O mestre e professor Eduardo Guerini, amigo e colaborador deste Blog, manda mais uma de suas várias contribuições sobre política e afins. Em “A marcha dos miseráveis e a revoada dos pardais”, uma crítica sobre nossos líderes políticos eleitos em 2012 e já chorando por algo que conheciam… Com vocês as ácidas palavras de Guerini:
“Toda marcha política tem um conteúdo por trás de seu enredo imagético. A associação de cidadãos e representantes em levantes contra o atual estado de coisas produz resultados alvissareiros.
É recorrente na republiqueta que vivemos, principalmente depois da promulgação da “Constituição Cidadã de 1988” que Estado e Municípios deveriam ser valorizados, porque é o local onde verdadeiramente as pessoas necessitam dos serviços essenciais para melhoria das condições de vida , seja, educação , saúde, segurança , saneamento , transporte , etc…
Na reta final das campanhas políticas em 2012, em Santa Catarina e no Brasil, as festejadas vitórias se transformaram no muro das lamentações dos gestores guindados ao posto de mandatário municipal, assim como, a civilizada transição entre os dirigentes políticos ficou obscurecida pela ausência de transparência nos finanças dos municípios.
Embora o regime democrático, sistema basilar da soberania dita popular, careça de algumas adaptações no caso tupiniquim, em virtude da ausência efetiva na participação política, na mobilização dos cidadãos para requisitar seus direitos inscritos na “Constituição de 1988”, todos limitados pela desigualdade material e social, o que faz o percurso da cidadania ser “longo e tortuoso”.
Se as campanhas tracejaram um desenho das futuras administrações municipais – carentes de projetos , programas e planos. Os atuais prefeitos omitiram o que de mais valioso seria para o debate político em torno do tal “pacto federativo”, que nas entrelinhas da imprensa nacional e local se cotejava, uma queda nos repasses constitucionais , com singelas siglas – FPE, FPM, resultantes das políticas anticíclicas que produziram o tal do PIBinho em 2012.
Em síntese, os municípios e Estados brasileiros passam por uma crise fiscal sem precedentes com uma inflação de responsabilidades , tarefa de Sísifo, dada que nossos candidatos eleitos tentaram enganar eleitores e financiadores de suas campanhas. Duro castigo para o modelo político brasileiro corrompido.
A Marcha dos Prefeitos, no início de 2013 é cabalística , mágica nas expectativas e parca nas realizações. Como se trata de um enredo orquestrado pelos bastidores palacianos, torrando alguns milhares de reais , para auto promoção de algumas lideranças ministeriais , em conluio para o deflagrado pleito antecipado de 2014, os municípios terão contas maiores a pagar.
Nossos míseros mandatários municipais, assessorados por secretários desconsolados e assessores técnicos bem intencionados, garantirão um praça cheia para preencher mais uma capa de jornal , ou, na melhor das hipóteses, conseguir uma foto com alguma autoridade temporária no olimpo ministerial .
Afinal, uma imagem no gabinete municipal com autoridades federais , sempre dão lustrosa legitimidade política e importância que ultrapassa a esquadrejada moldura. Como toda “marcha ou passeata política” deve produzir algum resultado, nossos audaciosos arquitetos políticos da institucionalidade brasileira planaltina, tratarão de divulgar “programas federais para os municípios” , que acabo de receber em mensagem eletrônica sem necessidade de deslocamento algum.
Nossos fabulosos prefeitos que iniciam seu “choque de gestão”, conheceram os bastidores da Capital Federal, seus ministros e ministérios, e, principalmente, quais são os verdadeiros operadores de milagres – que dão fluidez aos seus projetos na planície – os lobistas, sejam, deputados , senadores ou assessores de gabinete.
A tão procelosa democracia brasileira ultrapassou sua juventude, caminha para maturidade, sofre cotidianamente de degenerações , corrupções , em todos os níveis na “nobreza de palpites” que habita todos os corredores republicanos. Um dia nossos míseros mandatários municipais, nas rotineiras “Marchas Políticas” se metem em especulações felizes e enriquecem, como diria Lima Barreto (1922).
De fato, na atual conjuntura, a queda nas expectativas econômicas, a surpresa com orçamentos municipais inflados nas previsões e vazios nas provisões, as diagnoses municipais percebendo uma queda nos repasses constitucionais, orientaram a bússola financeira dos nossos miseráveis prefeitos para o Planalto Central, ávido por novos apoiadores em seus projetos de mantença do poder incumbente de plantão.
O resultado já havia sido diagnosticado em 1848, em Recife, na Revolta Praieira por um general do império “ República, no Brasil, e desgraça completa é a mesma coisa.” Geralmente, nas marchas de multidões, uma gama de ambulantes se concentra para ganhar algum níquel, entre uma e outra manifestação restam pequenos pedaços de alimentos, algum grão ou migalhas, uma revoada de pardais chega para saborear sem ser importunada.
Ah, pobres pardais domésticos!!! Aves cosmopolitas que se contentam com migalhas, se reproduzem facilmente, tal como outra espécie….”
* Eduardo Guerini é professor de ciência política da Univali desde 2000. Cursou mestrado em gestão de políticas públicas e sociologia política. Atualmente orienta pesquisas nas áreas da Dinâmica Institucional de Políticas Públicas, Criptoeconomia, Sociologia do Crime, Economia Política da Corrupção e Corrupção Institucional. Atento observador da cena política.