Contas Públicas: Governo pressiona Congresso a mudar a LDO

A retomada dos trabalhos nesta terça-feira (11) no Congresso Nacional trará uma missão complicada para o Palácio do Planalto. Com a arrecadação baixa e os gastos em alta, o governo federal pretende ver modificada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) a meta de superávit fiscal, hoje oficialmente em R$ 116,1 bilhões – incluindo as estatais.

O superávit é a economia que a União faz para pagar compromissos como a dívida pública. Para conseguir cumprir esta tarefa, líderes precisarão convencer os aliados e superar o bloqueio prometido pela oposição.

A tarefa ganhou novos contornos com a presença da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, nesta terça na Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Caberá a ela levar a deputados e senadores os argumentos do governo para a mudança do superávit. De acordo com a pasta, se não ocorrer a mudança desejada, será preciso cortar incentivos fiscais e subsídios concedidos, além de aumentar impostos.

Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse que a redução da meta do superávit é necessária para que a atual política de manutenção de empregos, bancada às custas de investimentos estatais, seja mantida.

“É muito importante manter o emprego e a renda da população. É uma opção clara do governo, e acho que haverá maioria, seguramente [o Congresso] vai aprovar”, disse Mercadante.

A meta oficial deste ano é de R$ 116,1 bilhões para o governo federal (incluindo as estatais), valor que pode ser reduzido para R$ 49,1 bilhões, com abatimentos de até R$ 67 bilhões previstos na LDO.

Na semana passada, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, reconheceu que o governo não conseguirá atingir os valores oficiais nem mesmo usando todo o desconto, e adiantou que um projeto deverá alterar o tamanho do abatimento.

Bloqueio
Desde o primeiro semestre que a CMO não consegue se reunir e votar propostas. Sem quorum, a sessão da semana foi cancelada. Por isso, a LDO de 2015, por exemplo, até agora não foi analisada.

O orçamento para o próximo ano já tramita, mas o governo trabalha com a possibilidade de o texto final não ser apreciado pelo Congresso até 22 de dezembro. O presidente da comissão, deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), entende que os partidos da base devem atuar para viabilizar o quorum.

Porém, se depender da oposição, a mudança no superávit não passará. “Consertar a LDO no final do ano é uma piada de mau gosto. É cobrir a nudez com folha de parreira”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Líder da minoria na Câmara, Domingos Sávio (PSDB-MG), engrossa o coro. Disse que o Palácio do Planalto não pode corrigir um erro com outro. “Não vamos permitir isso. Entendemos que o correto é o governo ter mais responsabilidade com as contas públicas”, completou.

Do Congresso em Foco

Brasil tem superávit primário recorde de R$ 30,25 bilhões

superávit primário recorde em janeiro e a perspectiva de reação da atividade econômica indicam cenário mais favorável para as contas públicas este ano. A avaliação é do chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. O superávit primário, esforço para o pagamento de juros da dívida, do setor público consolidado (governos federal, estaduais e municipais e empresas estatais) chegou a R$ 30,251 bilhões, em janeiro. É o maior resultado mensal da série histórica iniciada em 2001.

Em 12 meses encerrados em janeiro, o resultado ficou em R$ 109,187 bilhões, o que representa 2,46% de tudo o que o país produz  Produto Interno Bruto (PIB). A meta para este ano é R$ 155,9 bilhões.

Maciel lembrou que o resultado de janeiro refletiu o aumento das receitas. O Tesouro Nacional informou que as receitas do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) apresentaram crescimento de R$ 14,9 bilhões (14,5%), ante janeiro de 2012. Segundo Maciel, o aumento das receitas reflete expansão da atividade no final do ano, com arrecadação feita em janeiro. “Mas é preciso aguardar um pouco mais para a gente ter um quadro mais definido do comportamento das receitas”, disse.

Maciel negou que o aumento do esforço fiscal em janeiro tenha ocorrido porque o Orçamento deste ano ainda não foi aprovado, o que cria dificuldades para o governo fazer despesas. Eles destacou que o Executivo editou medida provisória para despesas com investimentos, que ficaram em R$ 9,6 bilhões, em janeiro deste ano, contra R$ 7,7 bilhões, de igual mês 2012.

O esforço fiscal do setor público foi suficiente para cobrir os gastos com os juros que incidem sobre a dívida. Esses juros chegaram a R$ 22,649 bilhões, em janeiro, contra R$ 19,661 bilhões de igual período do ano passado. Com isso, o superávit nominal, formado pelo resultado primário e as despesas com juros, ficou em R$ 7,602 bilhões, no mês passado, contra o déficit nominal de R$ 6,355 bilhões de igual mês de 2012. O superávit nominal é o melhor para meses de janeiro já registrado pelo BC.

Do Correio do Brasil