Não bastassem as pesquisas de opinião que chegam ao público, ao longo desta semana, o aeroporto da pequena cidade mineira de Cláudio anexa novas denúncias e suspeitas que chegam às redes sociais e ‘colam’ no candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, novos dados negativos para sua campanha. À construção da infraestrutura aeroportuária não credenciada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) soma-se, agora, a denúncia de inspetores do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de que, em outubro de 2009, uma inspeção de auditores fiscais, com a presença do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal, encontrou 80 cortadores de cana de uma destilaria da região, dos mesmos proprietários da área desapropriada para as obras. Os empregados trabalhavam em regime análogo ao da escravidão.
Por conta dessa fiscalização, a Destilaria Alpha Ltda foi responsabilizada pela situação e inserida no cadastro de empregadores flagrados com mão de obra análoga à de escravo em junho do ano passado – a chamada “lista suja”. Membros da família Tolentino, a mesma da avó materna de Aécio, respondem pela Destilaria Alpha, produtora de álcool e cachaça, e detêm a chave do cadeado que impede o acesso ao público no aeroporto de Claudio. A relação, mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é utilizada por bancos públicos e privados e empresas nacionais e estrangeiras para evitar negócios com empresas inidôneas.
O relatório da fiscalização resultante do resgate dos trabalhadores em Cláudio detalha, com provas documentais e entrevistas, como se dava o processo para burlar a lei e tirar da Destilaria Alpha a responsabilidade trabalhistas pelos cortadores de cana. Segundo o relatório, apesar de todos os pressupostos de relação de emprego se darem com a Destilaria Alpha Ltda e do cultivo de cana-de-açúcar ser uma de suas atividades-fim, a mesma valeu-se de um aliciador de mão de obra, de nome José do Carmo Pereira dos Santos e alcunha Gambá‘ para arregimentar esses trabalhadores em seu município de origem já pelo terceiro ano consecutivo, conforme afirma o relatório com base em depoimentos e análise documental.
Embora conte com a simpatia dos meios de comunicação ligados ao capital internacional, o senador mineiro que concorre à sucessão presidencial não tem conseguido evitar que tais associações negativas ganhem os comentários no dia-a-dia dos brasileiros, reforçada a tese de que há mais denúncias porvir, ao longo dos próximos dias. Segundo o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, estas seriam apenas ‘a ponta do iceberg’. Na próxima quinta-feira, o Instituto Ibope divulgará o levantamento que medirá a opinião do eleitorado após as denúncias de que Neves construiu um aeroporto em fazenda que pertenceu ao seu tio-avô, quando era governador de Minas Gerais, com R$ 14 milhões de recursos públicos. O questionário está nas ruas desde o domingo.
Nas respostas que deu sobre o episódio, Aécio defendeu com veemência a importância da obra para a região mineira e admitiu ter usado a pista, que não tinha homologação da Anac, “inadvertidamente”. Segundo o candidato, ele pousou com uma aeronave da família por “umas três ou quatro vezes”.
– A obra foi corretíssima. O que há, na verdade, é uma grande demora da Anac para fazer essas homologações. E foi de forma inadvertida (o uso da pista), não me preocupei efetivamente em saber se havia ou não homologação da pista. Isso é um erro, eu assumo esse erro – admitiu.
A pesquisa Ibope, encomendada pela Rede Globo, será levada a 2.506 entrevistados em todo o Brasil até quinta-feira 7, data da divulgação pela emissora. Também serão realizadas pelo instituto pesquisas nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Na quarta-feira, o instituto Vox Populi também divulgará pesquisa eleitoral realizada com 1.265 entrevistados.
Muda o assunto
Na tentativa de superar esta que, de longe, é a pior crise que já se abateu sobre a campanha do senador tucano, Neves tentou mudar o foco do assunto, nesta segunda-feira, ao repercutir as denúncias publicadas na revista semanal de ultradireita Veja, sobre possível treinamento de executivos da Petrobras em situação de crise, para falar sobre os investimentos realizados na refinaria de Pasadena (EUA). O candidato classificou a matéria como “absolutamente grave” e disse que seu partido anunciará, na próximas horas, as medidas que irá tomar. A reportagem da revista alega que aqueles dirigentes da estatal de petróleo que compareceram a audiências na CPI sobre o tema recebiam antes perguntas a serem feitas pelos senadores, para não serem pegos de surpresa e já terem respostas prontas.
– É algo absolutamente grave, porque foi, na verdade, montada uma farsa, e nós queremos saber até onde isso foi – disse Aécio a jornalistas, na capital paulista.
A CPI da Petrobras no Senado foi criada com o objetivo, entre outras tarefas, de apurar denúncias de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, quando a presidente Dilma Rousseff (PT), que busca a reeleição, era presidente do Conselho da estatal. Segundo o presidenciável, Aloysio Nunes, seu companheiro de chapa e líder do PSDB no Senado, irá a Brasília para discutir inclusive com os advogados do partido o que será feito.
– O PSDB tomará todas as medidas judiciais cabíveis – disse Aécio.
Emissário de Neves para tratar do assunto, o líder do PSDB na Câmara, deputado Antônio Imbassahy, disse nesta manhã que uma das primeiras medidas a serem adoradas será o pedido de “substituição” do ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, a quem o assessor especial Paulo Argenta é subordinado. Imbassahy reuniu a bancada antes do almoço. Argenta seria um dos responsáveis pela elaboração de parte das perguntas encaminhadas aos representantes da Petrobras, como o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. Imbassahy diz duvidar que (a presidenta) Dilma (Rousseff) desconheça “esse esquema”. Ela reagiu:
– O PSDB faz as representações que quiser. Essa é uma questão que deve ser respondida pelo Congresso.
Dilma participava da inauguração de uma unidade de saúde, em Guarulhos. O ministro Berzoini não havia se pronunciado sobre o assunto, até o fechamento desta reportagem.