Poesia – Solitude”

Do primeiro passo, lembrei
Na queda que sobreveio, chorei
Pois, depois, aprendi o equilíbrio
Descobri pra quê, o livre arbítrio

Por entre trilhas, chão batido, asfalto
Lapidei meu espírito livre, e alado
Às sombras, nevoeiros, ventanias
Bebi coragem e mordi sabedorias

Não busquei louros, ouros ou tesouro
A simplicidade me fascina, nascedouro
Daquilo que sonhei e senti, biografia
Porque o caminho, amigo, logo estreita

A jornada há de ser sempre bravura
Não existe espaço, tempo, parada
A vida é confusa, matreira, multidão
Onde o que nos faz fortes, é a solidão

* Por SN, Portugal, julho de 2024

#poema #poesiadodia #literatura #vida #solidão #escritos

Uma poesia – “Escutas”

Ouvir coisas que não fazem sentido, faz sentido, porque é melhor que não ter ouvido

Escutar coisas que não fazem sentido, não faz sentido, porque escutar é mais que ouvir, é fazer ao outro, sentido.

* Por SN, Portugal, 23maio2024

#poesiadodia #poesia #poemas #literatura #portugal #ler #escrever

Poesia de Segunda – “Esqueço”

Esqueço, porque preciso esquecer
Para viver

Não há razões que nos façam
Âncoras

Esqueço, porque lembrar faz
Tempestades

Há espelhos para enxergar
O que senti

Esqueço, mas lembro de
Ser bom

Viajo por memórias infalíveis
Vivo a voar

Esqueço, esqueci, esquecerei
Para viver.

* por Salvador Neto, Portugal, 18mar2024

English

Forget

I forget because I need to forget
To live

There are no reasons that make us
Anchors

I forget because remembering creates
Storms

There are mirrors to see
What I felt

I forget, but I remember
Being good

I travel through infallible memories
Living while flying

I forget, I forgot, I will forget
To live.

  • by Salvador Neto, Portugal, March 18, 2024

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Spanish

Olvido

Olvido porque necesito olvidar
Para vivir

No hay razones que nos hagan
Anclas

Olvido porque recordar crea
Tormentas

Hay espejos para ver
Lo que sentí

Olvido, pero recuerdo
Ser bueno

Viajo a través de memorias infalibles
Viviendo mientras vuelo

Olvido, olvidé, olvidaré
Para vivir.

  • por Salvador Neto, Portugal, 18 de marzo de 2024

#poesía #poemas #literatura #olvidar #Portugal #literaturaportuguesa

French

Oublier

J’oublie parce que j’ai besoin d’oublier
Pour vivre

Il n’y a pas de raisons qui nous fassent
Ancres

J’oublie parce que se souvenir crée
Des tempêtes

Il y a des miroirs pour voir
Ce que j’ai ressenti

J’oublie, mais je me souviens
D’être bon

Je voyage à travers des souvenirs infaillibles
Vivant en volant

J’oublie, j’ai oublié, j’oublierai
Pour vivre.

  • par Salvador Neto, Portugal, 18 mars 2024

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Poesia de Segunda – “Escombros”

Em meio à escuridão que me invade a alma,
Eu sinto a desilusão fluir em cada veia,
Os sonhos outrora vivos, agora são carmas,
E a desesperança se instala feito uma teia.

As promessas vazias, como vento passageiro,
Desvaneceram-se no ar, num sopro sem rumo,
Decepção é o amargo sabor, verdade cruel,
Que atravessa o coração, deixando-o em jejum.

Nos olhos que outrora brilhavam esperanças,
Agora restam mágoas, lágrimas e tristeza,
A vida que parecia um trilho de bonanças,
Transformou-se numa estrada repleta de incertezas.

A desilusão é um vento que sopra sem piedade,
Levando embora a alegria e a fé em cada passo,
E o desespero é o abismo que me invade, com voracidade,
Engolindo os sonhos, deixando só o fracasso.

Mas apesar da tormenta que em meu peito há,
Ergo-me diante do desânimo que me consome,
Pois a vida é feita de momentos bons e maus,
E a esperança há de brotar novamente, mesmo que demore.

A desilusão e a desesperança são escolhos,
Que enrijecem os corações em profunda dor,
Mas acreditar na superação, no renascer dos escolhos,
É o primeiro passo para abrir as portas do amor.

Então, mergulho na incerteza, mas com resiliência,
Enfrento os tempos sombrios com bravura e coragem,
Pois sei que a desilusão é apenas uma aparência,
E que a desesperança se dissolve em sua própria miragem.

Ainda que as feridas persistam e doam com ardor,
Sigo adiante na busca de um novo horizonte,
Deixando para trás o peso de cada desilusão e desamor,
Confiantemente, reconstruo-me em cada recomeço.

  • por Salvador Neto, 20nov2023

Poesia de Terça – Sonho de Paz

No azul do céu, brilha o sol a me guiar
No canto dos pássaros, ouço a lua a cantar
E nesse universo de luz e esplendor
Vou te cantar uma história de amor

No brilho dos olhos, o pensamento voa
Num abraço apertado, a paz se entrelaça à nossa pele
E nesse encontro de almas em sintonia
Vamos construir uma eterna sinfonia

Com o coração ardendo de esperança
Vamos colorir o mundo com nossa confiança
E no ritmo dessa melodia celestial
Vamos espalhar o amor em cada portal

Sol, lua, amor e pensamento
Paz, esperança, o nosso juramento
Que essas palavras possam ecoar
E transformar nosso mundo em um lugar melhor de habitar

Que o sol nos aqueça e nos faça sorrir
Que a lua nos guie, nos faça refletir
Que o amor nos envolva e nos faça sonhar
Que o pensamento nos inspire a criar

Que a paz nos inunde, nos traga harmonia
Que a esperança nos fortaleça em cada dia
E que juntos possamos, enfim, alcançar
Um mundo onde o amor eternamente irá reinar.

* por Salvador Neto, Portugal, 3nov2023

Lá se foram as trevas

Há quatro anos que não se respirava mais
Era proibido ver a verdade, falar a verdade
Tudo era escuro, nem o vento cantarolava
A quem pensava, era lhe apontada uma arma

Mas, eis que ventos novos esperançosos sopraram
Porque era muito sufoco até para quem viaja como eles
Agarraram as trevas frias, dissiparam o desamor
Varreram o ódio para a primeira fenda existente

E já se respiram novos ares, se veem luzes e azuis
E se levantaram cartazes, musical se fez o dia, e noite
Porque é de alegria que se vive, e de amor, e esperanças
Agora já se veem horizontes e sóis brilhantes, respiramos.

Por Salvador Neto em 31 de outubro de 2022, a volta da democracia no Brasil, Lula Presidente eleito.

Comece o dia com poesia

“Eu sei, mas não devia” de Marina Colasanti.

“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.

E brindamos aos leitores com a declamação da poesia por Antônio Abujamra no Provocações da TV Cultura, uma relíquia. Sinta!

Conhece Pablo Neruda?

O poeta Pablo Neruda (Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto) nasceu em 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile. Mais tarde, em 1917, publicou seu primeiro texto, o artigo “Entusiasmo e perseverança”, no jornal La Mañana. A partir de então, passou a publicar poesias em periódicos.

O autor, que morreu em 23 de setembro de 1973, em Santiago do Chile, foi senador e diplomata, mas é mundialmente conhecido por suas poesias de temática amorosa, além de seus poemas de cunho político. Assim, seus dois livros mais famosos são Vinte poemas de amor e uma canção desesperada e Canto Geral.

No ano seguinte, publicou o poema “Meus olhos” na revista Corre-Vuela, de Santiago. Era o início de sua carreira como poeta. Assim, em 1919, seu poema “Noturno ideal” alcançou o terceiro lugar nos Jogos Florais de Maule. Só em 1920 que o autor passou a utilizar o pseudônimo de Pablo Neruda, pelo qual seria mundialmente conhecido.

Em 1921, vivendo em Santiago, começou a estudar francês no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Dois anos depois, publicou seu primeiro livro de poesias — Crepusculário —, além de escrever para as revistas Dionysios e Claridad. Em 1924, publicou seu famoso livro, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada.

A carreira diplomática teve início em 1927. Em sua viagem até a Birmânia, passou pelos seguintes países: Argentina, Portugal, Espanha e França. Começou a escrever crônicas para o jornal chileno La Nación. Três anos depois, casou-se com María Antonieta Hagenaar Vogelzang, relacionamento que teve fim em 1936.

O escritor foi eleito senador no Chile em 1945. Nesse mesmo ano, ganhou o Prêmio Nacional de Literatura, ingressou no Partido Comunista e viajou ao Brasil. Em São Paulo, esteve presente em uma homenagem a Luís Carlos Prestes (1898-1990), e, no Rio de Janeiro, foi recebido na Academia Brasileira de Letras.

Já em 1946, foi condecorado com a Ordem da Águia Asteca, no México. Contudo, em 1948, sua prisão foi decretada no Chile, por questões políticas. Permaneceu na clandestinidade até o ano seguinte, quando conseguiu sair do país, ao qual só voltou em 1952, após receber o Prêmio Internacional da Paz, em 1950.

O poeta se separou de sua segunda companheira, Delia de Carril, em 1955, e passou a viver com Matilde Urrutia (1912-1985), principal inspiração para o seu livro Cem sonetos de amor. Dez anos depois, recebeu, da Universidade de Oxford, o título de doutor honoris causa, e, em 1971, o Prêmio Nobel de Literatura. Faleceu dois anos depois, em 23 de setembro de 1973, em Santiago, no Chile.

Pablo Neruda é um autor da geração de 1920 da literatura chilena. Suas obras são marcadas por um tom melancólico e saudosista. É perceptível, também, o erotismo associado à temática amorosa. No entanto, o poeta não empreende a fuga da realidade. Além de trabalhar com elementos do cotidiano, faz crítica sociopolítica e enaltece a cultura latino-americana.

Principais obras de Neruda

  • Crepusculário (1923)
  • Vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924)
  • Tentativa do homem infinito (1926)
  • O habitante e sua esperança (1926)
  • Residência na terra (1933)
  • Espanha no coração: hino às glórias do povo na guerra (1937)
  • Terceira residência (1947)
  • Canto geral (1950)
  • Os versos do capitão (1952)
  • Todo o amor (1953)
  • Odes elementais (1954)
  • As uvas e o vento (1954)
  • Novas odes elementais (1955)
  • Terceiro livro das odes (1957)
  • Estravagário (1958)
  • Cem sonetos de amor (1959)
  • Navegações e regressos (1959)
  • As pedras do Chile (1960)
  • Cantos cerimoniais (1961)
  • Memorial de ilha Negra (1964)
  • Arte de pássaros (1966)
  • Fulgor e morte de Joaquín Murieta (1967)
  • A barcarola (1967)
  • As mãos do dia (1968)
  • Fim de mundo (1969)
  • Maremoto (1970)
  • A espada acesa (1970)
  • Discurso de Estocolmo (1972)
  • Incitação ao nixonicídio e louvor da revolução chilena (1973)
  • Livro das perguntas (1974)
  • Jardim de inverno (1974)
  • Confesso que vivi (1974)
  • Para nascer, nasci (1977)

Para finalizar o post, segue uma poesia do grande Neruda, Soneto LXVI:

Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Quero-te apenas porque a ti eu quero,
a ti odeio sem fim e, odiando-te, te suplico,
e a medida do meu amor viajante
é não ver-te e amar-te como um cego.

Consumirá talvez a luz de Janeiro,
o seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.

Nesta história apenas eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.