Perfil Carlos Roberto Nied – Um protético a serviço dos bombeiros

Paciência, concentração, habilidades manuais, senso estético e muita responsabilidade são algumas das características necessárias para ser um profissional protético dentário. Afinal, cuidar do sorriso não é somente por aparência, mas também para manter a sua saúde bucal em perfeitas condições. Carlos Roberto Nied sabe como poucos trabalhar nos bastidores com eficiência, discrição e no detalhe. Aos 53 anos de idade e 35 de profissão – “desde que comecei a freqüentar um laboratório de amigos”, relata – atuando no apoio aos dentistas, esses sim responsáveis por todos os detalhes da boca, dentes e demais necessidades, ele mantém desde 1985 o seu próprio laboratório no bairro Bom Retiro, onde mora bem próximo ao Morro do Finder.

Nied fala baixo e calmamente enquanto mostra os procedimentos para produzir uma prótese dentária perfeita. “O dentista manda o molde, e a partir daí se faz todo um processo que não pode ter erros. Uma dentadura, como se chama popularmente, se não for bem feita pode causar danos e sintomas desagradáveis”, ensina o veterano profissional. Antes de cair de cabeça na profissão ele passou pelo exército e também pelo estoque da Drogaria Catarinense. Trabalhou por quase 15 anos com os amigos. Uma sugestão de ter seu próprio negócio foi encampada e daí nasceu a Carony – Laboratório de Prótese Dentária que atende cirurgiões-dentistas de toda a cidade e região.

Carlos nasceu no Boa Vista e viu por muitos anos as milhares de bicicletas dos trabalhadores da Tupy cruzarem a frente de sua casa. “A rua era de barro e nossa diversão era acompanhar a passagem deles. Quando chovia aconteciam muitos tombos”, relembra. Casado com Maria Benildes dos Santos Nied há quase 31 anos – que completarão em novembro – Carlos é pai de quatro filhas e espera a chegada do primeiro neto para outubro próximo. A passagem pelo exército o marcou muito, e sua vontade sempre foi voltar a um convívio de apoio às pessoas, de servir à sociedade. Aí surgiu o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville.

Então, a partir de 1998 Nied passou a viver rotinas de treinamento de situações extremas, combate ao fogo, atendimento emergencial e muitos outros. “Aos sábados fazia treinamentos extras”, afirma o protético com uma cadencia ritmada na fala. Dedicado, ele participou de várias ações de combate a incêndios, atendimento de acidentados, inclusive o acidente que resultou na morte de um árbitro de futebol amador, recentemente. “Sempre é triste ver essas tragédias. Mas é preciso ajudar e me realizo fazendo isso, ajudando o próximo”, comenta. Magro, sempre gostou de jogar bola, e também estar e contato com a natureza, o que o levou também a praticar o “rapel”, palavra francesa que foi usada para batizar a atividade de descida por cordas, montanhismo, escaladas e afins.

“A necessidade de adrenalina e contato com a natureza me levou a essa prática que minhas filhas também faziam anos atrás. Desde 2000 eu pratico com amigos e grupos. Já estivemos no Castelo dos Bugres, em montanhas no planalto norte. É muito bom”, confirma Carlos. Com três das filhas já casadas e com a iminente chegada do neto, ele reafirma seu compromisso com o voluntariado nos bombeiros, de onde só quer sair quando chegar a hora de deixar esse mundo. “Faço com prazer em ser útil para a sociedade. Em dinheiro nao ganho nada, mas ganho muito em satisfaçao”, finaliza o protético joinvilense.

Publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) em agosto de 2011.

 

Perfis: Elpídio e Leontina, 69 anos de amor e união

Elpidio Borba era grande violeiro, e sendo assim, tocava por toda parte. Certo dia saiu para o Terno de Reis na localidade de São João do Itaperiú em Barra Velha. A caminhada com o grupo encerrou ao se deparar com uma bela ruiva que lhe encantou. Seu nome? Leontina Gonçalves. Foi amor à primeira vista. O Terno de Reis perdia um músico e um casal apaixonado se formava a partir daquele encontro. “Eu tinha 16 anos, ele 24. Ele ficou amoitado por ali”, conta dona Leontina, 87 anos comemorados no dia da entrevista (22/6) olhando carinhosamente para seu marido Elpidio, prestes a completar 94 anos em setembro.

Dessa união que chega há quase sete décadas, nasceram 15 filhos, dos quais 11 estão vivos: Juca, Irineu, Mario, Maria, Marli, Nair, Naza, Nice, Josué, Elias e Miriam, a caçula do casal com quem eles moram no bairro Santa Catarina. Dessa família gigante Elpidio e Leontina ganharam 33 netos, 12 bisnetos e até uma tataraneta de três meses que nasceu na Espanha, Annabely, de apenas três meses que eles ainda não conhecem. Como fizeram para criar todos os filhos? “Nós se unia bem (sic). No sítio a gente tinha lavoura, criação de gado, fazia farinha, goma para rosca. Vinha gente de longe buscar farinha e a rosca”, fala orgulhosa do trabalho e da forma com que manteve a família ao lado do esposo. “Ele era muito trabalhador. Não parava”, conta.

Elpidio só ouve a conversa. Está debilitado pela idade, a audição anda fraca. Mas ao ver os violinos que as filhas Miriam e Maria apresentam na mesa ele participa. “Fiz um prá cada filho”, fala sorridente. Leontina e as filhas destacam o trabalho artístico do marido e pai. E ele completou: “Um homem derrubou um sombreiro, aí peguei a madeira, que é boa e forte, e fiz. É mais firme”. A saúde que os preserva bem até hoje eles creditam à alimentação no sítio e ao trabalho, duro. Um ajudava o outro. Leontina costurava, fazia goma e ajudava Elpidio a fazer farinha, muito requisitada pelo sabor e cheiro inconfundíveis. A filha Maria lembra que o pai acordava pelas quatro da manha para trabalhar na produção. “O engenho era movido pelos bois. Eu o acompanhava. Gostava. Tenho saudades daquele tempo”, diz.

Maria, que tem 60 anos, afirma que nunca viu o pai e a mãe brigarem em todos esses anos. Questionada, dona Leontina comenta que o diálogo era presente. “Sempre tem uma discussãozinha né, mas não é nada que não tenha jeito”, explica. Religiosos ligados à Assembleia de Deus há 55 anos, e morando em Joinville desde o final da década de 1960, o casal é aposentado. Ele como agricultor, ela como costureira. Não gostam de sair de casa, somente para ir à casa dos filhos. Um álbum mostra várias fotos, entre as quais das festas de 50 e 60 anos de casamento. As filhas avisam que já pensam na festa dos 70 anos em 2012, as bodas de vinho.

Hoje, 27 de julho, o casal completa 69 anos de um enlace cheio de amor em cada história e gestos de um para o outro. Quando Elpidio fez 60 anos, Leontina fez 60 bolos para a festa. “Eles gostavam muito de bolo. Era tanto que enfeitava a parede da casa. E tinha mais uma vara cheia de rosca, e mais beijú, cuscús”, relembra. A receita dessa longevidade e uniao contém muito trabalho, conversa, diversão, alegria, respeito com um toque final que dona Leontina resume em uma frase. “O amor. Só se vive assim, com amor um do outro né”, ensina sob o olhar do velho amado Elpidio. Que venham as bodas de vinho!

* Publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia em julho de 2011

Perfis: Heitor Júnior mantém viva a memória do pai na Ratinho Sports

Esse é um dos perfis que mais me emocionou, não só porque a história é comovente, mas pela amizade que uniu a este jornalista e Heitor em nossa juventude. Rever o amigo, recuperado da tragédia, e poder contar seu renascimento muito me orgulhou. Abraço amigo Heitor, siga em frente sempre com alegria, você merece! E aos leitores, boa leitura e comentários!

“Ele não foi craque como Pelé, Garrincha, Cruyff, Maradona, Ronaldo, mas driblou como ninguém o pior marcador dos campos da vida: a tragédia da perda. É certo que não foi fácil, não é fácil porque esse jogador é persistente, duro e teima em não desgarrar do jogador que, mesmo perseguido, correu para vencer mais uma batalha e continuar no jogo da vida. Esse é Heitor Martinho de Souza Júnior, o Ratinho, ou somente Heitor, Dego para os íntimos, 42 anos, filho do craque Heitor Martinho de Souza, o Ratinho, grande jogador nascido no Itaum e formado no celeiro de craques do Fluminense, clube emblemático do bairro da zona sul de Joinville.

Heitor é comerciante de material esportivo e mantém viva a memória do pai mantendo a tradicional loja Ratinho Sports, onde gerações já compraram chuteiras, camisas de clubes, troféus, medalhas, meiões para seus craques, ou mesmo para bater bola pelos campos e quadras. Há 35 anos o pai Ratinho, quando veio encerrar a brilhante carreira de jogador de futebol como campeão pelo Joinville Esporte Clube, abriu a loja na rua do Príncipe em frente à Caixa Econômica Federal. Heitor já acompanhava o pai. “Fui o mascote do Jec na final, e vi meu pai chorar muito com a vitória”, lembra com os olhos marejados de lágrimas.

O sentimento é justificado. Há dez anos Ratinho pai, a esposa Emídia, a mulher Maria e suas três filhas foram sacados do time por obra de um Gol irregular, e só Heitor ficou jogando por aqui. Obra do destino? Um acidente na estrada que leva à Barra do Sul ceifou a vida de tudo que ele mais amava em um instante. Só ele sobreviveu. “Perdi tudo que tinha, que mais amava. Eles morreram e eu fiquei vivo, mas morto”, revela com amargura. A cidade ficou comovida. Heitor só saiu do hospital após dois meses, sem saber que todos tinham falecido. A loja ficou esse tempo todo fechada. Contas e mais contas vencidas, e mais ninguém para chorar junto ou buscar saídas.

Mesmo triste, Heitor encarou o retorno aos gramados da Ratinho Sports. Passou por um problema, dois tres, varios. A clientela torcia e comparecia. Matando no peito e colcoando a bola no chao, ele venceu e agora está firme jogando na rua Max Colin, 150 sempre com clientes entrando e saindo da loja, ou ligando para o fone que também nao é mudado há 35 anos. Como o pai que jogou no Fluminense do Itaum, Marcílio Dias, Portuguesa de Desportos (SP), São Paulo, Seleção Paulista – esteve também entre os 40 que poderiam ir à Copa de 1970 – e Jec, Heitor também jogou no Joinville, Atlético Mineiro, Ponte Preta, mas deixou o futebol para casar e trabalhar com o pai. Só jogou no futebol amador joinvilense no Caxias, América, 25 de Agosto, Fluminense e Krona, onde parou em 2006.

Entre a atençao a um e outro cliente que chega na loja, Heitor fala sobre o novo momento após o longo filme de terror, que chega a um final feliz. “Estou em uma fase nova, boa. Encontrei uma nova companheira, a Lara, casamos há dois anos, e ela está grávida de tres meses. É uma ressureição”, conta sorridente. Lara é prima do ex-jogador Toto, e trabalha em Jaraguá do Sul. Heitor cuida da sua estamparia e da loja com carinho. “É o nome do meu pai, tenho muito orgulho de ser filho dele, uma pessoa que todo mundo gostava. Aprendi com o que passei que temos de deixar em vida é o caráter, a bondade, simpatia. Nenhum bem material é maior que isso”, destaca. Mais um cliente entra, e lá vai ele, pronto para o jogo. Toca a bola e segue em frente na vida Heitor, a torcida quer mais um golaço!”

* Publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) em junho de 2011.

 

Perfil: Luiz Carlos Sales – Comércio e solidariedade no sangue

Todos os dias da semana a Kombi lotada de refrigerantes e bebidas achocolatadas estaciona no centro de Joinville às sete da manhã, e dali sai somente após atender ao último cliente da região. Há 20 anos essa é a rotina diária do comerciante Luiz Carlos Sales, 54 anos, mais conhecido como Sales pelos bares, restaurantes e mercadinhos da cidade. Sempre bem alinhado, ele e o sobrinho mantém o atendimento no horário marcado, e se atrasam, os clientes já ligam. “Se a gente não chega naquela hora, o telefone já toca”, comenta ele, que na luta pela vida venceu o alcoolismo e tem ação dedicada na Pastoral Antialcoólica de Joinville, que fundou em 1994.

Natural de Garuva, Sales é o mais velho de uma família de dez irmãos. Cansado de passar necessidades, um dia disse ao pai que ia ganhar a vida. “Eu disse a ele: pai eu não quero mais passar fome. Vou atrás de trabalho, nem que seja pela comida”, conta. A família vivia de trabalhos na agricultura, e a alimentação era na base de banana verde cozida, com farinha, e café amargo com polenta, segundo ele. Pensou em ir a Curitiba trabalhar de garçom, mas ao chegar no Posto Bem Bem, encontrou o tio que trabalhava em uma borracharia, e aí o rumo mudou. Convidado, ia negar alegando não conhecer do ramo. “Aí ele me perguntou: sim, mas o que você sabe fazer? Topei e fiquei uns cinco anos por lá”, relembra Sales.

Após esse tempo, trocou Garuva por Joinville para trabalhar na Engepasa, onde ficou apenas seis meses como borracheiro. A convite de amigos que trabalhavam na Batavo conseguiu uma vaga de motorista vendedor sonhada há tempos, e lá permaneceu por 12 anos e meio em duas passagens intercaladas por breve passagem pelo Café Urú. Vendeu iogurte, frios, frango e outros em uma região enorme que ia de São Francisco do Sul, Guaramirim, Jaraguá do Sul até Canoinhas no planalto norte. Bom vendedor, atendeu também Criciúma e região e Lages. Cansado de ficar longe da família, e com o álcool tomando conta da sua vida, ele pediu para ficar com a praça de Joinville, que foi negada. Por isso saiu e trabalhou com café, mas logo retornou à empresa.

A bebida foi sua amiga por 12 anos, e quase acabou com família, trabalho e saúde. “As amizades me levaram a beber, e como já tinha pré-disposiçao ao alcool, fui um pulo para me afundar”, revela. Cachaça e cerveja eram consumidas aos borbotoes. Família era colocada em último plano, e os amigos de bar e jogos ganhavam destaque. “Tinha garrafões em casa, bebia no almoço, e principalmente depois do serviço. Apaguei várias vezes sem saber onde estava, ou como chegava em casa. A Nina (esposa) foi muito forte”, elogia Sales à companheira com quem vive há 33 anos e cuja uniao gerou quatro filhos e cinco netos. Um dia, depois de outra discussão familiar, fez uma promessa de nunca mais beber. “Dia 17 de junho comemoramos meus 20 anos de sobriedade com a Pastoral”, conta feliz.

Ao mesmo tempo Sales iniciava com seu negócio próprio, vendendo chocomilk, laranjinha, em uma kombi marrom, famosa por muitos anos. Hoje vende chocoleite e laranjinha Água da Serra, e mantém depósito em sua casa no bairro Fátima. Simples, religioso e muito família, o comerciante comemora o resultado do trabalho em vendas que amealhou milhares de amizades, e a atividade na Pastoral Antialcoolica, que o realiza. “Atendo a todos igualmente, sem distinguir cargo, idade, classe, e isso ajudou no sucesso dos negócios. Já na Pastoral é maravilhoso ajudar pessoas e famílias que são atingidas pelo álcool. Temos site, vamos construir a nossa sede, e isso me faz bem. Acho que puxei essa veia solidária da minha mae”, afirma o vendedor vencedor.

* publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia de Joinville (SC) em junho de 2011

 

Perfil: Mateus Carlos Moreira, seu Neuzo – O último “picareta” de carros do Século 20

Ele não consegue ficar parado. Acorda por volta de cinco horas da manhã, assoviando, falando com os pássaros que chegam ao quintal da sua casa no Bucarein. Todos os dias é assim na vida de Mateus Carlos Moreira, o seu Neuzo, 86 anos e muita história de vida. Da roça onde morava com a família no Morro Grande em São Francisco do Sul, vendendo lenha, leite, aipim, palmito, e outros produtos, tudo de carroça e de casa em casa, até a afirmação em Joinville vendendo automóveis e comerciando de tudo, a vida de seu Neuzo e família foi uma luta renhida. “Fiz de tudo na vida”, anuncia ao lado da filha mais nova, Marli de 59 anos, e da esposa Ruth, 82 anos e 66 de união que gerou cinco filhas e dois filhos, um morto ao nascer.

Trabalhou no porto, como estivador. “Era tudo trapiche de madeira. Carreguei muita madeira, erva-mate, banha. Tudo no muque (mão)! Virava a noite para ganhar dinheiro”, conta. Daquele tempo lembra com alegria dos amigos, todos já falecidos. “A gente olhava pela boca da escotilha e via as pessoas, mulher trocando de roupa, de tudo”, relembra sorridente. A família passou muita dificuldade quando ele sofreu acidente no trabalho e foi internado em Florianópolis no Hospital de Caridade. Quando voltou tempos depois, vendeu peixe e outras mercadorias, até quando teve a sorte de ganhar na loteria. “Nunca me esqueço do número: 10.910. Com esse dinheirinho fiz a mudança para Joinville. Eles (filhos e mulher) vieram no caminhão, e eu de bicicleta”, relata Neuzo.

Até caixão o homem fez. Certa vez, já cansado de produzir até de madrugada, resolveu pregar uma peça e soltou toda a produçao de caixoes rio abaixo em uma maré alta, assustando os moradores da pacata Sao Francisco do Sul do início do século passado. “Foi uma coisa, morria muita gente de Tifo, e aquilo assustou. Nunca contei que fui eu”, fala às gargalhadas. Por volta de 1950 conheceu o comerciante Jacó Zattar que vendia tecidos na famosa Loja A Vencedora, e também automóveis na avenida Getúlio Vargas. Ali a vida mudou para melhor. Bom comerciante, bom papo, Neuzo vendia muito e sempre viajavam à Curitiba para comprar carros e trazer para revender na cidade. “A gente saia pelas seis da manhã e só chega lá às três da tarde. Era tudo banhado na estrada”, conta.

No final da década de 1950 resolveu vender carros por sua conta. Já existiam as revendas da Chevrolet, Ford e Douat. “Vendi 12 DKW em um dia só. Não tinha carro que chegasse. A gente era conhecido como picareta de carro, depois é que ficou vendedor”, afirma. Seu local de venda ficava na esquina das ruas São Paulo e Coronel Francisco Gomes, bem em frente ao estádio Ernesto Schlemm Sobrinho do Caxias. Neuzo, não contente, também ganhava dinheiro com outras atividades. “Desmanchava casas, vendia as telhas, tijolos. Construí umas dez casas pela cidade, algumas ainda existem. Também tive churrascaria”, relata. Era a Churrascaria Bons Amigos que funcionou até a década de 1970 na rua São Paulo onde hoje funciona o supermercado Compre Forte. Jogadores do Caxias como Jairo, Mickey, Norberto Hoppe comiam no restaurante.

Dona Ruth ajudava muito e assava as carnes até encontrarem um bom assador. Ele vendeu a churrascaria e continuou no ramo de carros até o início de 1980, quando foi ajudar o filho em seu comércio, a já extinta Romafer na avenida Getúlio Vargas, e depois na Maferville, ainda ativa na mesma região. Com avançada idade, a família pediu que ele parasse de trabalhar. “Elas ficavam com medo de eu atravessar as ruas. Aí parei, e agora passo os dias jogando dominó na praça Nereu Ramos, batendo papo com os amigos e cuidando da Ruth”, explica Neuzo mostrando sua propriedade.

Há três anos ele sofreu um AVC, e foi recomendado que fizesse uma atividade que o mantivesse ativo. Por isso o dominó virou seu passatempo. “Disputei o campeonato na praça, ganhei uma mesa. Gosto de ir lá, aprendi a jogar no porto. Sei até quando puxam a pedra, qual jogo eles tem na mão”, finaliza o octogenário sobrevivente dos tempos românticos da maior cidade catarinense.

* publicado na seção Perfil do jornal Notícias do Dia de Joinville em junho 2011

Dona Isolde completa 73 anos com a vida renovada – Parabéns!

Neste dia 6 de junho dona Isolde da Costa, nascida Bäher, completa 73 anos de uma vida bem vivida. Dura, é verdade, cheia de percalços, surpresas, abdicação, voluntariado, superação e tantas outras coisitas mais. Recentemente uma parte da sua vida foi retratada na seção Perfil do jornal Notícias do Dia de Joinville, pelo jornalista e mago das letras, Roberto Szabunia.

Mãe de criação de quatro filhos – Ernani, Elézio (in memoriam), Eliete e Evelyn – do escriturário Zeny Pereira da Costa, e mãe natural deste jornalista que lhes escreve e também de Zeny Pereira da Costa Júnior, já falecido infelizmente, fruto do casamento com Zeny que durou 23 anos, Isolde largou tudo para se dedicar ao seu amor, aos filhos do seu amor, e depois aos seus filhos.

Ajudou a todos os filhos que adotou para serem algo na vida. Seus anos mais viçosos foram inteiramente entregues ao marido e no encaminhamento dos filhos. Nunca reclamou, nem mesmo quando o marido resolveu vender a casa de alvenaria que tanto tinha sonhado, para pagar dívidas e depois retomar a vida de trabalho com um bar na rua Santa Catarina. Trabalho duro fazendo sorvete, fritando bolinhos, limpando o bar na madrugada.

Zeny então adoeceu e veio a morrer de câncer em 1989, a deixando com uma pequena casa de madeira na rua Ibirapuera, 608 com seus dois filhos, Salvador e Zeny Jr. Pensionista, passou a empreender serviço voluntário no CERJ, apoiando a juventude em busca de trabalho e formação, e com isso lutar para colocar seu filho Zeny, que tinha deficiência intelectual, na vida! Em 2005 perdeu Zeny Jr, e sua vida começou a murchar.

Pouco a pouco foi se entregando, sem notar, ao mal da pressão alta, da falência gradual dos rins, sofrendo um AVC hemorrágico em 2007, do qual se salvou porque é forte e queria finalizar aqui a sua tarefa. Hoje, passados quatro anos do derrame do qual ninguém esperava que sobrevivesse, aí está Isolde, forte, bonita, chegando aos 73 anos contando histórias e recebendo o carinho de sua família, familiares, amigos de verdade, da nora Gi Rabello, da neta Rayssa e do filho que escreve essas linhas.

Seus netos Gabriel, Lucas e João Pedro hoje andam distantes, mas certamente não esquecem o carinho e amor que receberam, mesmo quando o foi de forma tímida devido a tantas incompreensões. Parabéns dona Isolde da Costa, que sua saúde se multiplique para continuar a viver agora sim, os bons tempos da vida. Sem pressões, sem trabalho duro, sem abrir mão das suas convicções.

Que Deus a ilumine sempre, com muita saúde e paz, para nos dar a cada dia o exemplo de dedicação, solidariedade e amor ao próximo que marca o livro da sua vida. Beijos enormes meus, da Gi, Rayssa e de tantos os que a conhecem. Parabéns!

Perfis: Valdir Moreira, o Betara – Futebol amador e sindicalismo no sangue

O sonho dele era ser jogador de futebol profissional, mas o destino o levou ao trabalho como torneiro mecânico e, finalmente, o sindicalismo. Valdir Moreira, 63 anos, é desconhecido para a grande maioria, mas o Betara, apelido e nome de guerra desde a infância – “é nome de peixe, mas nem meu pai sabia por que o chamavam assim também” -, é figura carimbada nas portas das fábricas entregando jornais, discursando em cima de caminhões de som, ou simplesmente conversando com trabalhadores e trabalhadores nas madrugadas, dividindo o café das garrafas térmicas com seus companheiros de luta.

Caxiense de coração – “coisa de família, desde pequeno” – pois nasceu na avenida Getúlio Vargas, ao lado do antigo campo do São Luiz (hoje existe o Elias Moreira no terreno), também tem paixão pelo Flamengo do Rio. Com dois anos Betara foi para a avenida Cuba, lendária região do Bucarein que foi celeiro de grandes craques do futebol joinvilense como Piava, Correca, Orlando, Tete, Giga, Helio Sestrem, Canã, Paca, Vieira e tantos outros, segundo elenca o ex-jogador de futebol amador, hoje avô de cinco netos, pai de quatro filhos com a esposa Erna, uma união que já dura quase quatro décadas.

O guerreiro atarracado, cabelos brancos e andar rápido com a inseparável pochete, lembra com saudades daqueles tempos. “Me criei jogando bola no campo do Santos, do Estrela. Vivia na casa de dona Amélia e seu Alemão, pais do Giga, Tite e Orlando, pessoas que reverencio e tenho saudades”, fala Betara. A família Moreira tem estreita ligaçao com o futebol. Jurandir Moreira, grande centroavante que jogou na Tigre, é seu primo. Betara buscou seu sonho no futebol. Jogou no Santos da avenida, Fluminense do Itaum, Juventus do Iririú, Tigre, Baependi de Jaraguá do Sul e Caxias, onde foi campeão do torneio Vera Fischer. “Jogava bem, mas não tinha cabeça. Larguei tudo e fui trabalhar como torneiro mecânico”, conta. Bola, só nas peladas das empresas e em veteranos.

Se o futebol perdeu um craque – “a turma dizia que eu jogava bem” – o sindicalismo ganhou uma liderança forte. Betara começou a trabalhar na Oficina do Jaci, foi para São Paulo trabalhar na oficina do primo. Voltou e serviu o exército, período em que jogou no extinto Guarani. Fundemaq, Kawo, Embraco, Granalha de Aço e Wetzel Tecnomecanica foram outros empregos até se aposentar, aí já alinhado ao Sindicato dos Mecânicos. “Sempre fui contestador. Uma vez demitiram colegas injustamente. Fizemos greve, e eles foram reintegrados. O Dentinho e o João Batista me colocaram na diretoria, e estou até hoje na luta”, afirma Betara.

Ele foi pegando gosto pela atividade. Em defesa dos direitos dos trabalhadores participou de várias greves, paralisações. Foi até da executiva da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre 1995 e 98, morando em Florianópolis. “Viajei o país inteiro, fazendo política sindical. Conheci o Lula nos eventos nacionais da categoria, tenho orgulho dessa trajetória”, comenta feliz. A morte do pai, e o roubo de todos os pertences da sua casa, no Costa e Silva, o fizeram voltar para Joinville. Combativo, não poupa nem colegas quando entende que há o que discutir em favor dos trabalhadores. “Eles me respeitam”, explica, agradecendo especialmente ao atual presidente João Bruggmann, que o trouxe de volta para a direção.

Após quase 20 anos no sindicalismo, ele busca filiados para o Sindicato todos os dias. Conta que há filiados em 400 das 700 empresas da categoria. Cheio de fotos da sua história, Betara diz lamentar que os campos de futebol do São Luiz, do Santos e outros tenham sumido. “Neles é que se criavam os craques, é uma tristeza, uma decepção”. Sobre a data de parada, ele prefere não comentar, mostrando apreensão. “Estar aqui é um orgulho, uma emoção muito grande, eu amo isso aqui. Marcou minha vida”, conta emocionado, para encerrar dizendo que não tem nada melhor que conversar com os trabalhadores no dia a dia e ajudar. “Sindicalismo e futebol é assim, depois que se conhece e participa, é difícil de largar”.

* publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia Joinville – Maio de 2011

Perfis: “De mecânica a família Voss entende há 38 anos”

O comércio e mercearia perderam um atendente de balcão que prometia espantar a clientela, mas a mecânica ganhou um profissional que virou marca registrada para motoristas que buscam solução para a mecânica de seus carros. Seu Nelson Voss, hoje com 73 anos e com inevitáveis problemas nas articulações – está convalescendo de cirurgia no joelho esquerdo – fruto de uma carreira mecânica que começou em 1952, hoje só acompanha de longe o vai e vem de mecânicos na quase quarentona Oficina Mecânica Voss localizada no bairro Floresta, na rua João Pinheiro, 95.

Ele lembra que seu pai tinha comprado uma “fubica (carro) velha”, e percebendo que o filho não levava jeito para o balcão, decidiu indicá-lo para trabalhar na já extinta oficina de Alfredo Comitti, que ficava na rua Santa Catarina próximo à Praça Getúlio Vargas. “Comecei como aprendiz, um ano após o centenário de Joinville. Eu tinha 14 anos. Fiquei lá oito anos”, conta Nelson, sentado na sala de visitas de sua casa, onde também é a sede da oficina. Junto dele sua companheira há mais de 50 anos, dona Nailda, que também botou a mão na graxa no início do empreendimento.

Dedicado, o jovem Nelson trabalhou também na Companhia Hoepfner Agrícola e Comercial, empresa que representou a Volkswagen, Mercedes Benz, Bosch em Santa Catarina lá pelos idos de 1960 em Joinville. Dali foi para a Douat Veículos, que representava a DKW, mas logo a Volks comprou toda a operação no Brasil. Aí começou a fama de Nelson Voss como mecânico especialista em Volkswagen. “Aprendi muito nesses anos, e me especializei. Por 20 anos fui empregado, até que em 1973 resolvi abrir minha oficina na garagem da nossa casa de madeira, no mesmo lugar de hoje”, descreve.

Foram tempos difíceis. Como o piso era de chão batido, “na terra mesmo”, diz ele, o macaco afundava quando tentava erguer o carro. “Aí arrumei uma madeira grande, larga, que a cada conserto eu usava como suporte, dava trabalho”, relata. O filho Dário, então com 13 anos, iniciou no ofício junto com o pai, e hoje comanda a oficina e os quatro mecânicos. A filha mais nova, Denise, controla o financeiro e administrativo, e agenda os clientes. Dorian cuida da loja de peças que fica anexa ao prédio que é residência e oficina. “É bom, todos fazem muito bem a sua parte”, conta feliz o veterano mecânico.

Para Nelson, hoje é muito mais fácil trabalhar na mecânica de automóveis. “Está tudo computadorizado, tem direção elétrica, tem elevadores, o que facilita o trabalho do mecânico. No meu tempo tinha de deitar embaixo dos carros, e toda sujeira caía na gente. Era trabalho duro”, explica. Ele conta uma passagem engraçada: “Um verdureiro do Boa Vista tinha duas Kombis. Uma delas fundiu o motor lá por Itajuba na BR 101. Fui socorrer – não tinha guinchos como hoje – e levei toda a família junto. Ele foi com uma camionete levando o motor da outra Kombi. Trocamos o motor, ele voltou para Joinville, e nós fomos para a praia, era domingo”, conta entre risadas.

Hoje a mecânica Voss vive lotada, e só não abre aos sábados. Nelson conta que antigamente as pessoas deixavam seus carros por uma semana, hoje querem no mesmo dia. “A correria é grande, e os mecânicos tem de ser rápidos e bons. Hoje falta mão de obra, tem de gostar do que faz”, ensina. Perguntado se pensa em voltar quando recuperar da cirurgia no joelho, ele diz que seu tempo já passou, mas a mulher Nailda comenta: “Se ele tiver bom, bom, vai voltar lá sim, rodear”, diz sorrindo para o marido. “Ela é que fez essa casa acontecer. Tudo que dava eu colocava só na oficina. Aí ela reclamou, tive de fazer a casa”, elogia sorrindo. Com tanta admiração assim, essa história promete durar muito tempo ainda.

* publicado no jornal Notícias do Dia em Joinville no mês de abril/2011

Perfis: Miriam Hoffmann Soares – “Meu negócio é vender”

Você deve conhecer vários vendedores nos comércios por ai. Mas uma vendedora que atende a 33 anos no mesmo lugar, você só encontra no bairro Floresta, na rua Santa Catarina, 992. Miriam Hoffmann Soares começou a trabalhar por volta de 1974 na antiga malharia Nylonsul como auxiliar de costura, mas o ambiente pesado à fez sair logo, logo. “Já pensou, eu levei uma advertência por que me viram rindo”, conta ela abrindo um sorriso. Desde 1978 ela trabalha no mesmo local, hoje na loja Salfer da rua Santa Catarina, bairro Floresta.

Após uma passagem pela loja da futura sogra, a Casa das Noivas que ficava em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus na rua São Paulo, onde ela “lavava, guardava, passava vestidos, e sempre oferecia algo a mais para as clientes”, Miriam partiu definitivamente para o comércio por insistência de sua mãe, dona Margarida. “Ela dizia que o emprego na lojas May era bom, porque as pessoas passavam com cobertores e muitas coisas. Graças a ela acabei sendo contratada como reforço no final de 1978”, explica.

De jeito alegre, e esbanjando simpatia, Miriam foi efetivada e passou a se destacar. Quando a Lojas May fechou em 1986, ela só mudou de loja, mas ficou no mesmo endereço. “Nesse emprego eu aprendi muito, e consegui passar da era do papel para a do computador. Mas não gosto de papel, nem do computador. Meu negócio é vender”, relata Miriam, que dali saiu para entrar no emprego em que está até hoje.

Das mudanças no mundo do trabalho que ela vivenciou ao longo dessas três décadas de trabalho, ela recorda que quem tinha uma calculadora comum como essas de hoje era rico. “Depois veio o computador, que hoje também é acessível. Alias, hoje tudo é mais fácil. Tive a cabeça aberta para receber o novo, e ainda estou por ai”, diz. Miriam já atende a terceira geração de clientes. “Hoje vem àqueles pequenininhos e já me chamam pelo nome”, fala com alegria.

Essa longevidade na profissão, aliada ao tempo recorde de permanência no mesmo local, há faz uma personagem conhecidíssima no bairro Floresta e até de outros bairros. “Quando saio na rua é só oi prá lá, oi prá cá, é uma festa!”, relata feliz do contato com as pessoas. Com tanta experiência e atendimentos, Miriam não se lembra de muitas histórias, mas conta duas para exemplificar a importância do atendimento.

“Uma vez vendi três bicicletas para um senhor, era 24 de dezembro, e tínhamos mandado para a revisão. Duas voltaram, mas a principal que era a da menina e ninguém achava. Imagina a pressão. Aí eu fui atrás e descobri onde estava, e o Natal foi salvo”, conta. Em outra ocasião um cliente pediu pneu de fusca, e ela entendeu que ele queria um espremedor de frutas. “Tirando a gafe, a cena acabou virando uma venda e tanto”, ri Miriam.

Já aposentada e ainda na ativa, ela diz não estar preparada para parar. “Vou sentir muita falta do convívio com o povo. Tenho medo da depressão até”, comenta. Sobre o exemplo que pode deixar para os profissionais, ela diz que é preciso gostar do que faz e gostar dos clientes. “Não importa classe social, cor, religião, idade, ou se é pouca venda, tem de atender com atenção e carinho. Depois do susto ao saber da minha fama, os novatos logo viram amigos”, afirma. Pela vontade e garra, ela promete quebrar muitos recordes de venda e de permanência no mesmo local.

* publicado na seção Perfil do Jornal Notícias do Dia em abril de 2011.

Perfis no Notícias do Dia – Renaldo Blank, o Nalo do 25 de Agosto

Não sei se já contei aos leitores, mas estou agora escrevendo perfis para o jornal joinvilense Notícias do Dia, algo que muito me satisfaz e orgulha. Desde sempre agradeço a oportunidade, e após a publicação impressa, divulgarei aqui no blog todos que produzir. O primeiro coloco hoje, do senhor Nalo, uma das lendas do futebol amador joinvilense, leiam:

“A bola está com ela há 50 anos”.

“Ele é uma lenda viva do futebol amador joinvilense. Baixo, de boné na cabeça, calção, meia e chuteiras, e envergando a camisa do Grêmio 25 de Agosto, Renaldo Blank, ou o Nalo, como é conhecido, está no campo na rua Iguaçu comandando a garotada da escolinha de futebol. O intermediário da entrevista, seu admirador e também treinador de futebol do clube, Jean, segue até ele onde sempre gosta de estar: no gramado orientando seus atletas. Preocupado com o andamento do treino, ele hesita em sair para conversar. Após posar para a foto da reportagem, avisa: “Já tenho tudo anotado”.

Sentado em uma mesa do tradicional clube da zona norte, Nalo mostra sua história anotada em folhas de agenda. Meio arredio, começa a ler seus feitos como jogador e como técnico de adultos e crianças. “Sou vidraceiro. Trabalhei na Pieper por 30 anos, hoje sou autônomo, e aposentado”, solta a voz. Aos 66 anos, esse homem simples que ainda é encontrado jogando futebol nos sábados à tarde com o grupo Quarentões, no 25 de Agosto, tem uma história de fazer inveja a muitos que atuam no futebol amador. Desde 1959 ele corre atrás da bola, e a bola atrás dele.

Como jogador Nalo iniciou no Arsenal Futebol Clube. Passou também pelo juvenil do Caxias – até hoje seu clube de coração – onde jogou com o ex-goleiro da seleção brasileira, Jairo, e também com Adilson Steuernagel, grande ponta direita do clube da zona sul. Jogou também pelo 25 de agosto, novamente o Arsenal, Tupy, Sercos e veteranos do América. “No Caxias ganhamos o torneio Vera Fischer em 1971. O time era Julinho, Luizinho, Coruca, Nalo, Chiquinho Simas, Nenê, Host, Chico Preto, Peracio, Águia e Emilio”, lembra com orgulho.

Campeonatos também não faltam para Nalo como técnico. Arsenal, Aviação, 25 de Agosto, Pirabeiraba, Estrada da Ilha, Cruzeiro da Estrada do Sul, Unidos do Beco, Serrana e America estão na lista dos clubes dirigidos por ele. Para ele, 1985 marca o inicio de uma das fases mais lindas da sua carreira. “O repórter Ricardo Passos me indicou ao América, que montava sua volta ao futebol após a fusão com o Caxias para criar o Jec. Conheci e trabalhei com o mestre Euclides dos Reis e chegamos a ser campeões da 1ª divisão em 1989”, conta feliz. Nalo treinava adultos e já comandava os garotos mirins e infanto juvenis, revelando vários atletas para o futebol profissional.

Nesse período de atleta e treinador, Nalo só foi expulso uma vez como jogador em 1965, e uma vez citado na súmula, e foi depois absolvido. No América comandou 400 crianças na escolinha até o início da década de 1990 quando o clube desativou o setor. Ele lembra que começou lá como “bico”, para poder trabalhar por conta. “Eu disse ao Ademir Carioca, dirigente da época, que se ele tivesse um bico pra mim no clube eu saia do emprego. Ele disse sim, e eu deixei a empresa com 30 anos de serviço. Pedi a conta cara!”, explica ele.

Hoje Nalo comanda as escolinhas do 25 de Agosto nas categorias sub-14 e sub-15, e se realiza ao ver os atletas crescerem e se transformar em cidadãos. “Prefiro trabalhar assim, onde posso lançar jogadores, alguns até já ganham algum dinheiro no Caxias, Atlético Paranaense, mas também ajudar os pais na orientação dos filhos. Muitos já melhoraram bastante na escola só vindo aqui jogar bola. Converso muito e acho que já deu certo com vários”, conta o veterano treinador”.