Debate acalorado na Câmara opõe deputados Jean Willys (PSOL/RJ) e João Rodrigues (PSD/SC)

Com um presidente denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e uma bancada conservadora cada vez mais à vontade, a Câmara teve cenas de nula harmonia parlamentar, nesta quarta-feira (28), a partir do tema da flexibilização do Estatuto do Desarmamento.

A ordem do dia estava em curso em plenário quando, em um rodízio de discursos na tribuna, o deputado João Rodrigues (PSD-SC) respondeu a uma mensagem postada em rede social pelo colega Jean Wyllys (Psol-RJ).

Favorável ao porte de arma para civis, João deu início a um bate-boca contra Jean que despertou a ira de outros deputados, como o Delegado Éder Mauro (PSD-PA), que foi contido por colegas ao partir para cima de Jean.

“Calem-se, calem-se, calem-se! Vocês não merecem o respeito da maioria dos deputados desta Casa”, disse o representante do PSD, flagrado assistindo vídeo pornográfico, em plena sessão plenária, no primeiro semestre legislativo deste ano – fato que Jean fez questão de lembrar, no momento mais agudo da discussão.

Direcionadas ao grupo que rodeava Jean, as declarações foram proferidas aos gritos, em resposta a uma publicação do deputado do Psol no Facebook. Na manhã desta quarta, Jean publicou mensagem dizendo que João, durante sessão de comissão especial que aprovou a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, defendeu o “relaxamento da lei para dar às pessoas licença para matar”.

Membro da comissão, o deputado disse, na mesma sessão desta terça-feira (27), que “alguns bandidos serão eliminados, e é bom que se faça uma limpeza”.

Assista a trecho da discussão:
https://youtu.be/K5DqraEBjpw

Durante o dia, Jean fez uma segunda postagem com foto do deputado do PSD. Nela, o deputado fluminense escreve: “Bandido bom é bandido rico, com terno, gravata e gabinete”. Sobre a foto, trechos de material do jornal Diário Catarinense.

Em reportagem, a publicação informa que João foi denunciado pelo Ministério Público Federal por indícios de irregularidade no fornecimento da merenda escolar em Chapecó, no período entre 2007 e 2009, quando foi prefeito do município.

“Posso até ser criticado pelas minhas posições, mas vindo do senhor é um elogio, porque um parlamentar que defende a liberação das drogas e o perdão para traficantes. Um parlamentar que defende que o adolescente pode trocar de sexo sem autorização dos pais. Isso não é deputado, é a escória da política deste país”, respondeu João, na tribuna do plenário.

Mencionado, Jean pediu a palavra. Em resposta, disse que João não tinha “moral” para criticá-lo: “Homens decentes não assistem vídeo pornô em plena sessão plenária; homens decentes não são condenados por improbidade administrativa, por roubar dinheiro público como o deputado foi. Quem não tem moral para representar o povo, é ladrão”, disse o deputado.

Ao acrescentar que a Casa pode estar composta por “homossexuais enrustidos”, Jean completou: “Resta saber se o vídeo a que o senhor assistia era homossexual ou heterossexual”.

Baiano
Em tempo: durante a discussão, a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) voltou a desafiar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), constrangendo-o a falar sobre sua relação com Fernando Baiano, um dos delatores da Lava Jato. Era uma menção ao fato de que Baiano, apontado como operador do PMDB em fraudes na Petrobras, acusou-o de recebeu dinheiro de propina do esquema de corrupção.

Adversária local de Cunha, Clarissa primeiro reclamou da falta de espaço de que diz ser vítima durante os debates em plenário. Dirigindo-se ao presidente da Câmara, ela discutiu ao microfone por alguns instantes e, ao fim do embate, colocou-se atrás de Cunha na Mesa com um cartaz em que se lia “Cunha quer trazer o dinheiro sujo da Suíça. Diga não!”.

Com a mensagem, a deputada faz menção ao Projeto de Lei 2960/2015, de autoria do Executivo, que livra de punição criminal titulares de contas bancárias no exterior não declaradas à Receita Federal.

Na semana, Clarissa estava entre os manifestante que, com cartazes e gritos de “fora, Cunha”, impediram que o deputado concluísse uma coletiva de imprensa na porta da Presidência da Câmara, na semana passada. De braços cruzados em frente ao peemedebista, a deputada questionou seguidamente o desafeto, instando-o a responder sobre suas enrolações na Justiça.

Com informações do Congresso em Foco