Hollande toma posse na França e promete conter crise

Apenas 11 dias depois de eleito, o novo presidente da França, François Hollande, de 57 anos, tomou posse na manhã de hoje (15). Seguindo seu estilo sóbrio, a cerimônia foi simples e sem pompas, apesar dos 400 convidados. Em seu primeiro discurso no cargo, ele defendeu a busca pela redução da crise econômica internacional por meio do estímulo da economia e da geração de emprego. Disse que promoverá um governo justo, impedindo a discriminação aos imigrantes.

Hollande foi recebido na porta do Palácio do Eliseu (cujo nome em francês é Champs-Élysée) pelo antecessor Nicolas Sarkozy. Ambos se cumprimentaram com apertos de mão e sorrisos e se reuniram por cerca de 30 minutos no escritório presidencial, antes da solenidade de posse.

Uma multidão aguardava os dois na porta do palácio. Nos arredores do prédio, foram expostos cartazes e faixas com apelos a Hollande. Nos apelos, as pessoas pedem providências para controlar a crise e promover um governo igualitário. Também há elogios e desejos de sorte no cargo.

A expectativa é que Hollande anuncie o nome do seu primeiro-ministro antes de viajar para Berlim, onde se reúne com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O nome apontado como o mais provável para o cargo é o do deputado socialista Jean-Marc Ayrault. O presidente da Autoridade dos Mercados Financeiros (AMF), Jean-Pierre Jouyet, amigo do presidente eleito, confirmou Ayrault.

O restante da equipe de Hollande deve ser conhecido no dia 16, depois de ele concluir parte da agenda internacional. As especulações em torno dos escolhidos vão desde ambientalistas até colaboradores de campanha.

Em meio às escolhas dos ministérios, Hollande organizou uma intensa agenda internacional. Ele pretende viajar ainda hoje para Berlim, para uma reunião com a chanceler Angela Merkel, com quem deve conversar sobre as propostas para conter os efeitos da cris econômica internacional. Depois, no dia 17, vai para os Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, Hollande participa das cúpulas do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia), prevista para os dias 18 e 19, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – sobre a retirada das tropas do Afeganistão até o fim de 2014.

Eleito no dia 6 de maio com 51,6% dos votos, Hollande tornou-se o sétimo presidente e permanecerá cinco anos no cargo, podendo concorrer à reeleição. Ele é o primeiro socialista a chegar à Presidência, depois de 17 anos da direita no poder.

*Com informações da Rádio França Internacional (RFI)

Segundo turno na França: quem pode tirar voto de quem?

Tão importante, no segundo turno francês (06 de maio), quanto saber quem pode dar voto a quem, é saber quem pode tirar de quem. Nesses termos, Hollande parece estar numa posição melhor do que a de Sarkozy.

O candidato socialista tirou votos do candidato mais à esquerda, Jean-Luc Mélenchon, na reta final. Uma parte dos que potencialmente votariam neste, no primeiro turno, preferiram votar direto em Hollande, para impulsionar desde já seu favoritismo no segundo. Criou-se um ambiente favorável ao “voto útil” desde já. A estratégia teve sucesso: Sarkozy tinha, como objetivo na reta final, chegar na frente (“mesmo que fosse por um fio de cabelo”, dizia ele) no primeiro turno para dar força à perspectiva de uma reviravolta na rodada final.

Não conseguiu. Aposta agora em debater até o esgotamento com Hollande até o 6 de maio, pondo suas fichas em seu desempenho espetaculoso diante do mais comedido de Hollande. Há um duplo sentido nisso: de um lado, Sarkozy quer sobressair; do outro, marcaria pontos se conseguisse enfurecer Hollande, fazendo-o sair do sério e cometer deslizes.

Outro ponto a favor de Hollande é o imediato apoio que recebeu de Mélenchon, sem pré-requisitos. Isso vai arrastar para sua votação a esmagadora maioria dos 11% que o candidato das esquerdas recebeu. Um efeito colateral desse movimento seria a contrapartida de projetar Mélenchon como um vetor decisivo no segundo turno, caso a vitória de Hollande se confirme. A esquerda sairia das cinzas (ou das traças) a que está jogada nesta erupção vulcânica da crise financeira européia.

Já do lado de Sarkozy as perspectivas são mais complicadas. Em primeiro lugar porque o maior fator a roubar votos de Sarkozy foi o próprio Sarkozy. Votos que potencialmente seriam seus se dispersaram, uma parte em direção a Le Pen, outra em direção a Bayrou e até mesmo em direção a Hollande, como testemunha o fato de que Jacques Chirac, o ex-presidente conservador, preferiu apoiar o socialista.

Sarkozy se deu mal num país que já teve como presidentes os carismáticos De Gaulle, à direita, e Mitterand, à esquerda. Faltou-lhe manter o “aplomb”, ou seja, o decoro da presidência. Suas incontinências iniciais, comemorando demasiadamente sua vitória anterior com um corte de “mais ricos”, foram-lhe tão fatais, quanto sua falta de coerência final, sassaricando em várias direções, indo desde tornar-se o parceiro menor da dupla Merkozy (coisa difícil para a direita francesa engolir) até rejeitar o apoio da chanceler alemã e entregar-se a arroubos nacionalistas de última hora.

Sarkozy terá de continuar sendo o boneco de molas que foi no primeiro turno, pressionado por ter de captar votos mais ao centro (eleitores de François Bayrou e seu Movimento Democrático – 9%) e mais à direita, os de Marine Le Pen, cujos 18% se dividem entre a direita tradicional, burguesa ou pequeno-burguesa, e um cortejo de neo-desempregados, jovens ou não, devido à crise. Prova disso é que Le Pen saiu-se melhor no nordeste da França, região em processo de desindustrialização, onde tirou o segundo lugar. Também na Bretanha ela saiu-se bem, como na região do Gard, “pays d’oc”, junto ao Mediterrâneo, onde chegou em 1º. Tradicionalmente, nessa região, os socialistas predominavam nas votações. Esses votos podem retornar à casa de onde, eventualmente, saíram.

Pode ser que Le Pen venha a apoiar Sarkozy. Mas num primeiro momento, pelo menos, os 18% que obteve subiram-lhe à cabeça, e por suas declarações iniciais ela parecia mais disposta a disputar a liderança do conservadorismo francês com Sarkozy do que fazer uma união ideológica com este contra a esquerda. Ou seja, sua votação expressiva pode continuar roubando votos de Sarkozy.

Enquanto isso, a Bolsa de Valores de Paris amanheceu na segunda em queda. Paradoxalmente, isso é bom, num primeiro momento, para Hollande, pois é um sinal de que os tão temidos “Mercados” estão de fato temendo a vitória do socialista e sua promessa de rever os acordos fiscais e de austeridade da Zona do Euro. Do outro lado do Reno, Angela Merkel tem, de fato, razões para se preocupar.

Por Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

Greve geral paralisa a França

Na onda da vitória dos partidos de esquerda nas eleições gerais do último domingo, os trabalhadores franceses entraram em greve ontem. Os sindicatos esperam que suas ações coloquem um freio nas reformas planejadas pelo presidente Nicolas Sarkozy, dois dias depois de seu partido ser derrotado nas urnas.

Cerca de 80 passeatas serão realizadas em todo o país para defender o aumento do poder aquisitivo e, sobretudo, protestar contra a reforma da previdência, que começa a ser discutida em abril. Os sindicatos dizem que o governo conservador de Sarkozy não ofereceu planos satisfatórios no que diz respeito a empregos, salários, poder de compra e condições de trabalho.

Isso tudo foi agravado pelo aumento do desemprego no país, o que fez crescer o descontentamento com o presidente francês. Ele passou a ser criticado dentro do seu eleitorado tradicional de direita e no seu próprio partido.

Terceiro turno
Os protestos atingiram principalmente os transportes, escolas e correios e  tiveram a participação de trabalhadores do setor privado. Cerca de 30% dos professores da escola primária não compareceram às aulas em todo o país. Segundo a direção da estatal ferroviária, 28% dos funcionários pararam.

Os jornais franceses questionam se a mobilização desta terça-feira poderia representar um “terceiro turno”, desta vez social, para o presidente Sarkozy, após os dois turnos das eleições regionais.

Das agencia internacionais