as etnias Guna (Panamá), Txche (Nicarágua) e Manoki (Brasil) dividiriam o mesmo ritual? E quando pensaríamos ver os Maori, da Nova Zelândia e os Xavante, brasileiros, frente a frente?

A Cerimônia de Acendimento do Fogo Sagrado, que antecedeu a abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI), misturou indígenas brasileiros, argentinos, bolivianos, neozelandeses, panamenhos e muitos outros em uma miscelânea de cores, cantos e danças. Hoje, o povo de Palmas e de várias partes do mundo pode ver a dimensão desse evento.

Várias etnias chegaram à praça para a cerimônia do Fogo Sagrado por volta das 17h20 e, antes do ritual começar, vários indígenas abriam rodas, cantavam e dançavam em apresentações completamente espontâneas e simultâneas. Filmando e fotografando, centenas de pessoas tentavam entender o que se passava e acompanhar tudo que acontecia.

“Eu acho perfeito trazer esse evento para cá. É um marco histórico para a cidade”, disse o servidor público Alex Tosta, 36. O piso da praça, inclusive, traz vários desenhos de tribos do estado. Segundo a organização dos jogos, a praça foi escolhida pelos deuses indígenas para o acendimento do Fogo Sagrado e, por isso, o local só foi divulgado horas antes de sua realização.

Pouco antes das 18h, o articulador dos JMPI, Marcos Terena, reuniu as várias tribos para o início do ritual sagrado, enquanto a população local se aglomerava para entender o que se passava. O fogo estava sendo preparado. Então, os Maori iniciaram um ritual tradicional. Fazendo caretas e empunhando lanças e outros objetos, os Maori abriam caminho entre a multidão e dominaram as atenções. Homens brancos e índios assistiam fascinados à performance neozelandesa.

“Tentamos mostrar nossa força interior arregalando os olhos e pondo a língua para fora. É para apresentar quem somos, quão forte amamos as pessoas e o quanto queremos doar aos outros. Somos muito espirituais. Então, antes que tudo aconteça, o caminho espiritual precisa ser limpo. Depois disso, nós sorrimos e falamos com as pessoas”, explicou o sorridente maori Thomas Strickland.

Palmas (TO) - Símbolo de vida e da força dos Povos Indígenas, o Fogo Sagrado é aceso pelos pajés e líderes religiosos das etnias que participam dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
 Em Palmas, um Maori, indígena da Nova Zellândia, faz careta como forma de mostrar  força interior e se apresentar  aos outros participantes dos Jogos Mundiais, antes de ser aceso o Fogo Sagrado na Praça dos Girassóis Marcelo Camargo/Agência Brasil

Então, os índios Xavantes, em frente aos Maori, começaram seu canto e uma cena improvável acontecia. Maoris encarando e Xavantes cantando, frente a frente, olho no olho. Após esse momento, uma roda se abriu para o acendimento do Fogo Sagrado. Ao modo tradicional, provocando faíscas no atrito entre um graveto e uma pedra, o fogo foi aceso, já no início da noite.

Com isso, uma verdadeira festa teve início, com várias tribos dançando ao redor do fogo, celebrando o momento. “O fogo, para todos os povos do mundo, é extremamente importante. É um conhecimento milenar em todos os povos. E ele é vida, é energia, tem uma energia espiritual e em torno dele se unem todos os povos”, disse a indígena Joana Munduruku, integrante do Comitê Intertribal.

O Fogo Sagrado foi retirado da praça e será levado à Arena Verde dos JMPI amanhã, durante a abertura oficial do evento, marcada para as 17h30. Aos poucos, indígenas, moradores da cidade e turistas deixaram a praça, cientes de terem presenciado um acontecimento inédito e marcante em suas vidas.

Com informações da Ag. Brasil

Indígenas: MP ajuíza ações para garantir terras

indiozinhosO Ministério Público Federal (MPF) ajuízou, na última sexta-feira (19), 14 ações civis públicas visando garantir terras que povos indígenas tradicionalmente ocupam. Além disso, estão sendo expedidas 11 recomendações para instituições públicas e empresas privadas. As ações abrangem 10 estados brasileiros, entre eles Santa Catarina.

Desde o início do mês, o MPF vem realizando mobilização nacional em defesa dos territórios indígenas, trabalho que culminou neste 19 de abril, quando é comemorado o Dia do Índio. Mais de 500 indígenas participaram de audiência pública no Auditório Juscelino Kubitschek da Procuradoria Geral da República, em Brasília.

Em Santa Catarina, a Procuradoria da República em Joinville expediu duas recomendações para a Funai, já que há um retardo injustificado no início do processo de identificação e demarcação das aldeias Yakã Porã e Yvy Dju/Reta. A situação de Yakã Porã, localizada na Estrada Brüsttein, em Garuva, e Yvy Dju/Reta, situada nas proximidades da BR 280, em São Francisco do Sul, vem sendo acompanhada pelo MPF desde final dos anos 90.

Já a Procuradoria da República em Chapecó obteve na justiça decisão favorável para ação civil pública que condena a Funai a adquirir 500 hectares de terras destinadas aos índios kaingangs da aldeia Kondá. Na quarta-feira desta semana, a PR/SC também realizou vistoria na polêmica área da etnia guarani, com sede no Morro dos Cavalos, em Palhoça. A visita foi um pedido do Ministério Público e foi acompanhada por representantes da Funai, da Justiça Federal, da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), da Polícia Federal e das famílias de não índios. O local é alvo de muitas disputas, apesar da demarcação das terras indígenas ter sido publicada em Diário Oficial em 18 de dezembro de 2002.

Do ABC Digital

Ditadura Militar: crimes contra indígenas durante o regime também serão apurados

A Associação de Juízes para a Democracia (AJD), o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e a Comissão Nacional Justiça e Paz, ligada à igreja católica, foram recebidos ontem (12) pelos integrantes da Comissão Nacional da Verdade, que investiga os crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre 1946 e 1988, e pediram a seus membros que se dediquem a elucidar as violações aos direitos humanos cometidas contras as populações indígenas durante a ditadura.

O encontro foi realizado na capital paulista e durou cerca de uma hora e meia. “Expusemos a necessidade histórica de desvendar os abusos praticados contra os povos originários”, relata Keranik Boujikian, membro do conselho executivo da AJD. Segundo a juíza, os três membros da comissão presentes ao encontro (Paulo Sérgio Pinheiro, Rosa Maria Cardoso da Cunha e José Carlos Dias) mostraram-se sensíveis ao pedido. “Mas ainda não estabeleceram uma metodologia de trabalho”, ressalva.

“Por que analisar apenas os mortos e desaparecidos políticos?”, questiona Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais São Paulo, que apresentou à comissão os resultados preliminares de uma pesquisa que analisa todos os 4,3 mil discursos proferidos no Congresso Nacional entre 1946 e 1985 com a palavra ‘índio’ e os 1,527 mil que ostentam, juntos, os termos ‘índio’ e ‘massacre’.

“Só no povo waimiri-atroari, que enfrentou a construção da rodovia BR-174, morreram mais de dois mil indígenas”, lembra Zelic. “Informações do antropólogo Darcy Ribeiro, que aparecem em alguns discursos de parlamentares, dizem que em 1964 existiam mais de 6,4 mil yanomamis na Amazônia. Em 1979, sobraram apenas 640.” O vice-presidente do Tortura Nunca Mais São Paulo explica que as políticas de extermínio foram conduzidas por setores ligados à exploração de recursos minerais interessados em ocupar a terra dos índios.

Subcomissões
“Nossa prioridade, porém, são os casos de tortura, mortos e desaparecidos políticos”, pondera Rose Nogueira, presidente do Tortura Nunca Mais de São Paulo, ela mesma uma das pessoas que sofreram nos porões da ditadura. “Ainda assim, acreditamos que, se algumas subcomissões temáticas forem constituídas, a Comissão da Verdade vai encontrar um monte de coisa que nem imagina.” Além dos abusos cometidos contra os índios, Rose sugere a criação de pequenos grupos para averiguar especificamente a censura sobre a imprensa e as artes.

“Privar a população do acesso à cultura e informação é uma violação grave dos direitos humanos, e a comissão deverá se dedicar a esses temas”, propõe. No que depender do Tortura Nunca Mais de São Paulo, até mesmo a política econômica da ditadura será devassada. “Temos de elucidar melhor os impactos da inflação e da dívida externa que assolaram o país durante o regime. Quanta gente morreu de fome, perdeu a casa e amargou a miséria por causa das decisões do governo? Foi criminoso.”

Documentos
A reunião de ontem também informou à Comissão da Verdade sobre em que pé anda a digitalização do acervo do Projeto Brasil Nunca Mais. São 710 processos judiciais recuperados por advogados e defensores dos direitos humanos nos arquivos do Superior Tribunal Militar (STM) a partir de 1979, e que em 1985 deram origem ao relatório Brasil Nunca Mais sobre a repressão política no país durante a ditadura. Na época, a compilação do material foi encabeçada pelos religiosos dom Paulo Evaristo Arns, rabino Henry Sobel e reverendo James Wright.

“Já temos 702 processos judiciais digitalizados, desde o inquérito policial até a sentença dos tribunais”, explica Rose Nogueira. Esse trabalho foi realizado na Universidade de Chicago, onde os microfilmes dos documentos ficaram protegidos até o ano passado por iniciativa de pastores protestantes estadunidenses. “Os oito processos restantes já começaram a ser escaneados na Universidade de Campinas (Unicamp)”, diz Marcelo Zelic.

Aos processos judiciais serão adicionadas as cerca de três mil páginas dos documentos de Genebra: correspondências trocadas entre dom Paulo e o Conselho Mundial de Igrejas, sediado na cidade suíça, sobre a situação dos direitos humanos no Brasil durante o regime. Além disso, o acervo contará ainda com os arquivos sigilosos do arcebispo emérito de São Paulo. “São cartas que chegavam à Cúria denunciando casos de tortura, sequestro e desaparecimento”, resgata Zelic. “Muitos deles foram escritos por presos políticos e vazaram clandestinamente. São inéditos.”

Tudo será colocado à disposição dos membros da Comissão da Verdade, com mecanismo de busca eletrônica para facilitar a localização de nomes, datas e localidades. Segundo o vice-presidente do Tortura Nunca Mais, o grupo demonstrou grande interesse pelo projeto: ofereceram-se inclusive a verificar a probabilidade de conseguir um escâner de alta tecnologia para acelerar a digitalização dos documentos. “No ritmo atual, devemos disponibilizar os arquivos em março de 2013”, diz Zelic. “Com novos equipamentos, poderemos abreviar o processo.

Do Observatório Social

Parteiras indígenas passam por qualificação

Trinta parteiras tradicionais indígenas das etnias Makuxi e Wapixana, ambas do estado de Roraima, participam de encontro de qualificação em cuidados com recém-nascido, que será realizado a partir desta segunda-feira (23) até 30 de abril, na comunidade indígena de Tabalascada, na cidade Cantá, município distante 40 quilômetros da capital Boa Vista.  A iniciativa do encontro é da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste de Roraima, em parceria com Secretaria de Saúde de Roraima. A ação faz parte do programa Rede Cegonha.

O objetivo do encontro é capacitar as parteiras para que auxiliem nos cuidados básicos imediatos aos recém-nascidos nas aldeias e com isso ajudar na redução da mortalidade infantil.  A abertura do curso ocorre nesta segunda, a partir das 9h, e contará com a presença chefe da DSEI Leste de Roraima, Dorotéia Reginalda Moreira Gomes, e do secretário Estadual de Saúde de Roraima, Antônio Leocadio Filho. Durante o evento serão entregues 30 kits com equipamentos básicos de assistência imediata ao recém-nascido. Os kits possuem 35 itens, entre eles, estojo de alumínio com tesoura reta, fita métrica uterina, capa de chuva e balança pediátrica. Os Kits foram fornecidos pela Secretaria de Saúde de Roraima.

A capacitação também faz parte da estratégia da SESAI de promover atenção integral à saúde por meio da integração entre a medicina tradicional indígena com as práticas da medicina ocidental. As parteiras são profissionais importantes na atenção à saúde indígena no que se refere ao auxilio às equipes de saúde no pré-natal e também no parto, principalmente em aldeias de difícil acesso. De acordo com o último levantamento do Distrito, atualmente existem cadastradas no DSEI 78 parteiras, sendo que 95% delas também são Agentes Indígenas de Saúde (AIS).

A metodologia utilizada na qualificação será a participativa baseada na educação popular. Assim, durante o curso, além das orientações sobre as principais doenças e complicações com recém-nascidos e a identificação de casos de gestação de risco, as parteiras irão relatar casos de partos que fizeram e descrever seus conhecimentos tradicionais relacionados à gestação e ao parto: como a concepção cultural de cada etnia sobre a gestação, o uso de ervas medicinais e restrições alimentares durante a gravidez e puerpério (pós-parto). O evento contará com a participação de um consultor do Ministério da Saúde, dois facilitadores do DSEI Leste e duas médicas pediatras.

Sobre o DSEI Leste de Roraima – O Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima é a unidade gestora descentralizada do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, responsável por organizar e prestar o atendimento básico de saúde aos indígenas que vivem na região leste e norte de Roraima, inclusive nas aldeias na fronteira com a Venezuela e a Guiana. A população atendida pelo Distrito é de cerca de 40 mil índios, de 12 etnias diferentes, com predominância da etnia Makuxi, seguida da Wapixana.

Da Agencia Saúde

Dia do Índio – Homenagem do Blog

Recomendo a quem ainda não viu assistir ao filme Xingu, em cartaz nos cinemas. Trata-se de uma obra bacana, que conta um pouco da cultura indígena, e o que fizemos, homens brancos, com essa cultura tão rica, os verdadeiros donos das terras que habitamos hoje! Graças aos irmão Villas Boas ainda existe o Parque Indígena do Xingu, hoje ameaçado pelas obras da Usina de Belo Monte.

Funai:”Os contratos com indígenas não tem validade”, matéria da Agência Pública

Em setembro do ano passado, os líderes da população Munduruku assinaram um contrato leonino com uma empresa irlandesa, transferindo os direitos aos créditos de carbono da reserva por 120 milhões de dólares. Pelo documento, a empresa ganharia acesso restrito às suas terras e os índios ficariam impedidos de dispor de seu uso sem a autorização prévia da compradora.

O contrato entre a Organização do Povo Munduruku e a Celestial Green foi assinado sem a presença de representante da Funai (Fundação Nacional do Índio), responsável por defender os direitos dos índios e, portanto, por acompanhar negociações comerciais que possam colocá-los em risco. A Pública trouxe a história à tona no dia 9 de março deste ano.

A Funai, no entanto, tomou conhecimento da transação no início de 2011, quando encaminhou o contrato à apreciação da Advocacia Geral da União (AGU). Em seu parecer, a AGU considera o contrato ilegal. Tese que vale para todos os contratos de crédito de carbono em terra indígena no Brasil.

O parecer, ainda não conclusivo, deixa em aberto a possibilidade que outros órgãos da União encontrem meios de regularizar futuros contratos com os indígenas. O presidente da Funai, Márcio Meira, é contra as negociações atuais, como a que envolveu os Munduruku. Mas defende que o comércio de crédito carbono funcione como meio de remunerar os indígenas pela preservação das florestas depois que o mercado for regulamentado no país.

Leia a entrevista:

 

Como a Funai avaliou o teor do contrato assinado entre os Munduruku e a Celestial Green?

Desde que tivemos o primeiro contrato desse tipo, há um ano e meio, nossa avaliação é de preocupação e alerta em relação ao assédio dessas empresas aos indígenas. Procuramos a assessoria especializada da Funai, que é ligada à Advocacia Geral da União, para que analisasse e, se necessário, tomasse medidas judiciais. Tomamos medidas educativas e de precaução. Fizemos uma cartilha distribuída às comunidades indígenas alertando para contratos que podem ser danosos a elas.

Por que a Funai não alertou os Munduruku sobre a ilegalidade do contrato?

A Funai não estava lá, naquele momento. Ficamos sabendo depois da reunião que os Munduruku tiveram com a empresa. Na maioria dos contratos desse tipo, a gente só toma conhecimento depois.

A Funai não sabia da negociação desde o início de 2011?

A Funai sabe que há negociações em curso, alguns indígenas informam. A gente passa a orientação para terem cuidado em relação a esse assédio, dizemos para não assinar o contrato. Mesmo assim alguns contratos são assinados. Mas eles não têm validade jurídica. Nós alertamos as empresas: esses créditos que estão no mercado voluntário não têm validade.

A informação que temos dos Munduruku é que não houve contato e orientação da Funai.

Isso não é verdade,  a Funai está em contato permanente com todos os povos indígenas do Brasil. Temos 36 regionais, quase 300 coordenações técnicas locais, o próprio chefe da coordenação técnica na área é um indígena Munduruku. Ele é a própria Funai.

Mas se a Funai está tão próxima, como não sabia que  o contrato seria assinado?

A Funai sabe de reuniões, mas não há como saber em detalhes o que acontece. Principalmente a sede da Funai. Eu não tomei conhecimento dessa reunião, a não ser depois que aconteceu.

Ambientalistas e movimentos ligados às populações indígenas dizem que a Funai está sendo omissa na orientação dos indígenas assediados por essas empresas. Como o senhor responde a essa crítica?

Não concordo, a Funai tem sido ativa, não tem poupado esforços. Essa cartilha que produzimos para alertar sobre os riscos foi feita com movimentos indígenas. Mas é um assédio muito forte. Mexe com recursos altos o que mobiliza os interesses.

Qual é o teor dos outros contratos que a Funai teve conhecimento?

Eles são parecidos. Temos cerca de 30 contratos, todos muito semelhantes e preocupantes porque não têm base jurídica. A Celestial Green é a que mais fez contratos com indígenas, são mais de dez.

O que vai acontecer com os outros contratos que já foram assinados?

Os contratos com indígenas não têm validade jurídica.

Eles também avançam sobre o direito dos indígenas de uso da terra?

Podem ter alguma cláusula que fere o direito territorial. De qualquer forma, esses contratos não têm validade jurídica. Terras indígenas são propriedade da União, indígenas tem usufruto exclusivo. No caso, o comércio de créditos de carbono não está regulamentado pela legislação brasileira e não é possível ser feito em terras indígenas no momento. Por isso a Funai tem defendido que, o mais rápido possível, seja feita uma legislação regulamentando essa questão.

A Funai já intermediou algum contrato de créditos de carbono?

A Funai não intermedia contratos dessa natureza porque eles são ilegais. Tomamos conhecimento de contratos depois de assinados. O único caso foi o povo Surui que nos procurou dizendo que tinha interesse em assinar e pediu orientação da Funai. Demos a orientação que tem que dar para eles terem cuidado.

A Funai acompanhou o contrato?

A Funai tem acompanhado as manifestações dos Surui para que, se eventualmente assinarem o contrato, não caiam em armadilhas. Pode ser que já tenham assinado, mas eu não tenho essa informação .

A Advocacia Geral da União recomenda que os contratos de crédito carbono devem ser intermediados pela União.  A Funai vai passar a desempenhar esse papel?

Essa é uma missão da Funai: proteção dos direitos dos indígenas em qualquer tema. Em qualquer política pública em relação aos direitos indígenas, a Funai tem que participar. Mas esse caso depende da regulamentação.

O senhor anunciou a Bolsa Verde como um incentivo para que os indígenas não cedam ao assédio financeiro. Mas R$ 100 mensais fazem frente aos milhões de dólares oferecidos pelas empresas estrangeiras?

O serviço que os indígenas prestam à humanidade na preservação da floresta tropical tem que ser reconhecido. A Funai fez isso quando regulamentou um auxílio aos indígenas no trabalho de monitoramento territorial. Mas temos é que olhar para frente e buscar um mecanismo de crédito de carbono. É uma boa ideia, mas não pode ser utilizada para os interesses econômicos apenas de terceiros. Sendo regulamentado, esse é o principal fator que pode contribuir para beneficiar os indígenas.

Circula a informação pelos jornais de que a Funai está funcionando em ritmo lento desde que o senhor pediu demissão. É verdade?

Sobre esse assunto eu não falo, isso é fofoca. Estou trabalhando aqui todo dia, incansavelmente, desde que cheguei há cinco anos.

Da Agência Pública

Índios da Bolívia: jornalista mostra a luta contra a escravidão

Foi embaixo de uma árvore alta, de tronco grosso, que a família Flores se instalou. Primeiro, limpou o mato, deixando tudo plano para distribuir os poucos pertences trazidos. Nem precisou de todo o espaço. O único teto era uma lona azul apoiada por seis estacas de madeira que não protegia nem dez metros quadrados.

Esta era a casa de Juan Flores, sua esposa, duas filhas e quatro netos. Flores, aos 55 anos, havia descoberto a liberdade pouco tempo antes: nasceu escravo e é uma das vítimas do sistema escravagista que se opera na região do Chaco, no departamento de Santa Cruz, na Bolívia. Em 2009, a jornalista Juliana Dal Piva foi à região para documentar a história de pessoas como Juan e da luta dos índios guaranis contra o trabalho escravo.

Dessa pesquisa, resultou o livro Em luta pela terra sem mal, que será lançado pela Editora Multifoco no dia 2 de março. O problema da escravidão na Bolívia se concentra em três departamentos: Tarija, Chuquisaca e Santa Cruz. Não há consenso sobre o número exato de pessoas nessa situação, mas diversos estudos apontam uma média que se aproxima de oito mil. Três mil estão na região da província Cordillera, em um local conhecido como Alto Parapeti, e foi justamente esta a região visitada pela jornalista durante a investigação. Como a situação chegou a este ponto e a maneira como está sendo revertida são os pontos centrais da obra.

Saiba mais sobre o projeto

Legalmente, a escravidão foi abolida na Bolívia em 1831, após a independência e a proclamação da República. Mas o tempo transcorrido entre a abolição e os dias atuais apenas contribuiu para o surgimento de um novo sistema escravagista, que aplicou elementos das relações feudais de servidão aos antigos escravos. E é justamente o modo como o país se desenvolveu nos últimos 120 anos o que ajuda a explicar essa anomalia. Até 1892, o governo boliviano não tinha controle sobre todo o seu território, especialmente na região leste do país e há tempos disputava seu controle com o povo indígena chiriguano. Em março daquele ano, a execução de seu último grande líder, conhecido como Apiaguaiki Tüpa, na chamada batalha Kuruyuki, deu fim à guerra.

Depois dos conflitos, restavam no Chaco menos de dez mil índios dos 200 mil que viveram ali. Dos que ficaram, 8.400 viviam em comunidades dentro das missões franciscanas. Para muitos dos chiriguanos que continuaram nas comunidades originais, não houve outra escolha a não ser submeter-se ao trabalho escravo dentro das propriedades ocupadas, especialmente na criação de gado. Com o passar do tempo, colonos foram se estabelecendo e a perda dos territórios foi completada e legalizada a partir da Reforma Agrária de 1953, especialmente durante a ditadura militar do general Hugo Banzer (1971-1978). Durante o Século 20, o povo perdeu a permissão para se vestir da maneira tradicional, viver em comunidade e realizar rituais religiosos. Abandonou sua história e até o nome. Perdeu o direito à identidade étnica e passou a ser chamado de “camba”.

As novas gerações foram aos poucos lutando contra as condições que lhes eram impostas. Reconhecer-se como indígena novamente não foi uma tarefa fácil, menos ainda como chiriguano. Foi por meio do idioma guarani que a identificação reapareceu – e rapidamente –, porque a língua continuou sendo utilizada no cotidiano desse povo, inclusive para proteção frente aos patrões. Assim justificaram os líderes da Assembleia do Povo Guarani a escolha do nome da organização que os reúne na Bolívia. A situação só começou a ser denunciada publicamente nos anos 1990, mas as medidas só tiveram alguma efetividade quando a denúncia chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos, em São José da Costa Rica, em 2004.

A ascensão de Evo Morales ao poder em 2006 deu um novo impulso à luta e, no ano seguinte, a partir do decreto supremo número 29292, permitiu-se a expropriação das propriedades sem indenização quando fossem constatadas as chamadas “relaciones servidumbrales”. O decreto foi resultado de uma parceria entre o Vice-Ministério de Terras e a Assembleia do Povo Guarani. A interpretação que se fez foi a de que o direito do proprietário é garantido com o cumprimento da Função Econômico-­Social (FES). Sendo a escravidão uma clara violação dos direitos humanos e um descumprimento da FES, a propriedades das terras poderiam, a partir de então, ser revertidas sem indenização. No Brasil, existe uma proposta de emenda constitucional semelhante esperando por votação desde 2001. Passou no Senado, mas está parada na Câmara desde 2004 e sem previsão de votação. A obra aborda ainda os conflitos recentes referentes à aprovação da Constituição Plurinacional e à audaciosa implementação da autonomia indígena.

Apesar deste quadro complexo e desafiador, as histórias de vida mostradas no livro revelam um profundo desejo dos guaranis pela paz. A paz numa terra sem escravidão, onde homens e natureza convivam de forma harmoniosa, sem fome nem tristeza, a “terra sem mal” da mitologia indígena, que dá inspiração ao título da obra. É esta lenda de Mãe Terra semelhante ao paraíso, em contraste absoluto com a realidade de violência e conflito, que também inspira os guaranis a lutar por condições mais justas de vida.

Do Observatório Social

Imprensa brasileira ignora Estatuto da Igualdade Racial

O Estatuto da Igualdade Racial aprovado em julho 2010 passa por processo de invisibilidade e oposição dos meios impressos brasileiros. Essa foi uma das conclusões do primeiro relatório da pesquisa Faces do Brasil, apresentada em Salvador no último dia 13 de maio, dia da abolição. O material coletado é de 12 jornais e cinco revistas entre os meses de outubro e dezembro de 2010. Até o momento a sistematização se balizou por 506 matérias sobre ciganos, povos indígenas e negros.

O relatório contextualiza conquistas institucionais e políticas dos grupos étnicos estudados pós-redemocratização (1985), porém, segundo a coordenação, no campo midiático tal avanço não é repercutido, configurando “uma visão negativamente estereotipada sobre os afrodescendentes e outros grupos sociais etnicamente discriminados”.

No geral as legislações sobre grupos étnico-raciais ocupam apenas 13,4% do total avaliado. Já as políticas públicas são citadas em 20,6% das matérias. Os temas predominantes são de fundo cultural. No conteúdo recortado, a abordagem a população negra é predominante (71,7%), seguido dos indígenas (26,8%) e ciganos (1,5%). Porém, conforme a localização geográfica ou perspectiva de distribuição, os veículos modificam o enfoque étnico.

O Estado de S. Paulo costuma expor o temas étnicos-raciais em seu editoriais, ou através de carta de leitores, ambos de cunho contrários a pautas como o Estatuto, a titulação de terras quilombolas, os conflitos na construção de Belo Monte e polêmica sobre o livro de Monteiro Lobato, Caçadas de Pedrinho.

O baiano A Tarde alcançou o destaque quantitativo com 87 matérias sobre a temática, porém, reservadas ao âmbito cultural e dentro de tendência nacional de não posicionar a pauta em condição de manchete. Já o Diário do Nordeste de Fortaleza é apontado como o jornal que mais prioriza as leis no conteúdo.

Em O Liberal do Pará os povos originários têm maior destaque qualitativo, os demonstrando de forma positiva enquanto beneficiários para políticas públicas, em especial as cotas na universidade federal. No caso do Zero Hora de Porto Alegre as reservas indígenas são abordadas explicitamente como entraves para o desenvolvimento econômico.

Quanto aos povos ciganos a invisibilidade dos meios ao segmento provocou a exceção de analisar como os jornais brasileiros abordaram a política do governo francês em relação aos mesmos.

Metodologia
O primeiro período escolhido é convergente com os debates da sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e enfocam cinco pontos: políticas de ação afirmativa; cotas; Estatuto da Igualdade Racial; violência explícita contra juventude de comunidades periféricas; e implementação da legislação que trata da inclusão de conteúdos pedagógicos sobre a contribuição negro-indígena na história do país.

A metodologia é centrada em critérios jornalísticos como posicionamento da matéria dentro do veículo, utilização de fotografias e fontes selecionadas. O resultado final se dará com dados de até julho de 2011 e acrescentará mais 5 jornais e uma revista.

Críticas
Jocélio Telles de Souza, diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da UFBA, ao analisar os dados apresentados destacou que o estatuto é um divisor de águas, até no jornalismo, e que alguns veículos dão espaço, mas muitos assumem o lado de “oposição feroz”. Jocélio também aponta que a representatividade geográfica do relatório dá elementos para avaliar o preconceito regional e a constituição das elites pelo país.

Para o relatório final, Jocélio sugeriu que fossem aperfeiçoados os dados qualitativos que a pesquisa aponta em relação aos estereótipos e preconceito, assim como as definições sobre os grupos estudados e porque a exclusão de outros que habitam o país.

Do Observatório do Direito à Comunicação (Pedro Caribé)