Após pressão, brasileiros na Nova Zelândia conseguem voos para retorno ao Brasil

Até a próxima semana, quase todos os quase 200 brasileiros na Nova Zelândia que estavam com dificuldades para voltar ao Brasil em meio a pandemia do Covid-19 (coronavírus), entre eles 12 catarinenses, estarão em solo brasileiro para retomarem as suas vidas ao lado das famílias. O primeiro voo saiu nesta sexta-feira da Nova Zelândia e chega ao país neste final de semana trazendo 43 pessoas. Os demais devem embarcar em voo comercial e também em voo de repatriação chilena, no qual foram cedidas algumas vagas aos brasileiros. O Palavra Livre informou com exclusividade o caso em duas matérias – aqui e aqui também – ao denunciar a falta de empenho do Governo Brasileiro, via Embaixada na Nova Zelândia, em resolver o caso. Sensibilizados pelos casos sérios de pessoas com depressão, idosos doentes, crianças, desempregados e muitos outros casos, o Palavra Livre foi atrás de explicações para a solução do problema.

Neste voo que chega no final de semana virão 12 catarinenses. Os demais passageiros são de São Paulo (17), Rio Grande do Sul (3), Rio de Janeiro (3), Minas Gerais (3), Espírito Santo (2), Paraná, Maranhão, Bahia e Distrito Federal um cada. Os catarinenses são das cidades de Itajaí (3), Jaraguá do Sul (2), Imbituba (2), Florianópolis (2), Caçador (1), São Joaquim (1) e Tubarão (1). A Secretaria de Articulação Internacional de SC enviou um microonibus para buscar a todos no aeroporto de Guarulhos (SP) e trazê-los a Santa Catarina. Até a próxima semana todos os brasileiros que se manifestaram ao Grupo “Brasileiros Abandonados na Nova Zelândia” devem ser repatriados.

Para a matéria o Palavra Livre buscou contato com todos os parlamentares catarinenses, o Itamaraty e o Ministério das Relações Exteriores, e também o Governo de SC através da Secretaria de Articulação Internacional. Na Nova Zelândia falamos com a brasileira naturalizada neozelandesa, Luana Karina de Aguiar (também catarinense), que já mantinha uma página no Facebook para ajudar imigrantes que chegam àquele país. Ela mora na Nova Zelândia há 11 anos e hoje é empresária por lá. Ela acompanhou o caso dos brasileiros em situação muito delicada e resolveu criar um grupo também no Facebook, o Brasileiros Abandonados na Nova Zelândia, para organizar uma lista das pessoas e trocarem informações. A partir daí passou a buscar apoio da embaixada brasileira, com pouco sucesso. Luana chegou a enviar cartas, fez vídeos do caso, tentou apoio da mídia brasileira, mas não tinha conseguido eco aos apelos.

Nós fizemos as mesmas perguntas que Luana Karina à embaixada brasileira, e também aqui no Brasil ao Itamaraty. Respostas praticamente padrão e sem qualquer compromisso real com os brasileiros que passavam situação crítica na Nova Zelândia. Dizia basicamente que eles já haviam organizado um voo em 1 de maio, que vários brasileiros não responderam mesmo que eles tenham dado ampla divulgação. Por parte de Luana e dos brasileiros isso não era verdade. Poucos souberam do voo, e o tempo para que pudessem embarcar era escasso, além de não existir logística – por conta da pandemia – para que todos se deslocassem das cidades onde viviam para o aeroporto.

O Palavra Livre voltou a questionar a embaixada e o Itamaraty, sem respostas até hoje. Questionamos os parlamentares catarinenses, já que somos baseados em Santa Catarina. Dos 16 deputados federais e três senadores, apenas um deputado federal, Celso Maldaner (MDB), nos atendeu prontamente e, segundo ele, realizou pressão junto ao Itamaraty e Ministério das Relações Exteriores. Rodrigo Coelho (PSB) e Geovânia de Sá (PSDB) responderam à reportagem quando a já se tinha a solução do repatriamento. Os demais não responderam. Justiça também se faça ao senador Dário Berger (MDB), que nos atendeu rapidamente e fez gestões junto aos órgãos competentes. Jorginho Mello (PL) não respondeu e Esperidião Amin (PP) se limitou a dizer que já tinha ajudado em outros casos semelhantes.

Buscamos informações junto ao Governo de SC via Secretaria de Articulação Internacional sobre o caso dos catarinenses. O secretário interino, Douglas Gonçalves, informou que a Secretaria já tinha apoiado outros casos de catarinenses, mas na América Latina, e que iria se empenhar no caso. O resultado foi ótimo, pois a articulação conjunta da equipe da Secretaria, dois parlamentares, Luana Karina e seu Grupo na Nova Zelândia conquistou os voos que estão repatriando os brasileiros. A Secretaria de Articulação Internacional inclusive organizou o traslado dos catarinenses a partir de Guarulhos para o retorno às suas cidades em SC. Para isso contou com o apoio do Corpo de Bombeiros Militar que cedeu o microonibus, ou seja, uma articulação importante e solidária.

Momento em que o microonibus do Corpo de Bombeiros Militar de SC saia de Florianópolis na manhã desta sexta-feira para buscar os catarinenses em Guarulhos (SP)

Na manhã desta sexta-feira o Palavra Livre recebeu fotos da saída do microonibus de Florianópolis (SC) para Guarulhos. Recebemos também um vídeo enviado por Luana Karina direto da Nova Zelândia com mensagem carinhosa dos brasileiros já dentro do avião que os trará para o Brasil. Eles gravaram e enviaram a ela, e nós reproduzimos aqui. Infelizmente ainda é preciso que a imprensa traga à público situações como esta que deveriam ser objeto de ação simples, rápida e direta dos agentes públicos responsáveis, porque são suas atribuições, o seu trabalho, mas por vezes parece que todos estão fazendo um favor. Não fazem, são todos servidores públicos e devem seus serviços com excelência à sociedade, inclusive aos brasileiros no exterior.

O Palavra Livre se orgulha de ter apoiado esta causa humanitária. Parabéns à Luana Karina, seus amigos e amigas lá da Nova Zelândia que foram solidários e dedicaram vários dias a ajudar os brasileiros em dificuldades, e a todos que divulgaram, compartilharam e apoiaram a causa. Mas, continuaremos aqui acompanhando o caso que somente começou a ser resolvido, ainda existem muitos brasileiros para serem atendidos, e vamos continuar atentos aos movimentos do Governo Federal, Itamaraty, até que todos estejam de volta.