Perfis:Nivaldo Klein dedicou parte da vida a praticar o ferreomodelismo

Quem não conhece ou já brincou com carrinhos, aviõezinhos, ferroramas, miniaturas que embalavam sonhos na infância? Pois Nivaldo Klein, administrador de empresas aposentado, não só viveu com esses brinquedos, mas foi além: praticou o hobby do ferreomodelismo desde a infância, quando viveu em São Paulo. Lá o menino se apaixonou pelas miniaturas brincando com os amigos da vizinhança. De volta a Joinville, a paixão dura até hoje, guardada em expositores especiais pelas paredes da sua casa no bairro América. Ao todo ele estima ter cerca de 520 peças, uma coleção de tirar o fôlego.

Essa coleção é formada por locomotivas, vagões de carga, trilhos, peças de todos os tipos e tamanhos de acordo com a escala. “Modelismo não é brinquedo, é réplica do original no detalhe, feita no milímetro”, ensina Nivaldo. O ferreomodelismo, ferromodelismo ou modelismo ferroviário é um hobby, que consiste na construção de modelos em escala reduzida, de veículos e estruturas ferroviárias (trens, bondes, automotrizes, cenários etc.). As primeiras miniaturas teriam sido feitas por relojoeiros alemães no século 19.

A única empresa que produz trens elétricos miniatura oficialmente na América do Sul, é a Indústrias Reunidas Frateschi, mais conhecida como Frateschi, localizada em Ribeirão Preto (SP). Entre 1987 e 2003, quando parou de investir na área, Nivaldo participou de exposiçoes nacionais na cidade do interior paulista. “Fazia loucuras. Ia de ônibus, carro, como desse. Levava minhas peças para exposição. Tem até concurso das montagens das réplicas. Meu filho mais novo, o Paulo, construía com tanta perfeição que ganhou três vezes seguidas e virou hour concours”, conta orgulhoso. Klein parou com o hobby para investir na formação dos filhos, Francisco Ricardo e Paulo Henrique, hoje arquitetos.

Diferente dos brinquedos, o ferreomodelismo exige muita pesquisa e conhecimento do tema. A paixão é tão grande na execução que o modelista cria suas mesas – maquetes – construindo o traçado correto, a base dos trilhos, curvas, morros, a movimentação e regulamentação ferroviária, incluindo as estações de parada. Nivaldo tem vários livros sobre ferrovias, verdadeiras pérolas sobre o tema que falam da engenharia, tecnologia empregada, entre outros. “Tem que saber um pouco de cada coisa, ou ir atrás e aprender sobre engenharia, eletrônica, elétrica, paisagismo”, comenta, mostrando vagões e locomotivas de vários tamanhos e modelos. Até uma mesa ele tentou construir, mas a decisão de formar os filhos adiou os planos.

Klein tem muitas histórias sobre essa paixão. Do amigo já falecido, Rolf Wiest, “um grande amigo, apaixonado pelo militarismo (sic) em miniaturas”, conta uma passagem. “Tinha consulta com ele, dentista renomado.
Cheguei ao consultório, vazio, e só escutava um barulhinho baixo, de broca sabe? Como demorava, bati na porta. Ele abriu e disse que estava concentrado lixando uma peça pequena com a broca, e nem me viu chegar!”, lembra sorrindo. A outra é sobre a maior miniferrovia do mundo construída por dois irmãos gêmeos em Hamburgo, Alemanha. “Tem quilômetros de extensão, com movimentação e tudo. Só na sala de controle tem mais de 40 monitores”, afirma.

A estrada de ferro, batizada de Miniatur Wunderland (Terra das Maravilhas em Miniatura), ocupa uma área de 1.150 m², por onde 700 trens com mais de 10.000 vagões percorrem um trajeto em meio a cenários que retratam regiões pitorescas dos Estados Unidos, Suíça, Escandinávia, Alemanha e os Alpes austríacos. Os ambientes percorridos pelas locomotivas são ilustrados por 900 sinais de trânsito, 2,8 mil prédios, quatro mil carros – muitos deles com os faróis acesos – e 160 mil bonecos em miniatura.
Aposentado, mas não parado – ele presta serviços a duas empresas na área de sites – Nivaldo defende o uso das ferrovias no país, e acredita na manutenção do atual traçado em Joinville para uso do VLT (veículo leve sobre trilhos) – “quem vai fazer” pergunta. Tem sonhos de escrever um livro sobre a ferrovia na cidade. De mudança para Campo Alegre, Klein diz que vai deixar a coleção para os filhos, mas avisa que vai voltar ao hobby assim que possível. “Esse é o mundo que você pode dominar, construir, viver o sonho”, finaliza.

* publicado na seção perfil do Jornal Notícias do Dia em maio de 2011