Participei de várias reuniões sobre os futuros usos da velha, agora renovada, Ponte Hercílio Luz. Nelas, Governo do Estado e Prefeitura de Florianópolis, com seus representantes, se digladiavam sobre se passariam veículos leves (carros, motos) e todos os demais, ou somente ônibus, priorizando o coletivo em detrimento do individual. A Prefeitura brigou e muito pelo que, dizia, acreditava: a Ponte Hercílio Luz é um patrimônio cultural, e será utilizada para a mudança de cultura, do individual para o coletivo. Agora, acabo de assistir o próprio secretário de Mobilidade que defendia isso com unhas e dentes, defender a abertura para os carros.
Fazem isso com uma tranquilidade como se nunca tivesse existido um cabo de guerra entre Prefeitura e Governo de SC. Colocam à mesa que haverá controle de horários, etc, e sabemos que isso jamais funcionará. Ou vamos ajudar, funcionará nas primeiras semanas, até que liberem geral. E o que isso acarretará para o patrimônio Ponte Hercílio Luz? O desgaste insano de uma ponte quase centenária que consumiu mais de R$ 600 milhões em sua recuperação, e que estava fechada há mais de 30 anos. Felicidade dos catarinenses e turistas era espantosa ao rever a velha senhora aberta e livre para os seus passeios a pé, de bicicleta, e servindo ao transporte coletivo que leva muito mais pessoas aos seus destinos que carros e motos, vai ficar para trás após esta decisão, pasmem, conjunta de Governo do Estado e Prefeitura.
Qual mudança ocorreu para que se libere o tráfego de carros? Nenhuma. Inclusive, a pandemia reduziu durante longos meses a passagem inclusive de transporte coletivo para evitar o contágio do coronavírus. Todos os cálculos de números de passageiros, demonstrações de quantidade de carros x ônibus, etc, foram jogados fora? Enfim, quando se pensava que a capital dos catarinenses tinha finalmente acertado ao usar o cartão postal catarinense como modelo de mudança de cultura em relação à mobilidade, e que o uso da Hercílio Luz como poderosa ferramenta para o turismo e geração de renda estava priorizado, eis que o velho jeito da política pré-eleitoral aparece, e joga tudo ao mar nas baías da linda Floripa.
A temerária decisão, sem consultas públicas como foram feitas antes da Ponte reabrir, pode nos custar muito caro. Não resolverá o problema de mobilidade na Capital – eles mesmos tem os estudos e os apresentaram exaustivamente – e ampliará os problemas na Ilha, além de afetar fortemente a estrutura da Hercílio Luz. É um erro, e perdemos todos com esta decisão que em nada promove a Florianópolis do futuro, mais humana e com desenvolvimento sustentável.
Para se certificarem do que falo aqui, deem um Google sobre a Ponte Hercílio Luz e mobilidade, ponte viva, etc. É um verdadeiro descaso com a inteligência das pessoas.