O valor do conjunto de bens alimentícios básicos diminuiu em 15 das 18 cidades onde o DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – realiza a Pesquisa da Cesta Básica de Alimentos. Em junho, as maiores retrações foram apuradas em Salvador (-8,05%), Rio de Janeiro (-6,71%) e Fortaleza (-5,49%). As altas foram registradas nas capitais do Norte: Belém (5,11%) e Manaus (2,49%) e ainda, em João Pessoa (1,87%).
Em junho, o maior custo da cesta foi registrado em São Paulo (R$ 392,77), seguido de Florianópolis (R$ 386,10), Porto Alegre (R$ 384,13) e Rio de Janeiro (R$ 368,71). Os menores valores médios para os produtos básicos foram observados em Aracaju (R$ 275,42), Natal (R$ 302,76) e João Pessoa (R$ 309,48).
Com base no total apurado para a cesta mais cara, a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família, com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário.
Em junho de 2015, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 3.299,66, ou 4,19 vezes mais do que o mínimo de R$ 788,00. Em maio desse ano, o mínimo necessário era maior e correspondeu a R$ 3.377,62, o que equivalia a 4,29 vezes o piso vigente. Em junho de 2014, o valor necessário para atender às despesas de uma família chegava a
R$ 2.979,25 ou 4,11 vezes o salário mínimo então em vigor (R$ 724,00).
TABELA 1
Pesquisa Nacional da Cesta Básica
Custo e variação da cesta básica em 18 capitais
Brasil – junho de 2015
Capital |
Valor da Cesta (R$)
|
Variação Mensal (%)
|
Porcentagem do Salário Mínimo Líquido
|
Tempo de trabalho
|
Variação no ano (%)
|
Variação Anual (%)
|
São Paulo |
392,77
|
-2,31
|
54,18
|
109h39m
|
10,89
|
10,75
|
Florianópolis |
386,10
|
-2,08
|
53,26
|
107h48m
|
9,35
|
9,14
|
Porto Alegre |
384,13
|
-0,11
|
52,99
|
107h15m
|
10,20
|
9,33
|
Rio de Janeiro |
368,71
|
-6,71
|
50,86
|
102h56m
|
9,08
|
7,36
|
Vitória |
367,94
|
-5,15
|
50,75
|
102h43m
|
10,44
|
6,35
|
Curitiba |
359,69
|
-1,40
|
49,62
|
100h25m
|
13,88
|
8,24
|
Brasília |
359,61
|
-2,87
|
49,60
|
100h24m
|
9,09
|
10,97
|
Belém |
356,24
|
5,11
|
49,14
|
99h27m
|
15,80
|
11,86
|
Manaus |
352,35
|
2,49
|
48,60
|
98h22m
|
9,87
|
6,08
|
Campo Grande |
349,80
|
-3,99
|
48,25
|
97h40m
|
13,45
|
13,17
|
Belo Horizonte |
338,76
|
-4,82
|
46,73
|
94h35m
|
7,18
|
5,92
|
Goiânia |
329,65
|
-5,01
|
45,47
|
92h02m
|
9,44
|
11,70
|
Fortaleza |
325,40
|
-5,49
|
44,89
|
90h51m
|
16,05
|
9,19
|
Salvador |
320,03
|
-8,05
|
44,14
|
89h21m
|
19,49
|
14,72
|
Recife |
318,53
|
-3,83
|
43,94
|
88h56m
|
11,22
|
3,61
|
João Pessoa |
309,48
|
1,87
|
42,69
|
86h24m
|
13,77
|
9,86
|
Natal |
302,76
|
-3,09
|
41,76
|
84h32m
|
12,67
|
3,51
|
Aracaju |
275,42
|
-0,63
|
37,99
|
76h54m
|
12,10
|
11,22
|
Fonte: DIEESE
Variações acumuladas
Em 12 meses, entre julho de 2014 e junho último, as 18 cidades acumularam alta no preço da cesta. Destacam-se as elevações registradas em Salvador (14,72%), Campo Grande (13,17%) e Belém (11,86%). Os menores aumentos aconteceram em Natal (3,51%) e Recife (3,61%).
Nos seis primeiros meses de 2015, todas as cidades apresentaram variações entre 7,18%, verificada em Belo Horizonte e 19,49%, em Salvador.
Cesta x salário mínimo
Em junho de 2015, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 96 horas e 07 minutos, cerca de três horas a menos do que o de maio, quando a jornada era de 98 horas e 44 minutos. Em junho de 2014, a jornada exigida era de 96 horas.
Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em junho deste ano, 47,49% dos vencimentos para adquirir os mesmos produtos que, em maio, demandavam 48,78%. Em junho de 2014, o comprometimento do salário mínimo líquido com a compra da cesta equivalia a 47,43%.
Comportamento dos preços[1]
Em junho, os produtos que tiveram predominância de alta nos preços nas cidades acompanhadas foram carne bovina, leite, pão francês, batata e manteiga. Já o valor médio do feijão e o tomate apresentou retração na maioria das capitais.
A carne bovina apresentou aumento em 16 cidades, em junho, com taxas que oscilaram entre 0,05% em Brasília e 4,69% em Florianópolis. Os recuos foram anotados em Fortaleza
(-1,00%) e Vitória (-0,67%). Em 12 meses, houve elevação do preço da carne em todas as cidades e as taxas variaram entre 10,55% em Vitória e 24,30% em Campo Grande. Apesar da pressão dos frigoríficos para diminuir o preço, a oferta de carne continua restrita, pelo aumento da exportação e pelos altos custos de reposição de bezerros, o que mantém os altos patamares de preço.
O preço do leite segue em alta pelo quarto mês consecutivo, devido ao período de entressafra. Em junho, quinze cidades tiveram aumento, com destaque para Florianópolis (4,99%), Goiânia (3,43%) e Belo Horizonte (3,14%). Em Belém e Aracaju, o valor do leite não variou e, no Rio de Janeiro, diminuiu -0,32%. Em 12 meses, o preço do leite acumulou alta em 14 cidades e as variações oscilaram entre 0,34% em João Pessoa e 15,63% em Brasília. As reduções foram anotadas em Salvador (-9,70%), Natal (-6,25%), Manaus (-1,95%) e Belém (-1,92%).
A manteiga, derivada do leite, também apresentou alta em quatorze cidades. Os aumentos ficaram entre 0,08% em Aracaju e 4,61% em Porto Alegre. As reduções foram anotadas em Curitiba (-2,99%), Campo Grande (-1,75%), Vitória (-1,26%) e São Paulo (-0,71%). Nos últimos 12 meses, também quatorze cidades acumularam taxas positivas, entre 0,43% em Natal e 11,37% em Brasília. Os decréscimos ocorreram em Manaus (-5,64%), Salvador (-4,74%), Campo Grande
(-1,98%) e Belo Horizonte (-0,93%).
O pão francês manteve trajetória de aumento no preço. De maio para junho, 14 cidades apresentaram alta no valor do produto, com variações entre 0,35%, em Recife e 5,85%, em Belo Horizonte. Houve diminuição em Florianópolis (-1,82%), Goiânia (-1,25%), Manaus (-0,93%) e Curitiba (-0,12%). Em 12 meses, todas as cidades mostraram elevação e as taxas variaram entre 1,39% em Natal e 36,26% em Aracaju. O trigo, por ser importado, está mais caro, uma vez que o real segue desvalorizado. Além disso, a produção nacional de trigo está menor. Os aumentos das tarifas de água e luz também contribuíram para o aumento do pão francês.
O preço da batata aumentou em nove das 10 capitais do Centro-Sul. As maiores elevações foram observadas em Belo Horizonte (28,68%) e Porto Alegre (18,25%). Em 12 meses, o valor da batata foi maior em todas as cidades e as variações acumuladas oscilaram entre 5,65% em Vitória e 30,59% em Florianópolis. Apesar da safra das secas ter começado em maio, a baixa produtividade teve impacto na oferta, elevando os preços da batata.
Em junho, o preço do tomate diminuiu em 15 cidades, com destaque para as quedas em Belo Horizonte (-44,10%), Rio de Janeiro (-41,90%) e Vitória (-35,66%). As altas ocorreram em Belém (14,21%), Manaus (6,92%) e João Pessoa (5,88%). Em 12 meses, seis cidades apresentaram redução e doze, alta nos preços. Como a colheita da safra de inverno começou a abastecer o mercado, houve redução no preço do fruto. Os maiores aumentos foram registrados em Salvador (47,67%) e Belém (37,98%) e as maiores reduções em Aracaju (-17,99%) e Recife
(-13,80%).
O valor do feijão diminuiu em todas as cidades, exceto em Manaus (0,56%), onde se pesquisa o tipo carioquinha. Tanto o tipo preto (pesquisado nas cidades do Sul, no Rio de Janeiro, em Vitória e Brasília) quanto o carioquinha (pesquisado no Norte, Nordeste, em Campo Grande, Goiânia, São Paulo e Belo Horizonte) e o rajado, cujo preço é coletado em Belém (-0,92%), mostraram reduções nas outras 17 capitais, que variaram entre -7,64% no Rio de Janeiro e
-0,26% em Natal. Em 12 meses, o tipo carioquinha aumentou em todas as cidades, exceto Salvador (-6,36%). Os maiores acréscimos ocorreram em Campo Grande (34,12%) e João Pessoa (33,51%). O tipo preto diminuiu em todas as cidades, com percentuais que oscilaram entre
-15,09% no Rio de Janeiro e -2,76% em Brasília. Em Belém, o feijão rajado acumulou queda de -28,62%. A alta do feijão carioquinha se deveu à oferta restrita e maior demanda. E no tipo preto, a safra do Sul vem abastecendo o mercado e reduzindo o preço do grão.
São Paulo
A cesta básica em São Paulo, que totalizou R$ 392,77, seguiu sendo a mais cara entre as pesquisadas pelo DIEESE nas 18 cidades, mesmo com a redução de -2,31% no custo total do conjunto de gêneros alimentícios, entre maio e junho. Na comparação com junho de 2014, a alta foi de 10,75%, semelhante à variação nos seis primeiros meses de 2015 (10,89%).
A variação de -19,01% no preço médio do tomate entre maio e junho foi a única inferior à taxa média da cesta (-2,31%). Também foram anotadas reduções nos preços do feijão carioquinha (-1,50%), café em pó (-0,75%), manteiga (-0,71%), banana nanica (-0,54%) e arroz agulhinha (-0,38%). O valor médio do açúcar não se alterou e foram registradas altas no óleo de soja (0,34%), pão francês (0,78%), carne bovina de primeira (1,05%), farinha de trigo (1,54%), leite integral (2,57%) e batata (2,79%).
Nos últimos 12 meses, 12 produtos apresentaram alta. Carne bovina (18,00%) e feijão carioquinha (16,68%) registraram aumentos superiores à variação média anual da cesta (10,75%). Os outros itens tiveram elevações inferiores: tomate (10,28%), batata (9,17%), pão francês (7,36%), café em pó (6,84%), banana nanica (6,07%), farinha de trigo (2,90%), arroz agulhinha (2,34%), açúcar refinado (1,64%), leite integral (1,61%) e manteiga (1,58%). A única retração nos preços foi verificada para o óleo de soja (-1,67%).
O trabalhador paulistano cuja remuneração equivale ao salário mínimo necessitou cumprir, em junho, jornada de 109 horas e 39 minutos, um tempo menor do que as 112 horas e 15 minutos registradas em maio. Em junho de 2014, o tempo de trabalho necessário para a aquisição da cesta foi de 107 horas e 46 minutos.
Em junho, o custo da cesta em São Paulo comprometeu 54,18% do salário mínimo líquido, isto é, após os descontos previdenciários. Em maio, o percentual exigido era de 55,46%. Em junho de 2014, a parcela necessária para compra dos gêneros alimentícios correspondeu a 53,24%.
Fonte: DIEESE. Pesquisa Nacional da Cesta Básica
Obs.: Podem ocorrer pequenas diferenças nas variações em relação ao texto, pois os dados desta tabela derivam do cálculo resultante do preço dos produtos multiplicado pelas quantidades estabelecidas na cesta.