Democracia retrocede e influência da religião na política aumenta, indica estudo

PalavraLivre-democracia-religiao-retrocessoUm estudo da Fundação Bertelsmann, com sede em Gütersloh, Alemanha, constatou um retrocesso da democracia e da economia social de mercado em todo o mundo e um aumento da influência da religião sobre as instituições políticas e jurídicas.

“A democracia e a economia social de mercado encontram-se em retrocesso em todo o planeta”, diz um comunicado de imprensa da fundação, no qual se resumem as conclusões do estudo.

O projeto, que contou com a participação de 250 cientistas, analisa a situação de 129 países em vias de desenvolvimento e transformação, para avaliar a qualidade dos respectivos governos, a partir da consideração de um total de 17 critérios.

Desses 129 países, a apenas seis é atribuída boa qualidade de governança, o que representa o nível mais baixo desde 2006, quando se começou a realizar o estudo periodicamente.

Apesar de nos países analisados, as democracias terem aumentado ligeiramente (de 72 para 74) e as autocracias terem diminuído de 57 para 55, a situação geral piorou relativamente a cada uma das respectivas formas de governo.

Desde o mais recente estudo – há dois anos –, as autocracias consideradas “duras” aumentaram de 58% para 73% e apenas 15 das 55 consideradas protegem em parte os direitos civis e se outorgam direitos políticos limitados.

Nas demais 40 autocracias, as detenções arbitrárias de jornalistas e ativistas dos direitos humanos são frequentes, segundo o estudo.

Sobre as democracias, o estudo indica que uma em casa duas é qualificada como ‘falha’ e na grande maioria dos países da Europa Oriental existe atualmente mais restrições à liberdade de imprensa e de expressão do que dez anos atrás.

O presidente da Fundação Bertelsmann, Aart De Geus, manifestou especial preocupação com a situação nos países vizinhos da União Europeia.

“Os países vizinhos da Europa tornaram-se mais conflituosos, menos estáveis e mais autoritários. O que preocupa é, principalmente, a crescente incapacidade para o debate social e político”, observou.

Essa situação, segundo o estudo, ajuda ao crescimento do populismo que, em muito países, já encontra terreno fértil na pobreza, desigualdade e na falta de perspectivas econômicas para boa parte da população.

O documento lamenta que os anos de prosperidade econômica mundial não tenham sido aproveitados para investir em educação e saúde e na luta contra a desigualdade social.

O estudo destaca ainda que a influência da religião na política aumentou em 53 países nos últimos dez anos e recuou em apenas 12.

Com informações da Ag. Lusa

Cunha: “Não nomeio por causa de credo religioso”

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou ter nomeado a nova diretora de Recursos Humanos da Casa, a teóloga e advogada Maria Madalena da Silva Carneiro – evangélica como ele –, por afinidade religiosa.

Segundo o peemedebista, qualquer questionamento sobre a indicação da servidora para o cargo é “discriminação”. “Não nomeio ninguém por causa de credo religioso, e nem deixo também de nomear pelo credo”, disse Cunha ao Congresso em Foco. “E não sei, nem quero saber, a religião de qualquer um que trabalha lá [na Câmara], porque isso não é critério”, acrescentou.

Com 31 anos de Casa, mas sem qualquer experiência na área de recursos humanos, Maria Madalena disse à reportagem que o presidente da Câmara agiu como um “instrumento de Deus” ao indicá-la ao posto.

Do ponto de vista político, a Diretoria de RH só está abaixo da Secretaria-Geral da Mesa e da Diretoria-Geral. A primeira tem papel determinante em todo o processo legislativo. A segunda é a mais importante instância administrativa da Câmara.

O setor comandado por Maria Madalena é responsável pela maior dotação orçamentária da Casa: nada menos do que R$ 4,1 bilhões por ano. Ou seja, mais de 80% do orçamento da Câmara para 2015. O último trabalho dela consistia basicamente em guardar os livros nas estantes da biblioteca. Anteriormente, ela era responsável pela emissão de segunda via de crachás – tarefas de complexidade muito menor que a de diretora de Recursos Humanos.

Uma semana antes de escolher Maria Madalena para a sua equipe, Eduardo Cunha obteve do plenário a aprovação de projeto de resolução da Mesa Diretora que dá ao próprio presidente da Câmara o poder de escolher o secretário de Comunicação Social da Casa entre os deputados no exercício do mandato.

O escolhido para chefiar a estrutura de comunicação da Câmara – que inclui serviços de TV, rádio, mídia impressa e internet – foi o deputado Cleber Verde (PRB-MA), que, a exemplo de Cunha, integra a chamada bancada evangélica. O PRB é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

Culto na Câmara
O que há em comum entre Eduardo Cunha, Cleber Verde e Maria Madalena é que os três costumam participar de cultos evangélicos nas dependências da Câmara, junto com outros parlamentares e servidores evangélicos.

No último dia 11 de fevereiro, a página de Cunha na internet reproduziu material atribuído à Agência Câmara Notícias noticiando a participação do presidente da Câmara em um desses cultos.

Na ocasião, Cunha “agradeceu o apoio, praticamente unânime, dos deputados evangélicos na disputa pela presidência da Casa” e ouviu do coordenador da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), o compromisso de lealdade e respaldo político.

“Também acho que só querer qualificar qualquer servidor pela sua condição já é, da parte de vocês [imprensa], discriminação. Não me parece que vocês estão levantando a religião de qualquer funcionário para divulgar”, acrescentou Eduardo Cunha.

O deputado disse ainda que responderia a qualquer pergunta específica do Congresso em Foco a respeito do quadro de servidores da Câmara, mas apenas “sobre qualificação”. “Se não tiver [pergunta específica], não falarei mais sobre isso”, afirmou.

Mesmo sem ter prestado concurso público, Maria Madalena se tornou funcionária de carreira da Casa em razão de dispositivo incluído na Constituição de 1988 que efetivou milhares de servidores que, à época, trabalhavam na administração federal.

É prerrogativa da Diretoria de RH, entre outras, o acesso a toda e qualquer informação referente a cada um dos milhares de servidores da Câmara. Cada um deles reúne uma minuciosa ficha de informações pessoais e funcionais.

Assim, ficará à disposição de Madalena o acesso a contracheques, empréstimos e ao chamado passado bancário, entre outras informações, de todos os servidores.

Escolha do presidente
Para Maria Madalena, sua escolha é natural e não deveria ser objeto de divulgação jornalística: “Fui professora de vários deputados na universidade. Se eles me indicaram, é porque eles acham que eu sou competente para assumir. Isso uma questão administrativa. Foi escolha do presidente. Na verdade, eu não tenho nada a dizer para ser digno de registro e isso sair em jornal”.

Ela admitiu proximidade com deputados evangélicos: “São deputados que conheço há tempo. Como sou servidora há 31 anos, nada mais justo de que um dia ser [promovida]… Faz parte, vários servidores fazem carreira e um dia chegam a cargos de comando. Toda honra e toda glória seja dada a Deus, primeiramente. Só estou esperando que Deus me ajude e me dê capacidade para fazer jus [à indicação] e fazer uma boa gestão onde fui colocada pelo presidente [Eduardo Cunha]”, finalizou a diretora de RH da Câmara.

Com informações do Congresso em Foco e Ag. Brasil

Deputado propõe lei contra “nova ordem satânica”

deputadoUma proposta apresentada nesta semana na Câmara por um deputado paulista pretende impedir a implantação de uma “satânica Nova Ordem Mundial”. Este é o argumento utilizado pelo Missionário José Olímpio (PP-SP), da Igreja Mundial do Poder de Deus, para justificar a necessidade de se proibir a implantação de chips em seres humanos no Brasil. Na justificativa de seu projeto, protocolado na Casa na última quarta-feira (14), o missionário compara a implantação de dispositivos eletrônicos e eletromagnéticos à “marca da besta” e diz que o Congresso tem de se antecipar ao “fim dos tempos” e impedir que esse tipo de tecnologia seja incorporado aos brasileiros.

“Tendo em conta que o fim dos tempos se aproxima, é preciso que o Parlamento brasileiro se antecipe aos futuros acontecimentos e resguarde, desde logo, a liberdade constitucional de locomoção dos cidadãos”, escreveu o religioso na argumentação da proposta. “Urge que se proíba a implantação em seres humanos de chips ou quaisquer outros dispositivos móveis que permitam o rastreamento dos cidadãos e facilitem que sejam as pessoas alvo fácil de perseguição e toda sorte de atentados”, acrescentou.

Veja a íntegra do PL 7561/2014

O deputado afirma que “rastreadores pessoais” estão sendo desenvolvidos no Brasil sob a alegação de que a tecnologia vai permitir a rápida localização de pessoas em poder de sequestradores. Mas o objetivo não é este, segundo ele. “O povo brasileiro não deve se iludir com tais artifícios, que escondem uma verdade nua e cruel: há um grupo de pessoas que busca monitorar e rastrear cada passo de cada ser humano, a fim de que uma satânica Nova Ordem Mundial seja implantada”.

Ainda na justificativa, Olímpio cita trecho da Bíblia sobre a “marca da besta”, espécie de selo para seguidores do anticristo e referência, na visão dele, ao fim dos tempos:

“A Bíblia Sagrada, no livro de Apocalipse, capítulo 13, versículos 16 e 17, diz o seguinte: ‘16 – E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, 17 – Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome’”.

Perseguição

O Missionário José Olímpio afirma que “chips, fios ópticos e outros produtos similares na camada subcutânea ou superficial da pele, derme e epiderme, cartilagem, órgãos internos, músculos, ossos, cabelos ou tatuagem” podem facilitar que as pessoas se tornem alvos de perseguição e atentados, a partir do rastreamento via satélite, GPS, telefonia, rádio ou antenas.Pela proposta, fica proibido o implante em seres humanos, independentemente da idade, de identificação para substituir RG, CPF ou código de barras. O projeto prevê responsabilização administrativa, cível e penal para quem descumprir o estabelecido, caso a proposta vire lei.

Advogado e empresário, o Missionário José Olímpio, de 57 anos, é o primeiro representante na Câmara da Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada e liderada pelo apóstolo Valdemiro Santiago, que rivaliza com a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo. Antes de chegar à Casa, em 2011, Olímpio foi vereador em São Paulo com apoio da Universal. Ele é pai do vereador paulistano José Olímpio Júnior (PSD).

Diversos sites evangélicos publicaram, recentemente, uma falsa notícia sobre uma eventual lei aprovada na Europa que obrigaria todas as crianças nascidas a partir de maio de 2014 a receberem um chip sob a pele. No Brasil, a inserção de dispositivos eletrônicos no corpo humano tem sido utilizada em tratamentos médicos e também por empresas de segurança. Em 2004, o governo dos Estados Unidos aprovou a venda de um dispositivo que permite aos médicos ter acesso ao prontuário de um paciente em questão de segundos por meio de um chip, do tamanho de um grão de arroz, implantado sob a pele.

O Projeto de Lei 7561/2014, do Missionário José Olímpio, aguarda despacho do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para ser remetido a comissões permanentes da Casa.

Do Congresso em Foco.

Alemanha intercepta cocaína endereçada ao Vaticano

cocaina(1)A Alfândega da Alemanha apreendeu um pacote contendo 340 gramas de cocaína acondicionada em 14 camisinhas que era endereçado ao Vaticano. A apreensão aconteceu em janeiro, disse o jornal alemão Bild am Sonntag. O pacote foi enviado de um país sul-americano não identificado.

Segundo o jornal, o pacote com a droga, avaliada em 40 mil euros, foi encontrado em janeiro por oficiais da Alfândega alemã no aeroporto internacional de Leipzig. As camisinhas com a cocaína estavam dentro de um carregamento de almofadas que estava endereçado apenas ao Correio Geral do Vaticano – o que significa que qualquer um dos cerca de 800 residentes do Vaticano poderia retirá-lo.

As polícias da Alemanha e do Vaticano montaram uma armadilha, permitindo que o pacote ficasse à disposição de quem fosse buscá-lo. Mas ninguém apareceu, o que indica que o destinatário ou destinatária teria sido alertado.

Martin Chaudhuri, porta-voz do Ministério das Finanças alemão, que supervisiona a Alfândega do país, disse que os procuradores públicos de Leipzig devem divulgar um comunicado nesta segunda-feira com mais detalhes sobre o caso, O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, confirmou que a polícia local colaborou com a polícia alemã na tentativa de identificar os traficantes e que continua a investigar o caso. Fonte: Associated Press.

Do Estadão.

Artigo de Eduardo Guerini no Blog: “Um papado envelhecido. Renúncia profana, escolha divina”

Mais uma vez o professor Eduardo Guerini nos dá a honra de publicar seus textos polêmicos aqui no Palavra Livre. Agora ele se debruça sobre a renúncia do papa Bento XVI, vale a pena conferir, curtir e compartilhar:

No mundo cada vez mais secularizado, a lógica da mística religiosa sempre esteve enclausurada entre muros dos monastérios, ou, do silêncio obsequioso da instituição clerical dominante no mundo ocidental.

Na atualidade,  a Igreja Católica Romana sofreu abalos sísmicos pelas escaramuças reveladas por trás do silêncio obsequioso , assim como, as muralhas  intransponíveis do Vaticano sucumbiram nos sucessivos escândalos  profanados  pela corrupção nos valores propostos na gênese do cristianismo.

A propalada renúncia papal de Bento XVI,  resultada de algo que está muito além do campo  de visão dos  fiéis e cristãos de todo  mundo,  assim como, da  fantasia midiática veiculada exaustivamente em tempo de festa profana na “terra brasilis”.

A escalada de problemas entre o mundo profano e a lógica divinizada da interpretação  do catolicismo, demonstram que , o envelhecimento da mensagem  , a apatia do reinado  (que até então seria vitalício) do papa,  forjado à ferro no Concílio que o  nomeou representante máximo para um  Pontificado  que enfrentaria uma  evasão  crescente  de fiéis,  problemas de abusos  sexuais  em  todas as partes do mundo  – em virtude da ultrapassada ideia celibatária para os  religiosos, sem contar  da  incidência   de problemas políticos de toda a ordem na  “governabilidade”  da Santa Sé, diante do  rumoroso  vazamento de  segredos conhecidos como “Vatileaks”, pelo mordomo sugestivamente  chamado de “Il Corvo”, que  após  denúncias do jornalismo investigativo demonstraram uma rede de corrupção  e lavagem de dinheiro  no interior da Santa Sé.

Se os problemas de ordem interna- velados misteriosamente  diante do silêncio sepulcral dos representantes do Pontificado enrijeceram  a liderança religiosa do cristianismo  no Ocidente, tal é o ritmo frenético das novas configurações relacionais.

A dinâmica das relações extramuros no catolicismo romano aprofundaram o fosso  do atual  líder religioso ,  petrificando  suas contundentes declarações  contra   um mundo  que insistia em contrariar as preces celestiais de nosso representante divino na  atualidade.

No contexto místico-religioso do bento pontificado ,  a mística profana  tomou conta da lógica  no papado envelhecido pela  velocidade dos fatos mundanos.   O papa Bento XVI que sonhara   governar com mãos de ferro,  depreciando  a vida pulsante neste mundo, e,   aspirando um mundo ideal,  deixou escorrer pelas suas mãos todo o poder espiritual no âmbito temporal.

A conciliação filosófica-religiosa encontrou sua base no tomismo – linha oficial que  perde sua eficácia  em velocidade exponencial ,  resultado de um mundo que se afasta  cada vez mais do ideário dogmático do catolicismo apregoado  para o mundo ocidental.

Como diria Erasmo de Roterdã  (1509), nossa imprensa  em sua noticiosa  surpresa adula  e modula sua voz , apresentando todas as virtudes do pontificado de Bento XVI, fazendo  de uma mosca um elefante.  Porém, esquece que nosso bendito homem para  evitar uma  averiguação  aprofundada dos escândalos   que envelheceram seu reinado , segue o famoso provérbio “Não tens que te elogie? Elogia-te a ti mesmo.”

* Eduardo Guerini é  professor de ciência política da Univali desde 2000. Cursou mestrado em gestão de políticas públicas e sociologia política. Atualmente orienta pesquisas nas áreas da Dinâmica Institucional de Políticas Públicas, Criptoeconomia, Sociologia do Crime, Economia Política da Corrupção e Corrupção Institucional. Atento observador da cena política.

Comissão da Verdade analisa atuação das igrejas na ditadura

A Comissão Nacional da Verdade fez ontem (8/11) a primeira reunião do grupo de trabalho que vai investigar o papel das igrejas na ditadura militar. Durante o encontro, especialistas e membros da comissão analisaram estudos acadêmicos existentes sobre o tema. “Estamos fazendo um primeiro balanço do estado da arte com especialistas e teremos que definir prioridades, porque não podemos tratar de todos os temas que envolvem essa questão”, apontou o professor Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador do grupo.

Entre os casos que devem ser analisados está o do jornalista e ex-preso político Anivaldo Pereira Padilha. Ele foi delatado, no início da década de 1970, pelo pastor e pelo bispo da igreja da qual fazia parte. “Fui denunciado por minha atuação dentro da própria igreja. Na época, ocupava os cargos de diretor do Departamento Nacional de Juventude e editor de uma revista da igreja dirigida a esse público”, explicou. Padilha foi torturado e exilado, tendo retornado ao Brasil somente após a Lei de Anistia, em 1979.

A criação do grupo foi proposta pela sociedade civil em audiências públicas promovidas pela comissão, informou a assessoria de imprensa do órgão. “As igrejas são instituições da maior relevância na sociedade e é evidente que, ao lado das Forças Armadas, do empresariado, dos organismos do Estado, ela deve ser investigada”, reforçou Paulo Sérgio Pinheiro. Ele ressaltou que serão igualmente analisados fatos ligados à colaboração das igrejas ao regime e também relacionados à resistência.

“É importante resgatar essa memória para compreender melhor o presente e o futuro e para que essas instituições deem conta do quão nefasto isso foi para a sociedade brasileira em termos de atraso para a construção de uma sociedade democrática. O não esclarecimento desses crimes contribui para que a tortura continue a existir na sociedade brasileira”, avaliou Anivaldo Padilha.

A comissão ouvirá testemunhas e irá analisar documentos nos próximos meses. O material servirá de base para um relatório, com primeira versão prevista para janeiro de 2013. “Não vamos privilegiar nenhuma igreja. Isso vai ser mapeado pela documentação e pelos casos que nós vamos levantar”, disse o coordenador. A comissão é formada por pesquisadores que estudam diversas igrejas, como a metodista, presbiteriana, luterana, batista e Católica.

Para Anivaldo Padilha, que atualmente é líder ecumênico metodista, alguns setores das igrejas não devem reagir bem às investigações, mas descarta empecilhos às pesquisas. “Setores mais conservadores ou que são remanescentes de grupos que apoiaram a ditadura, esses setores não vão estar muito contentes”, avaliou. O coordenador do grupo, no entanto, destaca que não houve manifestação formal de nenhum grupo religioso.

Da Ag. Brasil

Perfis: Pastor Ari Estevam – “Deus tinha uma missão para mim”

Elegantemente vestido com um terno verde bem cortado, camisa clara e gravata estampada, tudo combinando perfeitamente com os sapatos marrons, Ari Estevam chega para a entrevista na sede central da Igreja Maravilhas de Jesus, na rua São Paulo, esquina com a rua Piauí, em frente à Cipla na divisa dos bairros Anita Garibaldi e Bucarein. “A paz do senhor”, ele cumprimenta e caminha para a escada que leva ao interior do templo. No espaço bem arrumado, naquela tarde de muito sol, se vê na parede a frase que diz tudo sobre a filosofia adotada: “Adorai ao único Deus senhor Jesus Cristo, cantai a glória do seu nome”.

De uma pasta ele tira outras pastas com fotos de uma história que começou há 43 anos, quando o alfaiate Ari se converteu ao pentecostalismo tradicional na então igreja da Cruzada, hoje Evangelho Quadrangular. “Desde pequeno minha família dizia que eu seria sacerdote. No início não deu certo, mas depois Deus me fez conhecer o evangelho. Deus tinha algo, uma missão para mim”, afirma com a seriedade estampada em seu rosto. Aos 70 anos, em 2010 ele voltou a comandar a Igreja que fundou em fevereiro de 1974, junto com outros 40 irmãos da fé. “Voltei para reorganizar os rumos, as coisas estavam ficando muito liberais”, conta o pastor.

Ari tem o registro de nascimento em São Francisco do Sul, no distrito do Saí, mas tem raízes na região de Itajaí. O pai tinha uma serraria, que logo transferiu para Joinville, onde se fixou na rua Dona Francisca, nos arredores do clube América, de quem ele foi torcedor por muitos anos. “Desde os 13 anos não dependi mais da família. Ajudei meu pai, mas logo fui trabalhar na Alfaiataria Müller que ficava na avenida Getúlio Vargas, próximo a Casa da Borracha. Lá aprendi muito nos três anos que fiquei”, relata. O dom da costura ele credita à família, onde todas as irmãs costuravam ou bordavam, e assim o menino logo aprendeu o oficio, que quando adulto, sustentou a família por muitos anos. Trabalhou também na antiga rede de lojas Prosdócimo, serviu o exército, até abrir seu ateliê na rua Monsenhor Gercino, ao lado de onde fica hoje a Luizinho Autopeças.

Sua conversão causou espanto aos familiares, mas Ari não se abalou. Sua fé era muito maior, e partiu para trabalhos missionários, até que um grupo de irmãos, conta ele, seguiu um chamado de Jesus para que defendessem a igreja primitiva, tradicional. “Nos reunimos, discutimos os rumos. Eu recebi uma visão do nome Maravilhas de Jesus, apresentei e foi aprovado por unanimidade”. Ari foi vice-presidente até 1987, quando assumiu a Presidência. Morou em Florianópolis por 15 anos, passou por Jaraguá do Sul, até retornar a Joinville em 2003. Pastor Ari ficou fora da Presidência entre 2004 e 2010. Foi reconduzido ao comando na Convenção da Igreja em 2010.

A Igreja Maravilhas de Jesus está presente em quatro estados brasileiros (RS, SC, PR, SP) e tem um núcleo na Argentina, e conta com cerca de 50 igrejas atuantes. Disposto, o Pastor ainda viaja por suas igrejas, mas agora com alguém dirigindo. Prega com todo ardor a forma tradicional de apresentar os mandamentos do evangelho. Ele não teme o afastamento da juventude da Igreja diante do mundo atual, globalizado e cheio de alternativas. “Os jovens vem até nós pela família, de pequenino. O povo precisa ouvir o evangelho, e é isso que fazemos. Por isso não fico parado, viajo para dar apoio e energia para nossa gente”, completa.

O Pastor conta que eles foram muito perseguidos no inicio, mas tiveram apoio do então prefeito Pedro Ivo Campos, via vereador Aderbal Tavares Lopes. “Nós pedimos apoio para comprar esse terreno aqui onde fica a sede. Conseguimos 10 mil cruzeiros na época, o bastante para completar o pagamento”, diz soltando um dos raros sorrisos. Aposentado, casado há 50 anos, pai de quatro filhos tem nove netos e três bisnetos, Ari prepara a Convenção Nacional que será realizada dias 7 e 8 de maio em Joinville com muita garra na defesa da sua fé, e ainda encontra tempo e força para apresentar um programa de rádio todos os sábados das 11 ao meio-dia na rádio Colon AM 1090 Khw. E avisa: “Agora só vou parar minha missão quando Deus quiser”.

* publicado na seção perfil do Jornal Notícias do Dia em abril de 2011

Uso da fé sem limites

Sou uma pessoa que acredita em Deus, mas não em religiões. A cada templo que vejo cheio de pessoas a gritar, chorar, e em alguns entregar até seus pertences pessoais, dinheiro, roupas e sei lá mais o que, mais fico indignado. Não que todos sejam iguais, mas a enorme maioria somente usa o nome do Criador para obter vantagens pessoais, pecuniárias e outras. Conheço vários nessa linha, que usam de suas “santidades” para esse uso indevido da fé humana. Uma barbaridade.

O caso dessa jovem mulher de 34 anos, que ao invés de ser imediatamente atendida ao desmaiar foi utilizada como exemplo de “ação” da oração, e morreu após a segunda parada cardíaca, ilustra bem o uso da fé sem limites. Aliás, penso que agora chegaram ao limite do aceitável com a morte de uma pessoa dentro do seu templo. Igrejas de diversas linhas de religião se multiplicam sob nomes que beiram ao ridículo por todo o país, e muito, mas muito mesmo na maior cidade de Santa Catarina.

Se havia uma coisa a ser feita naquele momento era o atendimento imediato, primeiros socorros. Era o momento de partir para a parte mais importante da nossa tentativa de comunicação com o divino, que muitos chamam de “oração”. Era hora da “ação”, mas o que se viu conforme as reportagens é a “omissão”, ou pior, o uso de um fato de saúde, grave, para ludibriar a fé de pessoas que buscam a paz interior.

Lamentável, e o que se espera agora é uma investigação séria que não só busque os culpados dessa tragédia para a famíliia, mas que faça nascer na consciência dessas pessoas que se autointitulam pastores, padres, monges e tudo o mais, a necessidade de se levar a sério a questão religiosa que move milhões no mundo inteiro, diariamente. Mais respeito à inteligência, meus senhores, mais seriedade ao tratar com a fé das pessoas, senão, terão de pagar sim com a Justiça dos homens, e mais tarde, com a do Criador.

Padroeiro? Por isso Joinville não muda

Essa pseudo-polêmica da aprovação de um padroeiro para Joinville, a maior cidade catarinense, é uma daquelas bobagens que não deveriam valer nem nota nas páginas de jornais. É inacreditável que no século 21 isso ainda seja objeto de debate, projeto de lei ou coisa parecida. A cidade precisa é de ação, obras, lazer, cultura, generosidade.

Diminuir o debate a isso, a denominação de padroeiro ou não, é coisa para uma sociedade que não tem assunto. Que não compreende o mundo em que vivemos. Que se deixa levar por argumentos da religião e deixa de lado a realidade. Respeito a todas as religiões, credos, crenças, mas uma cidade desse porte não pode perder tempo com isso. É pequeno demais. Legislar sobre isso então é conservador ao extremo. As igrejas cuidam de seus fiéis. Seus pastores, padres, líderes, sabem como e porque agir nas suas áreas, com seus rebanhos.

É por essas e outras que Joinville ainda não tem viadutos, elevados, faltam leitos em hospitais, vagas nas creches, esgoto à céu aberto vence e a saúde perde, faltam ciclovias, as drogas ganham a juventude, áreas de lazer somem no meio de tanta urbanidade. A cidade precisa crescer, parar de pensar pequeno. Seus legisladores têm de ter consciência, estudar mais, atualizar conhecimentos e partir para inovar. A cidade chora a falta de visão de nossos líderes.

Padroeiro? Quem precisa de um para viver? Senhores, e senhoras, por favor, vamos elevar o debate, Joinville clama por isso.